Tempestuoso

Capítulo 10: Seco ou suave?


POV DARYL:

Já tínhamos saído de Terminus, ido em direção ao barracão onde Judy, Carl e Ty estavam e agora estávamos novamente na estrada.

Judy era só sorrisos, enquanto brincava com as bochechas de Beth, que não se continha em tamanha emoção. Sasha e Tyreese ainda não pareciam ter entendido que haviam se reencontrado e, no fim das contas, era isso que todos sentíamos.

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Procuro o olhar de Rick, que oscilava entre orgulhoso, feliz e relutante. Era assim que todos nós nos sentíamos.

Ele olhava para Thea, andando cabisbaixa, com uma machete suja de sangue seco em suas mãos. Ela não conseguia nem carregá-la direito, mas lá estava, com toda sua determinação, segurando-a como se fosse um amuleto.

Carl tentou conversar com ela logo que chegamos ao barracão, mas somente recebeu um aceno triste da mulher, antes de vê-la desaparecer no que ela chamava de despensa, para dividir conosco o alimento e a água que ela, Ty e Carol estocavam ali.

Uma Michonne com os olhos marejados como nós nunca havíamos visto antes nos contou, no curto tempo em que Thea ficou lá embaixo, o que aquela machete na cabeça de um errante de dois metros significava.

No final das contas, nós entendiamos o que significava mesmo antes de saber. Todos tínhamos passado por esse momento, e todos tinham tido o tempo de luto necessário para absorver o que uma morte de alguém querido significava.

"Thea merece esse espaço", Carol havia falado e suas palavras pesaram mais do que qualquer uma, ainda mais após o ocorrido na prisão com Karen. Após passar pela cabeça de todos nós que ela não se importava mais com as pessoas.

Rick olha para mim, e me aproximo, dando uma olhada para os novos integrantes do grupo: Abraham, Rosita, Tara e um idiota com cara de retardado preso nos anos 80.

– Alguma ideia? - pergunto, atento a floresta a minha volta.

Estávamos indo pela floresta na direção contrária a qual a horda que invadiu Terminus se arrastava. Não tinhamos um caminho específico, só queríamos ficar longe de Terminus, longe dos errantes e arrumar um lugar para acampar.

– Abraham falou que Eugene sabe algo sobre uma cura.

– Eugene? - levanto uma sobrancelha, sem prestar muita atenção.

– O de mullets.

Seguro uma risada balançando a cabeça.

– Certo, o retardado. Uma cura? Você não acha isso fantasioso demais?

– Errantes também eram fantasiosos, humanos canibais também. - fala, como um alerta.

Concordo, lembrando do amontoado de cadáveres sem carne que vimos em Terminus.

Meu olhar se volta para Thea. Ela levanta os olhos da machete, me olhando um pouco curiosa, mandando um sorriso breve. Assinto para ela, desviando os olhos logo em seguida. Rick me olha com uma expressão estranha, dou de ombros.

– Acha que devemos falar com o grupo sobre isso? - pergunto, ainda pensando nas possibilidades.

Haver uma cura não era algo que me parecia plausível, mas era uma chance, e após reencontrar nossa família, estávamos esperançosos sobre elas.

– Eles meio que já sabem. Segundo Glenn, uma cura é tudo que Abraham fala desde que se conheceram.

– Certo, então vamos arranjar um lugar para descansar e descutir sobre...

Um grito por socorro nos interrompe. Olho para Rick, e começamos a correr em direção ao barulho.

– Esses gritos idiotas vão chamar todos os errantes do universo! - Thea comenta irritada, tomando a dianteira como um raio.

Ela era realmente boa nesse negócio de correr igual louca no meio do mato.

Aperto o passo atrás dela, vendo por entre as árvores um homem de vestido sobre uma pedra, com errantes tentando pegá-lo.

Thea já estava lá. Arremessa uma faca num errante, que vai ao chão num baque surdo, chamando a atenção dos outros, que se precipitam em sua direção. Ela dá um passo para trás, meio relutante, tateando algo em suas calças, no entanto, antes de conseguir pegar o que quer que seja, tropeça numa raíz, indo de encontro ao chão. O errante salta sobre ela, que se assusta, chutando o ar.

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Apressamos o passo, e logo o errante se encontrava morto, com uma flecha na cabeça.

Rick, Michonne e Abraham dão cabo nos outros errantes, enquanto Beth, com Judy no colo e Carl em seu encalço, ajudam o homem, que logo percebi como sendo um padre.

Olho para Thea ainda no chão, os olhos marejados e assustados. Penso em lhe estender a mão, mas Maggie é mais rápida, levantando-a com facilidade.

– Está tudo bem? - a Greene mais velha pergunta, o cenho franzido, a expressão preocupada.

– Sim. - Thea balança a cabeça, engole em seco. - Eu só... Desculpe.

– Tudo bem, acontece. - Glenn fala, ao lado da esposa, tentando passar confiança, meio assustado com a expressão chorosa de Thea.

Thea olha para mim, me dá outro sorriso breve, os olhos ainda marejados, e recolhe sua faca no errante, limpando-a com cuidado.

"Nada de sorrisos cheios de dentes e olhos brilhantes novamente", penso, um pouco decepcionado. Balanço a cabeça, buscando me concentrar.

– Eu levei um puta susto. - fala, vindo para o meu lado. A expressão triste que carregava desde Terminus deixando seu rosto aos poucos.

Olho para ela. Seu rosto assume uma expressão de nojo ao ouvir o tal padre vomitar, mas logo o olhar confuso assume novamente, como se esperasse de mim uma resposta, um comentário. Ignoro o que ela parece esperar e apresso o passo em direção a Rick.

– Precisamos sair daqui o quanto antes, os gritos desse lunático devem ter atraído uma horda. - falo, rispído.

Nunca gostei muito de padres, igrejas, nem nunca fui muito amigo de JC, não era novidade para ninguém.

– Meu nome é Gabriel. Padre Gabriel. - me fala, como se me corrigisse.

Olho para ele com uma expressão irritada, ele se encolhe como um bichinho assustado. Estava na cara que nunca havia lutado com walkers antes.

– Tem um grupo? Um acampamento? - Rick pergunta, sem titubear.

O tal padre parece pensativo, relutante.

– Nós te salvamos. Só estamos te pedindo por abrigo, é o mínimo que você pode fazer por aqueles que te salvaram da boca dos errantes. - Sasha se faz presente, dando a graça de seu ar arrogante.

O homem olha para nós, seu olhar para em Beth com Judy no colo. Ele parece amolecer.

– Estou numa pequena igreja, a alguns minutos daqui. Estou lá desde que essa doença começou, espero por resgate desde então.

– Não existe resgate, estamos por nós mesmos. - Thea diz de forma rude, mas ainda em tom doce, fazendo Michonne a olhar desconfiada.

O padre olha para ela com piedade, olha para todos nós desse jeito. Se ele tivesse passado por metade do que passamos desde que essa praga de errantes começou, ele não estaria nos olhando assim, com esse olhar de quem não perdeu muito, de quem ainda continua preso num mundo de mitologias, falsas promessas e divindades.

Conforme andamos, a igreja pode ser vista aos poucos. O padre tira uma grande chave de seu bolso e abre a porta, nos convidando para entrar de forma relutante.

– Não tenho comida o suficiente para todos. - diz, antes de entrar, como se tentasse nos impedir.

– Para um padre você até que é bem egoísta. - Thea provoca, recebendo um olhar reprovador do homem.

Ela dá de ombros, como se também não fosse muito íntima de JC.

– Tenho vinho. Além de abrigo é só isso que posso oferecer.

– Está de bom tamanho. Agradecemos sua hospitalidade. - Rick diz, com um sorriso falso. Nós não confiávamos no cara.

– Eu estava só brincando com você, Padre. Não precisava se ofender. Vocês homens de Deus não tem mesmo senso humor. - Thea comenta, jogando os cabelos para trás de forma teatral, passando pelo homem com passos firmes.

O padre tenta um sorriso, mas não consegue disfarçar a expressão assustada. Pega um lenço em seu bolso, limpando a testa nervosamente.

Balanço a cabeça com certo desprezo. Aquele homem não viveria um dia lá fora.

(...)

POV THEA:

O vinho do tal Padre Gabriel parecia estar fazendo um puta efeito em toda aquela gente. Já era noite quando terminamos de fazer a ronda pelo local, a procura de errantes escondidos e falhas de segurança. A igreja estava em perfeito estado, e nós simplesmente sentamos, comemos e relaxamos.

A família de Michonne parecia feliz por ter se reencontrado e o clima era agradável até para mim, que ainda estava meio desnorteada com o que havia acontecido em Terminus. Todos nós ríamos sobre algo sem noção que Tyreese falava.

Me levanto, pensando em dar uma circulada. Mich olha para mim, fazia isso de cinco em cinco minutos e eu podia até ficar irritada, mas eu sabia que era porque ela se preocupava, então eu não a repreendia. Sorrio para ela, estendendo minha garrafa de vinho em sua direção, como um brinde mudo. Ela sorri, fazendo o mesmo, dando um grande gole na bebida, voltando a atenção para o que Ty falava. Faço o mesmo, olhando em volta. Encontro Daryl num canto, me olhava com os olhos azuis um pouco ríspidos, dou de ombros indo em sua direção.

– Seco ou suave? - pergunto, sentando ao seu lado.

Ele me olha com uma expressão confusa, os olhos azuis profundos me analisando.

– Seu vinho, Dixon. Seco ou suave?

– Suave. - ele dá de ombros, com uma careta.

– O meu é seco. - digo simplesmente, como quem não quer nada.

Ele continua sem entender, me olhando como se eu fosse idiota. Reviro os olhos, sem conseguir me fazer de boba por mais tempo. Daryl era lerdo ou se fazia?

– Prefiro suave. Quer trocar?

Ele ri, como se eu tivesse lhe falado algo muito absurdo e arranca o vinho de minha mão sem muito se prolongar. Agradeço com um aceno de cabeça, tomando um longo gole do vinho. Suave era bem melhor.

– Você acha que isso é pecado?

– O que?

– Tomar o vinho dos crentes, Daryl. - reviro os olhos teatralmente.

– Como você pretende que eu adivinhe sobre o que você está falando?

– É só prestar atenção, é muito óbvio. Então, é pecado?

– Eu lá vou saber o que é pecado?

– Certo. Deve ser pecado, me parece ser pecado. Somos pecadores.

– Com certeza somos. - comenta, sem muito prestar atenção, me olhando com aquela cara de psicopata.

– Você está fazendo de novo.

– O que? - resmunga, sem entender.

– Me olhando com cara de psicopata. - eu sorrio para ele.

Daryl engasga, me advertindo com o olhar, um pouco constrangido.

– Eu gosto. - digo simplesmente, imaginando quando ele me beijaria de novo.

– Gosta é de falar um monte de merda, isso sim.

– Sabe, eu tava pensando em...

– Em nada, você não estava pensando em nada. - fala ríspido, como me advertindo.

Ele se levanta rápido, tirando o vinho de minhas mãos.

– Acho que você já bebeu demais por hoje.

Abro a boca para reclamar, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, uma mulher loira aparece em minha frente, um sorriso angelical em seu rosto. Sorrio de volta, tentanto lembrar seu nome.

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– Oi. - ela fala baixinho, a voz tão angelical quanto seus traços. - Eu sou Beth, irmã da Maggie.

– Thea. - me apresento, dando espaço para ela se sentar. Ela sorri sincera, gosto dela imediatamente.

– Eu atrapalhei alguma coisa? - pergunta um pouco tímida, olhando de mim para Daryl, que agora se encontrava de pé ao lado de um dos banco da igreja, com duas garrafas de vinho nas mãos e uma expressão irritada no rosto.

– Não, imagina.

Ela ri, como se não acreditasse no que eu dizia. Dou de ombros, sem me preocupar.

– Eu vim agradecer. - fala, começando o assunto. - Por ter nos ajudado lá em Terminus, e principalmente por ter cuiado de Judy. Ela meio que era minha responsabilidade lá na prisão, e quando tudo ruiu e eu não consegui encontrá-la foi como se eu tivesse falhado na única coisa que eu sabia fazer. Foi bom saber que ela estava em boas mãos, com você, Ty e Carol.

– Carol e Ty que cuidaram dela, eu só fui atrás do que ela precisava. Não há o que agradecer, acho que vocês também fariam o mesmo.

Ela sorri, olhando para o bebê adormecido nos braços do pai.

– Você e Daryl estão tendo alguma coisa. - não é uma pergunta, mas também não é como se ela estivesse me recriminando.

– Eu não diria que estamos tendo alguma coisa. Não é bem isso. - falo, um pouco envergonhada, mas me sentindo estranhamente confortável em conversar com ela sobre isso.

– Você não o conhece, ele não conhece você, mas vocês se atraem. Eu entendi. - ela sorri, passando certa confiança.

– É basicamente isso... Parece ser uma coisa meio errada, porque eu não o conheço, mas nem quando o mundo era mundo a gente precisava conhecer uma pessoa para se sentir atraído, então imagine agora.

– Só de estar vivo já é um bom pretendente. - ela ri, e eu concordo plenamente.

– Hoje ele me beijou, e eu meio que saí do ar, entende? Tipo, sei lá, foi bem estranho. - comento, sentindo minhas orelhas esquentarem.

Beth ri alto, chamando a atenção de Maggie para si. Ela caminha em nossa direção, uma expressão divertida no rosto. Sinto minhas orelhas entrarem em ebulição.

– Eu entendo muito! - Beth continua, me dando uma piscadela.

– Do que vocês estão falando? - Maggie se senta em nossa frente, com uma garrafa de vinho quase no fim.

Ela nos oferece e eu aceito de bom grado, sorvendo um grande gole para tentar aplacar a sensação quente. Não adianta, muito pelo contrário, deixa tudo mais quente ainda.

Olho para Daryl, que me olhava sem nenhuma espécie de vergonha, como se me analisasse. Engulo em seco, sentindo o peso de seu olhar.

Maggie sorri maliciosa junto com Beth, que tem agora a garrafa de vinho em suas mãos.

– Acho que entendi. - Maggie fala divertida, me fazendo corar até o último fio de cabelo.

Definitivamente, eu tinha bebido demais.

– Você está toda apaixonadinha pelo Daryl. - sussurra, bebendo o resto do vinho.

– Não. Ela está toda atraída por Daryl. É diferente. - Beth continua, com um sorriso angelical no rosto. Maggie levanta a sobrancelha como se não visse diferença. - Ele beijou ela.

– Ele te beijou? - Maggie fala, jogando os braços para cima, chamando a atenção de Glenn.

O asiático cemi cerra os olhos, balançando a cabeça em negação, com um sorriso divertido no rosto, como se fosse mais uma sandice de Maggie que ele presencia, e continua a conversar com a mulher que me lembro chamar Tara.

– Cala a maldita boca! - falo, me assustando, puxando seus braços para baixo.

– Ninguém ouviu! - ela ri, como se se desculpasse. - Mas, tipo, ele te beijou por vontade própria?

Eu rio, sem conseguir esconder a indignação.

– Não, Maggie, ela o amarrou num poste e o fez beijá-la a força, sob a ameaça de uma horda. - Beth revira os olhos impaciente.

"Foi quase isso", minha mente me diz. Prefiro deixar essa parte somente entre nós.

– Você entende o porquê do meu choque, Beth. - fala para a irmã, que assente. - Ele nunca esteve com ninguém esses últimos anos. Não que a gente saiba, pelo menos, mas acho muito difícil não saber, entende?

Assinto, um pouco desconfortável pela fofoca. Maggie sorri, assim como Beth. Sinto que nós vamos nos dar bem, elas parecem ser boas pessoas. Todos ali parecem.

– Vocês não se conhecem, eu sei, mas ele é uma boa pessoa. - Maggie diz. - Acho que passou por muita merda antes desse negócio de errantes e tal, ele tinha um irmão, Merle, ele sim não era boa pessoa, mas Daryl é. Sempre cuidou de todos, nos alimentou, coordenava as buscas, fazia segurança. Sempre foi muito reservado, mas sempre tomou a dianteira para proteger nossa família, mesmo quando todos nós éramos somente estranhos. Sem falar que ele é super gostoso, meu deus do céu. - ela ri, a voz meio grogue por causa da bebida. - Que Glenn não ouça isso, ou vou ficar sem marido. Mas, enfim, se ele resolveu deixar o celibato de lado por causa de você, então quer dizer que isso significa alguma coisa...

– Maggie! Estamos numa igreja! - Beth diz falsamente repreensiva.

Maggie dá de ombros, tentando beber mais um gole de seu vinho já acabado. Glenn puxa a garrafa de sua mão, puxando a esposa para seu lado com um sorriso envergonhado, porém, divertido.

– Acho que já chega por hoje, amor. - ele fala para Maggie, que revira os olhos.

Eles vão para o outro lado da igreja se deitar, mas não antes da Greene mais velha olhar de mim para Daryl de uma forma nada sutil, dando uma piscadinha.

Enfio o rosto entre as mãos, ouvindo a risada de Beth ao meu lado.

– Ela não vai abrir o bico, fica tranquila.

– Eu estou muito envergonhada nesse momento! E eu nunca me sinto envergonhada! - rio, vendo Beth me sorrir.

– É bom ter você em nossa família, Thea. - diz com seu sorriso angelical, antes de se levantar e ir deitar perto da irmã.

Fico um pouco ali sozinha, olhando o grupo a minha volta. Eles estavam realmente felizes em se reencontrar. Finalmente eu tinha encontrado um grupo pelo qual valia a pena me arriscar, eles eram boas pessoas.

Me arrasto para o lado de Mich, a procura de um ombro amigo. Ela sorri quando me vê, apontando para que eu me sentasse a seu lado.

– Você se deu bem com as Greene. - diz simplesmente, um sorriso em seu rosto. Era bom para ela que eu me desse bem com sua família.

– Elas são divertidas.

Ficamos em silêncio por um tempo, ouvindo Rick cantarolar algo para Judy, que dormia profundamente em seus braços.

– Sobre o que aconteceu hoje em Terminus... - Mich chama a minha atenção. - Eu sinto muito, Thea. Sinto muito que tenha passado por aquilo. Ver Red daquele jeito...

– Acabou, Mich. Ele está em paz agora, está tudo bem.

– Gareth fugiu, você acha que ele ainda é um perigo?

– Sim. Ele não vai parar até se vingar de nós.

– Temos que ficar em alerta, não podemos descuidar nem por um segundo. Amanhã vamos começar as rondas, os turnos de vigia.

– Sim, mas hoje vamos descansar.

Ela concorda, com um sorriso estilo Michonne, observando, assim como eu, o companheiro de Sasha se levantar, indo em direção a porta da igreja.

(...)

Acordo no meio da noite um pouco desnorteada, as palavras de Gareth inundando minha mente, meus sonhos, como uma maldição que iria me seguir pelo resto de minha vida.

"Você meio que o matou."

Balanço a cabeça, tentando afastar as lágrimas. A imagem de Red sempre com aquele sorriso cínico, aquela cara de quem sempre arranjava problemas, em meus pensamentos. Incontrolável, inconstante, problemático, violento, leal, cuidadoso, carinhoso. Sempre foi assim, desde que eu me entendia por gente.

E agora eu sabia a verdade sobre sua morte. Era bem melhor não saber. Era bem melhor imaginar que ele morreu pela mão dos walkers, do que pela mão de Gareth. Aquele que ele confiou, cuidou e foi até o inferno para manter seguro só porque era minha família. Red merecia mais do que morrer na mão de covardes, ele merecia morrer lutando!

Afasto as lágrimas, me levantando, pensando em tomar um ar. Olho em volta, todos pareciam dormir, somente Carol estava acordada, com os olhos vidrados e pensativos. Ela sempre fazia isso. Era assustador.

Pigarreio, ela olha para mim, um meio sorriso nasce em seu rosto. Aponto com a cabeça para a porta, ela entende. Assente com a cabeça, e volta sua atenção para seus dedos.

Passo por Daryl, que dormia sentado, completamente desajeitado. A besta em seu colo e a cabeça na parede. Era quase cômico. Sorrio, sentindo vontade de irrita-lo.

Rumo para fora, abrindo a porta aos poucos, a faca de arremesso em minhas mãos. Olho em volta, tudo parecia calmo. Não calmo demais, só calmo, normal.

Sinto a brisa gélida do outono bater em meu rosto, me despertando. O cheiro de mato e terra úmida inundando meu olfato. Sorrio com a sensação e com a constatação quase imediata. Um alívio percorre meu corpo.

Red morreu honrado. Morreu lutando por mim, não foi em vão, estou segura. Não foi minha culpa, não foi culpa dele. Foi Gareth. E eu vou me vingar.