A mulher, Carol, olha para o homem, como se estivessem tendo uma conversa silenciosa. Ele balança a cabeça positivamente para ela e Carol vira pra mim novamente.

—Grace, quantos walkers você já matou?

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Grace

Já havia anoitecido, eu, Carol e Lizzie estamos sentadas em torno da mesa enquanto descascamos as nozes que recolhemos. Lizzie ainda parece abalada, até mesmo triste com o bicho, não, Walker que eu matei mais cedo, será que ela não compreende que eles querem nos matar?

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—Ainda está triste? —Carol perguntou para a menina cabisbaixa.

—Às vezes eu não consigo entender, mas estou tentando, mesmo.

—Não tem o que não entender, eles querem te comer, são maus. Simples. —Eu digo a menina enquanto continuo minha tarefa de descascar nozes. Carol me lançou um olhar de repreensão e eu apenas balancei os ombros para ela. Não é porque aceitei ficar com eles e fui “aprovada” nos seus questionários que eu devo obedecer tudo o que ela diz.

O silencio que havia se estabelecido se quebra quando Mika desceu as escadas segurando uma boneca de cabelos vermelhos e um coelho de pelúcia. O meu coelho de pelúcia. Seus braços estavam envoltos nele e aquilo foi como se tentassem tirar minha ultima lembrança do meu pai. Quase que imediatamente meus olhos se encheram de lagrimas, sim, sou uma adolescente chorando por um coelho de pelúcia, dane-se.

—Olha o que eu achei! Vou a chamar de Grizelda Ganderson e ele... —Interrompi o falatório da menina, quando levantei da cadeira e tirei o coelho dos braços da menina e pressionei-o contra o meu peito. Meus olhos ainda marejados, agora olham a pequena menina com raiva.

—Quem deixou você mexer na minha mochila e pegar esse coelho?! Você não pode mexer nas minhas coisas sem a minha permissão, seus pais não te deram educação, garota?

—Grace, é só um coelho, ela não sabia. —Carol me disse tentando apaziguar meu pequeno surto em relação ao coelho.

NÃO É SÓ UM MALDITO COELHO, VOCÊ NÃO SABE NADA, CAROL! — Eu disse para ela com minha voz totalmente alterada que antes era de choro, agora é de pura raiva.

— Não grite com ela. — Lizzie disparou em defesa de Carol.

—AH CALA ESSA BOCA VOCÊ TAMBÉM. —Eu rosnei em sua direção, o que aquela garota quer se metendo? — VOCÊ ACHA QUE ESSAS COISAS SÃO NORMAIS!

—ELES APENAS SÃO DIFERENTES!

— VOCÊ É LOUCA! —Eu berro para ela antes de subir os degraus pesadamente e correr para o quarto em quais as minhas coisas estavam localizadas.

Estou há pelo menos uns quinze minutos no quarto, arrumando minhas coisas, na verdade, eu não estava a fim de encontrar eles, mas esperava sair daquela casa enquanto dormiam, seria melhor assim, eu passei muito tempo sozinha pra simplesmente voltar a viver em “sociedade”. Prefiro ficar sozinha mesmo, eles que se danem. Minha arrumação fora interrompida com a porta do quarto sendo aberta.

—Grace, o que está fazendo? —Era Carol, obvio que era ela, aquela mulher havia colado em mim de um jeito.

—Não é obvio? Estou plantando feijões. —Eu respondo ironicamente enquanto coloco minha mochila nos ombros e finalmente a encaro. —Eu vou embora.

—Você não pode sair agora, já é noite

— E DAÍ? VOCÊ NÃO TEM NADA A VER COM ISSO!

— VOCÊ PODE MORRER!

—EU NÃO SOU SUA FILHA, ME DEIXE EM PAZ! —Eu grito virando de costas para a ela, meu Deus, será que é difícil me deixar sair?

—Grace, você não vai sair dessa casa. Me desculpa. —Ela disse com certo pesar na voz, foi a ultima coisa que eu ouvi antes de uma escuridão tomar conta de mim.

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Eu acordei com uma dor de cabeça horrível, parece com a ultima vez com que eu bebi uma garrafa inteira de bebida alcoólica e acordei com a minha cabeça latejando, a diferença desta vez é que eu não bebi e sim levei um golpe com alguma coisa, provavelmente a arma de Carol, essa mulher só pode ser louca.

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A luz que entra pela janela ainda me deixa meio cega, alem de me bater, ainda não fecha a merda da janela, é muita ousadia mesmo. Eu finalmente levanto da cama e calço minhas botinas gastas, Carol retirou na noite passada, me bate, não fecha a janela, mas tira as minhas botinas, eu não entendo mais nada mesmo. Vejo meu reflexo no espelho sujo, eu pareço uma merda, amarro meu cabelo e desço as escadas.

Adentro a cozinha e avisto Carol e enchendo uma chaleira com água para ferver. Ela olha para mim e sorri docemente, me cumprimentando.

—Bom dia, Grace. Como se sente?

—Como se eu levei uma coronhada na cabeça. —A respondo sarcasticamente enquanto me sento em umas das cadeiras e a encaro.

—Me desculpa por aquilo, você estava transtornada, não vi outra opção. —Ela me respondeu, encostando se no balcão e cruzando seus braços para mim.

—Por que se importa comigo? Mal me conhece.

—Você me lembra uma pessoa que eu conheço. —Ela responde descruzando seus braços e indo em direção a janela. Logo seu semblante descontraído se transformou em um de preocupação e ela saiu correndo porta a fora.

—Carol?! —Eu perguntei antes de sair correndo atrás dela. No jardim estava Lizzie e um Walker, ela tentava protegê-lo enquanto Carol tentava matá-lo.

Num impulso, Carol jogou Lizzie para o chão e contra os protestos da menina, cravou sua faca na cabeça do Walker.

— Ela tava brincando comigo, queria uma amiga! —Lizzie gritava com Carol, ela estava claramente em choque.

—ELA QUERIA TE MATAR! — Carol repreendia a menina.

— Tava levando ela pra longe!

—VOCE PODIA TER MORRIDO! ESSAS COISAS NÃO SUAS AMIGAS, SÓ QUEREM COMER SUA CARNE! — Eu gritei com ela, naquela altura não ligava mais se iria atrair mais walkers, precisava que ela entendesse logo

— É A MESMA COISA, VOCÊS A MATARAM! VOCÊS A MATARAM! E SE EU MATASSE VOCÊS? —Lizzie gritava conosco enquanto se curvava a busca de ar, ela esta entrando em estado de pânico. —VOCÊS NÃO ENTENDEM! ELA ERA MINHA AMIGA E VOCÊS A MATARAM!

Olhei para Carol e sua expressão era um espelho da minha. Pânico. Pânico de que Lizzie não entende esse novo mundo, pânico que ela possa se tornar uma dessas coisas por achar que é bom, pânico por ela não estar preparada pra esse mundo.

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—Está muito pesado? — Carol me pergunta sobre o rifle que carrego, nós duas saímos para tentar caçar algum cervo, pelas pegadas no chão, havia um por perto.

—Não. — Eu respondi enquanto continuava com meus olhos fixos no chão, procurando mais pegadas do cervo.

—O cervo deve estar longe daqui.

—Não, há pegadas frescas dele aqui, já vamos encontrá-lo. — disse calmamente.

—Sabe rastrear?

—Sei o básico, quem sabia realmente era o meu pai e meu tio, eles não chegaram a me ensinar tudo. —Disse ainda concentrada no chão, não quero falar deles, ainda dói saber que não poderei ficar perto deles mais.

—Eu conheço um homem que sabe rastrear também, você se parece muito com ele, talvez se você estivesse usando uma besta seria uma versão feminina e mini do Daryl.

Quando Carol disse o nome do meu pai, minhas pernas imediatamente travaram, minha respiração aumentou e minha visão começou a ficar embaçada. Será que meu pai está vivo? Meu tio? Será que tudo isso não passa de uma coincidência? Eu não sei, porque minha boca esta seca e eu não consigo falar nada, estou travada aqui, com um rifle na mão com a noticia que meu pai pode estar vivo.

—Daryl... Dixon? —Perguntei com a voz embargada ainda de costas para ela.

—Como sabe? — Ela me perguntou com uma voz desconfiada.

—Ele... Ele está vivo? Você o viu recentemente? — Eu perguntei me virando para ela com meus olhos marejados.

—Grace, eu vou perguntar de novo. Como sabe o sobrenome do Daryl?

—Porque meu sobrenome também é Dixon, ele é meu pai.

—Daryl não tinha uma filha. — Carol disse me olhando desconfiada.

—Eu sou filha dele, Carol, tem que acreditar em mim, nós PRECISAMOS ir ao terminus, se ele viu as placas, ele deve estar indo para la, por favor.

—Por que eu acreditaria em você?

—Por que eu inventaria isso tudo? Olha, eu vivia com meu pai e meu tio, Merle, eu me perdi deles quando tudo isso começou. Nós precisamos procurá-los e se você não quiser sair dessa casa, tudo bem, eu vou sozinha, mas eu vou encontrá-los novamente. E você não me impedira outra vez. — Recolhi o rifle e coloquei de volta em minhas costas, indo em direção a casa novamente.

—Grace, nós vamos, só... Só me de um dia para resolvermos tudo por aqui, ok?

Eu não a respondi de imediato, apenas continuei andando de volta a casa, precisava processar tudo isso ainda. Minha família está viva, e eu vou reencontrá-los, nada me impedira, absolutamente nada.

—Tudo bem.

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