Depois do desfile, Niah veio buscar-nos e levou-nos para o apartamento. Nem olhei para o apartamento quando lá entrei, apenas perguntei onde era o meu quarto e fui a correr para tomar um banho. Naquele momento, a maquiagem já pesava sobre a minha pele e eu estava com tanta raiva dos tributos do Distrito 12 que não queria ter nada colado á minha pele.

O banheiro era enorme e era quase tudo automático. Tomei um duche rápido e fui vestir-me. Na minha cama estava a roupa que era suposto eu usar, Colan devia ter mandado alguém para a colocar no meu quarto. Vesti a roupa sem me importar muito com o que estava a vestir, pois era uma roupa básica e bastante semelhante á que eu usava no Distrito 2.

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Depois de me vestir, prendi o cabelo num coque alto e calçei umas botas pretas que estavam no roupeiro (também automático). Saí do quarto e fui para a sala, onde Niah, Brutus, alguns avox e Cato me esperavam já sentados á mesa.

-Estávamos á sua espera. – disse Niah, fazendo sinal para que uma avox nos servisse. Sentei-me ao lado de Cato e começei a comer – Gosta do apartamento, querida?

-O meu nome é Clove. – retruqui sem realmente responder á questão. Niah esbugalhou os olhos e Brutus e Cato gargalharam de boca cheia – E sim, eu gosto do apartamento. Tem muito espaço e muita luz.

-Ainda bem que gosta, queri… - olhei ameaçadoramente para Niah e reparei que ela estremeceu. Um sorriso maldoso se formou no meu rosto e ouvi mais uma gargalhada – Clove. Ainda bem que gosta, Clove.

A conversa que se seguiu não me dizia nada. Ainda não tinhamos falado sobre táticas de captura nem formas de torturar os nossos adversários. Estava a terminar a minha sobremesa quando ouvi Brutus dizer algo interessante:

-Você estiveram ótimos no desfile, a ideia de dar as mãos foi muito boa.

-Obrigada(o). – eu e Cato dissemos em coro. Infelizmente isso acontecia mais vezes do que nós queriamos. Até era bom para intimidar os nossos adversários, mas havia alguns momentos, tal como aquele, em que era quase ridículo.

-Não interessa de se fomos ótimos, porque os idiotas do Distrito 12 receberam todas as atenções no final! – Cato rosnou com raiva e eu grunhi. Maldito Distrito 12, bem que mereciam ter tido o mesmo destino que o Distrito 13.

-Tenha calma, querido! Eles podem sim ter ficado com as atenções, mas, além de ter sido apenas por alguns minutos, eles não têm nada mais além disso.

-É verdade, - o nosso mentor concordou – por melhores que sejam as roupas personalizadas, eles vêm de um dos Distritos mais pobres e não sabem lutar. Vocês aprenderam a lutar quando eram pequenos, eles nem devem ter ideia do que fazer com uma arma.

-É mesmo. – Cato parecia estar um pouco mais calmo, mas continuava com uma expressão furiosa e ameaçadora – E nós vamos dar cabo deles na arena.

-Totalmente. – concordei.

-E como vocês estão pensando em fazer isso? – Brutus perguntou interessado e, nas duas horas seguintes, nós apenas falámos sobre as melhores formas de enganar os outros tributos, de fazer armadilhas e de conservar não só a nossa comida e as energias mas também a nossa sanidade – ou o que restava dela.

*

Depois do almoço, eu e Cato fomos para o quarto dele. Eu estava exausta, nem sei bem porquê na verdade, mas Cato também estava e acabámos por adormecer juntos alguns minutos depois de entrarmos no quarto.

Acordámos uma hora depois, quando Niah foi chamar-nos para nos irmos vestir, pois em alguns minutos os treinos iam começar.

Íamos ter treinos com os outros tributos, onde iam estar pessoas que nos iam ajudar com aquilo que ainda não dominávamos na perfeição. Bem, isso era apenas com os carreiristas, porque os outros não deviam saber usar nada mesmo além daquilo a que estavam habituados nos seus respetivos Distritos.

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Vesti-me rapidamente, coloquei uma T-shirt preta – onde estava numa das mangas o número do meu Distrito - e umas caças da mesma cor; desfiz o coque no meu cabelo e fiz um rabo de cavalo bem alto e firme. Antes de sair do meu quarto fiz um exercício que Enobária me ensinara. Servia para aquecer e preparar os músculos e dimínuia as probabilidades de me magoar enquanto estivesse a treinar.

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Quando saí do quarto deparei-me com Cato. Isso era normal, eu deparava-me sempre com Cato. Mal algo estava diferente. Cato estava diferente, alguma coisa na sua expressão estava estranha e, infelizmente, eu não sabia o que era.

-Ei, vamos conhecer as nossas vítimas? – perguntei animada.

-Eh, sim, vamos.

Quando a porta do elevador se abriu eu apenas pude sorrir. Acho que aquele foi um dos momentos da minha vida, até aquele dia, em que sorri mais. Havia todo o tipo de armas naquele lugar. E isso incluia facas. Muitas facas. De todos os tamanhos, formas e cores. E isso era muito, muito bom.

-Ei, já viu aquilo ali? – Cato apontou para uma secção só de espadas, a sua arma predileta – Tem espadas que eu nunca vi na vida!

-É, e facas também! – exclamei – Já estou a adorar este lugar e ainda não esfaquei ninguém!

-Isso não é bom, Clove, é preocupante. – ele disse, fazendo uma falsa expressão de choque – Eles te fizeram uma lavagem cerebral!

-Fizeram nada, babaca. E, mesmo que tivessem feito, ainda posso acertar você num piscar de olhos, lembra? – fiz uma expressão intimidadora, mas o resultado foi frustante: Cato começou rir – Não ria de mim, seu idiota! – dei-lhe um soco não muito forte no ombro e bufei.

-Ei, não fica irritada, não, Clove! – ele levantou as mãos no ar e fez uma expressão inocente – Tréguas.

-Está bem, tréguas. – sorrimos os dois e fomos até onde estavam os outros tributos, á volta de uma mulher que, durante vários minutos, nos explicou a função de cada secção e que devíamos praticar aquilo que dominavamos menos. Eu ia fazer isso, mas nada podia afastar-me das “minhas” facas.

Primeiro fui para a estação das lanças, onde tinha de lançar uma lança e acertar no centro do alvo. Consegui acertar á segunda tentativa e nas 10 vezes seguintes também. Cato estava na estação das armadilhas, com Glimmer, a garota do Distrito 1. A raiva que eu senti quando reparei na forma com que ela olhava para ele foi superior a qualquer coisa que eu já tinha sentido antes. Com a mão no ombro de Cato, Glimmer não parava de fazer poses que, no ponto de vista masculino, seriam sensuais. A garota levava a mão que não estava no ombro de Cato aos cabelos loiros e enrolava-os no dedo, enquanto humedecia os lábios.

Já não era raiva o sentimento que borbulhava dentro de mim. Era ódio e, infelizmente, ciúmes. Eu já tinha ciúmes de Cato á alguns anos e sempre consegui controlá-los. E mesmo sabendo que Cato apenas a usaria uma vez, eu reciei seriamente não conseguir controlar-me e atacá-la quando aquele treino acabasse. Estrangulá-la-ia até á morte e lamento admitir que não me importaria nem um pouco em tornar-me uma avox por causa disso, desde que a garota de cabelos loiros, que, por acaso, não conseguia manejar nenhuma arma, morresse da pior maneira possível.

Estava tão distraída a olhar para Cato e Glimmer que só me apercebi da presença de Marvel, do Distrito 1, quando ele falou comigo.

-Olá, eu sou o Marvel, do Distrito 1!

-Eu sou a Clove…

-…do Distrito 2, eu sei. – ele me interrompeu e sorriu. Sorte a dele que eu ainda estava meio distraída – E aí, vi que você sabe lançar lanças.

-É, eu treinava isso lá no Centro de Treinamento.

-Eu também, aliás, a lança é a minha arma preferida. Consigo até acertar um alvo em movimento! – ele gabou-se com um ar superior. “Ridículo” pensei, mas também me lembrei que precisaria de aliados, além de Cato é claro, e nós já tinhamos planeado convidar os tributos do Distrito 1 e 4 para uma aliança. Não havia a nada a perder, mas eu só faria a proposta no final do treino. Primeiro eu ia avaliar as habilidades do moreno de olhos verdes e depois é que o ia convidar para se juntar a nós.

-E o que mais você sabe fazer? – perguntei com curiosidade.

-Muitas coisas, - ele respondeu enquanto íamos para a secção dos arcos – um pouco de tudo como você. Mas sou péssimo com armadilhas e arcos.

-Tal como a sua parceira de Distrito. – sibilei quando vi pelo canto do olho a figura esbelta de Glimmer quase colada ao corpo de Cato.

-Glimmer? Oh, sim, ela é também não é muito boa com arcos.

-E que arma ela sabe usar, então? – perguntei e ele olhou para trás de mim - onde estava Glimmer - com uma expressão nervosa – Ei, vai responder ou não?

-Hum… Eu não sei que outras armas ela sabe usar. Terá de lhe perguntar.

-Tudo bem. Mas agora vou continuar a treinar. – virei as costas e, com um sorriso no rosto, fui quase a correr para a secção das facas.

Tal como eu esperava que acontecesse, devido á minha baixa estatura e aparência inocente (o que eu era até certo ponto), várias pessoas, na sua maioria tributos, pararam aquilo que estavam a fazer para me observarem. Com uma expressão séria e concentrada, escolhi uma faca bem afiada, com a lâmina bem grande como eu gostava. Levantei o braço na posição e ângulos corretos, tal como Enobaria me tinha ensinado, e olhei para o centro do alvo. Mirei bem no centro e em segundos a faca estava cravada no local onde ficaria o coração do alvo. Sorri e ouvi várias exclamções de surpresa e vários elogios. Fui até ao alvo e retirei a faca, onde, no seu lugar, ficou um buraco profundo e que, se o alvo fosse humano, o teria matado instantaneamente.

Continuei o meu treino com as facas durante o que me pareceu ser meia hora. Como sempre acontecia, não falhei uma única vez, o que me pareceu ter irritado e assustado alguns tributos que estavam ali perto.

Ainda tentei usar uma espada, mas era óbvio que eu não tinha nascido para aquilo. Agradeçi mentalmente por apenas Cato estar ali comigo e continuei durante vários minutos a tentar acertar o avox que lutava comigo. Frustrada pela minha derrota na estação das espadas, fui até às armadilhas. Em seguida, fui para o arco, novamente, e logo depois fui para uma estação sobre comida, onde aprendiamos o que haveria na arena e como distinguir o que era venenoso do que não era.

Cato e eu fomos juntos para a última estação, onde ficámos alguns minutos antes de Brutus nos ir chamar, avisando que o treino já tinha acabado e que em uma hora íamos jantar.

Antes de a porta do elevador se fechar, dei uma última vista de olhos aos tributos. “Isto até vai ser divertido” pensei. A maioria dos tributos eram mais altos ou fortes do que eu, mas em termos de velocidade, técnica e lógica vencia muitos deles. Com exceção da Foxface, uma garota de cabelos ruivos e cara de raposa. Ela era muito inteligente, mas dúvidava que conseguisse manejar uma arma como eu. Bem, teria de esperar até ao momento em que entrássemos na arena.

Olhei mais uma vez as minhas presas e fiz uma lista mental com os rostos. Não precisaria de saber os seus nomes quando os matasse, pois o meu objetivo era fazê-los gritar por miserdicórdia no início e, no final, apenas desejariam que os matasse o mais depressa possível.

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As portas do elevador fecharam-se e eu olhei para Cato, a sua expressão continuava arrogante como sempre mas ele parecia aborrecido com alguma coisa. Se eu não o conhecesse até dizia que era porque Glimmer não o tinha deixado sozinho quase nunca, mas eu sabia que ele gostava desse tipo de atenção. Isso fazia-o sentir-se importante.

-Pode dizer.

-Dizer o quê? – ele erguntou confuso.

-Porque está com essa expressão aborrecida. – cruzei os braços e continuei – Glimmer esteve colada a você o tempo quase todo. Você devia estar com aquele sorriso arrogante como sempre fica quando consegue “caçar” alguma garota. – Cato gargalhou e cruzou também os braços.

-Eu nem sequer preciso de ir á “caça”, pequena, elas vêm ter comigo de livre vontade.

-E isso é algo que nunca vou entender. – menti. Eu sabia muito bem a razão que levava uma legião de garotas a “perguir” Cato, mesmo tendo em conta as consequências. Eu sabia, mas não ia admitir isso para ninguém além de mim mesma, muito menos se esse alguém fosse o próprio Cato Ruthless.

-Oh, você entende, Clove. – ele deu um sorriso rasgado e estofou o peito – Eu sei que sim.

-Ah, claro que sim! – rolei os olhos e dei um soco no seu ombro – Vai sonhando, vai, Cato! – em vez de dizer algo idiota como eu esperava, o meu amigo encostou-se á parede do elevador e sussurrou tão baixo que não era suposto eu ouvir:

-Eu vou, Clove, pode ter a certeza que vou.