The Daughter of the Tiger

Parte 2: A pequena tigresa


Nove anos, desde o fim da guerra contra Hades. Seis desde que Miao Yin havia deixado este mundo e lhe deixado um legado.

Tornou-se uma rotina para o lendário cavaleiro visitar o túmulo da esposa, em uma campina próxima. Ficava ali parado, apenas olhando a paisagem conversando mentalmente com Miao Yin. Às vezes podia jurar que sentia sua presença, quando a brisa trazia o aroma das flores do campo, que era muito semelhante ao perfume dela.

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Em silêncio, despediu-se dela e desceu para voltar a sua casa. Uma pessoa normal já teria sucumbido à tristeza, mas o que não permitia que Dohko seguir por esse caminho, era a filha que havia nascido naquele dia fatídico.

Dohko havia se apaixonado tardiamente em sua vida e o amor lhe fora arrancado cedo demais. Mas não amaldiçoava o destino ou os deuses por isso, era agradecido todas as vezes que olhava para sua filha que brincava em frente à sua casa com o bebê de Shun-rei, ajudando o pequeno Kyo a dar os primeiros passos.

Os risos contagiantes dos dois eram um bálsamo para os momentos em que as lembranças o assolavam. Sorridente, sentou-se para observar as crianças, enquanto Shun-rei ocupava-se com o almoço e Shiryu retornava de mais uma manhã de exercícios, pegando o filho no colo para a alegria do pequeno.

Como já era de conhecimento de todos, o cavaleiro de dragão o sucederia como guardião da Casa de Libra, e isso o tornou ainda mais dedicado aos treinamentos. Haviam conversado outro dia sobre Shiryu retornar para a Grécia e assumir seu posto, mas isso significaria que Dohko teria que decidir seu futuro a partir daí.

Nesse momento o cavaleiro analisava o quanto seu discípulo evoluiu e seria um poderoso cavaleiro de ouro. Tinha pena do inimigo que tivesse a infelicidade de ter que enfrentá-lo.

Nesse momento, o riso da menina fez com que Dohko retornasse a atenção à filha. Kian era fisicamente parecida com a mãe. O mesmo tom dos cabelos, os mesmos olhos castanhos avermelhados que pareciam cintilar como chamas quando se irritava com algo ou com as provocações de Shiryu, que a considerava uma irmãzinha caçula.

Sobre seu futuro e de sua filha, era o que mais o preocupava agora. Kian havia feito seis anos dias atrás, o que significaria que teria que escolher o destino de sua filha naquele instante.

Ela seguiria seus passos e se tornaria uma guerreira que lutaria por Atena, ou iria ter uma vida simples e normal, como o de sua mãe? Poderia decidir que ela ficasse em Rozan com Shun-rei e Kyo, mas pela natureza dela, sabia que não aceitaria bem essa decisão.

Kian era precoce em muitas coisas, aprendeu com facilidades os primeiros passos das artes marciais que ele havia lhe ensinado. Era interessada em tudo o que se dizia a respeito dos Cavaleiros e sobre o Cosmo. E tinha grande curiosidade a respeito do Santuário e sobre Atena.

Ela tinha verdadeira vocação para se tornar uma amazona da deusa, e ela havia dito que queria isso certa vez, e ele não tinha certeza se queria isso para Kian.

Mas enviar a sua única filha para treinar bem longe, não tendo certeza de que tipo de tratamento ou que tipo de homem a treinaria, deixava seu coração de pai preocupado.

—Pensar demais vai te deixar com cabelos brancos, roxo e careca antes do tempo.- a voz jovial de Milo despertava Dohko de seus pensamentos. Ele o recebeu com um sorriso.- Há quanto tempo, Mestre Dohko? Puxa! Aquela é a Kian? Como cresceu! A última vez que eu a vi ela só tinha dois meses e já queria ficar em pé no meu colo!

—O Santuário lhe enviou para me buscar?-Dohko perguntou diretamente, levantando-se.

—Não posso visitar um velho amigo?-Milo fingiu estar ofendido.

—Nunca fomos muito amigos.

—Tá bem...-o grego concordou com um sorriso.- É, Mu insistiu que eu o convença a voltar ao Santuário e que você assuma logo o manto de Grande Mestre. Ele não quer ser mestre honorário e treinar seu sucessor ao mesmo tempo.

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—Ainda não posso.- respondeu Dohko secamente.

—Hades não existe mais, não há razões para que permaneça aqui. A não ser servir de vela para Shiryu e a esposa. E precisamos de você no Santuário! Sabe que se aqueles caras aparecerem de novo...

—Tenho minha filha. Preciso pensar no futuro dela.

—Mas...

—Kian não tem mais uma mãe desde o dia em que nasceu. Eu sou tudo o que ela tem.- respondeu Dohko incisivo.- Não menosprezo o amor que Shiryu e Shun-rei tem por ela, mas eu sou o seu pai. A responsabilidade é minha. E não me agrada a ideia de que ela cresça longe de mim.

Milo apenas ouvia com atenção o que ele dizia.

—Se eu me tornar Grande Mestre, minha atenção terá que ser totalmente voltada ao Santuário e a Atena, não teria tempo para ficar com ela. Se eu voltar como um Cavaleiro de Ouro, terei que abandonar tudo e lutar, morrer até se preciso for. E não seria justo com Shiryu voltar a ser o Cavaleiro de Libra, já que a armadura o elegeu como meu sucessor. - suspirou, observando a menina.- Eu poderia enviá-la para ser treinada, longe de mim, mas meu coração teme só de pensar para onde ela iria e com quem.

—Por isso que a maioria dos cavaleiros não costumavam ter famílias.- Milo cruzou os braços pensativo.- Ela...nasceu em outubro não é? Fez aniversário estes dias.

—Sim? Por quê?

—Bem...eu vou voltar para a ilha de Milos, sabe como é...preparar uma nova leva de Cavaleiros. O Shura vai comigo.

—O que quer dizer com isso?

—Eu vou levar uns garotos para o Shura treinar. Deixe que eu leve a Kian.

—Você? Levar minha filha?-Dohko apontou o dedo para Milo, como se a ideia fosse absurda.

—Assim me ofende!-ele indignou-se.- Acha que eu não cuidaria bem da filha de um grande amigo?

—Acho que você não aguentaria o pique da minha filha.

—Ora, vamos. É uma menina de seis anos de idade! Eu já lidei com heróis mortos, deuses enfurecidos, espectros de Hades... Acha que eu não conseguiria cuidar de uma menininha? E ela é do meu signo! Escorpião. Vai ser perfeito!

—Bem... talvez. Está fazendo isso para que eu volte ao Santuário e me torne Grande Mestre?-perguntou desconfiado.

—Bem... talvez. Apostei com Kamus que eu conseguiria o que ninguém conseguiu em sete anos. Hehehehe!

—Milo...

—Foi uma aposta de 500 euros e um mês limpando a casa do vencedor!

Dohko balançou a cabeça em negativa, achando engraçado o que Milo acabara de dizer. Nisso Kian aproximou-se correndo, pulando nos braços do pai, beijando sua face e em seguida notando a presença de Milo o olhou entre curiosidade e timidez.

—Kian, este é um amigo do papai. Milo, Cavaleiro de Ouro de Escorpião.- Dohko fez as apresentações, e a menina não parecia nada impressionada.

—Eu vou ser seu professor.- ele disse com um sorriso.

—Não disse que aceitava.- retrucou Dohko.

—Ele tem um nariz engraçado, papai.-disse a menina apontando para o nariz de Milo. Dohko começou a rir.

—Que?-Milo tocou no próprio nariz.- Meu nariz é lindo, menina! Está vendo a perfeição? Nunca ninguém conseguiu o feito de acertar este lindo nariz em todas as batalhas que travei. Ele não é grande como o do Kamus, nem empinado como o do Afrodite e nem torto como o do Máscara da Morte!

—Ele é velho papai.-Dohko gargalhou diante do gesto indignado de Milo que quase gritou.- Tem até cabelos brancos!

—É só um fio que apareceu!-defendeu-se. E é tinta! Estavam pintando um dos templos e respingou em mim! Seu pai que é um Matusalém, sabia?

—Ele é engraçado, papai!-a menina ria, deixando Milo vermelho entre a raiva e a indignação.

—Bem...aceito sua proposta Milo.- disse o libriano, após rir junto com a filha.- Estou confiando a você minha filha.

Milo ficou sério e fez um gesto afirmativo com a cabeça para o companheiro. A menina apenas olhou para ambos sem entender muita coisa.

Naquela mesma noite, Dohko como todas as noites fazia, levava sua filha para observar a grande cachoeira e as estrelas sob Rozan. Dali, tinham uma visão privilegiada do local onde estava o túmulo de Miao Yin. Mas naquela noite precisava dizer a ela suas decisões e explicar a ela como suas vidas mudariam.

—Vai me mandar embora, papai? – a menina perguntou primeiro, olhando para os céus.

—Não porque quero.-respondeu-lhe.-Mas, você não queria ser uma amazona de Atena?

—Quero.

—Então. Milo lhe treinará. Vocês são regidos pelo mesmo signo, acho que é o ideal. E assim que você se tornar uma amazona, voltaremos a nos ver no Santuário.- bagunçou os cabelos da menina que riu.

—Mas ele não parece ser forte.- disse emburrada.- Quero ser treinada pelo mais forte! Para me tornar uma Amazona de Ouro!

—Uma o que?-Dohko piscou várias vezes ao ouvir o que ela dissera.- Filhinha, acho que não existem Amazonas de Ouro...nunca existiram.

—Eu sei! Shiryu onii-san me disse isso!-ela sorriu.- Por isso eu vou ser a primeira!

—Então.- Dohko achou graça da determinação da filha.- Ele é o ideal. Se quer ser Amazona de ouro teria que ser da sua constelação, que é Escorpião. Milo é o atual cavaleiro de Escorpião.

—Eu vou ser a primeira Amazona de ouro!-disse determinada.

Dohko sorriu. Milo não sabia que teria que lidar com uma garotinha precoce, com espírito de uma tigresa. Afinal, era sua filha!

Na manhã seguinte, Kian partiu acompanhando Milo. Olhou para trás uma única vez para ver seu lar, e acenou timidamente para Shiryu e Shun-rei que responderam. Dohko apenas observava com as mãos nos bolsos e um sorriso confiante nos lábios.

"-Acredito estar fazendo o certo, Miao Yin."- dizia a si mesmo.

Como combinado. Iria para o Santuário naquela mesma tarde, enquanto Milo se dirigia ao local onde treinaria com Shura um novo grupo de futuros cavaleiros. Chegaram depois de muita caminhada à cidade de Jiujiang, onde um homem os aguardava, que os levou para a cidade portuária mais próxima, onde um navio esperava o retorno de Milo para levá-lo a Grécia.

—Vamos viajar nisso?-perguntou a menina, olhando o barco que era muito velho.

—Vamos sim. É um bom barco!-respondeu Milo.- Logo chegaremos em seu novo lar, pelos próximos sete anos...-e depois fala com a voz gutural, como se quisesse dar medo na menina.- Se sobreviver até lá.

—Se não afundarmos até lá?-ainda descrente com o barco.- Por que não vamos de avião?

—Por que...por que...porque não.

—Está sem dinheiro?-perguntou desconfiada.

—Estou.- respondeu sem graça.-Bem, vamos nessa. Todos a bordo. E não vá enjoar.

—Eu não vou enjoar!-disse empinando o nariz e entrando no barco.

—Tigresinha brava.- resmungou Milo, entrando logo em seguida.

A viagem foi longa, muitas semanas até cruzarem o Oceano Índico e chegarem ao Mar Mediterrâneo. Quando a menina ali chegou, ficou um bom tempo parada no pequeno porto onde desceram, olhando as praias de areia branquinha, o mar batendo em ondas nas paredes de pedra e as casas brancas que pareciam brotar nas montanhas. Aliás, a ilha toda era montanhosa e possuía um ponto maior que todos.

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—É o Monte do Profeta Elias.- comentou Milo, notando o interessa da menina.- A ilha é cheia de montanhas porque nasceu de um vulcão. Ah...- Milo chuta um escorpião que andava perto dele.- Vai ter que se acostumar com estes camaradinhas, a ilha é infestada deles. De todos os tipos.

Kian arregalou os olhos, dando uma rápida olhada para o chão ao seu redor para ter certeza de que não havia mais nenhum escorpião perto.

—Bem vinda ao seu novo lar!-disse Milo com uma expressão nada amigável.

Kian engoliu em seco.

Fim da Parte 2.