Capítulo 16

O último sinal finalmente bate e guardo minhas coisas em uma velocidade tão lenta que qualquer um teria percebido que só quero que todos saiam da sala. Bradley está sentado em sua mesa olhando para uns papeis e as vezes olha por cima dos montes de livro, esperando que a sala se esvazie. Quanto tempo uma pessoa demora para colocar um caderno no mochila? Estou impaciente e praticamente não tenho mais nada para guardar e essas pessoas não saiem.

Assim que o último adolescente passa pela porta, Bradley abaixa a cortininha do vidro da porta, vem em minha direção e eu o beijo. Apesar de ter o visto ontem, estou com saudades. Ele recua cedo demais. Estranho.

_Conseguiu destruir o casamento do ano?- me pergunta enquanto me abraça.

_Por incrível que pareça sim.-digo desanimada.

Ele vira meu rosto e, cara a cara, me pergunta- Então porque está triste?

_Não sei. Era para eu estar feliz. Lyra finalmente vai ficar com Henry, mas só consigo sentir esse vazio em mim.- respondo com minha cabeça em seu ombro.

_Você está triste porque ela vai se casar, vai morar no palácio e te deixar. Ela é sua amiga, você fez isso tudo para ela e agora ela vai embora. Você está brava com o que ela fará.

_Virou pisicólogo agora Chamber?- pergunto rindo. - E não diga que é uma das suas muitas qualidades, porque sabemos que você não tem qualidades certo?

_Certíssima!

Rimos juntos por um tempo até que as risadas de extinguem e o silêncio se espalha.

_Você tem o direito de se sentir assim Lou, é normal, mas ela tem o direito de ser feliz. Não estou dizendo que tem que ficar alegre pela sua partida, mas tem que respeitar as decisões e apoia-la. Porque é isso que amigas fazem. Se ela for embora, melhor ainda, vou ter você em dobro, sem precisar dividir mais!- já em pé, Bradley levanta as mãos e diz como se estivesse tendo a melhor ideia de todas.

_O meu palpite é que ela vai te levar para o palácio com você. E eu vou sair perdendo- a última parte pareceu mais um sussurro e duvido era para eu ter ouvido. Finjo que nada aconteceu e me levanto também.

_Você está certo. Se meu plano der certo, Henry vai querer se casar com ela, e se ela se casar, precisamos fazer com que seu pai apareça. Será que poderia me levar?- digo manhosa chegando cada vez mais perto- Por favorzinho?

_Achei que fosse seu namorado, não seu motorista.

_Pode ser os dois. Mas motorista vem primeiro!-digo o beijando rapidamente e saindo.- 6h. Não se esquece.- grito da porta.

_No nosso próximo encontro vou te ensinar a dirigir!- ele grita de volta.

Assim que boto os pés no palácio, me espanto com o número de pessoas presentes. As famílias reais vão passar a semana lá? Tá de brincadeira né? Chego para o primeiro guarda que vejo e pergunto onde estaria Henry.

_Sua Alteza está na almoçando, assim como todos os convidados. Gostaria de ser anunciada?

E entrar no meio de todas aquelas pessoas? Nem morta. Gentilmente recuso e peço que chame Daphne e Henry aqui fora. Ele reluta.

_Por favor, é de extreme interesse deles. Se for um incomodo, assumo total responsabilidade.-suplico.

Os dois saiem do salão praticamente correndo, preocupados, mas assim que me veem, relaxam.

_Ah é só você. Achei que fosse importante. Posso voltar para minha comida?- Henry pergunta desinteressado

_Vem logo Henry!- Daphne manda enquanto o puxa pela orelha até seu escritório.

_Já contou para ele?- pergunto para Daphne.

_Ainda não, queria deixar que você conte.

_Contar o que caramba- Henry se estressa enquanto massageia sua orelha vermelha.

Olho para a princesa da França novamente e ela assente.

_Conta logo!- ele exige

_Relaxa! Daphne desistiu do casamento!- digo animada.

_você está brincando né? Obrigada! Muito obrigada!

Nunca o vi tão feliz. Assim que as palavras saíram de minha boca, Henry abraça Daphne tão forte que poderia ter a sufocado e depois chora.

Enquanto Henry se recompõe, Daphne sai de fininho. Preciso falar com ele, sozinhos.

_Henry, o que você sente pela Lyra?

Assim que se recupera do choque da pergunta, ele responde.- Nada demais, ela é minha amiga.

_Henry, o que sente de verdade por ela?- pergunto novamente.

_Já disse. Ela é minha amiga.

_Não pareciam amigos ontem quando a beijou.

_Aonde você quer chegar?

_Só quero dizer que ela te ama. Não sei como ela te ama depois de tudo o que fez por ela, mas ela te ama. Ela me mataria se soubesse que te disse isso, mas você precisa saber. E eu acredito que você a ame também. Que por trás desse seu muro de badboy, de quem não liga para ninguém, você se importa. Senão não teria pedido ajuda, poderia muito bem ter feito isso sozinho, mas não, você quis ela. Você queria se desculpar por tudo o que fez, queria que ela soubesse que você mudou, que a opinião dela importa e que você se arrepende por ter sido um idiota. Você prefere nunca mais ver ela, mas sabendo que ela te perdoou do que continuar a vendo, mas sabendo que ela te odeia. Eu acho que você tem medo, medo de dizer o que sente e descobrir que ela te odeia de verdade.- a cada palavra que digo, Henry se encolhe mais na cadeira.- Mas já fiz metade do seu trabalho, já disse que ela te ama. Não precisa ter medo de rejeição mais. Vai ficar com a garota ou não?

O som foi tão baixo que por um momento achei que tivesse imaginado

_O que?- pergunto

_Eu vou.- ele responde, dessa vez mais alto.

_Eu vou o que?

_Eu vou ficar com a garota- diz convincente

Henry se levanta, endireita a roupa se dirige para trás da mesa e se apoia. Parece uma pessoa completamente diferente de segundos atrás.

_O casamento é sábado né? Mais alguém está sabendo sobre a desistência de Daphne?-pergunta com um sorriso malicioso.

_Só eu e você. Porque?-pergunto intrigada. O que ele está tramando?

_Os preparativos já estão todos prontos. Seria uma pena cancelar tudo, deu tanto trabalho!- diz inocentemente- Mas veja só, estamos em falta de noivas!- continua cinicamente. Estou começando a entender aonde ele quer chegar- Se houvesse uma determinada morena, que faria o sacrifício de se casar comigo, para salvar o dia depois de uma princesa ter fugido...

_Já entendi Henry. Você vai se casar com ela- digo o cortando.

_ Exatamente. Vou mandar os convites por correio, ninguém vai saber além de mim, você e Daphne. Você a convence de ir no casamento enquanto eu vou fingir estar bravo por estar me casando com a princesa. Daphne fingirá ser a noiva que nunca chegará na Igreja. Já consigo imaginar as manchetes, vai ser demais!

_Você só pensa em aparecer?-pergunto enojada

_Tem alguma coisa de errada nisso?

Reviro os olhos.

_Gostaria de ser a madrinha? Tenho certeza que Lyra aprovará.- diz sincero.

_Será uma honra.

Tive muito trabalho para conseguir esse endereço. Se ele não estiver em casa, eu piro completamente.

Bradley me deixou na porta do apartamento e pedi que me esperasse. O edifício é velho, mas um velho bonito. Ele mora na cobertura. Claro que mora. Não tenho ideia do que falar para ele, ou como convence-lo de ir no casamento de sua filha que ele não vê a anos. Uma parte de mim torcia para que ele não abrisse a porta, mas ele abriu.

O homem na minha frente é simplesmente maravilhoso. Tem por volta de 45 anos mas poderia se passar por mais novo com facilidade se não fossem as pequenas rugas em sua testa. O cabelo, negro destaca seus olhos verdes, igual a Lyra. Os dois são muito parecidos, idênticos na verdade.

_Boa noite. Quem é você?-ele pergunta desconfiado.

_Sou uma amiga da sua filha. Poderia falar com o senhor, por favor?

Ele abre a porta e me permite entrar. A sala é muito bem arrumada, não por ele, é o que parece. Itens de luxo pelo lugar inteiro.

_O que houve com a minha filhinha? Ela está bem?- ele pergunta preocupado

_Sim, ela está bem

Ele me convida para sentar e assim faço.

_Eu te ofereceria um chá, mas não sei fazer- ele ri- e minha mulher não está aqui.

Lyra nunca mencionou uma madrasta.

_Se ela está bem, porque está aqui?

_Lyra está noiva.- um sorriso se forma em seu rosto. Dou uma pausa e continuo- do futuro rei da Grã-Bretanha.

Seu queixo cai completamente de susto.

_Você está me dizendo que minha filha está noiva de Henry Schofield e que ela será a próxima rainha?

Sr. Campbell parece transtornado, atordoado. Não é para tanto, não é sempre que se descobre que sua filha será rainha.

_Se essa é a notícia, porque você está aqui e não ela?

_Então, esse é o problema. Ela não sabe que ela está noiva.

John parece cada vez pior, sem entender nada. Resolvo explicar.

_Então minha filha vai chegar na igreja no sábado achando que vai ver o casamento da princesa Daphne e na hora vai descobrir que ela é a noiva?

_Exatamente.

Nossa, isso soou muito melhor na minha cabeça. Não parecia tanta loucura.

_E o que você quer de mim?

_Vou ser direta. Quero que faça as pazes com Lyra.

_Quem acha que é para vir na minha casa e me mandar fazer as coisas? -disse levantando o tom.

_ Me desculpe. Mas Lyra te ama. Você é a única família que ela tem. Se ela perdoou Henry por tudo o que ele fez, acho que pode te perdoar também.

_Não é tão simples assim.- ele diz triste.

_Sim, é simples assim. Sua filha vai se casar. Ela quer você no dia mais feliz de sua vida. Ela só quer você lá, seu pai. Não me importa o que aconteceu entre vocês antes. O que importa é se você está disposto a pedir desculpas por ter sido um péssimo pai e fazer as pazes com ela.

Saio do apartamento com a sensação de dever cumprido. Já tenho os convidados, o local, a madrinha, o noivo, a família. Agora só falta a noiva.