Pov’s Ally
—Dallas. -Gritei apavorada.
Mesmo que os vidros ainda perfurassem minha pele corri de encontro ao meu amigo. Agnes não me impediu.
—Não. -Toquei seu pulso e ele estava sem batimentos. —Não Dallas, por favor, não. -Eu estava nervosa demais para chorar, estava nervosa demais até para sentir o sangue escorrer por toda a minha coluna.
—Acredite, eu fiz um favor para você. -Ela voltou a dizer jogando a arma em minha direção.
—Deveria saber que balas de prata apenas matam lobisomens Ally. -Sua voz era como a de uma mãe repreendendo um filho.
—Como sabia que era ele?-Guardei a arma em minha bota e voltei a me levantar. Eu não podia me deixar levar assim tão fácil.
—Saia daqui. Vá embora com Austin e sua filha. -Lavou as mãos cobertas de sangue na pia sem me olhar nos olhos.
Ela não estava falando a verdade, eu sabia que não. Eu não confiava mais nela. Ela era uma traidora e aquilo podia ser apenas mais um dos seus joguinhos.
—Como sabia que era Dallas?-Voltei a perguntar me apoiando na pia.
—Não foi Cassidy quem te traiu. -Com um movimento rápido pulou para o outro banheiro de novo.
—Sabe que se eu realmente quisesse te matar já teria feito isso há muito tempo e você não teria como fugir. -Me deu uma última olhada e sumiu me deixando a sós com o corpo de um lobisomem morto e que pode ou não ter me traído e que se dizia meu amigo.
Dei uma última olhada no banheiro e corri porta a fora voltando a mais e mais corredores. Parecia não ter fim, mas isso era tudo coisa da minha cabeça, ela estava cansada demais para cogitar hipóteses de onde encontrar os outros.
Parei em uma das paredes e ali me escorei deixando minha respiração voltar ao normal. Fechei os olhos e me concentrei no barulho. Ele estava distante, era quase que como uma voz na minha cabeça. Eu podia ouvir o fogo tomando conta de todo o banco, podia ouvir um ou outro grito, mas sem conseguir distinguir eles. Depois de me acalmar voltei a analisar tudo ao meu redor. Eu deveria talvez estar andando em círculos.
Respirei fundo e encostei minha cabeça na parede. Eu estava fazendo tudo errado. Andar em círculos nunca iria me levar a nada. Tirei mais alguns cacos de vidro do meu ombro e voltei a caminhar.
Tentei ao máximo não me importar com os corredores, agora eles não me assustavam mais, tentavam ser um labirinto para mim, mas eu sabia para onde ir. Eles não iriam me deter e mesmo que eu não fosse mais uma vampira ainda tinha um olfato muito bom. Tudo que eu precisava fazer era seguir o cheiro da fumaça.
Não foi difícil de distinguir ele, estava impregnado por todos os lados, mas sem sombra de dúvida estava mais forte para a direita, por onde mudei minha rota. Tive que passar por mais três corredores até chegar ao que horas atrás me suicidei. Aquele escritório já não existia assim como muitos outros próximos de si.
Só então foquei meus olhos no que estava além disso. Lá embaixo não tinha mais fogo algum, eram apenas cinzas e muitos dos meus amigos lutando.
Eu podia jurar que a qualquer momento Kile mataria Elliot e kira não estava tão forte como a algumas horas.
—Você poderia ter me contado. Eu não teria te julgado Ally. -Senti uma dor invadir o meu peito e lágrimas tomarem conta dos meus olhos.
Eu era incapaz de olhar pra trás. Eram muitos sentimentos envolvidos. Vergonha, tristeza, arrependimento e medo.
Talvez fosse apenas tudo ilusão da minha cabeça, ela não estava indo muito bem mesmo. Se eu der sorte de sair viva daqui duvido que já esteja insana.
Porém não consegui fazer nada, eu não tinha coragem para encará-la. Era demais para mim. E mesmo que fosse real ou não eu ainda assim podia te ouvir.
—Não precisa ter medo de mim. -O toque da sua mão em meu ombro fez com que todas as minhas armaduras se rendessem naquele instante.
—Ally?-Voltou a tentar falar comigo quando percebeu que eu não abri a boca para dizer nada.
—O que quer que eu diga?Que eu peça desculpas?Que eu desabe em lágrimas e me ajoelhe aos seus pés pedindo o seu perdão por infinitas coisas que já cometi?-Finalmente me virei para encarar seus olhos.
Ela definitivamente estava bem melhor do que eu. Não mudou nada, era como eu recordava. Mesmo semblante determinado de sempre, mesma postura impecável e um brilho de esperança em seus olhos que não herdei dela.
—Não é de o seu feitio pedir esse tipo de perdão Ally. Você prefere fazer algo para consertá-lo. -Acariciou meu rosto à medida que eu fechava meus olhos aos poucos.
—Como descobriu tudo?-Com os carinhos de minha mãe eu estava quase caindo em um sono profundo. Algo que seria muito útil para mim neste momento.
—Não importa. Eu só espero que saiba que eu tenho muito orgulho de você filha, nunca se esqueça disso. Nunca. -Disse já me envolvendo em seus braços.
Minhas lágrimas já inundavam seu casado e eu não me importei com aquilo. Eu estava abraçando a minha mãe depois de anos. Só Deus sabe as noites que passei em claro chorando e esperando que ela viesse me acalmar e dizer que tudo iria ficar bem.
—Onde esta o papai?-Perguntei fungando um pouco.
—É uma longa história, mas não se preocupe com ele. Seu pai esta bem. -Ela disse se recompondo e olhando para os lados. Parecia que nosso momento entre mãe e filha estava chegando ao fim.
—Posso ter quinhentos e trinta e sete anos, mas a mamãe aqui esta conservada. -Deu um beijo em minha testa e segurou em minhas mãos ainda tremulas.
—Vamos descer tudo bem?-Perguntou apontando com o queixo para a escada rolante logo atrás de mim.
Balancei a cabeça em sinal positivo.
De cabeça erguida ela me guiou por entre os degraus. Pude ver o sorriso sínico de Agnes transparecer em meio aos cortes por todo o seu rosto e os olhos de Sarah praticamente pegarem fogo. Austin não estava ali o que fez meu estomago embrulhar na hora, mas a mão da minha mãe era mais reconfortante que qualquer remédio no momento.
—Por que envolver sua mãe Ally?Não acha que tem pessoas demais nesta história?-Em um piscar de olhos ela já estava em um degrau abaixo que o meu. Minha mãe não era tola e logo estava protegendo o meu corpo com o seu próprio.
—E você?Falta de humanos para tentar matar sua própria família por um motivo insignificante ou apenas a falta de atenção por ninguém lembrar mais quem você é mesmo?-Minha mãe cuspiu as palavras na cara dela.
—Agora eu sei de quem a Ally herdou o senso de humor, prazer Sarah Dawson. -Estendeu a mão para minha mãe que apenas a chutou fazendo a mesma se desequilibrar na escada.
—Você não estava na minha lista de assassinatos Penny, mas não se preocupe. Quanto mais, melhor. -Com um salto ela já estava de pé novamente e agora parecia estar mais decidida do que antes.
Ela e minha mãe então começaram a lutar. Eu temia por minha mãe, no entanto sabia do que ela era capaz. Foi quem me ensinou tudo o que sei.
Eu planejava arrumar algum jeito de sair das escadas, mas com as duas ali não tinha como. Sem esperar minha mãe deu um chute em minha barriga fazendo com que eu desequilibrasse e desabasse do primeiro andar.
—Ally. -Mesmo rouca eu podia reconhecer o grito de Kira em qualquer lugar.
Foi ela que amparou minha queda. Quem me levitou para que não quebrasse todos os ossos no chão. Foi ela quem me impediu de morrer pela milésima vez só esta noite.
—Eu estou bem. -Falei quando minha amiga veio ao meu encontro. Seu braço direito sangrava e seus lábios estavam cortados.
—Vem. -Ela me ajudou a levantar e percebi todo o caos ao meu redor.
Kile e Elliot ainda lutavam e Trish estava apanhando feio de Agnes. Mas e Austin?Belinda ou até mesmo Cassidy?
Eu estava prestes a correr, mas sua mão me deteve.
—Cassidy não é o que você esta pensando Ally. -Kira disse olhando nos meus olhos.
—Pra falar a verdade eu não estou pensando em mais nada além de... -O som de mil ossos se quebrando foi o suficiente para despertar nossa atenção até Elliot que estava caído praticamente aos nossos pés.
—Uma ajudinha não seria nada mal.-Disse cuspindo sangue e se levantando novamente.
Eu e Kira trocamos olhares e nos posicionamos atrás dele.
—Eu fico com Elliot e você com Trish, ok?-Perguntei a morena ao meu lado.
—Sim.
Elliot deu um aceno de cabeça e antes que Kile o acertasse em cheio eu lhe golpeei com um soco o que o fez cambalear um pouco para trás.
—Quanta ingratidão Dawson. -Disse exibindo suas garras de lobisomem. Pena que eu convivi tempo demais com ele para sentir medo disso agora.
—Acho que você não se lembra, mas nunca pedi que me ajudasse. -Desviei dele com um movimento simples que me permitiu tirar a arma do meu bolso e atirar bem na sua perna. Não seria o bastante para matá-lo, mas o suficiente para enfraquecê-lo um pouco.
—Elliot?-Perguntei para o meu amigo que ainda tentava manter-se de pé.
—Eu estou bem. -Disse se apoiando na parede.
Seria difícil progredir em algo com Kile nas condições em que eu estava, mas alguma coisa precisava ser feita.
—Faça o que eu mandar, certo?-Perguntei enquanto sentia as garras de Kile aranharem minha barriga.
Cai de joelhos no chão na hora. O sangue agora manchava todo o meu colete e minha camisa. Por fim vomitei sangue mais escuro do que eu esperava.
—Vá atrás de Cassidy. -Falei com um pouco de dificuldade.
Ele arregalou os olhos, porém não me questionou. Sabia que mesmo eu agora sendo humana ainda assim podia dar conta de um lobo.
—Tome cuidado. -Foi tudo o que disse antes de desaparecer.
Kile já estava pronto para atacar novamente quando Kira apenas com o movimento de dois dedos o fez voar até a parede oposta a que eu estava. A uns dez metros de mim eu podia ver Trish. Ela estava acabada. Parecia até mesmo estar mais fraca do que eu. Agnes poupou minha vida, mas parecia querer acabar com a de Trish ali mesmo e quando pensei que era o fim, que uma das minhas melhores amigas iria morrer Agnes se afastou dela. Aquilo surpreendeu a todos, mas ela não desceu do salto. Apenas deu um de seus muitos sorrisinhos e virou as costas para Trish.
O que deu nela?
—O que pensa que esta fazendo?-Kile vociferou para ela que apenas o olhou de cima a baixo.
—O que te faz pensar que pode falar comigo cachorrinho?Não se meta no meu caminho. -Disse com seus olhos ardentes, eles estavam mais vermelhos do que o normal. Ela nem se deu ao trabalho de parar para encará-lo. Já estava no andar de cima quando dei por mim.
Kile parecia sem chão agora. Estava sozinha contra duas bruxas e uma humana. Não daria conta. Iria morrer em algum momento.
—Tudo bem. Posso terminar o serviço. -Estalou o pescoço e então começou a correr em direção a minha amiga.
Mal tive tempo de cogitar o que estava prestes a acontecer.
—Trish. -Foi o que consegui dizer quando o vi fincar suas garras na garganta dela.
Kile se afastou sorrindo, mas logo estava em outra briga com Kira.
Aquilo nunca teria fim.
Fui me arrastando aos poucos até estar ao lado dela.
—Me perdoa Trish. Por favor, me perdoa. Eu... Eu nem sei o que dizer. Eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto. Eu não queria que você morresse assim. -Segurei em sua mão que a cada instante se tornava mais gelada.
—Esta tudo bem. Eu sou uma bruxa Ally. Não uma imortal. Um diria iria morrer. -Ela sorriu para mim.
—Não, não esta nada bem. Não era pra ser assim Trish. -Algumas lágrimas minhas molharam os seus dedos.
—Eu estou feliz Ally, dei o máximo de mim para te salvar e posso morrer com a consciência tranqüila. Agora posso reencontrar o Dez.-Foi tudo o que disse antes de sua mão escorregar da minha.
Essas foram suas últimas palavras. Fechei seus olhos e com a ajuda de escombros consegui me levantar. Kile estava ajoelhado e de seu nariz e orelhas saia sangue em algum canto perto da gente. Kira estava manipulando seu cérebro e não teria piedade nenhuma.
Mas ainda assim eu podia ver os olhos da morena marejados.
—Ela esta em um lugar melhor agora Ally. Ela esta em paz. -Sua voz era quase como um sussurro. Ela mantinha seus olhos focados em Kile, se recusava a olhar para o corpo da nossa amiga.
—Mas ela não merecia. -Minha voz saiu grave. Limpei uma última lágrima do meu rosto e levantei a cabeça.
—Chega de pessoas morrendo por mim Kira. -Dei uma ultima olhada para Trish agora morta no chão.
—Sua mãe esta atrasando Sarah o que é bom, Elliot e Agnes não estão aqui e Kile esta fraco demais para fazer algo. Acho que tempos um tempinho. -Disse tirando minha atenção do cadáver.
—Você está horrível. -Disse tocando em meu ombro. Recuei na mesma hora, mas ela ainda assim voltou a pousar sua mão ali.
—Não sou nenhuma curandeira, mas tenho meus truques. -Uma sensação de ardência percorreu toda a minha coluna e aos poucos eu podia sentir a falta dos cacos de vidro ali.
—Ai. -Reclamei quando ela colocou sua mão sobre minha barriga.
—Isso vai doer muito. Só para avisar. -Disse antes de enfiar sua mão em meu estomago.
Gritei involuntariamente.
—Kira onde o Austin esta?-Perguntei com a respiração descompassada. Eu precisava saber o que aconteceu com ele. O tempo estava passando rápido demais e eu ainda não tinha noticias dele.
Meu corpo estava pingando sangue e suor.
—Pronto. -Removeu sua mão da minha barriga.
—Uma das garras de Kile perfurou seu estomago. Mais alguns minutos e talvez você não resistisse.
—Onde esta o Austin?-A agarrei pelos braços. Uma parte de mim queria acreditar que eu estava apenas a apertando para diminuir um pouco a dor em meu estomago, mas outra parte sabia que era a raiva.
—Eu não sei. -Respondeu me olhando espantada.
Só então me dei conta do que estava fazendo e rapidamente a soltei. Passei a mão por meus cabelos e respirei fundo.
—Me desculpa. -Tentei me explicar.
—Tudo bem. Não seria fácil estar na sua pele neste momento. -Tocou em meu braço da forma mais doce possível. Eu não a merecia.
Eu iria perguntar sobre Belinda, mas estávamos distraídas demais e quando dei por mim Kile já estava em cima de Kira novamente. Ela foi pega de surpresa e quase não conseguia revidar os golpes.
Eu até poderia tentar ajudá-la, no entanto minhas pernas estão dormentes demais para que eu consiga fazer alguma coisa.
Eu até podia ajudar Kira, mas minhas pernas estavam dormentes demais para que eu conseguisse fazer qualquer coisa.
Kile se aproveitou disso a fazendo bater a cabeça em uma mesa que havia ali perto.
—Muito bem. Acho que agora somos apenas você e eu Ally. -O senti agarrar minha garganta fincando suas unhas em meu pescoço.
A sensação não era nada comparada ao que já vi em toda essa noite. Ele me arrastou até a parede e quando percebi que ele estava prestes a me decapitar com suas garras dei um chute em seu estomago.
Quebrei a perna de uma cadeira e a usei como forma de escudo. Eu conseguia manejá-la melhor do que qualquer espada. Consegui enfiar o pedaço de madeira em seu estômago o que o fez cambalear um pouco, e cravei o objeto em sua perna o fazendo cair de vez.
Estava para enfiar em seu cérebro quando o senti segurar o pedaço de madeira contra mim. Eu estava fraca e o cheiro de fumaça já estava me deixando um pouco tonta. Tudo estava girando não me fazendo perceber o corpo de Trish ainda no chão. Só consegui sentir o meu rosto em contato com cão frio e duro do banco.
Kile tomou distância. Ele ainda estava com a em mãos e parecia mais bravo do que nunca. Só tive tempo de ver ele lançado aquele objeto em minha direção. Era o meu fim definitivo. Eu não ia fechar os olhos como fiz no banheiro. Queria ver o sangue escorrer do meu corpo, queria assistir o meu próprio assassinato. Mas parecia que a morte estava brincando comigo. Eu também não iria morrer ali.
Braços quentes me envolveram impedindo que eu pudesse ver a lança ser jogada contra mim.
Quando dei por mim Francis já estava caído aos meus pés. Foi tudo tão rápido que nem percebi a sua chegada.
Eu estava atônita, minhas mãos tremulas e quando dei por mim já estava ajoelhada ao seu lado.Minha mãe e Sarah agora estavam ambas cansadas e fracas,mas nenhuma das duas dava o braço a torcer.Austin ainda que surpresa tentava ao máximo deter Kile.Daqui a pouco ele seria outro em meio aos milhares de cadáveres.
—Não fiz isso para que você me perdoasse ou qualquer coisa do tipo. Fiz porque sentia que ainda te devia algo. Eu ainda precisava demonstrar para você por uma ultima vez que eu mudei e que não sou o cara de oitenta anos atrás. Você me mudou Ally e eu te amo por isso. Por favor, nunca se esqueça dessas palavras. -Suas mãos acariciaram meu rosto pela ultima vez.
Nem tive tempo de lhe agradecer, o som de tiros me fez despertar na hora. Austin havia acabado de matar Kile com dois tiros na nuca.
—Chega. -A voz de Sarah reverberou por todo o lugar.
—Primeira Lucy, depois Dallas que eu nem faço questão de saber quem o matou. -Ela não sabe que foi Agnes. Não estava nos planos dela que Dallas fosse assassinado então porque Agnes fez aquilo? —E agora Kile. Tenho que admitir que subestimei vocês dois.-Ela dei um chute no estomago da minha mãe.
Tentei ir até ela, mas Austin me segurou forte o bastante para que eu não movesse um músculo.
—Fica quieta ou ela morre. -Posicionou as suas mãos no pescoço da minha mãe e o quebrou.
Ela deve ficar inconsciente por no máximo uma hora, isso é ao menos é melhor do que morrer.
—Já estou cansada de vocês então vamos acabar logo com isso. Agnes traga Audrey. -Um aceno de cabeça foi o necessário para que Agnes descesse as escadas com minha filha em seu colo.
Só então cogitei o porquê de Francis estar aqui e sem ela.
—Não fiquem tão tensos, levem isso como um encontro de família. -Voltou a dizer tirando uma arma que para ela quase não era necessário da jaqueta.
Agnes jogou minha filha no chão de qualquer jeito e quando dei por mim já estava atrás de Austin. Mesmo que não demonstrasse eu podia sentir que ela estava nervosa por estar ali e quando tocou a pele do loiro senti um certo ciúme.Era um sentimento novo para mim ainda mais nas circunstancias que me encontro porém não falei nada.
Ela respirou fundo e o ajoelhou a força.Me surpreendeu muito o fato dele não tentar se defender.Já estava cansado disso tudo e eu também.Nada mais me importava,eu só queria que aquela noite acabasse logo.Que alguém fizesse o favor de me matar.Ao menos assim eu teria a chance de descansar.
Sarah jogou sua arma perto de mim e de um dos seus bolsos da calça tirou uma estaca de madeira.
—Isso serve para você também Ally. -Com seu indicador fez menção para que eu me abaixasse.
Eu estava cansada demais para lutar então apenas fiz o que ela pediu.
Ajoelhei-me.
—Te dei a chance de salvar sua própria vida e a de sua filha, mas você não me deu ouvidos. -Começou a caminhar de um lado para o outro sem tirar seus olhos de mim.
—Te deixei ir para o aniversário dele o que não foi de tão desperdício porque até que o loiro sabe dançar. Mas foi triste ver você dormir em um quarto de hospedes quando podia estar na cama dele meu amor. -Disse me olhando com nojo.
—Te deixei voltar para Craisvalle te dando prazo de um mês para que fizesse o que pedi. Você podia ter aproveitado seus últimos dias com ele e no fim ter o matado. -Cutucou Austin com o pé. Ele estava de cabeça baixa. Incapaz de olhar para qualquer um de nós presentes ali.
—Mas ao invés disso você se deixou levar por um eu te amo barato e começou a tramar contra mim. Tentei de alertar Ally. Quando matei Dez e Brad eu estava tentando fazer com que você entendesse que ainda tinha uma chance. Que se eu ainda não havia te matado era por que ainda acreditava no seu potencial de acertar as coisas.
—E no final ainda te dei quinze minutos para fazer o que era certo. Sabe quantas chances eu te dei?Cinco. Cinco chances Ally. Eu nunca cheguei a dar nem ao menos duas chances para ninguém e te dei cinco chances por você ser da merda dessa família. -Cuspiu as palavras na minha cara.
—Você podia ter poupado a vida de diversos amigos, podia ter poupado o enforcamento da sua filha e podia ter poupado a sua vida como vampira. Mas sabe o que você fez?-Se ajoelhou na minha frente. Era a primeira vez que eu a via cara a cara dessa forma.
—Não se importou com nenhum deles, não se importou nem com você mesma. A única coisa que tinha na sua cabeçinha. -Martelou sua unha na minha cabeça.
—Era Austin. Você só queria que ele sobrevivesse. E olhe o seu redor agora Ally. Acha mesmo que ele tem alguma chance?Você só fez magoar a todos ao seu redor por nada, se é que pessoas mortas podem sentir ressentimento. -Riu.
—Mas tudo bem. -Engatilhou a arma com uma mão e com a outra apanhou a estaca. Entregou os dois a minha mão.
—Te darei uma ultima chance. -Acariciou meus cabelos.
—Eu não preciso de chance nenhuma. Faça logo o favor de matar nós três e vai embora. -Eu sentia todo o meu corpo tremer.
Ela apenas voltou a rir.
—Acha mesmo que irei te matar?Quero você viva, que todas as manhãs você acorde e pense nos erros que cometeu, as pessoas erradas com quem se envolveu e odeie a si mesma.Juro que estou cogitando a possibilidade de te transformar em vampira de novo apenas para que a piada nunca acabe.
—Agora pegue. -Me forçou a segurar tanto o rifle como a estaca.
—Como eu ia dizendo te darei uma última chance. –Ela me levantou a força.
—Eu iria matar os dois, mas acho que você ira se sentir mais confortável se fizer isso por conta própria não é mesmo?-Alisou meus braços.
—Pode escolher um dos dois para matar. O outro você pode ir embora, viajar, ficar na cidade, enfim fazer o que quiser, mas os três não podem sair vivos daqui não é mesmo?-Voltou a sorrir. Acho que Sarah perdeu a sanidade.
Agnes apenas observava tudo no silêncio mais profundo possível.
—Vá em frente Ally. Mate um deles. -Me incentivou, porém nem ao menos respirei.
—Eu não vou machucar nenhum dos dois. -Engoli em seco.
—Porque não?Prefere que eu mate os dois?Estou sendo muito generosa com você Ally. Agora mate um deles. -Seus olhos ficaram vermelhos e quase me hipnotizaram, mas eu não iria fazer aquilo sobre a pressão de ninguém. Nenhuma pessoa iria decidir quem eu ia matar naquele momento.
—Faça as honras. -Foi tudo o que disse antes de parar ao meu lado.
A estaca tremia em minhas mãos e eu sabia que se desse um tiro provavelmente não acertaria. E nenhum dos dois levantou a cabeça. Austin estava cansado de tudo aquilo e minha filha traumatizada por tudo o que viu hoje. Mas era uma escolha minha. Eu tinha que levar aquilo como um caminho para deixar um dos dois livres para sempre. Para que tivesse paz.
Eu só queria dizer para o Austin que eu o amo e que preciso dele. Queria dizer a Audrey que tudo iria ficar bem e que ela era mais forte do que imaginava. Mas tudo estava entalado em minha garganta.
Respirei fundo e fiz o que meu coração pediu. Ver seu corpo cair para trás tendo como ultima visão o meu rosto foi algo que nem em meus pesadelos presenciei.