Teenage Dream

Avaliando Tudo


CAPÍTULO 05 – Avaliando Tudo

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Sim, ele me beijou.

Porém, antes que pensem coisas que não existam: não, Edward não me beijou na boca. Foi em minha bochecha que seus lábios quentes tocaram minha pele. Tão suave que se meu corpo não estivesse com sua atenção naquele local, eu nunca teria percebido.

Uma corrente elétrica desconhecida por mim, embora extremamente surpreendente, passou por todo o meu corpo assim que senti seus lábios em contato com a pele macia da minha face. Um calor não originário de um rubor ou vergonha, mas sim da sensação dos seus lábios, consumiu todo o meu corpo, como se fossem palhas em meio a um fogaréu.

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Era como se tivesse tendo um colapso ou então à beira de um infarto: a sensação inerte do meu corpo, minha pulsação rápida, meus batimentos cardíacos acelerados, minha pele se arrepiando com o toque singelo, minha respiração arfante e meus músculos moles, prestes a desabar.

O beijo em si não deve ter durado nem mesmo cinco segundos. Mas, para mim, pareciam ter sido por longos e maravilhosos cinco minutos.

Assim que o corpo bem desenvolvido para um garoto de dezoito anos afastou-se do meu, senti a falta de seu contato, de seu calor. Mas o seu famoso sorriso torto que se seguiu, parecia compensar de maneira indistinta o falta de seu corpo em contato com o meu.

- Er... desculpa Bella, isso foi inapropriado. – disse timidamente, bagunçando os cabelos de sua nuca em confusão.

- Não tem problema. – respondi com a voz meio rouca, afetada ainda por causa do contato inesperado.

- Tem sim! – exclamou ligeiramente exasperado. – Até ontem eu nunca tinha trocado uma palavra com você e hoje... hoje já estou te abraçando e... você sabe. – disse confuso, apontando sua mão de mim para ele.

- Não foi nada. – dei de ombros.

- Foi sim, isso é errado. – balançou sua cabeça. – Não é que eu nunca tivesse te notado na escola ou em minha casa, com Alice... é só... que... hum...

- Eu estou diferente. – completei, sabendo que a mudança que aconteceu hoje comigo foi a grande responsável por esse seu comportamento, da mesma forma que havia sido com a minha atitude.

- É... – concordou incerto. – Mas antes que você ache que eu só estou interessado em sua beleza ou aparência, não é isso... é só que... – ele fechou seus olhos, inspirando profundamente para em seguida suspirar pesadamente.

- Só que...? – incentivei.

- Eu não sei... – falou ainda de olhos fechados. – Mas é que Alice fala tanto de você, e... depois do que aconteceu ontem e vê-la enfrentar a todos que te humilharam de cabeça erguida é...

- É...? – incentivei mais uma vez, curiosa para saber o que ele estava pensando sobre essa nova Bella, cheia de atitude.

Edward soltou mais um suspiro profundo, enquanto sua mão grande escondia seu rosto de querubim. Por fim, ele abriu seus olhos e esquadrinhou meu rosto com seus profundos olhos verde.

- Eu não sei explicar, é como se eu tivesse a obrigação de te... proteger? – explicou soando mais como uma pergunta.

- Oh! – exclamei ligeiramente surpresa, porque não esperava essa resposta dele. Mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele continuou se explicando:

- Deve ser porque Alice te considera como uma irmã – sorriu ligeiramente confuso. – e o meu instinto de irmão mais velho dela, exige esse mesmo tratamento de mim para com você. – ponderou rapidamente.

Assim que as palavras saíram de seus lábios, senti meus ombros caírem em desânimo. Eu não sei ao certo o que esperava, mas ouvir que ele queria me tratar como uma irmã, da mesmíssima maneira que Alice me tratava foi desanimador.

- Oh! – exclamei pela segunda vez, porém desta vez desalentadoramente.

Edward me deu seu costumeiro sorriso torto. Mas este parecia, de alguma forma, penoso, porém não me deixei agarrar a esse gesto. Não deveria me enganar ou ver coisas que não existiam.

- Bem... – começou, coçando a sua garganta. – Eu só queria parabenizá-la pessoalmente por fazer parte da nossa equipe, por assim dizer.

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- Obrigada. – murmurei tristemente.

- Agora, me deixa ir, porque Alice deve estar me esperando para ir para casa e – riu. – falar, falar, falar sobre a sua apresentação. – explicou apontando para a porta do ginásio.

Limitei-me a confirmar com um aceno de cabeça. Minha voz parecia ter estranhamente desaparecido e eu não sabia explicar o motivo para que isso tivesse acontecido.

- Er... nos vemos amanhã Bella. – se despediu.

- É... até amanhã Edward. – disse com um fio de voz, esboçando um sorriso forçado. Foi a sua vez de acenar com a cabeça e rapidamente deixar o ginásio. No momento em que ele não estava mais no mesmo ambiente que eu, levei minhas mãos ao meu rosto, segurando para não gritar em frustração.

"Se controle Bella!" – ralhou minha mente para mim mesma. – "O que você estava esperando? Que ele dissesse que você é a mulher da vida dele e que gostaria de passar o resto dos seus dias ao seu lado? Acorda mulher! Você tem trinta anos e é demasiadamente madura para saber que contos de fadas não existem!" – protestou.

Suspirei profundamente, mentalizando como um mantra o que minha mente gritou para mim: "Não era um conto de fadas. Edward te vê como a melhor amiga da irmã dele, nada mais."

Com esse pensamento, comecei a reunir as minhas coisas para ir para casa e quem sabe esse sonho maluco de voltar ao High School acabasse.

Quando sai do ginásio, cerca de dez minutos mais tarde, o sol já havia se posto. Somente um filete fino no horizonte mostrava o que restava do crepúsculo em Forks, a escuridão da noite parecia tomar tudo a sua volta. Os postes de luz do estacionamento da escola iluminavam fracamente os últimos automóveis que estavam ali.

Foi fácil localizar a enorme caminhonete Chevy vermelha que pertencia a Emmett no local em que havia estacionado anteriormente. Porém nem o Volvo prateado ou a BMW vermelha estavam entre o automóvel. Lentamente segui para ela, me agarrando mais firmemente em meu casaco, pois o inverno já começava a querer mostrar a sua cara no extremo noroeste do país.

Meu irmão estava sentado despreocupadamente no lugar do motorista com um sorriso pateta em seus lábios, enquanto sua enorme mão esquerda acariciava de maneira bastante estranha sua bochecha esquerda. Nenhum ruído saia pelo aparelho de som do carro, algo incomum para quando Emmett estava dentro.

- Emm? – chamei, enquanto me sentava no banco do passageiro ao seu lado, para finalmente me proteger do vento gelado. – Emm? – chamei uma segunda vez, agora passando minha mão em frente seu rosto, mas ele ainda continuou inerte.

Irritada por não saber o que estava acontecendo com ele estalei com força meus dedos em frente aos seus olhos, por fim conseguindo atrair sua atenção.

- Bells! – exclamou surpreso. – Faz tempo que você está aí? – perguntou, bobamente me fitando.

- Não – respondi lentamente, fechando meus olhos em fenda. -, mas onde é que você estava? – questionei.

- Quê? – exasperou-se. – Estava aqui!

- Uhum... – murmurei irônica. – Onde é que estavam seus pensamentos Emmett? – inquiri.

- Hum... er... hum... – murmurou desconfortável. Foi inevitável não segurar a gargalhada que saiu por meus lábios.

Será possível que Rosalie havia conseguido que ele se deslumbrasse tanto por ela, como Edward fez comigo há alguns minutos atrás?

Provavelmente sim.

- Será que uma certa cheerio loira, que atende pelo nome de Rosalie veio conversar com você? – questionei lentamente.

- O quê? – disse perplexo. – Como você sabe?

Novamente me vi gargalhando. Emmett e eu éramos previsíveis demais. Talvez o sangue dos Swan nos deixasse assim.

- Bella! – exclamou em protesto, somente continuei rindo. Mas quando observei o desespero que marcava seu rosto parei de rir e tentei sondá-lo.

- O que ela te disse? – perguntei.

- Hum... er... – mordiscou seu lábio nervosamente. – Ela me convidou para sair amanhã à noite. – explicou timidamente.

Claro. Isso soava bem típico de Rosalie: romântico e tradicional. Afinal de contas, marcar um encontro em uma sexta-feira à noite era claramente um gesto bastante comum entre namorados ou futuros namorados, pelo menos em uma cidade interiorana como Forks. Lembrei-me de como ela e Emmett, depois de anos juntos, continuavam reservando suas sextas-feiras para passarem juntos, namorando. Tanto que não foi nenhuma surpresa que optaram por se casar no sexto dia da semana.

- Aonde vocês irão? – pedi, morrendo de curiosidade.

- Cinema. – respondeu. – Mas como você sabia que era isto? – insistiu ligeiramente desconfiado. Olhei perplexa para Emmett fitando com intensidade meus olhos castanhos nos seus que tinham a mesmíssima cor.

- Eu sou sua irmã Emmett, te conheço melhor do que você possa imaginar. – ponderei séria.

- Ha Ha... corta essa Bella! – exclamou. – Você se comportou de maneira estranha o dia todo, não que eu esteja reclamando, mas porque toda essa mudança? O que você quer provar mudando suas roupas, desafiando Tanya e companhia ou então se tornando uma cheerio? Por que você está se esforçando tanto, justamente depois de tudo o que aconteceu ontem? – questionou, mudando totalmente de assunto.

- Isso não é sobre mim Emmett. – disse lentamente.

- Não? – inquiriu curioso. – Tudo bem, pode não ser, mas eu também te conheço melhor do que você pode imaginar e algo me diz que essa sua mudança radical tem muito mais motivos do que você quer dizer. Diga o que é, Bella? Você está interessada por algum dos meninos do time? Alice te desafiou para ser uma líder de torcida? Ou você simplesmente está tentando provar algo para alguém? Qual é o real motivo para isso tudo? – inquiriu apontando para o meu corpo.

Suspirei pesadamente.

Emmett não iria acreditar facilmente na desculpa que dei a nossos pais pela manhã ou o que tanto afirmei para Alice ao longo do dia. Ele iria sondar cada mínimo detalhe, a não ser, é claro, que fosse extremamente confiante.

- Emm... – comecei. – Ano que vem eu estou indo para a universidade, e bem... continuar me vestindo ou me comportando do jeito de antes, poderia me causar um enorme dano. O que aconteceu ontem é somente uma prévia do que a universidade me reserva. Lá ninguém é bonzinho. As pessoas são rudes, gostam de humilhar os outros por mínimos motivos, ligando mais para sua aparência do que para sua inteligência. E se eu me fechar a esse mundo... bom... tudo na universidade seria triplamente mais cruel comigo. – expliquei confusamente.

Meu irmão contemplou minha resposta por longos minutos.

- É, você está certa. As pessoas podem ser bastante cruéis na maioria das vezes. – disse lentamente.

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Um sorriso convencido brotou em meus lábios. De alguma maneira, indistinta por mim, consegui convencer Emmett de algo que nem mesmo eu tinha uma resposta muito lógica.

- Então você vai me contar o que planeja fazer amanhã com Rosalie? – questionei curiosa, desta vez sendo eu que mudara bruscamente de assunto.

Ele ampliou seu sorriso.

- Combinamos de assistir o Gênio Indomável. Ela disse que seus pais assistiram e falaram muito bem sobre o filme, afirmando que seria uma boa aposta para ganhar o Oscar, pela interpretação do Robin Williams. – ponderou dando de ombros.

- Ela disse mais alguma coisa? – perguntei lentamente.

- Ah, nada muito marcante... até que... – suas palavras sumiram, enquanto seu olhar parecia meio perdido.

- Até que? – incentivei.

- Seus lábios como pétala tocaram aqui. – explicou afagando sua bochecha esquerda mais uma vez. Ampliei meu sorriso.

- Ela te beijou? – perguntei tolamente. Ele somente confirmou com um aceno de cabeça. – Isso significa que ela gosta de você, Emm! – exclamei.

Não que meu irmão, eventualmente, não iria descobrir os sentimentos de Rosalie, mas infelizmente Emmett era muito meninão para entender o que um avanço deste tipo significava para uma menina. Lembro muito bem o quanto demorou, da outra vez, para que ele se tocasse que a loira gostava dele, o que por pouco não causou um rompimento dos dois. Mas como desta vez eu poderia cumprir de forma mais efetiva meu papel de irmã e não ficar presa no meu próprio melodrama adolescente, eu iria ajudá-los, já que Rose se mostrou ser muita minha amiga hoje, mesmo sem me conhecer direito.

- Você acha? – perguntou incerto, mas seus olhos brilharam em minha direção. Rolei meus olhos em descrença.

- Por que outro motivo ela te convidaria? – repliquei fingindo uma irritação, mas me divertindo pela cara que ele fazia.

- É... – refletiu. – Ela me convidou. – e com essa frase no ar ele colocou a velha caminhonete em movimento enquanto o som melancólico de alguma música do Jamiroquai preenchia o carro.

Quando Emmett conduzia a velha caminhonete, ao contrário de mim, forçava ao máximo o seu motor. E por mais que parecesse que iria explodir a qualquer momento, dez minutos mais tarde estávamos em casa. Mal passamos pela porta da mesma para que Emmett começasse a interar nossos pais sobre o fato que agora eu era uma líder de torcida e o quanto eu, segundo suas palavras, arrasei no teste.

Obviamente meus pais vieram me parabenizar e dizer que estavam orgulhosos de mim por não ter me deixado abalar pelos acontecimentos do dia anterior. Foi com esse clima leve que jantamos e depois, quando meu pai e Emmett se reuniram na sala para ver o noticiário de esportes, eu e minha mãe fomos à cozinha limpar o que havíamos utilizado.

Ao contrário do que normalmente eu esperaria da minha mãe, ela não me fez muitas perguntas sobre o motivo de que da noite para o dia eu resolvi fazer os testes para ser uma cheerio. Na verdade ela estava se regozijando pelo fato que finalmente estava seguindo o mesmo caminho que ela seguiu no colegial.

Assim que todas as louças estavam guardadas nos armários e a cozinha se encontrava limpa, segui para o meu quarto, para enfim tomar um banho e finalmente deitar para descansar desse longuíssimo dia.

Depois de um longo banho e vestindo a minha adorada camisola de algodão do Mickey Mouse – uma das minhas roupas que mais sinto falta nos meus trinta anos -, fui até a sala para dar boa noite a todos. Tão rápido como previa, já estava voltando ao meu quarto e me ajeitando confortavelmente em minha cama.

Mas o sono que eu esperaria vir, não veio.

Ao invés disso, uma retrospectiva do meu dia dançou diante meus olhos. Sim, meus pensamentos estavam avaliando num todo o dia de hoje.

A euforia de ser popular, pelo menos um dia em minha vida, havia temporariamente me cegado, fazendo-me agir imprudentemente. Mais de uma vez eu disse coisas sobre o futuro, mas isso tudo era o meu sonho, então não iria alterar o percurso das coisas, certo?

Talvez sim.

Tinha plena consciência que a maioria das pessoas que se aproximaram de mim foi por conta da minha nova aparência. Eu sabia que meus esforços para enfrentar Tanya tinham sua parcela de resultado, mas provavelmente se eu não estivesse me sentindo bem comigo mesma, confiante pelo modo que estava vestida e como minha cabeça de trinta anos pensava, nunca teria sobrevivido a este dia. Ainda mais depois do fiasco que fora meu aniversário.

Edward me disse a única coisa verdadeira ao longo de todo esse dia: que agora que eu estava diferente, todos se sentiam mais confortáveis em me aceitar em suas rodinhas de amigos.

Ok, ele não disse exatamente com essas palavras, mas no fundo era isso que queria dizer. Que não importa o tanto que me esforce para ser alguém inteligente e bem centrada, o mundo só se preocupa com duas coisas: a aparência ou quem você consegue ser amigo.

Anos a fio que fiquei imaginando como seria se eu fosse popular na escola foram explicados em apenas um dia. Ser popular na escola era ser fútil. Era enfrentar todos aqueles que eram inferiores a você, pelo menos em sua cabeça, porque estas pessoas eram mais centradas e inteligentes do que você é. Era ser a líder de torcida que havia detonado no teste ou então o jogador de futebol que provavelmente nunca deixaria o estado de Washington, ou jogaria para uma universidade local e nunca se aproximaria dos bancos de reservas em um campo da NFL.

Ser popular, se esforçando para ser assim, só te faz viver aquele momento da sua vida. Por isso que Tanya, mesmo depois com seus trinta anos, vivia através de outras meninas o sonho do colegial, porque era tudo o que ela sabia da vida. Ela foi criada vivendo essa fantasia, que sua mãe insistia ano após ano em viver, sendo traída por seu marido, frustrada com seus filhos por não darem aquela esperada viagem a Europa no Natal ou não se casarem com milionários.

Finalmente compreendi o porquê de tantas pessoas que normalmente eram populares no High School, na faculdade nunca encontraram seu lugar. Porque na faculdade ninguém quer ser súdito de ninguém, ninguém quer ser pisado. Na faculdade, os amigos são feitos por afinidades e não por ameaças. Na faculdade os colegas eram aqueles que ajudariam você em seu network, aqueles que lhe darão dicas para conseguir se destacar. Mas serão também estas mesmas pessoas que estarão preparadas para puxar seu tapete na primeira oportunidade, e cada tombo desse que você levar por conta daqueles seus "amigos" é que te ajudarão a crescer, a se tornar alguém que merece respeito. Porque respeito é conquistado e não imposto.

Notei que quem teve vida de rainha no colégio nunca encontra seu lugar em ambientes como estes, porque pessoas assim não sabem o que é cair, então nunca tiveram a capacidade de levantar, porque quando o seu caráter estava sendo moldado na infância e na adolescência, ela era uma pessoa que vivia para humilhar os outros e não para compreender que o ser humano é maior do que possamos impor; o ser humano é um ser livre para fazer suas escolhas e não depende de que façam por ele.

Obviamente tudo tinha sua exceção. Mas, que eu saiba, ela nunca seria aplicada a nenhuma pessoa da turma de mil novecentos e noventa e sete da Forks High School.

Foi com essa epifania na cabeça que finalmente a exaustão do dia me tomou, levando-me para a deliciosa escuridão da inconsciência que pertencia ao mundo dos sonhos.

XxXxXxXxXxXxX

Ao contrário do dia anterior, que eu não fazia ideia de onde me encontrava, hoje eu tinha a mais plena consciência de onde acordava e quem eu era. Eu estava em Forks, na casa dos meus pais, vestindo o pijama que tanto usei na minha adolescência, em meu corpo de dezessete anos, mas com a mente madura e bem resolvida dos meus trinta anos.

Pulei da cama espreguiçando-me preguiçosamente, sentindo todos meus músculos rígidos. Até que eu me acostumasse como era ser uma líder de torcida, precisava viver à base de relaxantes musculares.

Caminhei até o espelho vintage que pertenceu a minha avó e analisei o meu estado. Por incrível que pareça, meus cabelos não acordaram formando o famoso ninho de rato tão comum por tanto tempo em mim. Porém meu rosto marcava muito bem os efeitos do meu sono: olhos inchados e com remela nos cantos.

Tentado evitar mais uma crise de desgosto como a do dia anterior, peguei a minha escova de cabelo que estava sobre minha escrivaninha e escovei calmamente meus cabelos. Logo, ondas largas, sedosas e brilhantes reluziam por toda sua extensão. Sorri satisfatoriamente, antes de ir ao banheiro tomar um bom banho para acordar completamente.

Pelo que parecia, Emmett não havia acordado ainda, porque o banheiro encontrava-se muito organizado. Sorri ao recordar como meu irmão pode ser bastante bagunceiro, para o desespero de nossa mãe e também de Rosalie, que afirmava que ele não mudou nenhum pouquinho depois de adulto.

Foi um banho rápido, somente o suficiente para me despertar e não ir para a escola cheirando a cama. Após sair debaixo do chuveiro, fiz minha higiene pessoal para terminar de me arrumar. Assim que abri a porta do banheiro, trombei com Emmett meio adormecido em frente a porta.

- Dia. – murmurou com um bocejo.

- Bom dia. – respondi tranquilamente, indo para o meu quarto me arrumar.

Me arrumar. Essa ia ser outra aventura.

Precisava urgentemente solicitar a ajuda da minha mãe e de Alice para comprar algumas roupas, talvez amanhã ou no sábado. Evitando sofrer na tentativa de escolher toda a minha roupa, optei por usar a mesma calça jeans justa e o mesmo tênis All Star que havia usado no dia anterior, porém não poderia usar a mesma camiseta. Com um suspiro pesado saindo por meus lábios, abri meu guarda roupa para começar a busca por uma blusa decente.

Eu não sei se a minha sorte nesse universo alternativo era algo inexistente no meu mundo real, mas foi com uma imensa surpresa que encontrei uma camiseta cinza, de mangas azuis três quartos, que minha tia Carmem havia me trazido da outra vez que foi a Europa. Sua estampa era uma bandeira da Inglaterra cheia de nomes de bandas de rock, e em letras garrafais acima da bandeira a explicação: British Invasion, o nome que foi dado aos Beatles quando estouraram na década de sessenta na America, trazendo consigo depois disto, inúmeros artistas que influenciaram o mundo americano do pop/rock.

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Da mesma maneira que fiz com a camiseta que usei ontem, dei um pequeno nó na barra desta, para que ficasse mais ajustável em meu corpo, e não parecendo uma Maria-mijona. Peguei um casaco de moletom vermelho em meu guarda roupa, e antes de sair do meu quarto, dei uma maquiada em meu rosto para não parecer tão desleixada ou pálida, para enfim tomar café da manhã e ir para mais um dia na Forks High School.

Ao contrário de como foi ontem, nem meu pai, nem minha mãe, muito menos Emmett comentaram a minha escolha de roupa. Parecia que todos os três me viam assim todos os dias, e não apenas um dia.

Minha mãe, como costumeiramente fazia todas as manhãs, colocava um prato de panquecas no centro da mesa para comermos, junto com manteiga e mel, bacon e ovos mexidos, acompanhados para tomar café preto, suco ou leite. Era um café da manhã comum para uma família americana, com filhos na escola.

Sorri com a nostalgia daquela cena.

Vivendo na costa leste, sentia falta dos meus pais. Mas fora lá que eu tive a oportunidade de crescer e me tornar uma pessoa bem sucedida em minha profissão. E como sabia que os dois jamais se mudariam para uma cidade caótica como Nova Iorque, tive que me acostumar com suas breves visitas, porém não menos saudosas. Minha mãe exigia que fizéssemos as refeições juntos nestas visitas, por mais que Emmett e Rose tivessem seus compromissos profissionais ou morassem relativamente distante do meu apartamento.

Terminamos o desejum sem muita conversa – a família Swan, salva poucas exceções, não era muito de se falar pela manhã. Emmett e eu nos despedimos de nossos pais e fomos para a escola, enfrentar mais um dia de aula.

O estacionamento da escola, como normalmente era previsto, estava lotado com os carros de seus alunos e funcionários. Porém, como meu irmão era um veterano e também um jogador do time da escola, tinha sempre sua vaga próxima à entrada da mesma. Eu adorava esse privilégio em dias de chuva, apesar de não achar muito justo com os outros estudantes. Mas quem sou eu para protestar sobre o regimento da escola?

Saímos do carro e rapidamente me separei de Emmett para ir até o meu armário pegar meu material para a próxima aula.

No segundo em que meus pés pisaram o pátio da escola, mãos pequenas e delicadas, agarraram meus pulsos, arrastando-me para o banheiro à nossa esquerda.

- Mas que m... – comecei assim que fui empurrada para dentro do banheiro por Alice, que trancava a porta e verificava se o mesmo estava vazio.

Alice tinha os cabelos castanhos escuros com alguns fios bronzes como os de Edward. Eram curtos e suas pontas apontavam para todas as direções, corte que até hoje ela usa. Talvez só tenha abdicado dele durante um período na faculdade quando ela os deixou crescer, desistindo depois de dois anos, afirmando que cabelos longos sumiam com a sua personalidade.

Seus olhos verdes, idênticos ao do irmão mais velho, brilhavam de maneira quase que proibida. Pelo que eu conhecia de minha amiga, algo estava acontecendo, e tenho certeza que não era a sua roupa: uma saia de pregas xadrez em vinho, preto e branco, camisa branca e um colete vinho do mesmo tom do xadrez da saia, meias três quartos pretas e sapatos estilo boneca com saltos de uns sete centímetros, também pretos.

Da mesma forma que havia me esquecido que Rosalie se vestia no melhor estilo Emma Bunton das Spice Girls, eu havia me esquecido que Alice se deliciava no melhor estilo Cher de As Patricinhas de Beverly Hills que imitavam de maneira mais fashion os uniformes de algumas escolas particulares, e o que também gerou a famosa fantasia sexual de se vestir como colegial, para alguns marmanjos.

- Bom dia Allie. A que devo essa sua recepção calorosa? – perguntei azeda e confusa, massageando meus pulsos onde ela havia apertado me trazendo para o banheiro.

- Bella! – exclamou meu nome. – Você viu? Você o viu? – perguntou animadamente. Somente a olhei, confusa.

- Vi quem Alice? – devolvi da mesma maneira, porém tolamente.

Ela suspirou pesadamente.

- O primo da Rosalie? Lembra dele? – questionou animada.

- Jasper? – inquiri ainda confusa.

- Sim! – exclamou. – Você o viu? – questionou, com os olhos brilhando.

- Não, eu não o vi. – disse cansada e irritada. – Como eu iria vê-lo se mal pisei na escola e você já me empurrou para esse banheiro? – expliquei exasperada.

- Não importa. – ignorou minha explicação. – A questão é que ele vai estudar conosco esse ano! – exclamou, dando ligeiros pulinhos e batendo palmas. – Tudo bem que ele não irá fazer todas as disciplinas porque ele já as teve na escola do Texas, mas adivinha que aula ele vai fazer conosco? – perguntou. Mas antes que eu pudesse responder, ela mesma o fez:

"Biologia! Não é incrível? Bom eu sei que eu e você sentávamos juntos, mas ele pediu para mim, para mim Bella, se eu podia sentar com ele." – afirmou animada.

- E você está me comunicando que a partir de hoje eu estarei sem uma parceira em Biologia. – disse divertida.

- Na verdade você não vai se sentar sozinha – começou. -, porque sou sua melhor amiga e nunca deixaria você na mão – disse abanando a suas entre nós duas. -, então-perguntei-se-meu-irmão-gostaria-de-ser-o-seu-parceiro-e-ele-aceitou. – explicou rapidamente, fazendo com que todas as palavras saíssem juntas.

- O quê? – perguntei confusa, já que não entendi uma palavra do que ela disse.

Alice suspirou pesadamente e teatralmente.

Sério, não entendia como essa bola de energia optou por fazer Design de Moda em vez de Teatro. Tenho certeza que ela seria um sucesso nos palcos.

- Pedi para que Edward fosse seu parceiro e ele disse que tudo bem. – explanou lentamente.

Imediatamente meus olhos se arregalaram. Esse sonho estava ficando audacioso. Edward e eu sendo parceiros em Biologia durante todo o ano? O que isso era, uma pegadinha do Punk'd? Cadê o Ashton Kutcher aparecendo do nada, dizendo que fui enganada fingindo que estávamos na década de noventa?

Mas óbvio que o Ashton Kutcher não apareceu do nada, ou qualquer membro da equipe do Punk'd. Eu não era uma celebridade e isso aqui não era um sonho. Quer dizer, se for um sonho, ele é bastante real por assim dizer.

- Alice... – comecei entre os dentes, mas logo ela me interrompeu.

- Edward não achou grande coisa. Disse que seria bom finalmente sentar-se junto com alguém inteligente na aula, porque você sabe muito bem que era mais inteligente do que eu, e fazia todo o trabalho. – explicou dando de ombros.

- Mas... – comecei, porém novamente fui interrompida.

- Sabe o que é engraçado? Edward gostou muito de saber que se sentaria com você na aula. – disse pensativa. – Acho que ele gosta de você. – concluiu normalmente, como se fosse algo tão comum como dizer que o céu era azul.

Meus olhos tornaram a se ampliar em indignação.

- O quê? – perguntei alarmada.

- Acho que meu irmão está gostando de você. – falou sonhadora.

- Alice... isso não é possível. – falei ainda perplexa.

Mas quem disse que a baixinha ligou para o que eu disse? Foi logo despejando mais uma de suas bombas, que vieram através de suas palavras:

- Não sei mais sinto que vocês se apaixonarão em breve.