Licença Para Morrer

Eu ainda não sei quem mandou a mensagem. Audrey acha que foi algum pervertido que me seguiu quando eu sai da redação, mas eu acho que foi Patch ou algumas amigas da Samantha... ou talvez até a própria. Mas eu não sei se ela é tão esperta assim. Enfim, ela não me olhou na cara na escola, então eu duvido que seja ela, mas no momento, pode ser qualquer um - menos Ray, Audrey, Jay e Mrs. Goode.

Agora que eu percebi que vou ter que contar à Becky e à Patch também porque senão eles vão desconfiar que eu sou Madim quando o artigo sair e vai ser pior se eles espalharem suas suposições por aí.

Já passaram dois dias desde a festa na praia e o incidente de Jay. Eu já contei à Jay tudo sobre Ben - nosso plano, o número dele, tudo, mas até agora Ben está ignorando minhas ligações, não sei porquê. Ray está me ignorando também, o que eu não sei se é bom ou ruim. Mas eu ainda choro quase toda hora, por causa dele. Nós estamos no teste de direção meu e de Jay e o instrutor está no banco do passageiro do meu lado enquanto os dois (Audrey e Jay) estão no banco de trás. A gente passa pela rua do mercado e eu paro no sinaleiro.

–Ainda bem! Eu achei que a gente ia morrer aqui. -Audrey diz.

–Cale a boca. Você dirige pior que eu!

–Quero ver quando Jay for, se ele dirigir do mesmo jeito que anda com um carrinho de supermercado, estamos todos ferrados.

–Com licença, senhores, mas se não ficarem em silêncio serei obrigado à despachar vocês.

E então eles ficam quietos,

Jay está mais quieto que o normal, mas eu acho que ele está magoado por causa do pai, mesmo que eu não saiba como ajudar, eu fico mal por ele também. Acho que Audrey já superou toda aquela coisa da mãe dela, mas quanto a gente contou ontem para Jay sobre Mrs. Montgomery, ela chorou de novo, então eu não posso falar nada. É que, às vezes, parece que ela é tão forte que não dá para acreditar que ela deixa se abalar por qualquer coisa.

Eu realmente quero passar nesse teste. Eu fiz o teste escrito ontem, e se eu não passar nesse, eu estou ferrada, eu vou ter que depender dos meus pais para tudo! Não que eu já tenha um carro, mas eu estou trabalhando nisso. O sinal abre e eu faço a curva do jeitinho que meu pai me ensinou, e eu sorrio orgulhosa, depois chega a pior parte - estacionar. Eu desacelero o carro, e viro levemente para caber na vaga especial da autoescola e estaciono. Respiro fundo e olho para o cara do meu lado.

–E aí?

–Me desculpe, não posso falar o resultado agora. -Eu quero bater nele, mas me controlo, porque o destino da minha liberdade depende dele. Eu só sorrio. E então ele pede para Jay ir.

Então eu sei que vamos morrer hoje. Ele está suando e nervoso, porque ele não sabe nada de direção, e só passou no teste porque colou de mim. Tudo bem, Deus, eu já entendi que não posso colar, mas não deixe a gente morrer.

–Você está rezando? Nossa, depois ele reclama que sou eu a pessimista aqui.

Jay encara a gente e o instrutor também, com expressões iguais - ou seja, raivosas.

–Audrey, cale a boca. Pode ir, Jay.

–Eu digo quando ele pode ir. -O homem diz. Ele deve ser muito infeliz. -Pode ir.

Ele arranca e quase bate no carro da frente, então dá ré e gira o volante até sairmos do lugar que estávamos.

–A gente vai morrer, Charlie, vamos pular pra fora do carro antes que um acidente aconteça. -Audrey sussurra para mim.

–Audrey, dá um tempo, ele não é tão ruim assim. -Nessa hora a gente quase bate nos bancos da frente por causa do sinaleiro fechado e eu olho para Jay pelo retrovisor pedindo que não mate a gente.

–Muito bom, senhor, agora, vire a esquina. -Jay espera, dá sinal quando o sinal abre, e vira, sem bater num hidrante que estava ali, ótimo.

Dúvidas e questões sobre relacionamentos? Pergunte à Madim!

Todos os nomes são protegidos para manter o anonimato dos autores.

Essa coluna pertence à Rixon High School.

Querida Madim,

Qual a diferença entre gostar e estar apaixonado/amar?

Querida pessoa,

Acho que quando você gosta, você olha para os outros garotos ou garotas bonitas, e sente atração por elas ou eles, e você não passa a tarde toda pensando na pessoa, você só fica bobo quando está falando com ela ou algo assim. Acho que você fica apaixonado quando você passa uma grande parte do seu dia pensando na pessoa, imaginando diálogos e cenas com ela, e fica bobo o dia todo depois de falar com ela. As diferenças são pequenas, mas dizer que você gosta de alguém é bem diferente de dizer que está apaixonado, então tome cuidado para não confundir uma coisa com a outra.

Com amor, Madim.

Dúvidas e questões sobre relacionamentos? Pergunte à Madim!

Todos os nomes são protegidos para manter o anonimato dos autores.

Essa coluna pertence à Rixon High School.

Querida Madim,

Você acha que vale à pena se declarar para uma pessoa que é seu amigo há anos, e nunca deu sinal de que possa gostar de você. Quer dizer, as possibilidades de ser rejeitadas não são grandes demais?

Querida(o),

Nada é impossível! É possível que ele goste de você e você não faz a menor ideia porque não quer que você saiba - com medo da rejeição também! Vá lá e tente, quem sabe ele não é apaixonado por você há anos e esconde do mesmo jeito que você? Pelo menos tente.

Com amor, Madim.

Está um calor infernal por aqui, mas eu fico de boca fechada, até ele terminar de fazer o mesmo percurso que eu fiz meia hora atrás. Quando chega a hora de estacionar, Audrey já roeu toda a unha dela, e está quase quebrando minha mão de tanto segurá-la.

As coisas parecem estar em câmera lenta e eu fico mais ansiosa ainda. É agora. E Jay parece perceber isso, porque fica mil vezes mais nervoso.

–A GENTE VAI MORRER. NÓS VAMOS BATER EM ALGUM CARRO.

–CALE A BOCA, AUDREY! -Eu grito.

–FIQUEM QUIETAS AS DUAS. -O instrutor grita e nós nos encaramos.

–Desculpe senhor.

–Ótimas amigas o senhor tem. -Realmente?

Jay parece ignorar o comentário e vai, bem devagar, para o locar de estacionar, virando com todo cuidado do mundo, para o alívio de Audrey. Ela para de mexer na minha mão e eu solto um "obrigada". No fim, ele não foi tão ruim assim, e o instrutor ainda sorriu quando saiu do carro. Mas correu para dentro então eu não sei se foi um bom sinal.

–Não fomos tão ruim assim. -Eu digo, tentando o acalmar.

–Queridos, vocês foram péssimos, Jay, você esqueceu de dar sinal em uma curva. -Audrey idiota! Ela cruza os braços e a gente vai para dentro da agência, onde o cara sumiu.

–Ela só fala isso porque aposto que foi uma droga no teste dela.

Audrey fez o teste alguns meses atrás, e passou com boas notas, mas eu e Jay ainda achamos que o pai dela subornou o instrutor, o que não é tão impossível assim.

–Pois é, querida. -Ele olha para o lado enquanto eu estou olhando uma bolsa linda de uma das mulheres do lugar, até que o nosso instrutor passa por ela e me tira a atenção. Ele vem até nós, com dois pacotes.

–Parabéns, vocês passaram. -OMG. OMG. Liberdade para sempre! Sou uma adulta finalmente! Jay chega perto e grita "Parabéns!!!!!!!!" para mim.

–Obrigada! -Eu digo mostrando a foto da minha carteira, acho que vou colar a carteira na minha teste, não é ilegal, é?

–Não por isso. -Ele diz e então eu olho confusa para o jornal que ele levanta. -Isso.

E na capa, está Benjamin McCoy me abraçando, naquela noite da praia. E então eu vejo a manchete, que diz:

"Herdeiro McCoy e sua nova namorada, Charlotte Hart! Exclusivo!"