That Summer

Capítulo 4 - Uma brincadeira antiga


(Por favor, leiam as notas iniciais)

New York - Fim das férias de verão

Sete dias depois da volta

02:00 AM

Uma janela imensa ocupava a sala de estar dos Fairchild, Clarissa observava a imensidão da cidade através dela, e mesmo tarde da noite a cidade mostrava fazer jus ao nome e aparenta nunca ter descanso. Fray parecia hipnotizada pela vida que acontecia a poucos metros de distância a sua frente. Naquele instante lembrou-se de sua amiga californiana, que criara um jogo “diferente” para elas: inventar histórias para pessoas que não conheciam, obviamente incluía estereótipos, era baseado em achismos e em uma imaginação fértil adolescente, mas as mantiveram ocupadas por todo o verão.

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“— Qual é o nome dela? — perguntou Clary — Quero dizer, que nome você daria para ela?

— Gosto de Agnes. — respondeu — Parece combinar… Talvez ela tenha um namorado? — soou duvidosa — Ou uma namorada… — a incerteza era nítida em seu tom, talvez pela sugestão ou a dificuldade implícita da brincadeira em deduzir a vida de alguém apenas pela aparência.

— Ou esteja solteira — sugeriu — Talvez se nós só criarmos uma história… sem se preocupar tanto. — olhou a garota que andava pelas ruas mais uma vez — Gosto das roupas que está usando… E se, ela for uma estilista local? — sorriu, oferecendo uma maneira mais descontraída de supor sobre a vida alheia”

Clarissa desejava telefonar para Isabelle, mandar uma mensagem e contar mais sobre a cidade que tanto amava. Perguntar se encontrou Theodora ou Agnes pelas ruas, e comentar que ao observar a lotada calçada visualizou um possível “Matt” acompanhado de outro alguém. Contudo, se sentia incapaz para tal, quando deixara a Califórnia decidiu que a distância seria a melhor solução para esquecer, ou ao permitir que sua cabeça e coração desvinculassem a imagem de “Jace Herondale”, afinal, seria irreal acreditar que eles poderiam continuar juntos considerando os quilômetros entre ambos. A falta era latente. Sentir saudade, inevitável.

Em um momento rápido de melancolia decide procurar por suas anotações e encontrar sobre o dia em que a brincadeira fora criada. Ao achar seu caderno, retorna para a sala desejando observar as pessoas que passavam de forma despreocupada pelas ruas através de sua janela. Agora sentada ao chão sob a penumbra da noite folheia as páginas calmamente e algo chama sua atenção, um desenho em aquarela de um dia em Zuma Beach ao anoitecer, é parecido com muitos de seus desenhos, contudo, apenas a sombra de duas pessoas está naquela imagem, Simon. O doce rapaz com o violão que a convidou formalmente para juntar-se à eles mais tarde naquele dia.

A ruiva leu rapidamente alguma das anotações feitas a respeito daquele dia, embora Clarissa não tivesse uma memória tão ruim, acreditava que escrever o que se passou era a melhor forma de manter a sensação vívida e a nitidez do momento, pois as palavras escritas trariam à tona o sentimento da forma crua e simples de meses atrás. Embora suas reações mudasse conforme o tempo, a mesma permanecia acreditando que esta talvez fosse uma das melhores partes.

Seus dedos passavam de forma suave pelo papel marcado por sua letra cursiva, que revelava muito sobre o que ela sentira em Malibu. Um amplo sorriso se abriu ao ler um trecho de seu diário que explicitava alguma de seus prévios conhecimentos sobre Simon.

“Lovelace é divertido, e muito observador, devo dizer (...)

Sempre dedilhando o violão, com alguma melodia. Parece feliz ao olhar Isabelle. Mas não é de falar muito sobre, não acho que estejam juntos. Talvez não por falta de vontade da parte dele”

(

Malibu, Califórnia

10° dia das férias de verão

A noite começaria a cair em breve, e Clary se questionava internamente se deveria ou não ficar para mais um dia de danças improvisadas e músicas conhecidas interpretadas por amigos de Sebastian. Talvez o convite estivesse implícito para que aproveitasse o cair da noite com eles, contudo, Fairchild não poderia adivinhar e uma parte desejava que fosse convidada formalmente ao menos para se sentir desejada naquele espaço.

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Sentada ao chão sob sua toalha observava as pessoas ao longe. Lovelace próximo à ela tocava “Umbrella” em seu violão enquanto balbuciava a letra, contudo, a ruiva não prestava atenção, estava focada no pôr-do-sol, ao som das ondas, em seu primo que surfava junto à Jonathan e em Izzy que conversava com outras garotas em uma região afastada dos rapazes. Por segurança muito provavelmente, pensou ela, visto que algumas vezes vira pessoas perdendo o controle das pranchas que surgiam de forma violenta sobre a areia.

A batida ritmada trazia sonoridade à cena que passava aos olhos de Clarissa, mesmo que absorta em seus pensamentos, ainda era capaz de ouvir a melodia suave e amena. Deitou e cobriu seu rosto com ambos braços, objetivando pensar claramente na imagem que gostaria de reproduzir e guardar na memória, além de focar em Simon e sua música, mesmo que de forma mínima.

Clarissa retornou à sua posição inicial, puxando suas roupas para o lugar certo mais uma vez naquele dia. Sua pele alva encontrava-se um tanto avermelhada devido à exposição constante ao clima quente californiano, mesmo que com esforços inúmeros para impedir que isso acontecesse através de chapéus, protetor solar em alto fator, kaftans para cobrir seu corpo e um guarda sol, era inevitável.

Sentada, pôde observar Jace, que agora, parecia um tanto com rapaz que ela idealizou no primeiro dia antes que ele estragasse tudo ao abrir a boca. A ruiva ainda tinha em mente o comentário feito por si, afinal, Jonathan realmente tinha um sorriso genuíno e um charme em especial. Distraída, não notou que Simon a observava atentamente. Simon achava divertido de alguma maneira analisar o que as pessoas costumam fazer quando estão desatentas.

— Você deveria chamá-lo para conversar, não acha? — a voz chamou sua atenção, que pulou devido ao susto. Simon parara de cantar, mas continuou a trabalhar nas cordas.

— Você está falando do Jace? — questionou, surpresa, enquanto tentava apontá-lo sem fazer alardes — Não, não é nada disso… — tentou argumentar.

— Não finja que não o achou bonito. Eu vi você o encarando hoje. — respondeu honestamente, dando fim também à melodia do violão — Estava fazendo agora mesmo… — sorriu divertido.

— O que? – surpreendeu-se, as palavras saiam com dificuldade. A surpresa era evidente na fala de Clary, assim como o constrangimento – Isso não é verdade, eu…

— Estava encarando – completou mais uma vez – Mas não se preocupe, você foi discreta. – tentou “consolá-la” – Eu reparo demais nas pessoas, e na forma em que elas se comportam. Prazer, eu sou o Simon – estendeu a mão. Embora sentisse um certo receio, pois estavam repetindo o processo feito há menos de uma semana, a ruivinha não tardou a apertar a mão do rapaz. – Não vou contar para ninguém … – sua entonação evidenciava um questionamento, a garota logo entendeu e respondeu:

— Clarissa – em seguida sorriu – Pensei que soubesse. – comentou ao colocar uma mecha para trás de sua orelha — Nós nos conhecemos — riu — Fomos apresentados há alguns dias.

— E sabia. Só queria que você se apresentasse formalmente. — sorriu. O rapaz de cabelos encaracolados compartilhava da mesma necessidade de apresentações oficiais, e tal fato alegrou Clarissa.

— Nós vamos ficar na praia até mais tarde hoje… Caso você queira participar… — sugeriu. Embora, o convite implícito tivesse sido feito há muito tempo, Clary gostou de ser “convidada formalmente”, mesmo que simples, essa atitude corriqueira fazia com ela sentisse que sua presença era realmente desejada naquele espaço.

— Seria um prazer… — abriu um largo sorriso, que foi retribuído. O silêncio entre eles começou aparecer, mas não era um problema, até porque as vozes dos demais integrantes chamavam atenção, apenas os dois estavam por fora das conversas que ocorriam. A ruiva então, decidiu continuar um diálogo com Lewis, mesmo que não soubesse a maneira exata de como fazê-lo decidiu arriscar: — Como é para vocês…? — começou, atraindo a atenção Simon, mais uma vez — Quando vocês não estão no recesso?

— Acho que não muito diferente de você… — arriscou — Vocês Nova Iorquinos — tentou explicar — Tirando a praia — brincou

— E a fumaça, com certeza a fumaça. — respondeu ela, aceitando a tirada anterior — Vocês não têm tanta aqui.

— É… — deu de ombros — Vantagens. — o silêncio ameaçou se instaurar mais uma vez, contudo a menina tornou a falar:

— Ficou tão óbvio assim? — questionou. O nervosismo, incitado talvez, pela necessidade de dar continuidade ao assunto impediu que ela pensasse em suas próprias palavras com mais cuidado — Que eu estava olhando? — terminou em baixo tom, um tanto quanto envergonhada. Acontecimento que fez Simon sorrir.

— Não ficou tão óbvio assim, mas, eu nem precisei dizer o nome dele para que você soubesse de quem eu estava falando. Então foi apenas uma confirmação. — a ruiva apenas assentiu, olhando para as próprias mãos um tanto constrangida por ter sido pega.

— Tá tudo bem. — respondeu em uma tentativa de tranquilizá-la — Como eu disse, não é como se eu fosse contar à alguém.

— Obrigada. — quase em um sussurro suas palavras foram pronunciadas.

— É o mínimo que eu posso fazer. Afinal, não é da minha conta — deu de ombros. Clarissa sentia-se satisfeita, pois de alguma forma sem explicação aparente conseguia confiar nas palavras de Simon. Desejando descansar deitou mais uma vez esticando o corpo sobre a toalha estendida no chão, enquanto ouvia o rapaz voltar a dedilhar as cordas do violão.

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A noite caiu, o que reduziu drasticamente a quantidade de pessoas na praia. Claro, existiam pequenos grupos adolescentes espalhados pela região, mas nada comparado à aglomeração antes presentes. Sebastian apresentou duas meninas que conversavam com Izzy mais cedo à sua prima, Aline Penhallow e Helen Blackthorn. Pareciam muito próximas, sorrindo uma para outra ao conversarem e ao cumprimentarem a ruiva. Sentaram-se próximas à Clary e sob a luz da fogueira ela poderia observá-las melhor.

Os cabelos de Aline tinham uma coloração diferente e não natural, a raiz escura e seus fios azuis desbotados evidenciaram que a pintura já tinha sido feita há algum tempo. As maçãs do rosto curvilíneas possuíam corações nas extremidades e seus olhos marrom escuro eram contornados por um delineador branco, que realçava o formato de amêndoa e seus traços asiáticos. Parecia quieta, mas não de um jeito ruim.

Enquanto Helen soava expansiva, abrindo sorrisos e tentando fazer com que Fray fizesse o mesmo. Sua pele alva um tanto avermelhada devido ao sol, a deixava ainda mais bonita, assim como os cachos branco-ouro que caiam por seus ombros com pontas em um forte tom de rosa. Utilizava um kaftan amarelo pastel que contrastava com as roupas coloridas de Aline, um cropped de alças que exibia a bandeira da Inglaterra e um short jeans com detalhes metálicos.

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Contraste. A palavra dominava o pensamento de Clarissa ao observá-las tão distintas e íntimas simultaneamente. As diferenças não deveriam ser um problema, entretanto, até mesmo as personalidades parecem não encaixar à primeira vista, pensava ela.

— Já conheceu muito da cidade? — questionou Helen, recebendo olhares de Aline

— Não. Não muito. Só fiquei pela praia e conheci o píer há alguns dias com Izzy.

— É você não está aqui há muito tempo. — pensava em voz alta — Mas ainda restam dois meses, aposto que vai conhecer muita coisa.

— Espero que sim. — a ruiva abriu um sorriso sincero. Direcionou o olhar à Penhallow que estava quieta. Embora Clarissa reconhecesse que a garota fosse mais quieta, sempre acreditou que roupas dizem muito sobre a personalidade de alguém, como seria possível que tal vestimenta encaixasse naquele indivíduo tão retraído?

Quis balançar a cabeça para afastar os julgamentos internos, mas não o fez, pois reconheceu que poderia causar certo estranhamento, decidiu então atentar-se nas palavras de Blackthorn e deu continuidade ao assunto.

— Vocês vão procurar algum emprego de meio período?

— A Aline aqui — passou o braço pelos ombros da garota aproximando seus corpos, que sorriu ao aceitar o gesto — Trabalha em uma uma loja de CD’s próximo ao píer. Talvez você tenha passado por lá. — pausou — Eu trabalho em uma loja de roupas aqui por perto. Todos trabalhos de verão, e você tem algum?

— Na verdade não. — suspirou — Nem estava exatamente nos meus planos… Vir pra’ cá. Mas não quer dizer que eu não esteja gostando, longe disso — levantou as mãos em justificativa não requisitada, o que arrancou sorrisos de ambas as garotas.

— Fica tranquila — tentou Helen — Se você quiser a gente pode tentar te ajudar a arrumar alguma coisa. — recebeu um aceno positivo de Penhallow — Às vezes eles podem precisar de ajuda na loja de discos.

— Ou de roupas — sugeriu Aline calmamente — A questão é que durante esse período as lojas precisam de ajuda, aqui fica cheio de turistas, então geralmente estão precisando de mão de obra.

— Seria ótimo meninas, obrigada — respondeu sincera

— Você sabe qual é sua área de especialidade? — brincou a dona dos cabelos azuis.

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New York - Fim das férias de verão

Sete dias após a volta, 03:00 AM

Ainda sentada no chão sobre a penumbra da noite encarava muitos de seus desenhos feitos. Lera sobre Simon e seu hábito de observar, sobre Aline e a quietude inicial ao conhecê-la, sobre Helen e sua expansividade e sorriso fácil.

Pensava em como havia demorado até que notasse que eram um casal, naquela noite não reparou, embora não fosse difícil notar, visto que Maia tratava Jordan de maneira semelhante. Mas os olhos enxergam o que desejam ver, e naquele momento Clarissa estava cega pelo momento de interação que nem ao menos cogitou a possibilidade.

Os olhos vagavam pelo caderno em suas mãos, e traçaram a letra cursiva mais uma vez com a ponta dos dedos. A câmera digital resultou boas fotos que estavam sempre acompanhadas de anotações, confissões ou mais desenhos. Desta vez, os três misturavam-se em um resumo sobre aquele dia.

“ Querido caderno,

Acredito que já não existam motivos para me desculpar. Afinal, já está mais do que claro que seu propósito será este até o fim desta viagem. Não falo de maneira negativa, apenas conformada que é o que desejo que seja feito.

Preciso ressaltar que Lovelace é divertido, e muito observador, devo dizer. Notou meus olhares em direção à Jace, não gostaria de fazê-lo, mas me sinto intrigada para conhecê-lo, mesmo que não tome atitude para que isso aconteça.

Simon está sempre dedilhando o violão, com alguma melodia. Parece feliz ao olhar Isabelle. Mas não é de falar muito sobre, não acho que estejam juntos. Talvez não por falta de vontade da parte dele. Não o perguntei sobre, pois não desejava causar constrangimento, mesmo que ele tenha perguntado sobre Herondale não pude fazer o mesmo.

Conheci hoje duas amigas de Sebastian, Helen e Aline. São interessantes e muito próximas. Parecem ter uma amizade que diverge em vários pontos. Mas… quem não tem? Disseram que poderiam me ajudar a conseguir um trabalho de meio período por aqui. Aceitei a oferta de bom grado, embora ainda não saiba se desejo verdadeiramente, é uma maneira de manter-me ocupada pelos próximos meses.

Dessa forma talvez eu possa conhecer outras pessoas que destoem do círculo social de Velarc que parece fazer um esforço imensurável para que me aceitem"

A ruiva riu ao terminar a leitura pela forma que escrevera. Ela sabia que nos próximos dez dias tudo se tornaria mais fácil e sua afinidade com cada um deles cresceria de forma orgânica. Contudo, sua versão de meses atrás não poderia adivinhar e queria deixar de ser um estorvo para seu primo o quanto antes.

Recordou-se do propósito inicial ao buscar seu caderno: encontrar sobre o jogo que fizera com Isabelle. Entretanto, se distraiu e perdeu o foco concentrando-se em outros acontecimentos muito anteriores ao procurado, e continuaria repetindo o erro.

É inevitável, pensava ela

Clarissa estava conformada… Passaria os próximos dias lembrando o que vivera em Malibu. A sensação ainda era vívida, não tinha esquecido tantos detalhes. Mas a cada página lida os sentimentos surgiam mais fortemente. A nostalgia poderia matá-la um dia, e talvez ela não se importasse, se existisse a garantia que suas lembranças estariam a salvo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.