The Secret Weapon

Heartache


– Elwë! – Me afastei dos dedos do elfo, sentindo a dor nas costelas. – Vai com calma.

– Se eu for mais calmo que isso não encosto em você. – Suspirou. – Anda logo.

– Ok, mas tenha cuidado. – Voltei a me sentar de costas pro elfo. Ele colocou as mãos sobre o lado do tronco das costelas quebradas, murmurando algo em élfico. A dor era quase pior do que a atual. – Pronto.

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– Por que te deixei fazer isso? Cura dói.

– Se dói é porque fez efeito. – Ele se jogou no meu catre, suspirando. – Vai passar.

– Obrigada, Elwë. – Me sentei, tomando quase toda a jarra de água no quarto. – Fez um bom trabalho lá fora.

– Quebrei minha espada. – Ri, terminando com a água. – E infelizmente não posso ir até Osilon recuperar as minhas coisas.

– Nos preocuparemos com isso depois. – Falei, tirando-o da minha cama. – Me deixe dormir.

– Tenha bons sonhos, Capitã. – Ele ficou de pé, se curvando antes de deixar o quarto. – Espero seguir novamente sua liderança.

– Até mais, Elwë.

Assim que a porta se fechou, fechei os olhos e dormi.

Por mais cansada que estivesse, preferira não tê-lo feito. Dormir foi como ficar sobre o sopro flamejante de um dragão, apenas sentindo a dor, sem poder morrer.

Sonhos com Tornac. Sonhos em que eu o via sendo torturado, punido, agredido. Em momento algum meu nome fora citado. Mas ainda me doía vê-lo naquele estado. Um último em que Murtagh sofrera o corte nas costas, dor que o pai lhe infligira.

Por fim, um com Elrohir. O dragão estava completamente machucado, com patas e torso sangrando em um lugar completamente ruído. Pelo menos, parcialmente destruído.

Acordei afobada, alguém batendo em minha porta. Depois de tanto tempo dentro da montanha, aprendi a discernir o horário ali dentro. Ainda estava muito cedo para me acordarem.

– Pois não? – Prendi o cinto, encarando o mensageiro.

– Trago notícias, senhora. A senhora Nasuada solicitou sua presença numa reunião do Conselho.

– Nasuada sabe que não envolvo nessas políticas dos Varden.

– Dessa vez é importante, senhora. – Ele hesitou um momento. – Senhora, Ajihad foi encontrado morto em um de nossos corredores.

– O que? – Não pude evitar a reação. O rapaz confirmou com poucas palavras o acontecido.

– E Murtagh foi levado pelos Gêmeos, senhora. Parece que estava certa, eles nos traíram.

– Obrigada pelas notícias, pode ir.

– Com licença, senhora. – Ele abaixou um pouco a cabeça e se retirou.

– Que... – Não conseguia pensar numa palavra ruim o suficiente para amaldiçoar a situação. Deixei o quarto, andando rapidamente pelos corredores.

Devia ter matado os Gêmeos quando tive a chance. Nada daquilo estaria acontecendo. E por que Nasuada queria minha presença?

– O que houve? – Falei. – Tirando a parte em que Ajihad morreu, disso eu sei. E a propósito, sabe o quanto de sua dor eu posso sentir, Nasuada.

– Tenho noção de quão importante meu pai era para você, Silbena. Obrigada.

– Então, por que estou aqui? – Antes que ela me respondesse, Eragon e Saphira entraram no recinto, quietos.

– Precisaremos de um novo líder, agora que Ajihad se foi. – A maga. Não sabia seu nome, mas sabia que não era exatamente confiável.

– Sugerimos que Nasuada assuma o controle. Sendo filha do antigo líder, terá muito apoio, mas ainda assim...Apoia esta decisão, Capitã?

– Nasuada tem meu total apoio. Vejo como isso pode ser difícil para ela, mas confio em sua capacidade e habilidade para lidar com as pessoas. – Falei, esperando que Eragon falasse. Ele também concordou.

– Muito bem. – Assumo que não ouvi o resto. Nada que eles disseram me alcançou. Pedi licença e me retirei, calada. Estava caminhando de volta para meu quarto, mas mudei de rota no último instante.

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– Quem é? – A voz dele estava firme, como se estivesse acordado por horas.

– Sou eu, Sano. – Fechei os olhos, esperando enquanto ele abria a porta. – Posso entrar?

– O que houve, Silbena? – Ele me puxou para dentro do quarto, quieto.

– Não conte aos outros. Ajihad morreu.

– O quê? – Eu devia ter esperado aquela reação. Me sentei em sua cama, passando uma mão pelo rosto. – Isso é...

– Difícil de aceitar? Sim. – Suspirei. – De novo, não fale nada para ninguém. Nasuada vai assumir sua posição.

– Veio aqui me contar assuntos confidenciais?

– Sano, há quanto tempo te conheço?

– Três anos. Eu mal tinha saído dos 18 quando você me encontrou. – Ele se sentou ao meu lado. – Por quê?

– Não vim te contar segredos políticos. Só vim...não sei. – Respirava fundo, sentindo no fundo da garganta um bolo se formando. – Sano. Não conte aos outros.

– O que? – Acho que ele não precisou de resposta quando me viu. Tentava chorar sem fazer qualquer som, mas só o que eu conseguia fazer era abafar os soluços.

– Não conte para Orun. – Falei, tentando sorrir. As lágrimas escorriam pelo queixo e pingavam sobre meu peito, a parte exposta acima do corpete. – Sano...

– Não está tudo bem, mas vamos dar um jeito. – Senti seu braço sobre meus ombros. – As coisas vão se acertar.

– Não foi só Ajihad. – Conseguia me controlar um instante. – Os Gêmeos nos traíram. Levaram Murtagh.

Ele não disse nada. Os soluços foram voltando aos poucos. Sano suspirou, passando a mão pelo cabelo.

– Você tinha se lembrado dele. – Era como se ele risse da situação toda. Trágico. – Aqueles dois...malditos.

– Eu tinha razão em odiá-los. – Respirei fundo. – Se contar para alguém que chorei vai apanhar até a morte.

– Não acreditariam se eu dissesse, Sil. – Ele deu outro suspiro. – Se acalme.

Fiquei ali com ele até conseguir me controlar. Esperei meu rosto desinchar antes de falar novamente.

– Obrigada pelo tempo. Preciso ir.

– Até mais, Sil. – Agradeci mais uma vez e deixei o quarto, ainda sentindo o caminho das lágrimas por minhas bochechas.

Pela primeira vez em anos, me sentia sem rumo. Como enquanto buscava os Varden, antes de encontrar Elwë, completamente desesperada.

Imagino que o funeral tenha sido algo bonito. Não o vi. Preferi ficar dentro do quarto e me recuperar. Elwë também não foi. Ele ficou sentado de costas para a porta, encarando o pé da minha cama.

– Vai para seu quarto, Elwë. – Abri a porta, esperando. – Me deixa sozinha só por um tempo.

– Se é o que você quer... – Ele ficou de pé e deixou o quarto. Fechei a porta e me deitei.

Não me lembro de ter chorado naquele dia. Era difícil aceitar, mas eu ia ter de dar um jeito. Uma memória me veio em mente. Aquela fora a primeira vez que me sentira sem rumo.

Três dos tripulantes do The Sender morreram numa noite de calmaria. Era estranho não ter vento no mar além de Du Weldenvarden, mas naquele dia, o vento não soprava. Minha mãe me disse que foi alguma doença. Foi a morte de Eddy, irmão de Wayn que mais me abalou. Ele era o mais próximo de um parente para mim e minha mãe.

A diferença é que eu não tinha mais 8 anos. Não teria minha mãe ali para me explicar e me ajudar a encarar. Seria só eu. E ainda teria que ser a Capitã, a garota que conhece terras além de Du Weldenvarden, que tem um próprio batalhão.

Tanto na minha vida no The Sender como agora eu teria que continuar navegando, esperando que os bons ventos voltassem.