Clara POV ON

Agora, mais do que nunca, a merda estava feita. Eu tinha me esquecido completamente que o Renato poderia aparecer a qualquer hora.
- O que o Renato tá fazendo aqui, Clara? – o Bernardo perguntou, realmente confuso. Olhei pra ele e depois pra mim mãe, que já tinha percebido que não foi uma boa hora pra anunciar a chegada dele.
- A gente já tá descendo, mãe. Fala pra ele esperar um pouquinho. – eu disse e ela assentiu, saindo rapidamente do quarto. Pronto, era só o que me faltava. Estava tudo muito bom pra ser verdade. Só porque eu tinha me entendido de vez com o Bernardo. Só porque eu realmente estava me sentindo bem, em paz.
- Clara? – ele perguntou arqueando uma sobrancelha.
- A gente precisa conversar. Eu tenho umas coisas pra te contar. – eu disse e me levantei lentamente, evitando sentir as pontadas de dor que ainda me incomodavam. Saí do quarto e ouvi o Bernardo atrás de mim. Quando cheguei nas escadas, ele se postou ao meu lado, passando a mão pela minha cintura e me segurando junto dele, para me ajudar a descer. Olhei para baixo e encontrei a sala vazia. Mas ué, cadê o Renato? Depois que descemos as escadas, fui em direção a porta e a abri, dando de cara com um Renato inquieto e uma figura conhecida atrás dele de braços cruzados. O que essa menina estava fazendo aqui?
- Clara! – ele exclamou e seu sorriso logo murchou quando se deparou com o Bernardo atrás de mim.
- Eu disse, Renato, eu disse que ele estaria aqui com ela! E agora, quem é a vagabunda? – aquela voz ecoou na minha cabeça, me fazendo ferver de raiva.
- Amanda? – o Bernardo exclamou, surpreso.
- Clara... – dessa vez a voz dele estava carregada de mágoa.
- Renato, não. – eu disse dando um passo pra frente e ficando do lado de fora da casa.
- Você me disse que não havia nada entre vocês dois! – ele exclamou.
- Mas realmente não existia! – eu disse, levantando as mãos para encostar no ombro dele, mas ele recuou.
- Eu vinha aqui te ver sempre que eu podia, porque eu pensei que você precisava de mim! Mas eu vejo que não, né? Você tinha a ele o todo tempo. O que eu servi de quê? Peça substituta para quando vocês brigassem?
- O que está acontecendo aqui? O que vocês dois estão fazendo aqui? Porque ele tá falando essas coisas pra você Clara? – minha cabeça estava prestes a explodir. Me lembrei das vezes em que o Renato tinha vindo me visitar, e nós ficávamos deitados na minha cama, rindo e conversando, na maioria das vezes nos beijando.

“- O Bernardo ficou um pouco surpreso de você ter me convidado pra almoçar aquele dia. – o Renato comentou, passando as mãos pelos meus cabelos.
- Eu sei. Ele não esperava que eu fosse fazer um convite pra você. – comentei.
- Vocês não são muito próximos, não é mesmo? – ele perguntou.
- Não, não somos. Apenas colegas de classe. – eu disse.
- Ele não veio te visitar? – ele me olhou.
- Não. – engoli em seco, escondendo o fato de que foi o Bernardo que tinha me acompanhado até o hospital. – Nós não temos nenhum tipo de ligação pra ele se preocupar comigo, Renato. – eu respondi e me inclinei para beijá-lo mais uma vez.”


- Eu estou dizendo essas coisas pra ela, Bernardo, porque nós estávamos ficando. Pelo visto eu não fui o único a ser enganado aqui. – o Renato disse, cruzando os braços.
- VOCÊS ESTAVAM O QUÊ? – o Bernardo elevou a voz – Mas como? Isso é verdade Clara? – ele perguntou claramente perturbado. Abaixei a cabeça e fiquei em silêncio. Ele saiu do meu lado e se prostrou em minha frente, levantando minha cabeça me obrigando a olhar pra ele. – Isso é verdade? – ele perguntou dessa vez mais baixo.
- É. – respondi, sentindo meu rosto arder de vergonha e ódio de mim mesma.
- Eu não posso acreditar nisso. – o Bernardo disse se virando e passando as mãos pelos cabelos. – E você Amanda, o que está fazendo aqui?
- Quem você acha que trouxe o Renato aqui pra presenciar os pombinhos juntos? Você realmente achou que eu iria deixar barato? Você me procura, dorme comigo, e depois age como se tudo estivesse bem. Como se eu não soubesse que você só pensava nela. – Respirei fundo e fechei os olhos – É tudo culpa dela, queridos. Os dois príncipes enganados pela princesa. – ela riu, sarcástica – ou melhor, pela plebeia. – fechei meus olhos e respirei fundo, me controlando para não voar no pescoço dela. Eu sabia que eu estava errada, eu não podia complicar a situação mais ainda.
- É com isso que você me retribui depois de tudo o que eu te falei agora? – o Bernardo me perguntou com a voz e os olhos nadando em mágoa.
- Você não pode me cobrar nada, Bernardo. – eu disse baixo.
- Ah, não posso? – ele elevou um pouco a voz e deixou um tom surpreso sair de sua boca.
- Claro que não! Eu não podia adivinhar que você iria chegar e falar todas aquelas coisas pra mim! Eu não podia saber! – senti meus olhos arderem, o nó na minha garganta voltar e a vontade de chorar me consumir.
- E mesmo antes você logo tratou de ir atrás do Renato, não é? Olha Renato, - o Bernardo se virou pra ele – não sei o que ela te falou, mas com certeza ela te usou pra me atingir. – o Renato arregalou os olhos, olhando pra mim incrédulo.
- QUÊ? NÃO! – eu gritei – Eu estava com o Renato porque eu realmente me sentia bem perto dele! Ele chegou em um momento que eu estava precisando de alguém! Depois de todas as palhaçadas que você fez comigo, depois de tudo o que você me disse, e ainda mais com a separação dos meus pais, eu estava beirando um abismo! – senti as lágrimas rolarem enquanto eu gritava. Ouvi a risada sarcástica da Amanda de fundo.
- Você mentiu pra mim, Clara. – o Renato disse baixo, antes que o Bernardo retrucasse – Você disse que vocês dois não tinham ligação nenhuma, pelo que você falava vocês eram estranhos um pro outro! E agora você vem com toda essa conversa de “depois de tudo o que você fez pra mim”! O que foi que ele fez pra você? – ele agora estava quase gritando também. Dirigi meu olhar ao rosto da Amanda, que se divertia com tudo isso.
- QUAL É O TEU PROBLEMA GAROTA? O QUE EU TE FIZ PRA VOCÊ FAZER ISSO COMIGO?! – gritei e deixei que todo meu controle sumisse, e parti pra cima dela com toda raiva que eu estava sentindo. Antes que eu pudesse chegar até ela, quatro braços me seguraram e me colocaram de novo no meu lugar. – EU NÃO VOU FALAR NADA ENQUANTO ESSA BISCATE ESTIVER AQUI! VAI EMBORA! VOCÊ NÃO ACHA QUE JÁ ME ARRUINOU O SUFICIENTE? EU NUNCA FIZ NADA PRA VOCÊ! SAI DAQUI, SAI! – eu berrava. Pude ver alguns curiosos colocarem a cabeça pra fora da janela, esperando que mais alguma coisa acontecesse. O Renato e o Bernardo pediram para ela ir embora, para que eu pudesse voltar ao meu estado normal. Antes dela sair, ela deixou as seguintes palavras:
- O que você me fez? – ela riu – Se você não existisse, querida, ele teria olhos apenas para mim. – ela apontou para o Bernardo – E se ele não me quer, a você ele também não vai querer. – E saiu andando, como se nada tivesse acontecido. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, eles me puxaram pra dentro de minha casa e fecharam a porta. Era agora ou
nunca.

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