Te Amar Ou Te Odiar?

Chegando perto...


Pov. Autora

Larry não conseguiu dormir, passou a noite em seu escritório revisando imagens das câmeras de segurança da cidade em busca de alguma pista. Tudo que sabia é que esse tal Bóreas era esperto, sempre arrumava um jeito de escapar, pois nem todas as câmeras mostravam aonde ele ia.

Mas ele não era invisível para as pessoas. Seus companheiros avisaram que nos bares ou lojas que ele apareceu, se mostrava um homem bem comunicativo e extrovertido. Não foi difícil conseguir um perfil físico, todos apontavam para a mesma pessoa, mesmo que Bóreas mentisse sobre o seu nome algumas vezes. Precisava investigar mais, talvez contatar outras agências sobre esse cara.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Larry? – Ouviu Pedro bater na porta antes de lhe chamar. – Acho que tenho uma coisa pra você.

– O que é?

– Checamos as câmeras com as informações que conseguimos reunir na rua. Olhando no geral, não temos quase nada. Nomes falsos, identidades falsas, informações erradas... Nada batendo com o nome que procuramos. Mas!... – Ele mostrou três pastas e as colocou em cima da mesa. – Usar nomes falsos é uma coisa, mas as identidades, ela tem um papel mais importante. Bóreas é um cara precavido, caso algo aconteça, ele não pode se deixar ser pego tão facilmente, por isso, arranjou algo que qualquer pessoa tem. – Larry deu uma olhada nos documentos, cada uma delas tinha a localização de uma residência diferente. -... Essas são três propriedades que pertencem ao nosso cara, com nomes diferentes, mas segundo os vizinhos é o mesmo homem. Pelo que parece, nosso cara não é do tipo que dormiria sob as estrelas nem se fosse preciso. Existem outras casas, mas estas são as únicas de Miami.

– E o que pretende? – Disse Larry, ainda examinando os documentos. – Visitar todas essas casas na esperança de que em uma delas esteja a moto?

– Basicamente, sim. – Falou, esperando a aprovação de Larry para a investigação. – Se não estiver, continuamos a procurar, mas por enquanto é a nossa melhor pista. Dois dos imóveis estão alugados, o tal Bóreas é o locatário. Quem sabe ele não escondeu alguma coisa lá para encobrir a própria pele e botar a culpa nos civis que alugaram?

– Talvez. – Larry se levantou. – Conseguiu o mandado de busca?

– Claro. – Mostrou os papéis. – Estão bem aqui.

– Ótimo. Venha comigo, vamos para essa casa terceira casa, no subúrbio. Segundo isso aqui, ele não é alugado, talvez tenha alguma coisa por lá. Monte duas equipes, uma para cada casa. Mande-os manterem contato, o objetivo é achar algo que nos diga onde esse cara está agora.

– Sim senhor. – Pedro se virou para Larry antes de sair. – Vou mandar preparar o carro, te encontro lá em baixo em dez minutos.

...

Mônica não conseguiu dormir a noite toda, talvez nunca mais conseguisse dormir, não depois de tudo que viu. Assistir um ator encenando o momento da morte pela televisão era uma coisa, mas sentir e ver de perto são outras bem diferentes.

Cascuda... Quem diria. Ela tentou ajudá-la e acabou morrendo por sua causa, por causa de uma obsessão. Se tivessem esperado, se tivessem planejado com mais calma, talvez ela ainda estivesse viva. Não queria causar tanta confusão, nem mesmo causar a morte daquele homem, Tadeu era o nome dele? Cascuda estava apenas se defendendo, ela lutou bem, mas... A que ponto?

Tentou não pensar, mas aquele maldito nome voltava em sua mente como uma assombração: Henry. O que ele faria agora? Depois de ter matado Cascuda, ameaçar a vida de Cebola foi tão ruim quanto. Aquele homem era pra lá de instável, nunca saberia o que estaria passando pela cabeça dele agora, ou qual seriam seus planos. Alguma coisa mudou pra ele depois do que aconteceu? Depois que tentou fugir e o afrontou ontem mais cedo?

Dúvidas, dúvidas, dúvidas... Ficar presa neste maldito quarto estava matando-a aos poucos. Mas, ele também tem seu lado bom, é o lugar mais seguro em toda a casa, onde podia ficar sozinha no seu canto sem ser incomodada. Agora mais do que nunca, já que Henry providenciou mais guardas para ficarem de olho nela e só a deixarem sair com a autorização dele.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Suas esperanças de sair dali estavam se esgotando, depois da noite passada, mais do que nunca. Sua única ajuda estava morta, se quisesse sair dali, teria que agir por si mesma e bolar um plano... Infalível.

Pela primeira vez depois da tragédia, sorriu nostálgica. Cebola... Ele saberia o que fazer se estivesse em uma situação como essa. Bolaria um plano infalível que os tiraria dessa confusão, mas graças a Deus ele não está. Seria tudo muito pior se ele estivesse preso ali também.

Mônica fez uma oração mental, pedindo forças e ajuda a Deus, para que saísse daquele inferno. Orou também pelos seus amigos, por Carla, Cebola, Magali, Cascão... Todos. E por fim agradeceu por estar viva, mesmo por todo o sofrimento que está passando, ela ainda está viva, ainda há esperança de que tudo melhore e que vai voltar para casa.

...

Henry chamou Bóreas para vir ao seu escritório, precisava mantê-lo informado do ocorrido da noite anterior e mandá-lo escolher outros supervisores de segurança. Dez minutos depois que o solicitou, ele apareceu, batendo na porta antes de entrar.

– Venha, Bóreas, sente-se. – Ele assim fez.

– Está tudo bem? – Perguntou se recostando à cadeira. Henry nunca gostou do modo que ele se portava, todo desengonçado e sem postura, mas era um bom funcionário e deixava esse detalhe para lá.

– Estava. Até o ocorrido da noite passada. – Disse. – Preciso de novos supervisores para vigiar o sistema de segurança da casa.

– Novos supervisores? Mas e a Pink e o Tadeu? – Indagou.

– Estão mortos. – Falou como se fosse uma coisa simples. Mas Bóreas precisou de alguns segundos para entender o que escutou e pronunciar alguma coisa.

– O-O... Quê? – Estava surpreso, completamente. – Como assim? Do que está falando?

– Ontem à noite, Pink tentou ajudar Mônica a escapar. Elas conseguiriam se não fosse por Tadeu que as impediu de fugir. Pink matou Tadeu a facadas, eu consegui detê-las depois que a luta dos dois terminou. Trouxe Pink pra cá e a matei por traição e insubordinação. – Disse. - Agora, estou sem dois dos meus melhores seguranças e preciso que você selecione novos na nossa equipe.

– Você... Você a matou? – Ele se sentou direito, pela primeira vez na opinião de Henry.

– Está surdo rapaz? – Disse impaciente. Viu Bóreas se levantar e andar de um lado para o outro nervoso, com as mãos na cabeça. – Não me diga que gostava dela? – Não precisou de resposta, a atitude dele já era plausível. – Oh... Eu sinto muito, não sabia que ela era sua namorada. Mas, fazer o quê? São apenas negócios.

– Negócios?... – Bóreas balbuciou. Henry se levantou e foi até a prateleira onde havia vários arquivos.

– Sim, afinal, ela trabalhava pra mim e não admito que ninguém se meta onde não é da sua conta, principalmente se tratando de um assunto que só é desrespeito a mim. – Falou. - Preciso trabalhar, pode me passar o meu copo? – Disse apontado para o objeto em cima da mesa. Quando Bóreas foi pegá-lo embarrou em um pequeno frasco sem querer, quase derramando o líquido que tinha dentro. – Ei! Cuidado com o meu licor de laranja, seu desastrado. Isso é caro! – Bóreas botou o frasco no lugar e o entregou a Henry. – Preciso ir, quero os dois nomes até amanhã e escolha bem.

Henry saiu da sala, deixando Bóreas sozinho. Depois de algum tempo olhando para a porta ele pegou um livro qualquer e o jogou na parede, gritando em seguida. Fez isso algumas vezes, tentando amenizar a dor a frustração. Pink era sua parceira, tinham ficado mais próximos nos últimos meses e acabou se apaixonando por ela. Agora, o seu sonho de sair dessa merda toda e tentar viver uma vida normal com ela foram destruídos por um milionário psicótico e aquela garota.

– Não posso deixar esse desgraçado sair impune. – Falou ao vento. Olhou para a estante de venenos de Henry, sempre achou esse o pior hobby do mundo, mas agora viria a calhar. Ele pegou o frasco de licor de laranja, pelo jeito o favorito de Henry, e o comparou com os venenos da estante, pegou o que mais se assemelhava à cor do líquido e despejou um pouco no licor. Depois o colocou de volta à bandeja. – Isso é por você, meu amor. – Disse. Devolveu o frasco de veneno ao seu lugar e saiu dali.

...

Em menos de uma hora Larry e sua equipe chegaram a uma das propriedades que deveria pertencer à Bóreas. A casa era modesta, localizada em um bairro tranquilo e com uma boa vizinhança, aparentemente. Larry pensou, até mesmo assassinos de aluguel devem gostar de sossego.

Ele e seus homens saíram do carro e sem demora adentraram o lugar. Tiveram que arrombar a porta da frente, uma forçada na tranca da porta foi o suficiente. Os homens armados entraram na frente para verificar o lugar e se certificar de que não havia nenhuma ameaça.

Larry e Pedro se separam, vasculharam toda a casa em busca de pistas. A casa possuía três quartos, dois banheiros, sala de TV, sala de jantar, cozinha e uma garagem. Assim que vasculharam toda a casa, o foco foi a garagem. Havia uma porta na cozinha que lhe davam acesso a ela, assim que entraram ficaram surpresos.

– O quê? - Exclamou Pedro - Não tem nada aqui?

A garagem estava tecnicamente vazia, não tinha qualquer carro ou a moto que tanto procuravam, apenas ferramentas, tralhas, caixas e mais bagunça. Pedro ficou decepcionado, acreditava que encontrariam alguma coisa, mas não tem nenhuma pista em toda casa. Teria errado? Larry deu uma volta pelo lugar, olhou algumas coisas de perto.

– Não acredito nisso. - Disse Pedro decepcionado - Achei que tínhamos encontrado a casa certa. Pelo jeito, ele deve ter escondido nas casas alugadas, ou até mesmo em outra cidade. Vou contatar as outras equipes. - E saiu deixando Larry sozinho.

Larry não encontrou nada, apenas confirmou que aquela era uma legítima garagem tipicamente americana, com caixas e entulho por todo o lado. De toda a bagunça, uma coisa chamou sua atenção: um porta-chaves em forma de uma moto. Ele abriu a portinha e encontrou três chaves penduradas em pequenos ganchos, sendo que havia mais um ganchinho, este estava sem chave. Não o suficiente, a caixa também tinha um desenho de moto por dentro, enxergou um botão bem minúsculo no desenho do guidão da moto. Apertou. Nisso, tocou o som de uma bozina e de repente a caixa fez um 'clique'. Larry encontrou um fundo falso naquela caixinha estranha, puxou o fundo e encontrou uma trava de segurança digital.

"BINGO!", pensou.

– Pedro! - O chamou, algum tempo depois ele apareceu.

– O que foi?

– Veja isto. - E lhe mostrou sua descoberta, pôde ver os olhos de Pedro brilharem. - Pode destrancar?

– Agora mesmo! - Disse entusiasmado. Tecnologia era o ponto forte dele, principalmente trancas elétricas. Buscou em seu equipamento um dispositivo para ajudá-lo. Abriu a lateral da caixa de chaves, encontrou alguns fios e os conectou com sua máquina. Era o mesmo exercício de usar um clipe, ao invés da chave para destrancar a porta. Dois minutos depois a máquina encontrou o código e apareceu escrito no pequeno monitor: acesso permitido.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Cuidado! - Pedro puxou Larry, o chão começou a se abrir. - Um alçapão! - Disse e viu uma escada para poderem descer. - Vamos.

Os dois desceram pela escada e encontraram ali o que deduziram ser o QG de Bóreas. Era uma sala média, havia algumas prateleiras de armas, papéis e arquivos, um computador com três monitores, geladeira e até mesmo um banheiro.

– A moto! - Disse Pedro. Realmente, a moto estava bem ali, mesmo modelo, mesma descrição.

Larry vasculhou os arquivos, enquanto Pedro voltava sua total atenção ao computador. Ele encontrou fichas mostrando o perfil de pessoas, algumas delas ele conhecia, procurados ou traficantes, sabia que tinham morrido, pois também os investigou. Bóreas era mesmo um assassino de aluguel e não brincava em serviço.

Encontrou outra pasta, uma preta, abriu e se surpreendeu com o conteúdo. A primeira foto que viu foi a de Marcio, havia várias fotos dele e algumas informações pessoais. "Bóreas é um cara organizado e minucioso", Larry deduziu para si.

O segundo arquivo era sobre Cebola Netto, pai de Cebola. Como o de Marcio, sua ficha era bem estudada. O terceiro arquivo era sobre Mônica. Não tinha mais nada além daquelas três fichas, o que quer dizer que suas suspeitas se confirmavam, sua irmã Susan não era um alvo. Ela morreu porque estava próxima de Marcio no momento e hora errada.

Isso só lhe fez ficar com mais raiva, gostava muito do cunhado, era um homem bom e cuidava bem de sua irmã. Quando a visitava, via nela quase a mesma alegria de quando sua sobrinha ainda morava com Susan. Precisava encontrar Bóreas, mas principalmente, o cara que o contratou, esse iria pagar caro pelo que fez.

– Pedro. - Larry o chamou. - Fique aqui e comece a procurar, vou chamar o resto da equipe e fechar o perímetro. - Pedro assentiu, concordando. Larry subiu as escadas novamente.

Abriu a porta da garagem e observou sua equipe trabalhar, uns protegendo a casa, outros com computadores e equipamentos especiais, procurando alguma pista. Ouviu um barulho e olhou para cima, raios iluminaram o céu quase escurecido, o sol já havia se pondo. Uma tempestade se aproximava, aquela seria uma noite agitada.

...

Mônica saiu do banheiro, vestiu uma calça jeans, colocou uma blusa branca e por cima uma blusa de frio vermelha. O tempo ficou frio e úmido, provavelmente iria chover mais tarde. Se jogou na cama de bruços e fechou os olhos, descansando.

Não conseguia pensar em nada, seu cérebro estava cansado. Abriu os olhos, observou o lençol e o travesseiro prestando atenção a cada detalhe, depois olhou para o criado mudo. Tédio seria a palavra em um dia normal, mas era exatamente disso que ela precisava. Não fazer nada, relaxar e prestar atenção nas menores e mais simples coisas, antes que seu cérebro "acordasse" e a fizesse se lembrar das coisas horríveis que aconteceram e ainda estão acontecendo. Ouviu baterem à porta e abri-la sem seu consentimento.

– Senhorita? - Ela olhou para o homem na porta, nunca o tinha visto antes, mas ele não vestia o uniforme que os outros também usavam. Usava roupas de couro.

– Quem é você? - Perguntou, sentando-se na cama.

– Meu nome é Bóreas. - Respondeu. - O senhor Feitoso a solicita em seu escritório.

Mônica suspirou, mas não tentou fugir. Calçou seu tênis antes de acompanhar Bóreas até o escritório de Henry. Assim que chegaram, ele abriu a porta para ela, entrou e encontrou Henry fumando um charuto.

– Minha querida! - Ele sempre ficava muito feliz repentinamente ao ver Mônica, ela já estava achando isso doentio. - Obrigado Bóreas, pode ir. - Ele obedeceu, os deixou sozinhos.

Mônica continuou em pé, Henry deixou o charuto no cinzeiro, sem apagá-lo. Pegou um copo e se serviu de bebida.

– Aceita beber alguma coisa? - Mônica franziu uma das sobrancelhas, olhando para as bebidas que ele dispunha em cima da mesa, como que se dizendo: "você quer que eu beba whisky?". Henry percebeu.

– Oh, não minha querida, não estava falando destas. - Ele abriu uma das gavetas da mesa, procurando por algo. - Onde está?... - Voltou a olhar para a bandeja em cima da mesa. - Ah! Hahaha! Que cabeça a minha. Está bem aqui. - Henry pegou um pequeno copo e despejou o líquido. - É o meu licor de laranja, chegou ontem, gostaria que experimentasse. Não se preocupe, é sem álcool. - Ele entregou o copo à Mônica.

– Obrigada. - Disse ela, sem nenhuma vontade de beber aquilo, mas decidiu fazer só por curiosidade quanto ao gosto.

– Minha querida, precisamos conversar. - Ele disse, Mônica desistiu de dar o gole na bebida e prestou atenção em Henry, mas ainda segurou o copo. - É sobre nós.

Mônica revirou os olhos internamente, aquele velho era realmente maluco se achava que existia algum 'nós' entre eles, mas mesmo assim escutou o que ele tinha a dizer.

– Ou melhor, mais especificamente sobre você. Precisamos acertar alguns pontos pendentes. - Ele falou. - Primeiro, estou pensando seriamente em sair deste lugar, mudar para uma mansão mais segura. - Uma prisão nova, concluiu Mônica. - Segundo, estava pensando em dar uma festa.

– Festa? - Ela disse.

– Sim! Quer dizer, daqui alguns meses quando nos entendermos. - Ele falou entusiasmado. - Serão só algumas pessoas, você usará um vestido belíssimo, eu mesmo escolherei. - Continuou - Haverá uma orquestra contratada, nós iremos dançar e nos divertir, será um momento perfeito!

– Henry...

– Ainda não acabei. - Interrompeu - Era pra ser uma surpresa, mas achei melhor te contar logo. Essa festa... É uma ocasião especial, para celebrar a nossa união. Nós nem precisamos assinar nada, você só precisa usar um anel. - Henry não estava falando coisa com coisa, mas Mônica fez o melhor que pôde.

– Se eu estiver interpretando mal, me corrija, mas... Você está me pedindo em casamento?

– Não interpretou mal, de forma alguma. - Ele sorriu. - Você aceita?

– O quão bêbado você está agora? - Perguntou ela. Colocando o copo de licor em cima da mesa, encarando Henry agora com o cenho franzido.

– O suficiente para ter coragem de lhe pedir em casamento. - Ele sorriu. - Você aceita, meu amor?

Pior que qualquer soco que ele poderia lhe dar, seria pedir essa insanidade. O anel em seu dedo anelar esquerdo coçou, como se fosse uma parte de seu corpo prestes a sofrer alguma dor. Ela escondeu sua mão esquerda, para ele não ver a aliança que ainda usava. Não o deixaria tomar a única coisa que lhe restou de Cebola.

– Henry, eu não sei como responder a isso sem usar as palavras maluco e demente na mesma frase. - Ela respondeu sincera, se segurando para falar o mais normal possível, sem gritar. - Quer se mudar? Mude, eu não tentei fugir por causa da casa, eu tentei fugir de você e ainda vou tentar, aonde quer que você me leve. - Henry a observava, continuou - Tenho a impressão de que quando disse que nunca seremos um casal, ou que seremos felizes juntos, você não estava me escutando, por que deixei bem claro de que isso nunca aconteceria. - Falou, na maior paciência que encontrou, mas com convicção - Por isso, acho melhor deixar claro: Não, eu não quero e nunca vou me casar com você. - Disse devagar em alto som.

Henry não disse nada, apenas se voltou para o telefone em sua mesa e apertou um botão. "Venham até aqui", disse. Um minuto depois apareceram dois homens, eles olharam para Henry, esperando ordens.

– Segurem ela. - Ordenou, calmamente. Os homens obedeceram, Mônica tentou se esquivar, mas eles eram fortes. Cada um deles segurou um braço dela, não a deixando sair daquela posição. Henry se aproximou. - Talvez seja você que não tenha me escutado, eu avisei para não agir mais dessa maneira, depois eu a adverti após tentar fugir noite passada, agora rejeita meu pedido? Você não está me deixando escolha Mônica...

– O que vai fazer? Me matar?

– De jeito nenhum. - Ela tentou se afastar, mas ele conseguiu tocar o rosto dela. - Vou lhe mostrar que estou sendo sincero e que meus sentimentos por você são verdadeiros.

Henry se aproximou do rosto de Mônica e tomou os lábios dela para si. Ela se assustou e não reagiu, mas no momento em que ele tentou aprofundar o beijo com aquela língua nojenta, tratou de revidar.

– Ai!... - Henry gemeu de dor, se afastou um pouco e colocou a mão no lábio inferior. - Você me mordeu!

– NUNCA MAIS ENCOSTE EM MIM SEU PORCO NOJENTO! - Gritou e logo em seguida cuspiu na cara de Henry.

Henry agiu com reflexo de raiva e deu um tapa forte no rosto de Mônica. Pediu aos homens que a soltassem, mas que não a deixassem sair. Os homens saíram, deixando Mônica sentada no chão e Henry ainda em pé, sozinhos.

– Não deveria ter feito isso. - Disse Henry com raiva.

Ele se aproximou dela, quando se ajoelhou, ela o chutou na barriga com força. Enquanto ele estava sentado, Mônica se levantou rapidamente e tentou abrir a porta, mas estava trancada. Henry se recompôs, agarrou uma das pernas dela e a puxou para baixo. Ela tentou se esquivar das mãos dele, mas ele era forte. A agarrou pelo pescoço, e a deitou no chão. Henry se ajoelhou sobre ela, de forma que não conseguisse escapar tão facilmente.

– Agora... Sua garotinha levada. - Ele disse devagar, sussurrando ameaçador - Você vai ter o que merece. - Ele tentou beijá-la novamente, mas sentiu que iria mordê-lo. Henry socou a barriga de Mônica com força, machucando-a. - Não me morda! Só vai ser pior pra você.

Mônica ainda estava sentindo muita dor quando ele a beijou novamente à força, infelizmente, dessa vez, não o impediu. Ela tentou imaginar aquele momento como se estivesse tomando algum remédio líquido, faria logo de uma vez para aguentar o nojo e nunca mais fazer de novo. Retribuiu ao beijo de Henry, ele estava afoito, percorreu toda a boca dela com a língua. Mônica fechou os olhos com força, mas suas lágrimas saíram mesmo assim. Aquele momento durou pouco mais de um minuto, o pior minuto de Mônica. Assim que Henry terminou o beijo se afastou um pouco, mas não parou de olhar para ela.

– Até mesmo nisso, você me lembra Evangeline. - Ele disse - Você é perfeita.

Ele beijou o rosto dela várias vezes e fez um caminho, indo do seu pescoço até o colo. Henry abriu a blusa de frio dela e colocou a mão sob a blusa branca, tocando a barriga recentemente atingida. Quando ele pensou em tornar as coisas mais interessantes, Mônica reagiu.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– CHEGA! - Ela o empurrou, conseguiu espaço para rolar, ficando por cima dele. Henry tentou, mas não teve mais reação quando o joelho de Mônica atingiu a parte mais sensível dele. Ela se levantou e o viu gemendo e agonizando no chão, com o rosto completamente vermelho.

Demorou cinco minutos para ele se mexer de novo, a dor era tremenda. Se ajoelhou e levantou devagar.

– Tudo bem... Acho que me excedi um pouco. - Ele deu um meio sorriso. Andou até a sua cadeira e se sentou devagar. - Não precisamos ir rápido, você tem todo o tempo do mundo para se acostumar comigo. - Palavras não descrevem a resposta que Mônica pensou para isso. Henry se debruçou para alcançar o telefone. Apertou um botão e falou - Venham aqui. - Os homens que antes estavam ali reapareceram. - Levem ela de volta para o quarto e vigiem a porta para que ela não saia de lá.

– Sim senhor. - Um deles disse.

– Ah, e não me incomodem, dormirei aqui mesmo no escritório, tenho coisas a resolver. - Disse e olhou para Mônica. - Durma bem, meu amor.

Eles saíram do cômodo e Henry finalmente pôde gemer de dor à vontade. Tinha se esquecido como aquilo doía. Nem mesmo se quisesse conseguiria levantar da cadeira, pelo jeito, só quando amanhecesse mesmo. Mônica é muito teimosa, pensou, mas ainda continua sendo uma mulher, ela não perde por esperar.

Henry sorriu para si mesmo. Se debruçou com cuidado novamente, para alcançar um copo limpo e a garrafa de whisky. Avistou o copo de licor que dera para Mônica, mas ela nem chegou a beber. Pegou o copo e o misturou com o whisky. Bebeu tudo de uma vez para ver se a dor sumia um pouco. Colocou o copo em cima da mesa.

Dois minutos depois, a bebida parecia realmente fazer efeito. A dor tinha sumido. Entranhou aquilo, tentou se levantar, mas não conseguiu, não sentia mais seus membros inferiores e a dormência se expandiu rapidamente. Ele não sabia, mas o veneno que Bóreas escolheu era realmente um dos mais terríveis. Pertencia a um sapo que vivia nas profundezas do Amazonas, seu veneno foi nomeado: o silencioso. Ele fazia com que a vítima perdesse a sensibilidade dos membros em pouquíssimo tempo, sem qualquer dor, mas mesmo que ela soubesse, não teria como escapar. A morte era inevitável.

– M-Mas... O quê?... - Seus braços já não mais respondiam, sentiu dificuldade de respirar. - O que... Está... Acontecendo...? - Sua visão ficou turva, seu coração batia cada vez mais fraco. Henry conseguiu respirar profundamente mais uma última vez antes de apagar completamente. Seu coração aguentou mais um minuto e, finalmente, parou de bater.

...

A equipe de Larry trabalhou duro por muito tempo, a fim de encontrar qualquer pista que denuncie a localização de Bóreas. Alguns homens que estavam ajudando na investigação deram graças por não precisar trabalhar ao ar livre àquela noite, pois uma tempestade estava se formando e não seria nada legal ficar na chuva.

Larry estava dando mais uma olhada na casa, mas largou tudo quando recebeu um chamado de Pedro. Ele correu para esconderijo subterrâneo o mais rápido possível.

– Finalmente. - Disse Pedro assim que viu Larry chegando - Você vai gostar disso.

– O que encontrou? - Perguntou Larry.

– Isto. - Pedro abriu um programa no computador, Larry viu apenas mapas, números e nomes. Como não matou a charada de primeira, seu companheiro lhe deu uma força. - Não é à toa que Bóreas é bom no que faz, com essa ferramenta, ele pode encontrar quem ele quiser.

– Isso... É uma espécie de rastreador?

– Acertou. Esse programa é parecido com o que usamos na agência, só que melhor. Ele pode encontrar qualquer indivíduo através de redes, câmeras ou dispositivos móveis - Disse. - É por causa disso que ele conseguiu realizar todos esses trabalhos. - Se referiu à pilha de fichas que encontraram com nomes de pessoas já mortas. - Ele encontrou todos os seus alvos com isto, os estudou e aprendeu seus hábitos para deixar tudo mais fácil, o que quer dizer...

–... Que podemos usá-lo para encontrar Bóreas. - Larry concluiu o raciocínio. - Usar sua melhor ferramenta contra ele mesmo.

– Exatamente.

– O que está esperando? Procure-o!

– Você quem manda. - Disse.

Pedro pesquisou o nome de Bóreas no computador. Em uma primeira vez, a pesquisa não foi feita, Pedro esperou por isso, então tentou outro jeito. Fez a pesquisa usando mapeamento biométrico de Bóreas, o programa fez jus ao nome e procurou em todos os lugares. Algumas câmeras apareceram, mostrando o rosto dele, mas não o lugar atual. Alguns minutos depois a câmera o encontrou, Pedro clicou em um botão para ter uma imagem de satélite. A imagem começou mostrando o globo e foi se aproximando, dando um zoom cada vez maior. Quando parou, ele mostrou a localização de um casarão nas montanhas.

– Que ótimo, é uns quatrocentos quilômetros daqui. - Disse Bóreas meio desanimado. Ele tentou invadir o sistema de câmeras do casarão, mas não conseguiu. - Droga...

– O que foi?

– Trava de segurança militar, não vamos conseguir acessar essas câmeras tão cedo. Seria mais fácil irmos lá e acessar o computador.

– Consegue alguma informação sobre o dono da casa? - Perguntou Larry.

– Hum... - Pedro tentou, mas foi o mesmo que pesquisar nada. - A casa está tão escondida na rede como a localização dela, não há nada aqui.

– Então deve ser o lugar certo, vamos! - Larry ordenou. Os dois subiram as escadas e entraram na casa, havia agentes por todo o lado, pois do lado de fora, a chuva finalmente começou e caía forte.

"Não podemos usar os helicópteros com uma tempestade dessas, mesmo sendo o método mais rápido, seria arriscado demais", pensou Larry.

– Pedro, reúna uma equipe para ir conosco e outra para ficar aqui na casa. Vou chamar reforços, vamos até àquela casa imediatamente. - Disse.

– Sim senhor. - Pedro obedeceu, e foi fazer seu trabalho.

Quatrocentos quilômetros... Pensou Larry. Em um terreno de relevo, levariam horas, quem sabe chegariam até um pouco antes do amanhecer. Mas não faz mal, o importante é chegar lá de qualquer jeito. Esperava que Mônica estivesse lá, ainda viva, de preferência. Um raio cortou o céu, o barulho do trovão veio depois, "Aguente firme, Mônica", pensou Larry.