Tenebris

Capítulo XI


As citações da profecia rodopiaram sobre ela no quarto escuro embalando-a em sua voz calma e profunda naquela noite. A insônia estendeu-se a perturbando. Do outro lado da parede, o quarto de Malfoy fazia barulho de cama rangendo e ela achou ter escutado um grito, mas não se levantou para ver o que era, além de ter brigado com ele e querer que se explodisse, ela reconhecia aquilo.

Para sua estranheza perguntou-se quais eram os pesadelos de Draco Malfoy.

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As costas de Hermione reclamaram assim que se levantou, cansada de rolar de um lado para o outro. O papel que havia listado os estranhos ocorridos, agora também preenchido com os versos proféticos escorregou por sua barriga. A pena suja de tinta manchara os lençóis, ela havia riscado o livro de Beedle, o Bardo na pequena parte em que a segunda relíquia era citada.

Pelo menos havia um objetivo: encontrar a pedra. Seus instintos diziam que era essa a resposta. Mas parecia tão distante quanto o começo da procura as horcruxes. Lá estava ela novamente tentando resolver tudo, perdida. Tirando os cobertores ao redor de seu corpo e recolhendo a bagunça que tinha feito, como fazia em seus trabalhos escolares, decidiu que a “missão” deveria ser tratada como todas aquelas que ela enfrentara com seus amigos. E Hermione Granger encontrava respostas em livros.

Faria uma visita à velha e conhecida Floreiros e Borrões.

Trancou a porta do quarto já com seus pertences em mãos, se não resolvessem isso hoje, o que era bem provável, teriam de ficar mais um tempinho na hospedaria, mas ela preferia ter tudo pronto em suas mãos caso precisassem sair às pressas. Talvez a bolsinha com feitiço de extensão que carregava para todo lado tivesse se tornado um tipo de paranoia.

Encarou a porta ao lado considerando a opção de chamar Draco ou não. Não deveriam se separar, mas pensar que o teria ao lado com suas piadinhas de mau gosto era desanimador e já a deixava irritada. Sua falta de controle ontem foi assustadora até mesmo para ela, mas não se arrependia nem um pouco, não deixaria aquela doninha fazer aquilo com ela.

Não ouviu sons vindos do interior do cômodo, ele devia ter finalmente pego no sono depois de atrapalhar o dela. Desistindo da mera possibilidade de acordá-lo desceu as escadas com a poeira adentrando em seu nariz, tonta com a claridade da manhã.

– Saindo sem mim, Granger? – murmurou rouco o dito cujo que tinha as costas apoiadas no corrimão no final das escadas levando uma xícara flamejante aos lábios.

– Pensei que estivesse dormindo – justificou-se, ele sorriu de lado não muito certo da resposta dela. A manhã era calma no bar, apenas duas mulheres sentadas em uma mesa conversando ao descaso e um homem lia o jornal no balcão parecendo não estar muito feliz com as notícias. Draco continuava com o cabelo desarrumado, porém a face parecia mais acalorada. Hermione reparou no rasgo na manga esquerda de sua camisa, o que levou seus olhos até o braço direito coberto dele, tinha se esquecido daquilo. Apontou com a cabeça para uma mesa afastada, chamando-o para vir junto e sentaram-se.

– Você ainda tem a marca – disse, seu tom saiu um pouco mais acusatório do que gostaria. Draco observou-a animosamente colocando a xícara na mesa.

– É, é isso que te faz um Comensal da Morte.

– Não foi isso que eu quis dizer – replicou rolando os olhos – Pensei que elas desaparecessem.

O Malfoy se emudeceu, passou o dedo indicador na borda da porcelana.

– Não, não desaparecem – respondeu e pôs fim ao olhar evasivo da menina, e deu mais um gole em sua xícara, o cheiro subiu as narinas de Hermione, uma mistura de chá de hortelã com algo forte.

– O que você está tomando? – Tirou a porcelana das mãos dele sentindo o aroma mais de perto e experimentou o líquido. Inacreditável – Misturou bebida alcoólica aqui?

– Você com seus problemas, Granger. – Draco pegou a xícara de volta bebericando em provocação – E eu com os meus.

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As duas bruxas que conversam duas mesas ao lado cochichavam entre si vez ou outra lançando olhares a eles, Hermione verificou suas roupas, pareciam maltrapilhos. E se teriam que ficar por lá que não chamasse a atenção.

– Vamos à Madame Malkin – disse apontando para suas roupas. Ele deu de ombros, entornando o chá, Hermione deixou alguns galeões, que graças a Merlin tinha em sua bolsa, na mesa e saíram.

Os estragos da noite anterior eram consertados, uma bruxa lançava um feitiço nos cacos de vidro de sua vitrine juntando-os novamente, e os caldeirões que haviam passado por eles já voltaram a seu lugar. Amanhecera ensolarado, mas o clima fúnebre continuava.

Um papel grudou-se a perna de Hermione, ela chutou-o tentando soltá-lo, era um cartaz de procurado, o rosto que viu primeiramente foi de Harry, porém em uma olhada mais apurada, a foto era de James. Ele suspirou.

O letreiro da loja de vestimentas tinha letras rosas e grandes, a vitrine enfeitada com manequins vestidos com chapéus de bruxo ornamentados de frufrus e roupas chamativas. Hermione lembrou-se da primeira vez que vira aquela fachada pouco antes de iniciar seu primeiro ano onde mal sabia que compraria roupas para um lugar que mudaria sua vida. Quando abriu a porta, depararam-se com a mulher atrás do balcão e um sorriso hipnotizador de vendedora. Era Malkin mais jovem, as rugas não tinham aparecido em sua pele e os cabelos castanhos estavam compridos.

– Bem vindos à Madame Malkin, roupas para todas as ocasiões! – recepcionou ela – O que estão procurando?

– Hã... roupas normais... – o sorriso gigantesco da mulher fez Hermione sentir que tinha que explicar melhor – Fizemos uma viagem às pressas e esquecemos as malas.

Ela fechou os lábios concordando com a cabeça, compreensiva, a menina percebeu que há dezoito anos muitos bruxos deviam ter saído às pressas de casa. Malkin fez um gesto mostrando a loja.

– Fiquem à vontade.

Draco já estava enfiado em algum lugar, Hermione foi até uma arara de roupas.

Definitivamente, a moda extravagante dos anos 80 chegou ao mundo bruxo, dispensou as ombreiras e as blusas de cor berrante, chegando ao final em que conseguiu três pares de roupas que não precisou provar para ver se lhe cabiam. Draco entrou em um dos provadores.

– Seu namorado é muito bonito – comentou Malkin ajeitando uma blusa na vitrine.

– Ah – as bochechas de Hermione avermelharam-se, ficando muito interessada em um colete de pelos sintéticos – Ele não é meu namorado, somos só companheiros de viagem.

A mulher sorriu maliciosa.

Quinze minutos depois tinham feito as compras e parado na calçada, as sacolas foram para a bolsa de Hermione que novamente agradeceu pelo feitiço expansivo. Como na noite anterior, poucas pessoas andavam nas ruas, as que se arriscavam tinham o olhar nervoso e o passo apressado, era o auge da Primeira Guerra. Hermione sentia o estômago se comprimir só de pensar em quantos já não haviam morrido, logo acabaria e Lílian e James Potter estariam mortos, assim como, supostamente, Voldemort. Era estranho para ela pensar assim de forma linear, como os livros de história apresentam, quando se vive realmente aquilo que um dia seria um capítulo de um livro didático tudo lhe parece um montante de fatos jogados e problemas que enfrentavam.

– Ficaremos aqui o dia todo? – indagou impaciente Draco tirando-a de seus devaneios.

– Não. – Virou-se para ele já com seu discurso pronto – Eu realmente não sei onde a pedra está, não sei se Dumbledore já estava com ela nessa época, por isso vamos pesquisar à Floreiros e Borrões.

– Acha que a resposta vai estar em um livro?

– Nunca falhou.

A livraria não estava muito cheia, Hermione e Draco passaram despercebidos pelo único atendente que arrumava livros em uma pilha em formato de castelo. A menina passou o dedo pelas lombadas grossas.

– Procure qualquer coisa ligada à história, aos irmãos Peverell, as relíquias – ela instruiu Malfoy que ficou no lado oposto da estante em que ela procurava, um de frente para o outro. Ao retirar um livro Hermione notou um corte nas falanges do sonserino.

– O que aconteceu com a sua mão? – perguntou analisando algumas páginas. Draco abriu a mão flexionando os dedos.

– Sonhos ruins.

Seu reflexo sorridente voltou a assombrá-lo. Não contaria a ela sobre isso, a Granger viria com mais uma de suas poções e seria mais um problema para se preocupar. Nada adiantaria. Foi uma mera ilusão de sua cabeça, uma consequência do inferno que a sua vida se tornara. Afinal, já estava ficando louco há muito tempo.

Sua resposta, que não explicava muita coisa, era real. Os sonhos ainda eram curiosos. Depois do banheiro foi para cama inquieto, o sono veio, mas não o deixou em paz. Caminhava por um corredor, era Hogwarts, podia distinguir os quadros nas paredes. Escuro. Som de água gotejando. Uma voz ao fundo que ele não conseguiu ouvir o quê dizia, como uma má transmissão do som em eu rádio em que só se conseguisse ouvir os ecos já desfigurados e interceptados. Mas enxergou uma cor, vermelho.

Relembrando agora, com a menina do Trio de Ouro a seu lado, o vermelho se parecia com a cor do cabelo Weasley.

Ao acorda teve a sensação de que tivesse caído no próprio corpo, como se flutuasse e fosse puxado de volta bruscamente. A sensação de queimação por baixo da pele, todavia muito mais amenizada, veio como um incômodo que passou assim que desceu para tomar o café da manhã.

– ... Cadmo Peverell foi o primeiro dono da pedra. Que chegou a Dumbledore e ele colocou no pomo de ouro.

– Cadmo se matou – argumentou relembrando a voz de sua mãe lendo a história para ele antes de dormir. Hermione balançou a cabeça colocando mais um livro na pilha em seus braços.

– É o que diz no conto, pode ser falso.

– Os Peverell são sangues puros – ponderou ele, pescando o livro que fizera essa ideia vir a ele, colocou-o em uma mesa e passou as páginas rapidamente, Hermione se aproximou colocando os exemplares que tinha pego de lado.

– Há vários livros que falam sobre essas famílias – compreendeu Hermione – Talvez algum fale sobre eles. – Voltou as estantes procurando na sessão dos biográficos e históricos. Pela visão periférica viu o sonserino arrancar uma das páginas e amassá-la.

Acharam mais quatro livros que falavam sobre as tradicionais famílias do mundo bruxo, em meio a um silêncio de suspiros, páginas viradas e uma pequena interrupção intrigada do atendente que só notou a presença dos dois ali depois de terminar sua escultura de livros, fizeram sua pesquisa.

– Aqui – apontou Hermione entusiasmada para a página, Draco levantou o pescoço para poder enxergar, havia uma foto do membro mais velho da família Gaunt, Sevolo, a expressão vazia não lhes representava nada, mas a mão direita que apoiava sua cabeça continha em seu dedo um anel incrustado de uma pedra curiosa.

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– Faz sentido... o anel é uma das horcruxes, Dumbledore o destruiu e isso – a grifinória dirigiu seu dedo até a joia – É a Pedra da Ressurreição, depois de destruída ele a colocou no pomo de ouro. Harry me disse que Dumbledore encontrou o anel na casa da família.

– Então está na casa?

– Ou com o diretor se ele já procurava o anel nessa época.

Draco suspirou. Grande coisa, a maldita relíquia continuava a parecer inalcançável.

– Nossas opções são tentar entrar em Hoqwarts que é um dos lugares mais seguros do mundo, ou na casa dos parentes de Você-Sabe-Quem – riu em sarcasmo – Ótimo.

– Você fala como se fosse minha culpa – Hermione lançou um olhar de aviso a ele, não queria voltar à briga de ontem, nunca sairiam do lugar se continuassem assim. Draco fechou o livro.

– Decidiu tudo o que faríamos até agora, Granger, é minha vez. Vou voltar ao Caldeirão Furado, você faça o que quiser – disse levantando-se, Hermione iria contestar, precisavam continuar pesquisando, porém ele já tinha passado pelas estantes antes que o fizesse.

A barriga reclamou, fazia tempo que não comia, guardou o livro entre duas pilhas para que voltasse a lê-lo depois, e xingando a si mesma foi atrás do sonserino. Atravessou a rua e abriu a porta do bar.

Tom conversava com um cliente aos sussurros, levantou os olhos para ver a nova visitante e instintivamente Hermione baixou a cabeça. Draco já estava com uma bebida nas mãos, não escondeu o sorriso ao ver a morena caminhando até ele. Sentou-se na cadeira da frente e pediu um petisco que havia no cardápio e suco de abóbora. O sonserino ignorou-a concentrando-se no copo e ela entretinha-se com suas mãos cutucando o esmalte descascado, eventualmente erguendo os olhos para ele.

Seu pedido chegou e ela dispôs o prato no centro da mesa, oferecendo-os complacente e sem precisar falar. Chegaram na metade da comida quando dedos calejados e frios tocaram sua pele sem aviso, assustando-a em um pulo.

– É um belo exemplar o seu – a voz falou próxima a seu ouvido, Hermione olhou sobressaltada para o dono da frase, um senhor de barba branca e rala e cabelos grisalhos cortados na altura da nuca, tinha olhos azuis esbugalhados e grandes. Ela seguiu seus dedos presos a seu colar Vira-Tempo. O sangue gelou. Olhou de esgueira para Draco que se levantara alarmado.

– Bons ornamentos, maciço, areia de boa qualidade – elogiou fitando a corrente e depois levantou as costas em um espasmo – Ora, mas que falta de educação a minha! Meu nome é Satturnus – estendeu a mão para cumprimentá-los. Hermione arregalou os olhos castanhos, hesitantemente apertando a mão dele.

Draco achou-o estranho, arqueou as sobrancelhas para os quatro relógios no braço direito do senhor, todos de um ouro brilhante como o colar da Granger, marcavam horários desiguais, que tipo de homem usa os relógios com fusos-horários diferentes? Tinha um sorriso grande, mas não assustador para um velho, parecia que lhe faltavam alguns parafusos.

– Para nunca perder o horário – o homem disse a Draco que fitava seus braços – Faz tempo que não vejo viajantes! Gostaria de perguntar de que tempo são, mas isso só atrapalharia ainda mais minha cabeça – riu-se e cutucou o topo da testa. O loiro chutou a perna de Hermione por debaixo da mesa, querendo saber o motivo de seu semblante assustado se suavizar assim que Satturnus se apresentara.

– Esse é... o fabricante dos Vira-Tempos – ela apresentou e voltou-se para o outro – Li sobre o senhor quando ganhei a colar.

– Ah sim, está na minha família, passei o ofício para meus filhos... São raros, difíceis de confeccionar, deve ter feito algo muito bom para ser dado a você.

Um copo espatifou-se no chão derrubado por um cliente bêbado no balcão. Os cacos. A visão de Draco falhou. Piscou. Uma, duas. O pequeno segundo que suas pálpebras fechavam-se, ele pôde ouvir sons e imagens em borrões de um lugar diferente, oscilando entre o bar e o lugar que não podia discernir, como se estivesse passando e voltando dois canais na TV rapidamente.

– Eles voltaram! Três deles! – alguém gritou ao longe adentrando pelos fundos, todos se levantaram de supetão, o homem que falava com Tom desaparatou de imediato, quatro mulheres correram para fora do estabelecimento.

Satturnus checou os relógios.

– Já está na hora de ir. E a última pergunta que me faço é porque escolheram essa data, muito tumultuada. Mas deve ser algo importante, não? – uma janela explodiu e eles se abaixaram – Bem, vou lhes mandar a um lugar seguro, de lá poderão seguir para onde quiserem.

Não tiveram tempo de responder, tudo apagou.

*

A primeira sensação foi de colidir com uma parede, e a segunda de afogamento.

Hermione debateu-se em movimentos lentos e pesados às cegas, lutando instintivamente contra o que a envolvia, era água. Estava atônita. O espírito de sobrevivência entrava em conflito com sua mente extremamente racional, forçou os pensamentos a clarearem, abriu os olhos e parou de se mexer. Conseguia respirar.

De cor opaca branco-prateada. Examinando melhor, Hermione não parecia estar mergulhada em algo de substância definida. Movimentou-se e não precisou esforçar os braços para nadar, um leve impulso a movia, como se flutuasse. Uma fumaça também prateada, entretanto mais densa, rodopiou a sua frente. Formava algo. Primeiro uma silhueta e depois uma cena materializara-se. Um balanço pintado de vermelho e com dois bancos de madeira, do qual havia alguém sentado. Hermione franziu o cenho para a figura, era uma Hermione pequena, balançando-se no parque que ficava perto de sua escola, reconheceu. Mais alguma coisa se formou na fumaça, sua mãe.

Seis vezes oito? – perguntava ela sentada de frente para a filha com a mochila amarela com borboletas nas laterais, impecavelmente arrumada ao seu lado, Hermione assustou-se por conseguir ouvir sua voz nitidamente. A voz que abriu uma frestinha do que a menina mantinha a todo custo fechado dentro de si.

– Quarenta e oito!

Para onde Satturnus havia os mandado?

O peito apertou-se, Hermione gritou para que parasse, mas não emitiu som, balançando a cabeça até que a visão se embaçasse. Impulsionou-se até a cena, dissolveu sua “eu” pequena estapeando-a, e sua voz fina de criança foi interrompida, voltou-se com pesar para onde a imagem de sua mãe estava, mas toda a cena sumiu.

Eu poderia levá-la ao Baile de Inverno? – ressoou em seus ouvidos a voz com forte sotaque de Vitor Krum, assim como ele apareceu logo depois. A fumaça prateada construiu mais e mais cenas. Harry e Rony. Seu pai.

Eram suas lembranças.

Vindo sem ordem cronológica, apareciam a seu redor enquanto prosseguia explorando o lugar, uma antecedendo outra. A vez que aprendeu a andar de bicicleta, seu primeiro beijo, um turbilhão de lembranças que a atingiam em seu âmago, abrindo cada vez mais a fresta. Mas Hermione não deixaria isso acontecer, não.

Encontrou Draco no fim da memória dela ganhando seu primeiro livro. Ele paralisara-se vidrado em um ponto a sua frente, ele também via, Hermione deduziu. Tocou seu ombro para tentar acordá-lo de seu estupor. E ela pôde ver as memórias de Draco Malfoy.

A música tocava ao fundo, homens e mulheres vestidos com roupas de gala bebendo qualquer coisa em taças brilhantes, Hermione reconheceu a sala de estar da Mansão Malfoy. A Sra. Malfoy sorria para os convidados e conversava com um grupo de mulheres pomposas bajuladoras. Lúcio Malfoy acenava com a cabeça para a conversa acalorada dos amigos e quando se pronunciava todos se calavam para ouvi-lo.

E um Draco de aproximadamente oito anos contornava a festa com uma expressão entediada, havia mais três meninos a seu alcanço falando algo sobre a Copa Mundial de Quadribol, cada um defendendo seu time, elevando a voz para falar por cima do outro. O jovem loiro expressou seu desgosto com o time Francês, mas os outros já discutiam sobre o time Irlandês. Cansado, o pequeno Malfoy passou sua atenção para seu pai, Hermione via os olhos cinzas cheios de admiração. Endireitou as costas como Lúcio e colocou as mãos para trás, imitando-o.

Willow Hepton é o meu favorito, já viram o arremesso dele? Deixou o jogador dos Estados Unidos com uma concussão – pronunciou-se e olhou de esgueira para o pai, cheio de expectativa, e desvaneceu-se ali, a cena dispersara-se

O Draco real remexeu-se inquieto, lançou um olhar desgostoso para a grifinória. Porém a vinda de mais uma memória o destraiu.

Uma longa e ornamentada mesa de jantar apareceu e quatro pessoas jantavam ignorando os dois elfos domésticos que os serviam, um deles, o peito de Hermione apertou-se novamente, era Dobby. Draco tinha dificuldades para cortar o pedaço de carne com suas mãos pequenas segurando os talheres, a mãe, que prestava atenção no marido sentado na ponta da mesa não viu o desconforto do filho.

Hermione não sabia quem era o homem sentado do outro lado, mas pela idade avançada e os mesmos cabelos loiros platinados que disfarçavam os fios brancos indicavam que era um Malfoy, num bom chute, o avô de Draco, Abraxas Malfoy.

Acredita que Elliot Dulivan foi nomeado chefe do Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas? – perguntou o velho a Lúcio em tom de indignação.

Ridículo, uma completa vergonha ao Ministério.

Não sei como o idiota do Ministro da Magia pode aceitar pessoas com ele, como se fossem capazes de fazer um trabalho digno. Que segurança eles esperam que tenhamos com o Dulivan no cargo?

O que há de errado com ele? – murmurou Draco curioso que só queria saber o motivo de tanta indignação.

Elliot Dulivan é um nascido-trouxa, querido – explicou sua mãe pacientemente colocando sua mão sobre a dele – Ele é...

Um maldito sangue-ruim! – esbravejou Abraxas com uma taça de vinho em mãos.

Mas... o que é que isso tem demais? – o pequeno Malfoy deu de ombros, em descaso, Hermione notou a mão de Narcisa se apertar, e ela mesma fez isso, em choque em ouvir uma pergunta dessas sair da boca de Draco.

Tomou um susto ainda maior com o som do estalo da mão de Abraxas no rosto do menino, marcando-o em vermelho.

Nunca mais diga isso! Está ouvindo? Nunca mais. Pensei que tivesse ensinado a ele, Lúcio – o pai nada disse, baixando os olhos – Sangues ruins são a escória do mundo bruxo e se está do lado deles não pertence a essa família.

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Ela viu uma lágrima escorrer pelo rosto do menino e teve quase certeza de que uma também escorria pelo rosto dela antes da cena desaparecer.

Antes que outra se formar, Hermione apertou o ombro do Malfoy, não poderiam ficar presos em suas recordações. Para os dois, elas eram armadilhas. Ele olhou para ela que apontou para cima, onde a luz do sol brilhava na superfície. Impulsionaram-se e segundos depois suas cabeças emergiram.