The Bitsmaster

Conhecendo o senhor Manu


Muitíssimo assustada e já chorando, suplico:

— Me solta, Gabriel! Tá me machucando!

— Não até você me beijar!

Daí percebo o rosto dele se aproximando do meu, quando os seus lábios estão quase tocando os meus para o primeiro beijo da minha vida (um dos motivos para eu estar nervosa, assustada, triste e tudo o que há mais de sentimento ruim, não queria que meu primeiro beijo fosse assim...), eis que me surge uma ideia impulsiva que me levou a um ato igualmente impulsivo: dobrei meu joelho e dei-lhe um golpe no meio das pernas!

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Com o chute que dei, o desgraçado acaba cambaleando para o lado fazendo com que a porta da sala ficasse livre para mim, abri-a sem nem pensar duas vezes, mas já percebo passos apressados vindo logo atrás: são os amigos de Gabriel querendo me pegar depois da minha “ousadia”! Para a minha sorte, o idiota não havia trancado o portão da casa dele (se é que ele morava lá, depois do que me aconteceu há instantes atrás, fiquei muitíssimo desconfiada), assim consegui abrir o portão sem dificuldade alguma, mesmo com os amigos ainda na minha caçada.

Saí à rua correndo, gritando e pedindo socorro que nem uma louca, mas – ao menos na rua onde Gabriel morava (morava?) – não havia nenhum comércio ou algo do tipo, além desse mesmo lugar estar cheio de terrenos baldios... Agora, junta tudo isso ao fato de estar quase anoitecendo e pronto: uma menina de apenas 13 anos correndo sozinha e desesperada por aí sendo seguida por três garotos também correndo e um mancando devido ao meu golpe:

— Pare Lena! – que interessante! Agora “me chamo Lena”, não sou mais a “princesa”... – Vamos conversar! – Gabriel disse querendo me enganar de novo.

Nem respondi tamanho o meu desespero.

— Peguem ela, rápido!

E continuou a perseguição e, por um momento, me senti como a Princesa Peach, mas que em vez de ser salva pelo Mario ou pelo Luigi, consegue de alguma maneira escapar sem ajuda de ninguém das garras do Bowser.

Para agravar o que eu estava passando, acontece que tenho uma péssima mania quando vou sair acompanhada para lugares que não conheço: fico meio que seguindo as pessoas que estão comigo e acabo não notando os nomes das ruas ou pontos de referência... Nem preciso dizer que então estava correndo de quatro garotos mais fortes e mais altos do que eu (logo, eles poderiam me alcançar rapidamente) sem saber muito bem para onde ir... Até que vejo o que parece ser uma lojinha aberta e decido entrar nela. Dentro desse lugar, havia um senhor de cabelos brancos, com barba e bigodes grisalhos e com óculos no rosto que quase caiu do banquinho onde estava sentado graças à minha aparição repentina:

— Posso ajudar? – pergunta ele se levantando desconfiado.

— Moço – falei ofegante – por favor... Me ajuda! Têm uns meninos me perseguindo, eles querem me pegar! – continuo quase chorosa.

Para a minha surpresa, a expressão de desconfiança desse senhor que mal acabo de conhecer desaparece, ele me puxa pela mão e fala:

— Esconda-se no banheirinho que tenho nos fundos daqui da loja, eu os distraio enquanto isso!

Nem tive tempo de agradecer, fui correndo para os fundos da lojinha para me esconder nesse banheiro (bastante apertado) que consegui achar fácil. De lá dava para escutar quase nitidamente o que as pessoas conversavam na frente da loja e logo os meus perseguidores chegaram:

— Com licença senhor! – era a voz de Gabriel fingindo educação – Viu passando, correndo por aqui uma menina de mais ou menos 13 anos, cabelos castanhos e altura média?

— Vixe! Meninas assim passam todo dia aqui em frente à minha loja... – respondeu o senhorzinho tentando livrar a minha cara, o que me fez respirar aliviada.

— Sim sim, mas é que ela estava correndo né? É que sabe? Ela é minha namorada e a gente teve uma discussão boba, daí ela saiu correndo e como tavam meus amigos junto, a gente veio atrás dela...

“– Desgraçado! Maldito! Sonso!” – pensei xingando Gabriel de tudo quanto é nome.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Ah sim! Agora me lembro que vi uma menina como você disse correndo aqui em frente, mas ela passou direto e não vi pra qual direção ela deva ter ido... – respondeu meu salvador fingindo um breve esquecimento da parte dele.

Daí, o que pude ouvir depois foi a decepção da parte dos meninos:

— Bem! Vamos embora então, depois eu falo com ela... – disse Gabriel me fazendo, mais uma vez, respirar aliviada.

Fiquei mais alguns minutos ainda nervosa dentro daquele banheiro minúsculo, até que ouço passos indo até onde eu estava:

— Eles já foram embora! – disse o velhinho calmamente.

Saí do cômodo e fiquei encarando muda aquele homem que aparentava ter mais de 60 anos.

— Então... Você pode me contar o que aconteceu, minha jovem? – perguntou o velhinho muito simpático.

Senti confiança nesse senhor que mal acabo de conhecer e relatei tudo o que houve: desde o meu primeiro dia de aula até o quase agora.

— Minha cara, mentir para os pais nunca é certo, mas não justifica a atitude problemática dos meninos que a perseguiam! – disse o senhorzinho com um ar de sabedoria.

Eu, muito envergonhada, nem respondo, apenas abaixo a cabeça.

— Mas ora, vamos lá, minha cara! Ânimo: o pior que poderia lhe acontecer já passou!

Eu dou um sorriso um pouco triste, mas estava mesmo me sentindo um pouco melhor.

— Afinal, como você se chama? – pergunta ele.

— Eu me chamo Helena, mas não curto muito meu nome, então prefiro que me chamem de Lena ou Leninha mesmo. – respondo.

— Não deveria não gostar do seu nome, Helena! – ele fala dando destaque ao meu nome, coisa que não gostei muito. – Afinal, segundo os antigos gregos, a mais bela mulher que já pisou nessa Terra se chamava assim! – ele continuou sorrindo e com um brilho nos olhos.

— Entendo... – respondo sorridente e gostando do que ouvi.

— A propósito, sou Manoel, mas muitos me chamam de senhor Manu, mas não tenho problema com o meu nome – nós dois rimos. – Bem, jovem Helena, você disse que é uma garota que gosta de jogos eletrônicos quando me contou a sua história e, olha só! Esta é uma loja de jogos para videogames! – ele me fala abrindo um sorriso de orelha a orelha.

Fiquei toda eufórica depois do que o senhor Manu me falou, já que com a perseguição, mal reparei do que se tratava a lojinha aqui em questão. Com isso, ele me mostrou o que tinha no pequeno comércio dele: basicamente, ele se dedica à venda de consoles, fitas e CDs antigos, e isso inclui aqueles que eram até mais velhos do que eu, já usados por algumas pessoas que venderam para que o senhor Manoel revendesse.

— Infelizmente, meus negócios aqui não vão muito bem! As crianças e os jovens de hoje têm todos esses jogos ou pelos menos a maioria deles aqui tudo na internet e pior: grátis! – disse ele triste e indignado.

— Isso é verdade, senhor Manu! Mas eu adoraria ter essas coisas e esses jogos assim sabe? Eu queria muito ter o prazer de jogar com os videogames, as fitas e os CDs na real mesmo! – falo tentando confortar o senhor Manoel.

— Bem, mas o que ainda move essa loja não é nem tanto as vendas, mas sim aquela belezinha ali! – ele disse apontando para uma coisa que só via e usava onde eu morava e que pensei não ver aqui nesta cidade: uma máquina de Arcade!

Eu soltei um gritinho de euforia e vendo o meu estado de espírito, o senhor Manu me acompanhou até o fliperama que já estava ligado:

— Foi meio que uma invenção minha – ele fez uma pausa que julguei um tanto esquisita e o notei brevemente com uma expressão de melancolia – essa máquina contém vários emuladores, com destaque para aqueles que emulam videogames clássicos, como o Mega-drive e o Super Nintendo, daí você escolhe qual “videogame” você quer jogar e depois seleciona o jogo. – seu Manu disse tudo isso demonstrando o que falava mexendo no fliperama.

— Nossa! E eu pensando que por conhecer e ter jogado os clássicos mais famosos como o Mario e o Sonic que eu sabia de tudo, mas olha o tanto de jogo antigo que não conheço!

Eu estava mais do que encantada com aquilo, imagina que bem para onde eu me mudei, teria uma máquina assim, genial mesmo!

— Muito bem, menina Helena! Adoraria que a senhorita jogasse aqui, mas não quero lucrar em cima de uma possível bronca que você possa levar dos seus pais por ter chegado tarde em casa! – ele me disse me alertando.

— Oh claro! Tenho que ir pra casa – às vezes, fico numa tristeza em lembrar que ainda sou menor de 18... – Muitíssimo obrigada pela ajuda e pela força que o senhor me deu, seu Manu! O senhor foi demais mesmo! Adorei também a sua loja!

— Muito obrigado e fico feliz, minha filha! Ah! Não se esqueça de levar o cartãozinho daqui da lojinha, daí você volta aqui mais vezes e até quem sabe compra aquele videogame ou jogo que queria hein?

— Oh claro! Prometo voltar aqui nesse fim de semana mesmo! – respondi.

— Ótimo, ótimo! Mas agora vá pra casa sim?

— OK!

Despeço-me do senhor Manu não sem antes de pegar o cartão da loja que ele me disse, mas antes de sair pergunto se ele saberia me informar como deveria chegar até o endereço onde moro ou, pelo menos, até a escola onde estudo:

— Como já anoiteceu, é mais fácil e seguro você pegar à próxima avenida à esquerda e descer ela até o terceiro semáforo e daí virar à direita: pronto! Já é a rua da sua casa! – ele me informou.

Agradeci e me despedi mais uma vez e fui enfim para a casa. Cheguei lá sem problema nenhum e como havia dito para os meus pais que passaria a tarde toda fazendo o “trabalho na casa de uma colega de sala”, eles nem me questionaram muito sobre isso. Decidi também não contar nada a eles sobre o que aconteceu entre eu, Gabriel e os amigos dele, porque se não eu me entregaria também! OK! Aqui eu também estava de novo faltando com a verdade, mas não por mentira e sim por omissão o que, para mim, era menos feio.

—---------------------------------------------------------------------------------------------------------

E lá estava eu indo para a escola na sexta-feira que deveria ser um dia feliz (afinal era sexta-feira), mas estava assustada já que poderia encontrar com Gabriel e seus amigos na escola! Até meu pai me levando para o colégio desconfiou:

— Tá tudo bem, Leninha?

— Tá sim, pai! Eu só tô com um pouco de sono. – respondi já tentando cortar o assunto.

Felizmente, não vi nem sinal de Gabriel e nem de seus capangas na escola, daí pensei que eles também poderiam estar com medo de eu ter contado para alguém sobre o ocorrido do dia anterior e com isso eles ficariam em apuros...

—---------------------------------------------------------------------------------------------------------

O fim de semana chegou e eu não havia me esquecido da promessa que fiz ao senhor Manu. Após o almoço, eu tinha dito para os meus pais que iria dar uma volta pelo bairro, daí quem sabe eu poderia fazer alguma nova amizade, mas prometi não demorar muito. Com a autorização deles, fui quase que correndo para o comércio do seu Manu.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ao chegar lá, ele me recebe com muita alegria:

— Você lembrou! – disse sorrindo.

Afirmei com a cabeça e logo ele me conduziu novamente até a fantástica máquina de fliperama. Comecei a fuçar cada pasta-emulador até que uma me chamou a atenção: ela tinha o nome de “X” e perguntei ao seu Manu do que se tratava ela:

— Não... Não é nada... Acho que foi uma pasta que veio como se fosse um bug ou algo assim... – responde ele um tanto nervoso, o que estranhei, por que se fosse apenas um bug, pra que o nervosismo?

Decidi não questionar e comecei então a explorar aquela maravilha, preferindo jogar o que eu já conhecia, pois tinha curiosidade em saber como eram os meus jogos preferidos: iniciei pelo mais clássico de todos – Super Mario World do Super Nintendo – e me aventurei naqueles mundos de carinhas felizes, porém como queria jogar outras coisas, peguei aquele caminho envolvendo a Donut Secret House e posteriormente o caminho de Star World para finalmente zerar o game; depois foi a vez de Sonic, como aquele dia era mais a minha estreia no Arcade do seu Manu, joguei apenas a Green Hill Zone mesmo e depois dei Reset; passei então para o Mortal Kombat II e obviamente joguei com a minha diva – Kitana – e claro, consegui zerar com aquela deusa!; diverti-me horrores com a Samus Aran em Super Metroid, mas assim como foi com o Sonic, não joguei para valer; o mesmo ocorreu com The Legend of Zelda, por ser RPG, também joguei um pouco e depois parei.

Finalmente, me deu uma vontade de jogar Street Fighter 2, escolhi o Blanka e fui derrotando os oponentes até que cheguei no Sagat e perdi...

“– Droga! Ele apela demais!” – pensei revoltada.

Perdi mais uma vez... E outra vez... Pela quarta vez... Até que na quinta vez, acabei explodindo, dei “reset” no jogo e descontei no pobre do fliperama dando um pontapé nele... Com o golpe, acabei sem querer “tirando um pedaço” da parte de baixo da máquina, olhei para os lados para ver se o senhor Manu tinha visto a merda que eu fiz, mas nem sinal dele, então me abaixei e tentei de alguma forma tentar colocar de volta o “pedaço” que tirei da pobre máquina, no entanto ao tocá-lo, percebo algo gravado nele e vi uma espécie de código que envolvia justamente os botões do equipamento que eu estava jogando e junto com isso um escrito – “Pasta X”.

Sei que a atitude correta seria avisar o senhor Manoel sobre o que achei, mas quando olho para a tela do fliperama, me deparo com a dita pasta “X”... A curiosidade falou mais alto! Dei um clique nessa pasta misteriosa e nela um código era solicitado: como se eu fosse juntar 2 com 2, acabei “digitando” com os botões da máquina o escrito que eu tinha acabado de descobrir naquele pedaço do Arcade, uns instantes se passaram e, de repente a máquina desligou sozinha, mas nem deu tempo para eu me desesperar com isso, pois em seguida veio um clarão e me senti sendo puxada... Para dentro do fliperama!

Acordei em cima de algo macio, que depois percebi que se tratava de uma cama mesmo, e a primeira coisa que vi foi uma bela garota de longos cabelos negros que parecia ter mais ou menos a minha idade me encarando com atenção:

— Senhorita Elmor! Meninas! Ela acordou! – gritou a menina.

Eu logo pergunto:

— Onde estou? E quem é você?