Temporary Fix

CAPÍTulo IV


CAPÍTULO IV

resumo: norman wilson é um @#!$; confirmado

O refeitório inteiro estava em silêncio. Sepulcral.

Você quase conseguia ouvir o som da tensão explodindo no ambiente, o movimento de olhos que iam de onde eu estava sentada até a pessoa que estava exatamente em minha frente.

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O Demônio em pessoa estava me encarando com um sorriso amigável, mas o olhar gélido denunciava que faltava muito pouco para ele não começar a fazer uma cena ou então soltar um comentário ácido.

April parecia querer sumir. Eu via o semblante de desespero e a vontade de se enterrar em um buraco que ela própria cavaria no chão e ficaria lá até que a situação inteira acabasse em seus olhos.

Eu não estava muito diferente, com a sensação de desconforto latente e a vontade de estrangular Norman com aquele maldito fio que escapava do topete estava em um nível absurdo. Seu sorriso se ampliou, de forma que parecesse o gato de Alice no País das Maravilhas, enquanto levava lentamente o canudinho até a boca.

— Você não costuma ficar quieta, Diem – disse lentamente, a voz naturalmente baixa fazendo um estrago com a minha sanidade mental. – Aconteceu algo?

Além do fato do próprio ter impedido minha fuga daquela versão atual de uma Tortura Medieval, chegando minutos antes de eu sair e dizendo com a voz aveluada para que eu ficasse alto o suficiente para todos ouvirem?

Molly me contou que os stalkers do GIA descobriram que o ex da April está me dando aulas e aparentemente esse virou o assunto do ano no colégio.

Entretanto, eu não traria o tópico “Adam” para a mesa, para o bem do meu próprio psicológico.

— Nada – sussurrei. – Absolutamente nada.

Molly fez um som de escárnio, enfiando mais um pedaço de alface na boca. Ela continuava insistindo que havia sido Norman que havia dado com a língua nos dentes e deixado “escapar” que ele havia dito isso aos donos da conta do IG.

“Não seja ridícula, quem contou? O próprio Adam?” perguntei cética assim que passamos pela entrada, quando vários olhares eram direcionados para mim.

“Ridícula é você que ainda duvida dos poderes de convencimento dele, é só dar um sorriso que as pessoas abrem a boca e possivelmente outras partes do corpo”.

— Vocês todos estão quietos hoje – observou, enquanto eu revirava os olhos. – Aconteceu alguma coisa que eu não fiquei sabendo?

Céus, se ele continuasse naquele cinismo eu não responderia pelos meus atos. Eu provavelmente tentaria usar algo da primeira aula descente de matemática que tive que Adam havia dado ontem para calcular a força que seria necessária para esmagar o crânio de Wilson na mesa.

— Pelo amor de Deus, falem alguma coisa, detesto silêncio – chiou, esticando os braços e repousando um deles atrás de April. O único som ouvido foi de algumas mastigadas que eu dei no sanduiche. Revirou os olhos. – Aparentemente todos entraram no voto de silêncio. Você realmente vai ter que dar aulas ao Donovan pra ele não reprovar, não vai?

Ela piscou duas vezes, olhando em seus olhos e assentindo lentamente.

April era tímida, e era óbvio que a situação em que se encontrava não era nem um pouco agradável. Norman era ridículo o suficiente pra me fazer ficar ali por pura provocação e constranger a garota.

— Você também está recebendo aulas particulares, não é, Zee?

Foi por muito pouco que eu não me engasguei por: a) ele estar usando um apelido que poderia ser classificado como “coisa nossa que era exclusivamente nossa e não poderia ser usada na frente dos outros”; b) ele estar trazendo o tópico “Adam” para a mesa, mesmo sabendo que aquilo só deixaria o clima ainda pior.

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Deus, eu definitivamente odiava Norman Wilson.

Meus olhos estavam focados no seu rosto enquanto minha cabeça processava a quantidade de impulso que eu precisaria para ter minhas mãos ao redor do seu pescoço.

Minha linha de pensamento homicida foi cortada por um chute na canela dado por Molly. A contra gosto, engoli o pedaço de alface e contei mentalmente até mil antes de responder:

— Sim.

Eu tentei manter minha voz o mais normal possível, mas falhei miseravelmente. Provavelmente saiu um “sim” grosso, frustrado, cheio de incerteza e com meu maxilar travado. Entreguei de bandeja que aquilo estava me deixando desconfortável.

Parabéns, Diem.

— Matemática? – tentou, soando como se não soubesse de nada.

— É.

Eu observava de canto de olho uma garota da mesa que a equipe de vôlei ocupava se inclinar para tentar escutar mais alguma coisa. Metade do time de futebol, que ficava uma mesa atrás da nossa, estava com os olhos fixos em mim.

Eu repetia um mantra interno que consistia era basicamente “não surte, não mande quem estiver olhando ir se foder, não mate o Norman”. Eu também estava mantendo em mente que se eu desse respostas curtas, as chances dele continuar no assunto eram mínimas.

— É alguém que você conhece, April? – virou o corpo em direção à Cameron, que praticamente gritou um “SOCORRO!” mudo quando direcionou o olhar ao meu ex.

Era óbvio que ela conhecia. Era óbvio que a porra do colégio inteiro conhecia Adam Hyde graças aquele conta maldita no IG. Meu estômago havia se contraído e eu soltei o sanduíche perto de acabar enquanto terminava o refrigerante em um último gole, que acabou gerando barulho.

Molly me encarou durante alguns segundos e movimentou a cabeça lentamente como se entendesse que eu precisava sair dali rápido antes que fizesse alguma coisa que me arrependeria depois.

— Sim – ela disse baixo, e foi provavelmente a primeira vez que escutei sua voz.

Molly pegou o celular da mesa antes de limpar a garganta.

— A conversa está muito produtiva, mas eu tenho que ir – sorriu falsamente em direção a todos e levantou. – Diem?

Agradeci aos céus silenciosamente. Molly fazia besteiras (como a cena na minha cozinha, que segundo ela, era na intenção de me mostrar o que dizer) de vez em sempre, mas sabia usar o cérebro para fins produtivos.

— Por que a Austen tem que ir junto? – Donovan perguntou com falsa curiosidade, e eu apostaria vinte dólares que mais tarde Wilson daria uns tapinhas nas costas e algum engradado de cerveja a ele.

Cachorrinho adestrado!

— Sabe como é, cara – Molly acenou com a mão esquerda, num sinal de deboche enquanto erguia-se. – É regra básica entre garotas: nunca vá ao banheiro sozinha. Murta que Geme foi fazer isso e acabou morrendo. É aquele ditado; melhor prevenir que remediar.

Acabei levantando também, o nervosismo tomando cada molécula do meu corpo que minhas pernas acabaram parecendo pesar uma tonelada cada e eu realmente achei que não conseguiria sair do lugar sem acabar caindo. Eu não queria ficar mais tempo naquele lugar onde apostava que se colocasse aquelas flores que filtram energias negativas a mesma murcharia em menos de cinco minutos e não queria estar presente quando Wilson começasse a problematizar o fato de Adam estar me dando aulas particulares.

Pelas minhas contas, caso eu andasse rápido o suficiente, sairia da cantina antes que o estrago estivesse totalmente feito.

O problema é que como estava explícito, eu era horrível em cálculos.

Norman piscou cinicamente antes de se direcionar para April e dizer alto o suficiente para as palavras ecoarem no refeitório:

— Tenho certeza que sei quem é – coçou o queixo como se estivesse em dúvida para em seguida erguer as sobrancelhas como se tivesse lembrado. Ugh, Hollywood estava perdendo um ótimo ator. – Adam Hyde, certo?

— É – disse num fio de voz.

Já estava de costas quando ele estalou os dedos (e eu quase conseguia ver a forma que ele relaxou as costas na cadeira) e deu a cartada final:

— Não era esse cara o seu ex?

April provavelmente assentiu e o refeitório inteiro me encarou. Molly enfiou as mãos nos meus bíceps e saiu me arrastando para fora do lugar, a expressão deixando claro que a primeira pessoa que colocasse o corpo em nossa frente levaria um chute.

As portas vermelhas se abriram e Molly e eu saímos como dois furacões, andando de forma descompassada até um lugar pouco específico enquanto alguns olhares nos eram direcionados. Finalmente percebi que estávamos perto da porta que dava acesso ao auditório quando a ruiva se apoiou ao lado do quadro de avisos que mostrava que as inscrições para o musical de Grease que a professora Lambert fazia para fechar o ano estavam abertas.

Instintivamente lembrei da época que fiz parte do grupo de Teatro da Empire, até descobrir que aquilo não era “descolado” o suficiente. Quando se tem catorze aos e uma mente influenciável, você acaba deixando de fazer coisas que gosta pra conseguir conquistar a popularidade, o que, pensando agora, definitivamente foi uma das coisas mais estúpidas que eu já fiz na vida.

— Minha vontade é dar um soco na cara dele pra ver se ele deixa de ser sínico e começa a agir com respeito – Molly rugiu, me fazendo esquecer a linha de pensamento anterior. – Que inferno! Como ele... Como ele consegue fazer essas coisas? Ele não sente peso na consciência? Não tem medo do karma?!

— Karma não o atinge, aparentemente – bufei, enfiando as mãos nos bolsos da calça.

— Se o karma não atingir, pode ter certeza que eu vou – disse mais uma vez, gesticulando com as mãos. – Por um momento, eu achei que ele não tocaria nesse assunto. Por um momento, eu achei que ele teria sendo o suficiente pra não fazer isso. Porra. Eu juro por Deus que não sei quem de vocês duas ficou mais deconfortável: April ou você. Também juro que não sei quem ficou mais contente com a sua reação, os troglotitas do Donavan e o Craig, o Wilson, ou aqueles abutres que ficam olhando pra nossa mesa como se fosse um barraco do Big Brother – Molly olhou para o corredor principal, que não estava muito longe de nós, fazendo uma careta para as pessoas que passavam. – Vocês me dão n-o-j-o. Panem et circenses já deveria ter morrido junto com o império romano, seus...

Eu involuntariamente sorri, apesar de tudo. Conhecia Molly desde que tínhamos doze anos e, apesar de provavelmente estarmos entre as piores melhores amigas do mundo, era admirável saber que quase oito anos depois com algumas discussões infantis e muitas fotos constrangedoras, o sentimento de proteger uma a outra ainda estava presente.

— Qual é a do sorriso? – perguntou com as sobrancelhas franzidas, os olhos castanhos fixos na minha expressão facial relaxada. – Você deveria estar ajudando no meu discurso de ódio com os xingamentos.

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Acabei sorrindo ainda mais.

— É que é bom saber que sempre vai ter alguém pra xingar as pessoas por mim – apoiei o corpo ao seu lado na parede, colocando meu braço ao redor dos seus ombros. – Obrigada por me tirar de lá.

Molly franziu ainda mais as sobrancelhas.

— O lado Diem Fofinha não é algo que eu estou habituada a ver, e provavelmente nunca estarei – disse lentamente, mas acabou por apoiar a cabeça no meu ombro. – Não é como se eu precisasse ser sua amiga pra despejar ofensas em cima de quem merece, Dee.

Ri baixinho, sentindo alguns fios de cabelo roçarem na minha bochecha.

O momento muito anti-eu foi quebrado com o sinal avisando que deveríamos voltar para a sala e Molly acabou fazendo um bico reclamava sobre a próxima aula ser de Matemática.

Agradeci mentalmente por Adam estar em uma espécie de turma “específica”, porque eu estava longe de estar preparada pra ficar no mesmo ambiente que ele depois de tudo o que havia acontecido no refeitório. Também agradeci pela primeira vez em muito tempo por Norman e eu termos horários tão diferentes, porque eu tinha certeza de que se eu não tentasse voar um lápis em seu olho, Wolowitz o faria.