Te Amar Ou Te Odiar?

O verdadeiro assassino


Pov. Autora

— Me explique uma coisa. – Perguntou Mônica, curiosa. – Depois de tudo que aconteceu, com seu pai, sua mãe e aqueles traficantes que você matou, como sua cabeça ficou mentalmente bem com tudo isso? Tipo, você era um adolescente, como suportou?

— Posso ter nascido em uma época antiga, mas os tratamentos psicológicos já existiam. – Respondeu Henry. – Provavelmente eu teria desistido da minha vida se não tivesse buscado ajuda profissional. Assim que me mudei para começar a faculdade, uma das coisas que fiz e não mencionei foi procurar um bom profissional. Eu estava empenhado em seguir meu sonho de vida, decidi não passar o resto da minha vida vivendo uma tragédia, como aconteceu. Dali em diante eu nunca mais perderia nada e nem ninguém. – Falou convicto.

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— Então, o que quis dizer com “enlouqueceu’?

— Eu explico...

...

Pov. Henry

“Certa noite eu havia ficado até tarde na empresa, tinha uma papelada burocrática pra resolver e não queria deixar para o dia seguinte. Levei três horas, mas consegui. Olhei para o relógio e ele já passava das nove e meia, resolvi voltar pra casa. Antes de sair do escritório me lembrei de um documento que tinha que entregar para Marcio, já que eu estava de carro aproveitaria a chance para entregar logo, e também, para visitar Evangeline e o pequeno Maurício.

Eu gostava dele, até ele aprender a falar. Meu sobrenome é Feitoso, mas o guri não conseguia pronunciar, ao invés disso ele falava: “Tio Feioso!”. Uma droga, mas fazer o quê? É só um garoto de quatro anos.

Se algum dia tivesse um filho, esperava que ele também não me chamasse assim. Um filho... Parecia um sonho grande a ser conquistado. Bem, eu não tinha problemas com mulheres, quase sempre estava namorando. Entretanto, a ideia de ter um filho... Esse tipo de coisa deve ser feito com alguém que você ame de verdade e com a certeza de que ninguém no mundo poderia tomar esse lugar. Estava com quase trinta anos e ainda procurando a “garota perfeita”, com a mínima certeza de que a encontraria.

Antes de chegar até a casa de Marcio, tinha o privilégio de observar o belo bairro. As casas eram bonitas, a vizinhança tranqüila, árvores grandes dividiam lugar nos gramados, um bom lugar para se viver. Enfim, cheguei ao final do corredor de casas, estacionei antes da entrada da garagem. A casa era amarela, tinha dois andares e um gramado bem cuidado. As luzes da sala estavam acesas, mesmo dentro do carro, pude ver perfeitamente: Evangeline ninando o pequeno Maurício.

Uma cena muito bonita de se ver, uma mãe maravilhosa. De repente Marcio aparece e beija a testa dela carinhosamente. Acaricia a cabeça do filho e abraça os dois. Ele deve ter dito algo que fez Evangeline rir e pegou o pequeno, levando-o para o quarto que ficava no segundo andar.

Evangeline continuou no andar de baixo, parecia cansada, devia ter tido um dia difícil. Alguns minutos depois, Marcio voltou, ele também percebeu o semblante abatido dela. Ele foi para um canto onde não consegui ver, mas ouvi uma música suave saindo da casa. Marcio se aproximou de Evangeline e os dois começaram a dançar tranquilamente. Eles trocaram algumas palavras antes dela beijá-lo. Um casal melosamente perfeito.

Liguei o carro e saí dali, falaria do Marcio no dia seguinte. Não estava a fim de voltar pra casa e nem mesmo tinha pressa, ninguém me esperava mesmo. Quando saí do centro da cidade avistei um bar ainda aberto. Estacionei em um lugar qualquer por perto e entrei.

O lugar não estava tão cheio, mas ainda sim tinha um grupo bebendo, jogando ou fumando. Pedi um whisky e me sentei numa cadeira encostada ao balcão.

Devia estar com cara de poucos amigos, por que o balconista me deixou em paz, geralmente esses caras gostam de conversar. Pior que estava mesmo, nossa, meus pensamentos se comparavam ao de um adolescente mimado.

Estava pensando em Evangeline, meu amor para com ela não se comparava a nenhum outro que já tive, talvez o trabalho, mas nada parecido. Agora, depois do que vi, percebi que a garota certa sempre esteve na minha vida e eu deixei escapar. Nunca teria filhos, nem a vida com o final feliz que sempre imaginei. Nada disso aconteceria, não sem ela.

Deveria ter insistido mais quando éramos mais jovens? Deveria ter arriscado minha amizade com Marcio? Foi certo continuar amigo deles sabendo que iria sofrer?

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Ah! Dúvidas, elas acabaram comigo. As únicas vezes que falei com o balconista foram quando eu pedi doses de bebida. Não sei quanto tempo se passou, por que eu já me sentia grogue.

“Com problemas, cara?” – Disse alguém ao meu lado. Olhei para ele, era um homem, nunca o tinha visto na vida, mas pelo menos não tinha cara de ser um bêbado largado qualquer que freqüentava o bar.


“Não, estou bem, sem problemas.” – Respondi.

“Ei, Jorge! Solta mais uma!” – Ele falou com o balconista.

“Pode esquecer Toni, você já bebeu demais é melhor você voltar pra casa.” – Disse Jeff, o balconista, pelo jeito como falou, devia passar por isso o tempo todo. – “Tem um ônibus que vai passar agorinha, vá para lá e tome o rumo de casa.”

“Seu estraga prazeres... Tudo bem.” – Ele disse, mas depois sussurrou para que só eu pudesse ouvir. – “Me siga.”

Ele saiu do bar. Um minuto depois eu deixei dinheiro no balcão e saí pela porta lateral, o mesmo caminho que aquele estranho fez. Eu o procurei e o encontrei do outro lado da rua.

“Está a fim de relaxar?” – Ele perguntou assim que me aproximei.

“Na verdade eu já fiz isso enquanto estava no bar.”

“Ah, whisky não tira stress meu camarada, só te deixa com dor de cabeça.”

“Eu discordo.” – Sorri. Sim, o whisky pode ter seus efeitos colaterais, mas deixei de ter dor de cabeça com ele há tempos.

“Hahaha, bom, que tal realmente experimentar algo relaxante?” – Ele puxou um rolo de papel, parecia um cigarro.

“Ah... Não, obrigado. Não sou de fumar.” – Recusei.

“O quê? Um homem que não fuma? De que planeta você veio?” – Ele olhou horrorizado pra mim. Naquela época, fumar era a coisa mais descolada do mundo. Se você fumava, você era legal. – “Vamos lá, é só um trago. Não vai te fazer mal.”

Pensar estava difícil, tinha acabado de beber e meu raciocínio ficou distorcido. Desde que minha mãe morreu, repudiei as drogas e nunca cheguei perto delas, mas eu já havia fumado só por cortesia e não ser taxado de anti-social. Mais uma vez não faria diferença. Aceitei o cigarro, dei um trago, mas depois veio uma tosse violenta por causa do gosto novo. Olhei bem para o que eu segurava, não era um cigarro normal, era só um papel com maconha.

“Opa! Calma aí.” – Ele bateu nas minhas costas para me ajudar a desengasgar, mas ainda ria. – “Parece que alguém perdeu a virgindade com um trago novo.”

“Você... O que você me deu?”

“Vamos, não choramingue, um pouco de maconha não vai te matar, como se sente?”

“Eu...” – Estranhamente, eu me sentia bem, melhor até, mais leve. – “Me sinto bem.”

“Viu? Não te disse?” – Ele sorriu e pegou outro rolo do bolso, acendeu e fumou. – “Eu vou indo nessa, pode ficar com esse, eu tenho mais aqui.” – Ele falou se distanciando. – “A gente se vê.”

...

Pov. Autora

— Nunca mais vi aquele homem, mas ele foi o responsável por ter começado o meu vício pelas drogas. Nunca cheguei perto delas por causa da minha mãe. Ao contrário das bebidas, comecei a beber na faculdade e nunca mais parei. – Disse Henry, tomando mais um gole de whisky.

“Deu pra perceber”, pensou Mônica com sarcasmo.

— Com a chegada do filho de Marcio as coisas ficaram diferentes na empresa. Ele sempre parecia cansado, mas tentava não deixar o trabalho atrasado. Me ofereci para ajudar, acabei ficando com muito trabalho pra fazer, mas não reclamei. – Continuou – O primeiro ano foi puxado, mas tranqüilo. No segundo comecei a beber um pouco mais para aliviar o stress. O terceiro marcou com a volta mais efetiva de Marcio, mas a empresa estava crescendo, então nós dois tínhamos que lidar com muita coisa. No quarto...

— Tudo bem! Já entendi, o trabalho era difícil. Não precisa narrar tudo o que aconteceu.

— Muito bem... – Henry fez uma pausa, olhando atentamente para Mônica, ela não deixou de reparar isso. – Enfim, eu não podia parar, era o co-fundador da Restore, uma das maiores empresas ecológicas dos Estados Unidos. Precisava estar sempre disposto. – Ele se ajeitou na cadeira. – No começo eram só energéticos para me manter acordado, depois vieram os remédios, não muito prejudiciais, comprava na farmácia mesmo. Ao longo dos meses eu cheguei a um nível de stress e cansaço extremos que não podiam ser resolvidos com uma simples conversa e uma boa noite de sono. Não, eu acabei sendo drástico demais. Eu comecei a usar drogas pra valer, elas me deixavam mais forte, com mais vitalidade, durante algum tempo a empresa prosperou como nunca, mexendo uns pauzinhos, fiz a empresa decolar.

— Mexeu uns pauzinhos? O que você fez?

— O melhor para a empresa, estava cheio de toda aquela burocratização chata e desnecessária. Fiz o que ninguém teria coragem de fazer e deu tudo certo. – Ele se levantou, estava cansado daquela posição. – Pelo menos... Até Marcio descobrir.

...

Pov. Henry

— VOCÊ FICOU MALUCO? – Marcio gritou. – ONDE ESTAVA COM A CABEÇA?

— Está aqui, na empresa. – Eu respondi firme. – Enquanto a sua está dividida, a minha trabalha para fazer o melhor para isto aqui prosperar.

— Prosperar? Você chama desmatamento ilegal de prosperar? – Ele disse entre os dentes.

— Ah, por favor, não desmatamos nada, foi totalmente legal.

— Não! Não foi! Aquela área era uma Área Protegida! Você não tem o menor direito! Como pôde fazer isso pelas minhas costas?

— Fiz isso pela empresa. – Respondi.

— Não, fez isso por você. Não sabe o que podem fazer conosco se descobrirem? Eles podem fechar a empresa! – Ele falou transtornado.

— SE descobrirem, o que não vai acontecer. – Eu falei. – Está tudo sob controle, o comprador mantém total sigilo sobre isso, temos um contrato. Além disso, eu sei como lidar com essa gente, se derem com a língua nos dentes damos um jeito neles.

— Damos um jeito?...

— Ah, por favor, não se faça de alienado. - Eu me sentei em uma das cadeiras em frente à mesa dele. – Os negócios não são mais como antes, Marcio, se não mexermos uns pauzinhos aqui ou ali, ficaremos para trás e a empresa pode falir. Com certeza, assim como eu, você não quer isso.

— A empresa estava indo bem, nada disso era necessário. – Ele disse sério.

— Viu? “Indo bem”, eu não quero que a empresa ande, quero que ela corra.

— Para o fundo do poço? – Ele respondeu. – O que aconteceu com você? Nos últimos meses tem andado distante, não vem mais jantar em nossa casa e trabalha até tarde. O que está acontecendo?

— Nada, só estou fazendo o que você não pode fazer. Dar total atenção à empresa. – Marcio se sentou em sua cadeira, e não falou por uns minutos, tentando amenizar um pouco a raiva.

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— Henry, eu, assim como você em alguns aspectos, tenho muitas obrigações, como homem, pai, marido, sócio e amigo. Faço o máximo para nunca deixar de cumprir alguma obrigação, seja na empresa, em casa, com minha família ou com meus amigos. – Ele falou. – A empresa nunca teve qualquer risco, sempre estivemos fazendo o certo, a cada ano nós superamos os anteriores e caso acontecia algum problema, fazemos o possível para resolver. – Deu uma pausa. – O possível, não o ilegal.

— Ora! Não faça tempestade em copo d água, é uma área deserta...

— É uma área protegida. – Ele falou com firmeza e pôs a mão em cima de uma pasta que estava sobre a mesa. – E não só ela, tenho uma papelada aqui que comprova que nos últimos anos você se apropriou de terras não autorizadas para derrubar árvores, tenho o valor em dinheiro e alguns nomes envolvidos. – Ele fez outra pausa. - Não sei como a situação chegou a isso, o que aconteceu com você Henry?

— Nada, sou o mesmo de sempre, com uma visão mais apurada para os negócios.

— O mesmo de sempre? Não, com certeza não é. – Ele se aproximou com a cadeira e colocou os cotovelos na mesa. – Me diga o que está acontecendo, meu amigo, caso contrário não posso ajudá-lo.

— Eu já disse, não está acontecendo nada. Eu estou bem. – Olhei nos olhos dele. Depois de me avaliar, Marcio apenas suspirou cansado mais uma vez e disse:

— Você não me dá escolha.

— O que quer dizer?

— Henry... Você está fora do negócio. – Talvez aquelas fossem as palavras mais duras que ele já tinha dito pra mim.

— Como é? – Eu ri. – Não pode fazer isso, somos sócios.

— Sim, somos. Mas eu possuo 55% da empresa e você, 45%, por isso eu sou o diretor executivo. – Ele falou e eu parei de sorrir. Ele tinha razão, desde o começo eu nunca me considerei totalmente responsável pela empresa por não ter tido as ideias de Marcio, por isso não quis me tornar um sócio igualitário, mas fiquei com os 45%. – Chame seus advogados se quiser, mas não vou dar nada a você o que não seja seu. Você vai sair daqui e eu não vou lhe dar outra chance.

— Marcio, você não pode estar falando sério. – Eu levantei da cadeira. – Construímos isso aqui juntos, não podemos terminar assim.

— Sim, podemos, especialmente quando você não me deu escolha. – Continuou firme.

— Não te dei escolha? Por algumas terras você...

— Trinta e duas. – Ele me interrompeu. – Algumas não, trinta e duas terras, todas com quase ou ultrapassam um campo de estádio de futebol. Tem ideia de quantos animais matou? Quantas árvores protegidas? A fauna, a cultura, talvez até mesmo pessoas! Isso não significa nada pra você?

— Ah, que papo de mulherzinha, você não era assim quando fundamos a empresa.

— Não, VOCÊ não era assim quando fundamos a empresa. Era determinado, fazia o trabalho do jeito que tinha que ser. Sem se rebaixar ao contrabando ou a outros cretinos por aí.

— Ah, agora eu sou cretino? Você nunca teria fundado isso aqui sem mim, estaria por aí ainda numa empresa qualquer pagando de trabalhador de meio período que mal ganha um salário mínimo. – Disse isso com muita raiva. – Eu sou parte dessa empresa, dei minha vida por ela, meu dinheiro, tudo de mais valor que tenho, você não pode simplesmente me chutar pra fora como se não fosse nada. – Ele se levantou da cadeira.

— ACHA QUE ESTOU GOSTANDO DISSO? Não estou te enxotando daqui, você mesmo quase ferrou toda a empresa, o que estou fazendo não é nada menos que o mínimo! Nós dois fundamos essa empresa juntos, nós dois concordamos que o futuro dela seria fazer o melhor para as pessoas, não o contrário. - Ficamos em silêncio por um tempo nos encarando, Marcio estava transtornado, furioso mesmo – Me desculpe Henry, você é um grande amigo, mesmo, mas eu não posso deixar isso passar impune. Pegue suas coisas e saia daqui.

Fiz como ele mandou, deixei a empresa, mas mais que isso, nunca mais apareci na vida de Marcio, nem ele na minha.

...

Pov. Autora

— Nossa. – Disse Mônica, surpresa.

— Foi uma época e tanto. – Disse Henry. – Depois disso, fiquei num estado deplorável, não saí de casa por meses. Uns amigos tentavam falar comigo, mas eu ignorava. A empresa foi minha vida por muito tempo e agora, estava tudo acabado.

— O que aconteceu depois? Vocês dois chegaram a se ver de novo?

— Não, nunca mais. – Ele falou. Henry andou até a janela para observar a vista noturna. – Mas eu me reergui, depois do meu momento de fossa, eu voltei aos negócios. A minha parte da empresa, a que ainda não tinha sido torrada com drogas, me ajudou a fundar madeireiras, um cassino em Las Vegas, e até alguns bancos espalhados pelo país. Eu mantive meu dinheiro trabalhando e construí meu império sozinho. – Com o olhar ele perseguiu um morcego que voava por cima do muro – Marcio pode ter me enxotado, mas eu sempre me mantive informado sobre o que acontecia lá, tinha meus contatos. Vai achar interessante esta parte da história, envolve pessoas que você conheceu, ou quase.

— O que?...

— Uns quinze anos depois que eu saí, outra pessoa tomou o meu lugar. E não foi nada menos que o pequeno Maurício, seu pai, agora não tão pequeno assim. Ele devia ter terminado a faculdade quando assumiu o cargo de braço direito do diretor. – O olhar de Henry se tornou mais vago. – Aquela deveria ser a melhor época da empresa, Marcio provavelmente estaria imensamente feliz por ver o filho trabalhando junto com ele, mais um sonho que ele tinha havia sido realizado... Eu não suportei. Simplesmente, não pude aceitar que a vida dele continuava as mil maravilhas, enquanto eu estava sozinho.

— O que... – O cérebro de Mônica processava devagar, mas ela já desconfiava onde aquilo ia parar. -... O que você fez?

— Não é óbvio? Eu matei Maurício. – Disse como se não fosse nada demais, mas pra Mônica, foi como se tivessem lhe dado o maior dos socos. – Não foi difícil, só precisei “ajustar” os freios do carro que ele dirigia e fazer o resto na estrada, pena que naquela noite ele estava acompanhado com a mulher e a filha. Durante todos esses anos achei que você tinha morrido, mas...

— SEU MALDITO! – Gritou com raiva. – ASSASSINO!

Mônica começou a gritar, se mexer e espernear, tentando se soltar das cordas. Henry foi até o criado mudo, tirou de lá uma fita, cortou um pedaço e tapou a boca de Mônica. Em seguida ele se sentou na cama e segurou os braços dela, para que parasse de forçar as cordas.

— Vamos... Isso aconteceu há tempos, eu sei como é perder os pais tão cedo, você supera. – Disse ele, sarcástico. – Mas a pior parte da história, foi com a morte de Evangeline, poucos anos depois. – Seu semblante mudou para tristeza rapidamente. - Ela morreu por câncer cerebral, descobriram tudo tarde demais. Eu fui escondido ao funeral dela, Marcio estava lá, devastado, ele provavelmente não me viu.

Ele soltou uma das mãos de Mônica e tentou acariciar o rosto dela, que lógico, tentou desviar a todo custo.

— Mas essa nem é a melhor parte da história. – Continuou. – Dois ou três anos depois, apareceu um cara do Brasil, Cebola, acho que era esse o nome dele, não entendo brasileiros, mas são bons comerciantes. Ele surgiu do nada e se firmou na empresa como novo sócio de Marcio.

Mônica forçou os braços novamente, em vão.

— Resolvi deixar aquilo para lá, o pobre coitado não sabia de nada. Além disso, eu ainda prezava pelo bem estar da Restore, mesmo não fazendo parte dela. Marcio precisava de alguém ao seu lado ajudando a administrar tudo.

Dessa vez, Henry conseguiu colocar sua mão no rosto de Mônica e a acariciou. Isso fez com que ela sentisse nojo dele.

— Muito tempo se passou desde então, eu estava vivendo em paz. Não tinha o que fazer além de tocar com a minha vida e esquecer o passado, pelo menos foi o que meu novo psicólogo disse. – Ele estranhamente sorriu. – Mas então, uma coisa incrível aconteceu. Quer adivinhar o que foi? – Mônica estava ofegante, se pudesse gritaria, mas mesmo se tivesse voz, não conseguiria opinar pelo que viria a seguir. – Você... Você foi a razão de tudo.

A confusão era perceptível, Henry tratou logo de se explicar.

— Você não deve se lembrar, mas nós já nos vimos antes, em uma loja de roupas no centro da cidade. Eu estava à procura de um chapéu novo, quando vi você e uma atendente escolhendo algumas blusas. Você escolheu uma blusa vermelha que realmente combinou com você.

Mônica tinha franzido o cenho, confusa, mas depois a memória lhe veio à mente. Foi o dia em que saiu com Ana e Magali para comprar um vestido de aniversário para Ana.

— Pelo visto, você estava lá auxiliando uma de suas amigas para achar um vestido de festa. Vocês deveriam fazer menos escândalo em público. – Continuou. – Felizmente, você saiu da loja sozinha, eu segui você, queria saber quem era. Não sabe o quão surpreso fiquei quando a vi entrar na mansão de Marcio, sim, eu sabia onde ele morava. Como eu disse, eu me mantinha informado sobre a empresa, eu sabia onde Marcio morava, mas não sabia que você estava viva, nem que... Havia se tornado uma bela jovem.

Mônica não sabia em que ordem se enojava daquele homem ainda mais, verbal ou cronologicamente.

— Querendo ou não, você me assustou naquela loja, foi como eu tivesse visto um fantasma. Você é idêntica à Evangeline, seu rosto, sua maneira de ser, mesmo sem ter a conhecido muito bem. – Ele sorriu e continuou a acariciar o rosto dela. – Desde aquele momento uma luz de esperança se acendeu em mim, você é a minha segunda chance, Mônica. Minha chance de ser feliz outra vez. Desde aquele dia eu renovei os votos que fiz quando ainda era um garoto prestes a começar uma nova vida, as de que eu nunca perderia nada e nem ninguém.

Ele se ajeitou na cama, sentando-se mais ereto, mas não tirava os olhos de Mônica.

— Eu perdi o amor da minha vida e a empresa que construí e dediquei a minha juventude. Com você ao meu lado, eu vou conquistar não só o seu amor, como a minha antiga empresa.

Mônica voltou a forçar as cordas novamente, indignada. Aquele velho maluco, com ideias psicopatas, estava pensando que iria se aproveitar dela como bem quisesse e sairia impune, mas nem pensar!

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— Calma, calma. – Ele voltou a segurar seus pulsos. – Vamos ter muito tempo para discutir, mas eu ainda tenho que contar algumas coisas. Depois que eu a vi, comecei a bolar um plano para tê-la comigo. Jurei a mim mesmo que a teria em meus braços sem que ninguém pudesse me impedir. – Continuou. – A ideia inicial era matar seu avô, mas o tal do Cebola interferiu nos meus negócios. Ele descobriu que eu estava pegando emprestado um pouco de madeira da Restore e mandando para uma das minhas madeireiras. Foi inevitável, tive que mandar matá-lo.

Mônica estava querendo chorar, aquele cretino não causou só dor para ela, mas para o Cebola também, ao se lembrar de seu marido quase desabou de saudade e preocupação.

— Depois, finalmente consegui o que queria. Provoquei o acidente de Marcio e... Qual era o nome mesmo da outra? Susana... Susan? – Mônica avançou com raiva. - Isso mesmo, Susan. É, foi uma tragédia, ela estava no lugar errado na hora errada, mas por ironia, ela morreu primeiro e Marcio sobreviveu. Eu já sabia que ele era durão, por isso tomei minhas próprias precauções. Ele ficou muito ferido, mas o desgraçado teria sobrevivido se não fosse pela ação de um dos meus homens que fez um pequeno favor ao provocar o ataque cardíaco que o matou.

Mônica não agüentou, começou a chorar, queria muito que tudo o que Henry estava dizendo fosse mentira. Que tudo o que aconteceu fosse mentira, que ela iria acordar ao lado de Cebola e tudo iria voltar ao normal, mas infelizmente era tudo real, Henry é o responsável por tudo o que aconteceu de ruim. E ele iria pagar pelo que fez.

— Você se tornou meu próximo alvo, mas estragou tudo quando se casou com aquele moleque, Cebola... É o nome dele? O mesmo nome ridículo do pai, pelo jeito matar ele não foi uma má ideia. – Ele aproximou o rosto do dela. – Vocês estavam quase sempre juntos, e com a entrada do F.B.I. se intrometendo, atrapalhou a ação dos meus homens incompetentes, mas que bom que aquele imprestável resolveu dar uma festa surpresa. Organizei pessoalmente o plano e tudo saiu perfeitamente bem. Ninguém sabe que está aqui e encontrá-la vai ser impossível.

Henry a beijou no rosto, Mônica se sentiu suja, o que mais queria naquele momento é que aquele miserável saísse de cima dela.

— Eu vou te fazer a mulher mais feliz do mundo. Ficaremos juntos, para sempre... – Ele desceu os beijos para o pescoço dela. -... Minha doce Evangeline.