Ele nada disse ao constatar que ela em nada lhe lembrava uma pessoa má, apenas continuou olhando-a enquanto a mesma parecia se empenhar ao máximo para parar o sangramento de sua perna, o que, mesmo usando magia, parecia estar dando trabalho.

– Eu não sou uma enfermeira, então estou fazendo o máximo que posso. – Malévola declarou, trazendo um pouco de preocupação oculta pelo tom de desinteresse em sua voz.

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– Tudo bem. – Soluço respondeu em um tom ameno, nada agressivo.

Ela levantou os olhos para fitá-lo, estranhando o comportamento dele, uma vez que sabia que, bem como qualquer outro aluno de Hogwarts, ele a odiava.

– Ora, ora. – Ela fez uma expressão séria que logo se desfez em um riso debochado que ecoou suavemente por entre as árvores. – Parece que o rapazinho desistiu de procurar briga.

– Você também não parece estar querendo confusão. – Soluço falou no mesmo tom de antes, mantendo-se atento a todos os movimentos dela.

Malévola sorriu de canto, embora continuasse com a expressão de deboche que sempre exibira desde que Soluço a havia visto pela primeira vez na aula de Poções.

Nenhum dos dois parecia querer quebrar o silêncio que se instalara ali. De certa forma, não estava sendo tão ruim quanto julgavam. Malévola, depois de quase uma hora, finalmente terminou de curar a perna de Soluço e ainda colocou uma sobressalente nova no lugar da que ele perdera.

Finalmente o castanho se levantou e a professora até o ajudou, visto que ele ainda estava um pouco dolorido e encontrou alguma dificuldade em ficar de pé. O silêncio ali só foi interrompido por passos que ecoavam por entre as árvores.

Malévola se pôs entre Soluço e o barulho, algo que fortemente o castanho estranhou, mas não era um inimigo que estava se aproximando deles.

Quando finalmente apareceu, os dois puderam ver uma garota de talvez vinte e dois anos, com cabelos loiros e olhos azuis, feições angelicais, vestindo calças azul-claro rasgadas e sujas de sangue e terra, blusa preta que estava em mesmo estado da calça e botas brancas sujas e malcuidadas.

– Aurora...?! – Malévola exclamou com uma irritação presente na voz que se misturava com uma preocupação absurda.

– Oi, mãe. – A recém-chegada, Aurora, se aproximou dos dois com extrema naturalidade, embora, por sua aparência, fosse evidente que ela estava vinda do confronto que se instalara nos Campos de Hogwarts.

– Mãe?! – Soluço praticamente gritou. Conhecia Aurora, afinal ela havia concluído seus estudos saído de Hogwarts apenas poucos anos antes, além de ter sido responsável pelo time de Quadribol da Corvinal, a qual ele fazia parte, durante seus anos na escola.

– O que você está fazendo aqui?! – Malévola continuava alterada e parecia ignorar firmemente a presença de Soluço ali.

– Vim ajudar, oras. – Aurora deu de ombros, trazendo um sorrisinho sapeca em seu eterno rosto de criança.

– Mas eu disse...! – Malévola percebeu que estava gritando e parou abruptamente, respirando fundo antes de continuar em um tom mais baixo, porém duro. – Especificamente para você ficar bem longe da escola durante a batalha.

– Você me protege demais. – Aurora cruzou os braços e desviou o olhar da mulher, que, apesar de mais contida, ainda parecia estar furiosa. – E se quer saber, Diaval concorda comigo.

– Ah, mais é claro. – Malévola revirou os olhos. – DIAVAL! – Gritou em um tom tão alto e irritado que Soluço sentiu pena da pobre alma que tivesse que enfrentá-la naquele momento.

Assim que ela finalmente se calou depois de um grito estridente e contínuo, um corvo apareceu ali e logo se transformou em um rapaz alto, pálido, de cabelos e olhos pretos, vestindo uma capa preta e com uma cicatriz bastante visível perto do olho esquerdo.

– Eu mandei você mantê-la segura bem longe daqui. – Malévola declarou, olhando para o rapaz com extrema reprovação e raiva.

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– Eu sei, minha senhora. – O rapaz, Diaval, se defendeu, levantando os braços em sinal de rendição. – Mas a senhora a observou a vida inteira. Sabe que ela é teimosa e não desiste quando quer alguma coisa.

– Não me interessa. Você não devia tê-la deixado vir. – Malévola rebateu, fechando os olhos com força como se mais um olhar na direção de Diaval fosse levá-la a matá-lo.

– Você se lembra de que eu ainda estou aqui, não é? – Soluço deu um passo na direção dela, finalmente conseguindo chamar sua atenção, mas quem lhe respondeu não foi Malévola.

Foi Aurora:

– Então é ele? – A loira apontou para o castanho com um sorriso de canto contido. – Quando você me falou, eu quase não acreditei, afinal eu conheço o Soluço, mas olhando para ele agora, até que se parecem.

– Como é?! – Soluço exclamou em um tom alto e estridente.

– Aurora. – Malévola a repreendeu.

– Que história é essa? – O castanho virou-se para Malévola.

A bruxa bufou e massageou as têmporas com a ponta dos dedos, como alguém que se pergunta: “O que eu fiz para merecer isso?”.

– Não te interessa. – Malévola finalmente declarou, virando-se na direção dos Campos de Hogwarts.

– Mãe... – Aurora se aproximou da professora e apontou para uma mecha de seu cabelo.

Malévola seguiu o olhar dela e então percebeu que uma mecha de seu cabelo começava a escurecer e ficar castanha, bem como seu rosto ficava mais fino e o chapéu transformava-se em chifres verdadeiros. A professora se apressou a tentar sair dali, mas Aurora a segurou com a ajuda de Diaval.

– Não acha que já está na hora de parar de se esconder? – A loira questionou com um olhar terno e compreensivo.

Malévola pareceu pensar por um segundo antes de finalmente parar de tentar sair dali. Virou-se para Soluço e o castanho finalmente pôde ver o rosto dela começando a mudar, como uma poção polissuco que perdia o efeito. O rosto ficou mais fino e as maçãs do rosto, mais duras. Reais chifres apareceram no lugar do chapéu que ela sempre usara. A pele ficou ainda mais pálida que antes, quase doentia. Os olhos verdes ficaram mais claros e belos.

E o castanho então a reconheceu. Levou a mão ao pescoço, mais especificamente ao relicário retangular prateado que ele tinha e abriu-o, podendo então ver a imagem de Stoico de um lado e do outro, uma mulher que ele agora sabia ser Malévola.

– Compreendo se você tiver se esquecido de mim. – Ela declarou com um sorriso contido e compreensivo, bastante diferente do habitual sorriso de deboche que sempre tinha lugar em seu antigo rosto. – Mas acho que uma mãe nunca esquece um filho.

Ela ficou absolutamente parada e fechou os olhos, jamais esperando a reação dele. De tal modo, não podia ter se surpreendido mais ao notar que ao invés de lhe fazer perguntas e a acusar de tê-lo abandonado, Soluço a abraçou com toda força que tinha, como se ele não fizesse, ela iria desaparecer e deixá-lo sozinho.

– Eu falei. – Aurora sorriu com verdadeira felicidade e Diaval revirou os olhos, embora parecesse satisfeito com a cena à sua frente.

– Não acha que é melhor chamá-lo agora? – Diaval apontou para os Campos de Hogwarts e Aurora assentiu, virando-se para trás e fazendo um gesto com a mão, indicando que alguém fosse até ali.

E quem o fez foi Stoico, que parecia mais do que contente ao ver Malévola e Soluço se abraçando como mãe e filho.

– Oi, Malévola. – O viking cumprimentou com certo mau jeito.

– Oi, Stoico. – Ainda abraçando Soluço, ela retribuiu o cumprimento dele com um sorriso brincando em seus lábios.

– Então? – Stoico prosseguiu sem graça. – Como vão as coisas com o Stefan?

– Ele está morto e eu amo e cuido da filha dele como minha. Como acha que as coisas estão? – Malévola respondeu com seu bom e velho humor ácido.

– Imagino que você tenha algumas perguntas, não é, Soluço? – Virou-se para o castanho, que abraçava a mãe de lado de modo que pudesse ficar de frente para o pai.

– Não. – O castanho respondeu, surpreendendo a todos ali. – Eu só preciso que minha família fique unida. – Ele declarou com um sorriso entusiasmado.

Malévola e Stoico se entreolharam, ambos surpresos pela atitude do castanho, nenhum deles proferindo sequer uma palavra.

– Ora, pelo amor de Merlin, assumam logo que se amam. – Aurora interveio, recebendo um olhar de reprovação de Malévola, a qual pareceu não se importar.

Uma explosão estrondosa e violenta se fez ouvir ali vinda dos Campos de Hogwarts, finalmente lembrando-os que estavam no meio de uma guerra.

– Você. – Virou-se para Diaval. – Mantenha Soluço e Aurora aqui e não quero saber de nenhuma desculpa. Se eu encontrar qualquer um dos dois lá, eu te transformo em um cachorro. – Sorriu com escárnio, visto que sabia que Diaval detestava ser transformado em cachorro.

– De jeito nenhum! – Soluço e Aurora protestaram.

– Uma ajudinha? – Malévola se virou para Stoico, massageando as têmporas com a ponta dos dedos com impaciência.

– Ora, vamos Malévola. – Stoico respondeu, alternado olhares entre ela, a loira e o castanho. – Soluço tem dezessete e Aurora tem vinte e dois. Acho que eles já têm idade para decidirem por si mesmos.

A Professora de Poções o fuzilou com os olhos e então se virou para Aurora e Soluço, que pareciam bastante determinados a voltar para os Campos e lutar.

– Tudo bem. – Ela concordou com um suspiro cansado. – Mas se vocês se machucarem alguém vai pagar e não me importa quem. De preferência Knotgrass, Flittle e Thistlewit. – Sorriu com a possibilidade de infernizar ainda mais as três fadas que criaram, ou tentaram criar, Aurora.

Os dois assentiram. Diaval foi transformado em corvo por Malévola e saiu voando dali. Stoico, Malévola, Soluço e Aurora mais uma vez correram aos Campos de Hogwarts e, naquele momento, pareciam mais motivados do que antes, visto que, quando voltassem da guerra, estariam com sua família completa.