The Princess And The Thief

Night Conversation


Acordei com uma leve batida na porta do meu quarto. Me levantei e caminhei, segurando uma vela, até a porta, devagar. Respirei fundo e abri. Narrow, já de volta ás suas roupas normais, entrou no quarto.

– O que faz aqui? – Pisquei, clareando um pouco a visão embaçada pelo sono.

– Perdoe-me pela hora, sei que estava dormindo, mas decidi vir do mesmo jeito. – Ela parou, encarando a sacada pela porta de vidro. – Sei que ficou brava comigo pela forma que me expressei durante o jantar.

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– Tem que concordar que foi um tanto rude. – Fechei a porta, colocando a vela numa cômoda. – Mas não se preocupe, só estou insegura. Com a guerra, eu me preocupo com o futuro mais do que faria normalmente.

Me sentei na cama, ela ainda encarando o escuro do lado de fora do quarto. Me perguntei por um instante o que ela poderia estar vendo, mas logo ela se virou.

– Vivemos o futuro, Katniss. Presente é só uma ilusão de que temos tempo para decidir o que fazemos, mas a cada segundo que passa, estamos vivendo o futuro. – Ela me encarou, séria. Narrow tinha pensamentos estranhos, mas que descobri serem quase sempre verdadeiros, sábios.

– Talvez, mas essa ilusão é a única coisa que controlamos de fato. – Ela inclinou um pouco a cabeça, rapidamente, como se concordasse. – E eu me preocupo. Se sobrevivermos a essa guerra, o que faremos depois? O que eu farei? Assumirei o trono, me casarei com algum estranho?

– Seria mesmo tão ruim? Digo, assumir o trono? – Ela voltou a inclinar a cabeça. – Katniss, se tudo der certo, e eu espero profundamente que dê, não vai ser assim tão ruim.

– Você voltará para a Irmandade, mas e eu? – Acho que fui um pouco indelicada, mas apenas esperei a resposta.

– Você vai perceber que sua mãe já deixou quase todos os problemas do reino resolvidos para quando você assumisse, verá Annie e Finnick felizes juntos e perceberá quão apaixonado por você Peeta Mellark está. – Ela voltou a encarar a sacada, lá fora.

– Como? – Minha voz estava firme, mesmo com toda a surpresa da última parte da resposta. – Mellark?

– Ora, Katniss, o garoto morreria para te salvar. Se isso não é amor, eu não sei o que é.

– Mesmo que fosse verdade, ninguém aceitaria um rei plebeu. – Ela ainda observava a sacada.

– Ele não precisaria ser plebeu. – Ela olhou de soslaio pra mim antes de voltar a encarar a sacada. – Mas tudo tem seu tempo, Katniss. Talvez eu possa ajudar depois, mas agora, devemos nos concentrar no “presente”.

– Posso perguntar por que você está tão vidrada na sacada? – Fui direta dessa vez, sem me importar se estava sendo rude ou não.

– Nada, apenas observando o vilarejo. – Ergui uma sobrancelha. Era impossível ver o vilarejo dali, ao menos no escuro era. – Eu sei que não o vejo claramente, mas é possível ver os vultos se prestar bastante atenção.

– Eu não tinha dito nada, mas isso esclarece um pouco as coisas. – Ela se virou para mim de novo.

– Katniss, quanto aos meus planos, eu sei que você está brava por eu não ter contado o que é, mas já é difícil demais convencer Gale e Finnick. – Ergui uma sobrancelha, mas ela não se incomodou, apenas continuou. – Logo vou precisar de você, então não se preocupe agora, apenas treine o quanto puder no arco.

Concordei com a cabeça, encarando o chão. Ela ficou alguns instantes em silêncio, mas então disse, com uma risada fraca.

– Eu espero que você não se incomode por usar calças. – Aquilo me fez erguer a cabeça. Mulheres não usavam calças, a não ser as ladras, e agora Narrow queria vestir uma princesa com elas. Sorri.

– Acho eu são melhores numa guerra, confere?

– Armaduras são as melhores em guerras, mas claças são bem confortáveis. – Ela sorriu de volta. – Volte a dormir e me desculpe te acordar a essa hora.

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– Não foi incômodo algum. – Abri a porta para ela. Narrow passou pelo vão e sumiu corredor abaixo, sem dizer mais nada.

Apaguei a vela e me deitei de novo. Que plano ela poderia ter para que Finnick e Gale não aceitassem? E o que ela me disse sobre Peeta, era verdade?

O cansaço me venceu e eu dormi em pouco tempo, com aquelas perguntas ainda na minha mente.

Não dormi por muito tempo. O sol começava a nascer quando me levantei e caminhei até meu banheiro. Prendi meu cabelo, observando meu reflexo num espelho. Eu ficava tão diferente com o cabelo daquele jeito.

Chamei Annie, que já estava de pé, para minha surpresa. Não sabia que ela acordava tão cedo. Pedi para ela me conseguir roupas parecidas com as de Narrow, e ela me trouxe um pacote em poucos minutos. Narrow já tinha providenciado aquilo.

Me vesti depois de um banho rápido. A calça era confortável, e o corpete permitia movimentos muito maiores com os braços. As botas eram macias, também confortáveis.

Sai do quarto e fui direto para a Arena, treinar com o arco. O espaço estava vazio, mas não me importei com isso. Peguei o arco que Narrow tinha escolhido e uma aljava e parei em frente ao alvo.

Respirei fundo e mirei. Não era tão difícil. Atirei, acertando o centro. Era a primeira vez que eu conseguia aquilo, mas não fiquei eufórica e entusiasmada. Eu não estava fazendo aquilo por diversão, mas por necessidade.

Fui até o alvo quando as flechas acabaram na aljava. Puxei uma, percebendo que alguém me observava. Me virei e vi Peeta, desviando o olhar para outra direção.

Não o chamei nem fui até ele. Peguei as outras flechas e voltei para o ponto de onde estava atirando. Eu precisava me concentrar. O tempo passou, e eu continuei atirando. Os guardas também treinavam, arduamente.

Alguns afiavam suas armas e também treinavam com arcos. Nenhum se importava comigo ali. Alguns até me viam como um deles. Entendi que não demorava muito para tudo começar.

Afinal, já estávamos em guerra.