The Princess And The Thief

The Previous Day\'s Emotions


Acordei ainda pensando nas palavras que Narrow tinha me dito, sobre o ataque. Seria difícil aceitar aquilo, que eu mataria alguém. Mas eu não tinha outra escolha.

Annie entrou no quarto, carregando a bandeja com meu café da manhã. Me sentei, comendo, enquanto ela preparava meu banho. Estranhei um embrulho que ela trouxe consigo, mas não disse nada.

– Seu banho está pronto, Katniss. – Ela disse meu nome sorrindo. Até que enfim ela me chamava pelo nome sem esforços. – Já deixei sua roupa no banheiro, menos a capa. – Sorri em agradecimento para Annie, pensando na roupa que Narrow tinha me arranjado.

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– Annie, o que é aquilo? – Perguntei indicando o embrulho sobre o criado mudo. Annie respondeu rapidamente, parecendo um pouco triste.

– Sua armadura. NightHunter me entregou ontem à noite, mas só pude trazê-la agora. – Suspirei. Agora eu tinha certeza de que a guerra não era só um pesadelo.

– Obrigada, Annie. Pode ir agora. – Ela fez uma mesura e se retirou, de cabeça baixa. Fui até o banheiro, também cabisbaixa. Por mais que a maior parte dos livros mostrasse guerras como cenas de honra, vitória e heroísmo, eu sabia que sacrifícios e mortes também aconteceriam.

Me vesti e fui atrás de NightHunter, sem sequer olhar para o embrulho com minha armadura. Não queria vê-la agora. Narrow estava parada no meio de um dos corredores, encarando uma janela.

– Veio discutir mais uma vez? – Sua voz era firme, mas distante. Ela não estava prestando muita atenção em mim.

– Vim me desculpar, por ter gritado com você. Não foi uma ação digna de uma princesa. – Tentei ver o que ela observava, mas só pude ver os jardins próximos aos estábulos. – Tudo bem?

– Ah? Oh, sim. Apenas observando a área ao redor. Mas acho que não preciso ficar vigiando os campos. – Franzi o cenho, olhando novamente pela janela. Ela dizia a Campina, que se estendia por vários e vários metros até os ducados e condados.

– O que quer dizer? – Ela apenas balançou a cabeça e se virou para mim, com aquele sorriso torto no rosto.

– Deveria estar praticando. Não é bom contar apenas com a sorte. – Seu sorriso se alargou e ela passou por mim, sem dizer mais nada. Fiquei parada por alguns instantes, tentando descobrir porque Narrow estava agindo estranho, mas quando não consegui mais pensar em nada, desisti e fui para a Arena.

Me surpreendi quando parei de frente para meu arco. Não era o de antes, esse era mais resistente, mais fácil de usar. Melhor. E também tinha uma nova aljava, com flechas mais resistentes, também.

Disparei algumas vezes, sentindo o arco como uma parte de mim. Era assim que a arma perfeita se parecia? Uma sensação de que só agora seu corpo estava completo?

– Katniss. – Me virei, encontrando Finnick parado, com um tridente na mão. Não sabia que aquela era a arma dele. – Como vai?

– Muito bem, obrigada. Você, no entanto... – Ele estava obviamente abatido, como se não tivesse dormido.

– Estou bem. Não muito, mas estou. – Ele sorriu, mas sem muita convicção. Antes que ele dissesse mais qualquer coisa uma trombeta soou nos portões, que se abriram rapidamente.

E um grande grupo de homens, alguns a cavalo e outros a pé, em armaduras, iam entrando. Minha mãe e Narrow os observavam no topo da escada da entrada. Narrow voltara a usar seu capuz, disfarçando o rosto.

Fui num passo rápido para o lado da minha mãe. Assim que cheguei, o homem mais a frente do exército desmontou do cavalo e caminhou até o pé da escada, onde fez uma mesura antes de continuar a subir até parar a nossa frente.

– Majestade, alteza... – Ele refez a mesura, mas assim que se levantou olhou Narrow. Ela também o observava, mas mais discretamente. Ele não disse nada sobre ela, apenas se apresentou. – O nome é Brutus, general do exército, não só do ducado da alvenaria, mas também do ducado costeiro e do condado transportador. Outros também nos acompanharam, mas são desertores.

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– Seja bem vindo, general. E minhas boas vindas a todos os outros também.

– É um prazer ajudá-la, majestade. – Minha mãe sorriu levemente.

– Pode solicitar qualquer coisa que precisar, general. – O general sorriu em resposta e voltou para sua tropa, gritando ordens. Minha mãe voltou para dentro do castelo e eu fiquei com Narrow.

– O que está fazendo? – Perguntei em voz baixa, pensando porque ela estava tão calada e se escondendo.

– Se é sobre o capuz, eu e sua mãe concordamos que pode ser arriscado dizer quem eu sou, mesmo que eles pareçam confiáveis.

– Oh. – Ficamos em silêncio por alguns segundos, antes de uma questão um pouco antiga passar na minha mente. – Achei que Thresh estaria te ajudando com as estratégias.

– Ele está, só que não aqui. Você verá. Amanhã o ataque começa. Esteja pronta. – E me deixou sozinha. Retornei para a Arena, e voltei a praticar.

O sol se pôs devagar, e meus braços já estavam doloridos. Coloquei o arco e a aljava nos lugares, e comecei a caminhar sem rumo. Não queria entrar no castelo, ouvir Narrow e minha mãe conversando, naquele clima pré-guerra que nos cercava.

Me sentei num dos bancos de pedra do jardim, observando as árvores por perto. Eu não conseguia parar de pensar em como seria no dia seguinte. O ataque começaria, e eu não tinha certeza de que sairia de lá viva.

Fechei os olhos e inspirei. O ar já estava frio e uma brisa suave começava a soprar. Abri os olhos e vi Annie, no início do caminho, vindo na minha direção. Provavelmente para me chamar para jantar. Por mais que eu não quisesse, não tinha muita escolha.

– Katniss, sua mãe está te chamando para jantar. – Concordei com a cabeça e abri os olhos. – Ela também quer conversar com você e Prim depois.

– E qual é o assunto? – Franzi o cenho, me levantando.

– Ela não me disse.

– Obrigada. Vamos? – Annie deu um sorriso tímido e me acompanhou até o castelo.

O jantar demorou a passar, com todo aquele clima de tensão que nos circundava. Mas assim que acabou minha mãe me chamou para conversar. Prim já estava lá, com aquela carinha de assustada dela.

– Acho que já sabem que amanhã é o dia do ataque. Prim acompanhará Hazelle e seus filhos mais novos para as masmorras, para se esconderem. – Prim concordou com um olhar triste. – Quanto a você, Katniss, eu só posso pedir que volte bem. Siga as ordens, mas fique atenta a oportunidades de ataque.

– Katniss vai mesmo lutar? – Prim perguntou chorosa, me fazendo querer chorar também. Por que alguém como ela tinha que sofrer com aquela incerteza, aquele medo, aquilo tudo?

– Vou, patinha, mas vou voltar. Bem. – Tentei sorrir, mas não consegui animá-la. Só naquele instante percebi o quão distante de Prim estava, quando tinha que estar ao seu lado. Senti saudades dela.

– Promete? – Concordei, ainda com aquele sorriso que reprimia minhas lágrimas. – Eu vou ficar esperando.

A abracei por alguns segundo, e então uma criada a acompanhou até seus aposentos. Olhei minha mãe, que para minha surpresa estava chorando.

– Nós temos que ganhar, Katniss. Dê seu melhor, se não por si mesma, por Prim. – Uma das lágrimas que eu segurava deslizou pelo meu rosto. – Mas tome cuidado. Eu não suporto a dor de mais uma perda. Não depois do seu pai. – Agora as outras lágrimas também molhavam minhas bochechas.

– Eu não te digo isso há muito tempo, mas eu te amo, mãe! – A abracei, e ela apenas me apertou, sem dizer nada.

– Eu também, por isso espero que volte sã e salva. – Sorri. – Agora vá, precisa estar descansada. Amanhã será um longo dia.

Ela se soltou do meu abraço e sorriu de volta. Enxuguei as lágrimas o melhor que pude com uma das mãos e sai do salão do trono. Eu deveria descansar, mas meus pés me levaram de volta para o jardim. Eu precisa acalmar minha mente.