The Pocky Game

Alluka x e x Nanika


Os olhinhos de Alluka brilharam mimosos quando ela fitou o pacote. Encontrara-o nos fundos do armário, escondido entre os engradados de cerveja. A intuição dizia-lhe para não mexer nele. Leorio fora ao mercado na tarde anterior e trouxera toda a sorte de porcarias para as crianças, vários sachês de chá para Kurapika, quitutes caninos para Kurode e latinhas e mais latinhas de energéticos e bebidas alcoólicas — para o próprio Leorio.

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— Você, estudante de Medicina, ingerindo esses venenos — dissera o Kuruta, reprovando-o.

— Olha o sujo falando do mal lavado! — retorquira o Paradinight.

— Você trouxe meus chás?

Alluka bateu a pontinha do indicador no queixo. Se o pacote estava entre as cervejas de Leorio, pertencia a ele, certo? Mas, quando eles se mudaram para a pequena casa, Leorio mesmo dissera que as crianças poderiam comer todos os doces que quisessem. E o pacote continha doces. Alluka sorriu. Era uma garota muito esperta!

Ela correu para o quintal. Kurode ergueu a cabeça ao ouvir seus passos. Sentou-se todo bonitinho e latiu, mas a Zoldyck passou direto por ele e se acomodou na sombra da árvore. O cachorro sacudiu-se todo e foi atrás de Alluka. Cheirou o pacote que ela segurava e abanou a cauda ao reconhecer.

— Não, Kurode! — Alluka apertou a caixinha vermelha contra o peito. — Isso não é para você. Cachorros não podem comer doce.

Kurode também era esperto. Deitou-se de costas no gramado e virou a barriguinha para cima. Latiu outra vez.

— Não. O tio Leorio vai brigar comigo se eu te der chocolate. Agora vai, Kurode. Vai brincar!

Alluka balançou o braço esquerdo diversas vezes, mas o labrador limitou-se a fitar seu rosto. Com um suspiro, a garota pegou um graveto e jogou o mais longe que conseguia — cerca de dois metros. As orelhas de Kurode nem se mexeram.

— Está bem! Está bem!

A Zoldyck abriu o pacote e se deliciou com a visão dos palitinhos cobertos de chocolate. Pocky. O melhor doce do mundo! Ela pegou um deles, sempre desviando o olhar para Kurode, que estava concentrado. Fez com o palito a mesma coisa que fizera com o graveto, e lá se foi o pobrezinho, descrevendo uma pequena parábola até cair a dois metros da árvore. Kurode atacou-o como se fosse um inimigo mortal.

— Pronto. — Alluka levou o indicador aos lábios. — Não conta para ninguém, tá?

Kurode sentou-se diante dela, ainda mastigando. Fitou o pacote de Pocky como se sua vida estivesse em risco.

— Não, não, não! Você já comeu demais, Kurodinho! Agora sai. Deixa a Alluka e a Nanika comerem em paz.

Os ganidos. Ah, os ganidos! Partiriam o coração de qualquer um que fosse minimamente gentil. Mas não o de Alluka.

— Sai — sussurrou a garota. Seus olhos, contudo, estavam negros.

Kurode tremeu-se todo e disparou para dentro da casa. Na distância, ouvi-se uma exclamação de Leorio, seguida pelo ruído de uma latinha caindo no chão.

— Prontinho! — riu-se Alluka. — Ei, Nanika. Trouxe Pocky para a gente.

E elas já não estavam mais no jardim. O mundo em que se encontravam era outro, incompreensível para as mentes de meros mortais. Sem as mesmas cores, sem os mesmos sons. Um mundo criado pela própria realidade que as garotas viviam e destinado a ninguém mais. Sentadas uma de frente para a outra, Alluka e Nanika sorriam. O pacote de Pocky entre elas.

— O onii-chan disse que o Pocky é um doce para você dividir com quem gosta. Eu gosto de você, Nanika! Então quero dividir com você.

— E eu gosto de você, Alluka.

Sorrisos. Eram duas amigas felizes. Alluka retirou um palitinho do pacote. Ensinou as regras do jogo a Nanika, que inclinou o rosto de lado.

— Perde quem soltar primeiro. Pronta?

Nanika não respondeu. Estava perdida em pensamentos. Mas Alluka sabia ler seus olhinhos negros muito bem.

— O que foi, Nanika, não quer brincar?

A outra balançou a cabeça.

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— Quero. Quero, sim!

Alluka levou o palitinho à boca e segurou-o entre os dentes. Fechou os olhos. Por um instante, Nanika não soube direito o que fazer. Aproximou o rosto devagar, seu coração batendo forte. A verdade é que, no fundo, no fundo, ela queria brincar com outra pessoa.

Ela queria brincar com Killua.

“Porque eu amo o Killua.”

Leorio resmungou baixinho. Seu pacote de Pocky sumira. O pacote que ele acabara de comprar sumira! Como beijaria Kurapika agora? Oh, não... Espere... O Paradinight coçou a nuca, perguntando-se onde o doce poderia estar. Talvez Killua tivesse surrupiado para si. Era bem a cara do Zoldyck... Ou talvez, apenas talvez...

— Leorio? — chamou Kurapika, entrando na cozinha. — Onde mesmo você guardou os chás?

— Na gaveta de cima — grunhiu o mais velho. Seu coração batera acelerado ao ouvir o próprio nome.

— Lugar estranho que você escolheu.

Leorio espiou por cima do ombro enquanto Kurapika preparava tudo. O Kuruta ferveu a água, despejou-a em sua caneca com estampa de gatinho e acomodou o sachê. Ficou alguns minutos assim, esperando enquanto girava a caneca calmamente. O Paradinight pigarreou, decidido a perguntar.

— Kurapika?

— Leorio?

Eles disseram ao mesmo tempo.

— Você primeiro — concedeu Leorio.

— Bem... Você trouxe mais pacotes de Pocky? Eu estava a fim de provar...

Trocaram um olhar significativo.

— O biscoito. Eu estava a fim de provar o biscoito. Não consegui da última vez...

Leorio sentiu a felicidade preencher seu peito. Abriu o armário, remexendo os engradados de cerveja. Só então lembrou que o pacote de Pocky sumira. Killua... aquele maldito.

— Desculpe, acabou. Amanhã eu compro mais.

— Ah, não precisa.

— Mas eu...

— Não precisa! — Kurapika levantou-se, segurando a caneca. Ainda não bebera uma única gota de chá. — Tudo bem. Eu vou para meu quarto agora.

E partiu, deixando o Paradinight sozinho. Com um suspiro, o mais velho pegou uma latinha de cerveja e se dirigiu à varanda. No meio do caminho, foi atropelado por Kurode. A latinha caiu no chão, espalhando cerveja para todos os lados.

— Droga...

Leorio limpou tudo com uma carranca imensa e depois foi buscar seu merecido descanso. Talvez deitasse à sombra da árvore do jardim para relaxar. Mudou de ideia assim que chegou à varanda. O lugar desejado já fora ocupado. E o ladrãozinho do Pocky fora descoberto. Ou melhor, a ladra.

— Ei, Leorio!

O Paradinight deu um pulo.

— Que susto, Killua! Não faz mais isso!

O Zoldyck franziu o cenho, entediado.

— Você viu a Alluka hoje?

— O quê? Ah, vi, sim. Ela está bem ali.

Killua olhou para sua irmã. Ela estava sentada sob a árvore, toda feliz com os olhos fechados e o palitinho de Pocky preso em seus lábios. Em vez de comê-lo, ela simplesmente ficava parada, aguardando sabe-se lá o quê.

— Ei, Killua... O que ela está fazendo?

— Eu não tenho a menor ideia. Vou lá pedir um Pocky.

Leorio deteve-o, segurando seu ombro.

— Acho melhor não.

Killua arqueou as sobrancelhas. Pensou em perguntar por que, mas a resposta parecia óbvia. Alluka estava em seu próprio mundo e estava feliz. Killua não queria incomodá-la.

Leorio, no entanto, apontou por cima do ombro com o queixo. E o Zoldyck viu. No canto escuro da sala, perto do corredor, dois olhinhos maliciosos brilhavam. Kurode.

— Eu... eu compro mais amanhã.

O Paradinight deu alguns tapinhas nas costas de Killua e retornou à cozinha para pegar cerveja. Ou quem sabe um chá.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.