The New World

O Fardo


PONTO DE VISTA – ROB

— ENTRA! ENTRA! ENTRA! – Mary gesticula desesperadamente enquanto Rey e Carley pulam para dentro da sala. Jogo o cano que anteriormente era uma das pernas de uma mesa para o lado e começo a empilhar as mesas na frente da porta que Matt subitamente tinha fechado.

Eu nem acredito. Mal posso acreditar no que aconteceu lá fora.

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— Conseguiram?! Vocês conseguiram?! – Matt virou ofegante em direção a um Rey e uma Carley que estavam com reclinados com as mãos no joelho, parecendo extremamente cansados. Peguei novamente minha arma metálica do chão e comecei a me direcionar na direção deles, curioso.

Realmente saímos por um momento dessa sala. O disfarce funciona. O plano funcionou, ela estava certa.

O plano de Carley funcionou.

— Sim. Aqui... – Carley começou a tirar a mochila das costas, ela apoiou a bolsa em cima da mesa dos professores e começou a abri-la.

— Ah! Caramba! Tem umas mochilas aqui que não são nossas. Vocês acharam alguma coisa? – Rey perguntou virando para falar com Mary e Matt

— É! Achamos melhor pegar uma mochila qualquer e começar usar ela pra trazer as coisas, mas só achamos umas duas garrafas água e um Doritos... – ela soava chateada.

— Na nossa época todo mundo trazia uma garrafinha de agua né, agora numa sala com 30 carteiras a gente acha DUAS garrafas! – Matt soava crítico – um cúmulo!

— E UM Doritos! As pessoas não comem não?! – Mary continuava a critica.

Eu me aproximei da mochila de Carley enquanto ela ia depositando três garrafas d’agua na mesa, tiradas do bolso externo de sua bolsa. Quando olhei com atenção para dentro da bolsa não pude conter um comentário:

— MEU DEUS, ISSO É UM CROISANT?!

Senti minhas costas serem fuziladas pela atenção que tive, apoiei novamente minha arma na mesa e meti a mão dentro da bolsa puxando o alimento.

Honestamente, não consigo me imaginar mais faminto do que estou agora.

Eu não liguei para o fato do Croisant aparentar ter sido atropelado por uma manada de elefantes, ou estar mais gelado do que a Elsa caso ela estivesse muito irritada, foi a refeição mais deliciosa que eu lembrava de ter comido.

Logo, todos estavam comendo. Ninguém falou nada, a sala ficou um silencio porque todos estavam ocupados comendo. Não pude deixar de reparar que cada um de nós comeu dois do Salgado Gelado.

Pensei em pegar mais um, mas Carley fechou a bolsa.

— Eu não peguei tantos assim. Sobrou 2 apenas, e um saco de pão de forma. Melhor guardarmos pra mais tarde. – ela disse, eu fiz um bico, mas me dei por satisfeito.

— Ei gente – Harry chamou nossa atenção enquanto limpava a boca e ia em direção a mochila que ele havia pego em uma das salas na nossa pequena aventura – vamos colocar na mesa tudo que a gente pegou, assim a gente pode racionar. Todos concordamos e assim fizemos.

— Oito garrafas d’agua, 1 Doritos, um sanduiche, três pacotes de bolacha, 2 salgados, cinco latas de refrigerante e um saco de pão de forma! – Rey comemorava vitorioso – Acho que dá pra gente se virar até chegar na sua casa, Carley!

Nossa até daria pra eu comer mais...

Pssst! Cala a boca e para de ser gordo! Temos que racionar!

— Só tem 6 garrafas cheias. Então cuidado, pessoal. Coloquem as garrafas vazias aqui nesse bolso... – Carley gesticulou para o bolso externo, e Matt e Harry colocaram as garrafas vazias lá. Nós havíamos dividido entre nós para que sobrasse mais agua.

— Tem mais uma coisa que eu achei em uma bolsa... – Harry se levantou da onde estava sentado e colocou a mão no bolso. Ele tirou um pequeno objeto preto, do tamanho de uma lixa de unha, havia um botão metálico em uma das laterais.

Isso é um...

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Ele apertou o botão e uma lâmina apareceu em uma das pontas, Carley arregalou os olhos.

— Você achou um CANIVETE?! – ela disse dando muita ênfase na palavra “canivete”

— Parece que tínhamos um psicopatinha na escola que levava isso na carteira! – Harry disse rindo de leve enquanto passava o canivete pra Carley, que estudou o objeto.

— Com certeza vai ser útil. – eu digo.

— Uhum. – Harry balançava a cabeça pra mim.

— Gente, vocês sabem o que precisamos fazer agora né? – Carley disse.

Todos nós ficamos em silencio. Eu sabia o que viria agora, agora seria a nossa hora de nos ensoparmos com sangue...

Coloquei a mão disfarçadamente na boca, não sei se meu estômago aguentaria...principalmente depois de ter comido. Os Croisant poderiam voltar com força total.

— Ah. É... – Mary disse virando a cabeça lentamente pra trás. Todos nós olhamos também. O corpo da professora continuava no chão, mas enquanto eu comia até me esqueci que ele estava ali apesar do cheiro continuar sempre presente.

— Quem vai primeiro? – quis saber.

Todos nós nos olhamos, ninguém respondeu.

— Que tal “Dois ou Um”? – Rey propôs. Nos olhamos todos novamente e assentimos. Carley e Rey ficaram onde estavam, enquanto Mary,Harry , Matt e eu fizemos um pequeno círculo.

— Dois ou Um! – falamos em uníssono.

PORRA! MERDA!

— Rob vai primeiro. – Matt me disse. Todos haviam mostrado apenas dois dedos, enquanto eu mostrei apenas um. E sabíamos que nesse jogo, quem colocasse a quantidade diferente de dedos seria o primeiro escolhido.

— Merda! – falei mostrando meu descontentamento.

— Vamos ver quem vai depois? – Mary perguntou para as pessoas restantes da roda, que assentiram. Eu fiquei mais perto de Rey e Carley.

— Ainda bem que já fomos! – Rey disse pra Carley e soltou um riso frouxo, Carley não riu, ela só assentiu lentamente enquanto levantava as sobrancelhas.

— Droga! – Mary exclamou do outro lado da sala, ela se virou para onde eu estava e começou a vir em nossa direção.

— Par ou Ímpar? – Matt perguntou

— Tá – Harry disse.

— Par! – Matt falou.

— Ímpar! – Harry mostrou três dedos, Matt mostrou apenas um.

— Vou por último! – Matt bateu uma palma em comemoração enquanto Harry exclamava um “merda”.

Logo todos olharam para mim, e eu percebi o que estavam esperando com aquilo.

Ok. É agora.

— Acho que eu sou o primeiro né... – comecei a caminhar em direção ao corpo de Tasha em passos lentos.

— Quem mandou ter dedo podre. – Matt disse soltando um riso frouxo e eu mostrei meu dedo do meio a ele. Mary riu.

Nós estamos rindo? Porque estamos rindo disso tudo? Não estamos bem! Estamos presos ainda!

Mas por outro lado...

Conseguimos comer alguma coisa...conseguimos nos hidratar, Carley fez um plano que deu muito certo, nos juntamos e fizemos isso dar certo juntos. Meus amigos até conseguiram matar os zumbis lá de fora.

Eles mataram. Tipo de verdade...

Mas não eram pessoas. Não mais.

Agora você pensa nisso, Rob? Porque eu digo que se Mary e Matt não tivessem saído na frente e as coisas tivessem dependido de você, o plano teria sido um fracasso e seus amigos estariam mortos.

Você não conseguiu naquela hora, como vai conseguir agora?

— Rob? – uma mão me tocou, me virei assustado com meus próprios pensamentos e encontrei um Matt preocupado me encarando.

— Tá tudo bem? – Carley disse de longe.

Eu havia percebido que enquanto eu caminhava até o corpo de Tasha, eu tinha parado no meio do caminho, fiquei lá parado de costas para todos e não prossegui. Estava perdido em pensamentos e agora eles vão achar que eu paralisei.

Mas você paralisou.

Você paralisou antes...é por isso que não conseguiu fazer nada com aquele pedaço de cano que você tinha na mão a poucos minutos atrás. Todos fizeram sua parte, menos você.

Isso não é verdade.

O que você achou nas salas Rob? Qual foi sua contribuição?

— Ei! – Matt me chacoalhou. Eu havia me perdido de novo – Que isso Rob? Tá me assustando! – Matt tinha um olha preocupado, eu percebi que todos tinham se aproximado. Devem estar me achando um esquizofrênico.

Você não achou nada. Não contribuiu em nada. Só haviam cadernos e apostilas, as mochilas não tinham nada de interessante.

— Está com medo? – Matt me perguntava.

— Sim... Não! Quer dizer... – eu estava confuso. Eu não definiria o que eu sentia como medo, eu apenas...não sabia dizer.

— Está com nojo? – Harry perguntou sem se aproximar.

— Acho que sim... – não sei dizer se tinha acabado de mentir para Harry ou não.

— Não vou mentir e dizer que vai ser uma experiência agradável mas... – Carley começou a dizer – É algo necessário. Pense que você precisa fazer isso pra sair daqui.

— Faz igual a gente fez, Rob. Só agacha ali e não olha pra baixo. – Rey disse.

— Eu vou até ali com você, tá bom? – Matt disse me abraçando de lado. Eu assenti e ele começou a me guiar até o corpo novamente.

Carley fez o plano e está claramente na liderança daqui. Excluindo também o fato que ela aparentemente é a única que está com a cabeça no lugar, não chorou uma única vez, o que me faz ficar preocupado e ao mesmo tempo aliviado.

Rey foi lá fora com ela, trouxe a água e a comida e ajudou a desenroscar as pernas das cadeiras para que pudéssemos usa-las como armas. E ele me salvou quando a professora me atacou...

Matt foi aquele que matou primeiro. Tirou Tasha da jogada definitivamente e foi o segundo a sair da porta com uma arma em mãos quando o momento chegou.

Harry fez as suposições de como os zumbis funcionavam, e parece que ele, depois de Carley é o que tem mais estômago aqui. Ele foi também o que se voluntariou junto com Carley para ficar de vigia na janela quando nós nem sequer conseguíamos olhar para fora.

Mary foi corajosa. Foi a primeira a sair da porta por conta da raiva que ela pegou desses zumbis...ela ainda tentou reanimar Tasha quando a mesma faleceu e abriu nossos olhos sobre a provável chance do governo saber que o vírus iria se espalhar.

E você? O que você fez? Além de ter ficado por último na hora de sair DE PROPÓSITO para que todos se arriscassem primeiro?

— Pronto? – havíamos parado de frente para o corpo. Eu pisquei repetidas vezes para voltar a realidade, mas acabei assentindo. Matt percebeu meu desconforto.

— O que está acontecendo? – ele disse baixo, para que somente eu ouvisse. Os outros estavam ainda próximos a mesa dos professores, imóveis, vendo tudo de longe.

— Eu ainda não sei, Matt. – sou sincero com ele. Matt é meu melhor amigo e não merece ficar no escuro.

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— Vamos conversar. – ele me responde, mas eu nego com a cabeça.

— Não. Agora não. Preciso fazer isso. – respondo e já me agacho na frente da professora. Matt fica em pé me olhando confuso.

Eu vou fazer isso. É só sangue, todos nós temos sangue certo? Nada de mais, não é nada de mais...

Matt descobre a professora e eu fecho meus olhos com força e coloco ambas as mãos na boca depois de ver todo o tórax da professora aberto. Nesse momento, minha cabeça pensou em todos os seriados e filmes relacionados a médicos que eu tinha visto, o que me fez pensar logo em seguida que aquilo não se tratava de um filme, e sim de uma professora que me dava aula.

— Não olha! – ouvi Matt dizer.

Para! Para! Todos fizeram algo! É agora que você vai começar a mostrar pra que veio!

Será mesmo?

SIM! É ISSO MESMO!

Me forcei a abrir os olhos, mas como me recomendaram, não olhei para baixo. Fui levando minhas mãos lentamente para baixo até que finalmente entrei em contato com algo líquido, ao lembrar que era sangue acabei gemendo de nojo.

— Não passa perto dos olhos nem do nariz, Rob. – Ouvi a voz de Carley atrás de mim, vi os outros também se aproximarem.

Passei minhas mãos na minha camiseta e acabei expondo meu nojo novamente. Eu simplesmente não estava acreditando que eu estava fazendo tudo aquilo. Mas depois de alguns minutos, surpreendentemente eu estava me acostumando com aquilo.

Rey e Carley fizeram isso. Ela está morta. Tasha está morta. Não pense sobre isso, ela já morreu.

— Rob, ela morreu tá legal? – Matt disse pra mim e eu o olhei surpreso. Era impressionante a conexão que tínhamos.

— Não pensa muito, Rob. – Carley disse e eu fiquei confuso por um instante com o que ela acabara de dizer. Eu conheço Carley a tempo suficiente para saber que ela é a pessoa mais meticulosa que conheço, gosta de ter tudo planejado e não gosta de imprevistos. Ela sempre foi assim...sempre foi de pensar nas coisas...desde o tempo que estudávamos juntos quando ela se sentava atrás de mim e fazia piadas sem sentido que me fazia rir como um condenado.

Era difícil ver esse semblante em Carley agora.

Agora ela me diz para não pensar?

— Isso aí é um monstro. Não importa quem era antes, a única coisa que você tem que pensar é que é um monstro que quer te impedir de voltar pra casa! – Mary disse e eu realmente acredito em suas palavras. Eu continuo a me encharcar de sangue, mas eu QUASE paraliso por um segundo quando minhas mãos tocam em algo sólido.

OH DEUS! ISSO É UMA TRIPA?!

Minhas bochechas se enchem de ar, mas eu sigo o conselho de Carley e não penso. Apenas continuo, me forçando ao máximo.

— Pensa que você é tipo uma das “Três Espiãs Demais” e agora está preparando um disfarce! – Matt solta e todos riem, inclusive eu. Carley só dá um leve sorriso sem mostrar os dentes.

Definitivamente aquele não era o semblante que eu me lembro.

Depois de eu passar em toda a minha frente, me viro de costas. Carley se voluntaria para passar sangue nas minhas costas e pede para Mary ir em direção ao corpo para começar a sua vez. Ela vai enquanto inspirava e expirava profundamente, sempre soltando o ar com força.

Sentia o sangue se escorrendo pelas minhas costas fazendo meus pelos da nuca se arrepiar, depois de alguns minutos, enquanto Carley ainda terminava de me ensopar, vi Mary levantar. E para precaver alguns pensamentos que poderiam voltar a tona, resolvi fazer um comentário:

— Nossa Mary! Que agilidade toda foi essa? Passou direito? – eu perguntei enquanto via Harry ir para a frente do corpo lentamente.

— Deixa eu passar nas suas costas. – Rey falou e Carley olhou rapidamente para ele.

— Tem certeza? – ela perguntava olhando nos olhos de Rey, e ele assentiu lentamente.

Heh. É engraçado. Da mesma forma que Eu e Matt nos comunicamos por olhares, o mesmo acontece com Carley e Rey...

— Bom Rob...sabe como é né...eu não tenho taaaanto problema assim com sangue, eu acho.... – Mary começou a responder a minha pergunta, escutei um gemido de nojo atrás de mim enquanto Carley erguia o dedão em um gesto positivo indicando que eu estava pronto. Olhei pelo meu ombro e vi que Harry estava passando o sangue mais lentamente que Mary, mas ele não parava.

— Nossa, mas você foi o próprio Flash passando sangue! – exclamei enquanto andava com os braços abertos para longe fazendo sangue pingar no chão. O que não era uma novidade já que havia sangue em todo lugar naquela sala, praticamente.

— Meu querido, ver sangue não é uma novidade pras mulheres. – Mary comentou e logo em seguida riu da própria piada, Carley soltou um riso nasal e as duas trocaram olhares.

— Ecaaaa! – mostrei a língua pra ela, e depois ri de leve balançando a cabeça negativamente.

Mary se juntou a mim alguns minutos depois que Harry se virou de costas para que Carley passasse sangue nele. Chegou a vez de Matt e eu resolvi chegar perto dele para apoia-lo, da mesma forma que ele havia feito pra comigo.

— Ai meu deus...vamos logo com isso. – Ele começou a dizer aos suspiros enquanto se agachava em frente ao corpo, mantendo seus olhos longe do peito aberto da professora. Eu também não olhava para o corpo.

Não vi relutância nele enquanto ele abaixava as mãos para que elas finalmente ficassem em contato com o sangue, ele fez alguns “argh!”, mas isso todos nós fizemos. Foi aí que lembrei que não tinha falado com ele ainda sobre todos os acontecimentos que haviam acontecido recentemente...como por exemplo o fato dele ter sido aquele que matou a professora zumbi. Ele parecia bem, e isso me preocupava, pois eu imaginava que isso não era algo fácil...

Eu mesmo não consegui matar nenhum deles lá fora...mas não sei dizer se foi por falta de coragem ou por eu achar um ato extremo...apesar que eu não culpava ou julgava meus amigos que já tinham feito isso até o presente momento.

— Matt... – eu disse. Ele se virou pra mim, e vi que ele estava com a cara amarga, porque continuava a passar o sangue.

— Sim? – ele disse em meio a caretas.

— Você está bem? – perguntei e logo em seguida fiz uma careta. Ele riu de leve. Era óbvio que não estávamos bem, mas não era bem isso que eu queria dizer. – Quero dizer...não conversamos sobre você ter agido contra Tasha. – me esclareço e vejo seu sorriso morrer. Ele desvia o olhar do meu e fica encarando o além, fazendo algumas caretas a cada vez que suas mãos se encostavam em suas roupas, as sujando de sangue.

— Sinto muito. – digo com sinceridade. Não queria que meu amigo tivesse passando por isso. Ele vira o rosto novamente pra mim e parece incrédulo mas ao mesmo tempo surpreso com o que eu acabara de dizer, o que me deixou confuso.

— Sente muito porque?! – ele soa ainda mais incrédulo que sua expressão.

— Por tudo que você teve que fazer, ué! Eu não sei se conseguiria fazer o que você fez. Acabou salvando todos nós naquele dia... – eu respondo e ele me dá um sorriso cansado enquanto balança a cabeça negativamente e volta sua atenção no corpo.

O que está acontecendo com ele?!

— Ah, conseguiria sim Rob. Todos vocês conseguiriam. – ele diz.

— Ah eu não... – começo a falar mais sou interrompido.

— Pare. Conseguiria sim. Se você tivesse no meu lugar, você teria tido DUAS opções – ele parece irritado, mas não sei dizer ao certo. Ele parece querer despejar tudo que tem pra falar de uma vez – DUAS. Ou você ficaria parado vendo uma coisa matar o Rey em questão de segundos ou você desceria um cano na cabeça dela. A escolha foi fácil. – ele diz e volta a olhar o corpo. Eu fico perplexo o olhando.

— Não diga nunca que você não é capaz de fazer alguma coisa, Rob. Porque pode chegar o momento que você não vai ter escolha, sabe? Vai ser Eles ou Nós. – ele se vira pra mim, me olhando nos olhos.

— Eu não fiz nada que alguém nessa sala não faria, e isso inclui você. Eu admito que depois do ocorrido eu fiquei um pouco confuso por não ter me arrependido do que fiz, mas depois que Carley falou comigo, ela me fez enxergar que essas coisas lá fora não são mais pessoas. E quanto mais cedo você aceitar isso, melhor pra você lidar com as coisas sabe? É a realidade de agora. – vejo em seus olhos que ele realmente acredita em suas palavras. Eu abro minha boca pra falar alguma coisa, mas nada sai.

— Então não se sinta mal pelo que eu fiz, porque eu não me sinto. Tasha morreu na frente de todos nós, e a cada momento que penso nela fico triste. Mas acredite... – ele se vira novamente para o corpo, o olhando desta vez. Ele solta um longo suspiro.

— Eu me sinto bem por ter livrado ela do fardo de ficar por aí zanzando sem rumo igual aqueles desgraçados na rua. – Ele pega mais uma concha de sangue e passa perto do pescoço. Depois disso, ele se levanta.

Me pego concordando com ele.

Não faz sentido ter medo disso, mas minha insegurança é maior. E o fato de eu não ter ajudado em nada até agora me faz me sentir um lixo. Todos estavam lidando com as coisas muito melhor do que eu...

Matt agora repetia as mesmas palavras que Carley falara para nós...

Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Será que no final das contas eu tinha medo de agir? Eu tinha medo que as coisas dessem errado? Porque honestamente, eu não me via mais com medo dos zumbis em si. Eles eram como demônios que possuíam as pessoas, as fazendo se transformar em coisas que elas não eram, mas a diferença era que a pessoa morria para isso acontecer, então não fazia sentido eu ter medo de matar algo que já está morto.

Isso faz sentido? Não sei dizer.

Só sei que Matt havia falado algo que fez despertar um novo sentimento em mim em relação aos zumbis...

— Eu tenho pena deles. – eu digo e Matt me olha.

— Não tinha pensado neles por esse lado, sabe? Você falou em livrar a professora de um fardo...ela não merecia sofrer e você ajudou. Espero que eu consiga ajudar as pessoas também... – eu digo e sorrio fraco. Ele sorri de volta.

— Estamos nessa juntos. Eu entendo que você deve estar se sentindo receoso com tudo isso, todos estamos. Mas é melhor passar pelas coisas juntos do que separados não acha? – ele diz e eu me vejo sorrindo novamente para ele e afirmando com a cabeça.

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Matt era o melhor.

Eu vou conseguir. E vou conseguir junto com eles.

Vamos sair daqui.

Depois de Matt ter sangue passado em suas costas, todos nós voltamos a pegar nossas armas.

— Cada um pega a mochila que trouxe e coloca na frente do corpo, assim é melhor caso a gente ache alguma coisa útil lá fora. – Carley diz enquanto coloca a mochila virada para frente do corpo, deixando os bolsos e zíperes todos em sua frente.

— Vamos? – Mary diz.

— Vamos sair dessa merda. – Carley diz, mas antes de começarmos a mover as mesas, ela se vira novamente para nós.

— Antes de mais nada, lembre-se: Fila indiana, tá legal? Eu vou na frente, depois Harry, Rey, Mary, Rob e Matt por fim. Não falem nada, não se movam muito rápido, o segredo é agir como eles. Se eles chegarem perto de vocês, fiquem parados e esperem eles passarem. – ela nos explica e Rey vai afirmando tudo com a cabeça.

Imagino que Rey e Carley devem estar mais calmos por já terem feito isso antes.

— Se acharem algo útil no chão, se abaixem lentamente e peguem devagar. E não usem as armas em hipótese alguma a não ser que dê merda. Entendido? – ela fala e todos nós assentimos.

— Como assim se der merda? Como vamos saber? – Mary pergunta.

— Ah você vai saber, acredite. Dá pra sentir o cheiro da merda. – Matt fala, mas ninguém ri. Estávamos todos tensos demais. Carley se vira pra frente e começa a tirar as mesas junto com Harry.

Acho que minhas partes baixas vão entrar pra dentro do corpo de tanto medo que estou agora.

Lembre-se do que Matt disse...lembre-se do que Matt disse.

Carley...

Confie nela. Você sabe que ela vai tirar todo mundo daqui.

Eu respiro fundo.

— Vou abrir a porta. Vamos sair daqui. – Carley diz. Escuto Matt suspirar profundamente atrás de mim, Mary treme os lábios levemente e Harry começa a piscar freneticamente. Rey parece ofegante, acho que não estava tão calmo assim. Carley parecia bem, mas seus olhos estavam frenéticos olhando para várias direções.

Ela coloca a mão na maçaneta e finalmente abre a porta.