Tanya Denali

Capítulo 8. Surpresas


8. SURPRESAS

Desembarquei em minha última estação em Bolzano, extremo norte da Itália e tratei de, imediatamente, alugar um carro, pois precisaria dirigir para o extremo oeste da região do Alto Ádige de Trentino, na direção da fronteira com a Suíça. Atravessaria uma grande extensão florestal, onde eu poderia caçar com facilidade, até chegar a Sluderno.

Era lá – em Sluderno – que eu deveria encontrar Marconi Simeonini, curador do acervo histórico do Castelo de Churburg e irmão de Gianna. Bom, ao menos era isso que estava escrito no envelope que ela me entregou. Eu acelerava na mesma velocidade em que minha mente processava tudo que li no diário de Athenodora.

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Então, lobisomens Filhos da Lua são muito distintos dos transmorfos de La Push. Eles se transformam somente durante a fase da lua cheia, mas não me ficou claro se era somente durante a noite ou se desde que fosse período de lua cheia, eles poderiam se transformar na luz do dia também. Eu precisava descobrir isso. Eles ficam enfraquecidos quando passa a fase da lua cheia e à medida que a lua cresce novamente sua força volta aos poucos. Assim, podem ser presas fáceis dos vampiros, os quais também consideram como inimigos naturais com a missão instintiva de exterminá-los. Rômulo era um lobisomem, assim como seu filho com Athenodora, Tirreo. Ele teve predecessores na linhagem e sucessores também, uma vez que Tirreo deixou descendente. Mas, qual é a origem deles?

As mulheres não podem se transformar, mas seus filhos varões sim, desde que tenham o Sinal da Lua Cheia, assim como Rômulo e Tirreo possuíam. Os sinais têm diferenças de uma linhagem para a outra, mas não entendi bem que diferenças são essas. As diferenças entre as linhagens estão somente nos sinais? Quantas linhagens existem? Também preciso descobrir isso.

Muitas outras dúvidas, no entanto, surgiam com tudo isso. Afinal, eles atacam humanos ou não? Eles têm perfume agradável quando estão fracos e fedem quando estão transformados? Por que os lobisomens de La Push fedem em qualquer forma... Athenodora só citou o perfume da flor. O odor desagradável que Caius reconheceu é o que rastreei na Antártida? Todos têm este perfume da tal flor rara, o obsidinium?

Essas, na verdade, são somente algumas dúvidas, mas ainda há tanto a perguntar... Mas pra quem?

Além disso, ainda estava preocupada com a abordagem ao irmão de Gianna. O quanto ele sabia de tudo isto e do paradeiro de sua irmã. Eu sequer sabia o que ela fazia lá, em Volterra, e grávida, dentro do covil Volturi. Ela parecia saber onde estava e o que nós éramos... Disse que queria ser um deles e seria fiel... Ela não sabia de sua ascendência muito especial? Será que seu irmão sabe? A própria Athenodora descobriu isso há tão pouco tempo...

Preciso encontrar um lugar em Sluderno, assim que chegar, para deixar minha bagagem e fazer contato com Carlisle. Com certeza, Edward e Alice podem me esclarecer alguns pontos cegos nessa história.

Deixei minha mente voar ao sabor da estrada, da mesma forma que o carro fazia. Pensava agora em Athenodora. Em como deve ter sido insuportavelmente difícil para ela desposar o vampiro que destruiu sua família de tal forma. Imaginei seus primeiros meses de segunda vida, como recém-criada, o ódio, a impotência.

Bom, a essa altura ela já se deu conta de que alguém esteve em seu quarto. Todos já devem ter sentido meu cheiro lá... Será que ela deu por falta das folhas arrancadas do seu diário? Será que notou que o diário do ano de 1207 não está mais lá?

Cheguei à Sluderno algumas horas depois e não foi difícil encontrar um hotel. Uma vez instalada, liguei para Carlisle e ele preferiu conversar via internet, novamente.

– Tanya! Como é bom ver que você está bem! Ficamos muito preocupados.

– Desculpe Carlisle. Mas não planejei nada daquilo. Simplesmente aproveitei uma oportunidade única! – neste momento Edward juntou-se a Carlisle na conversa, falando por sobre o ombro de seu pai:

– Olá, Tanya! Alice viu que você precisaria falar comigo ou com ela. Em que podemos ajudar? Ela saiu com Bella e Nessie, mas pediu que eu aguardasse pelo seu telefonema junto com Carlisle. – disse ele sorrindo levemente.

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– Sim, Edward. De fato, vocês podem me ajudar. Descobri muitas coisas interessantes invadindo o castelo dos Volturi, – comecei explicando aos dois. – Eleazar já deve ter contado o que eu trouxe comigo de lá... – eles assentiram. Carlisle com a expressão preocupada, Edward admirado. Eu continuei. – Pois bem, quando eu ia saindo pelo corredor de acesso aos aposentos, senti cheiro humano muito forte em um dos quartos, acompanhado por gemidos de mulher. Pois, preparem-se para a bomba: há uma mulher grávida e doente acamada no castelo de Volterra, e seu nome é Gianna. Ela se lembra de você, Edward, de Alice, até de Bella, e por causa dos meus olhos, dourados como os seus, ela me confiou uma carta para que fosse entregue ao seu irmão. E agora, estou aqui, no norte da Itália a procura dele.

Os dois estavam estupefatos. Carlisle levou a mão direita ao queixo pensando nas minhas palavras e virando para olhar para Edward como se esperasse que os dois tivessem tido o mesmo insight sobre o que eu contei. Edward falou primeiro, respondendo a nós dois.

– Gianna é uma humana que trabalhava como uma espécie de recepcionista na empresa de fachada deles. Bella ficou muito intrigada com a presença dela ali, mas pelo que pude ver dos pensamentos dela, ela sabia muito bem onde estava e sua intenção era tornar-se um deles. Ser transformada em vampira. Só que pelo que Alice previu, não eram bem esses os planos deles para ela. Alice previu claramente, quando saíamos de lá, que ela viraria refeição... – explicou Edward entre a confusão e o pesar. E diretamente para Carlisle, indagou:

– Você acha que eles podem ter...

– Sim, Edward. Acho que imaginamos a mesma coisa... Grávida, com aspecto de doente... Parece que, depois da visita à Forks e a nova perspectiva de Aro, sobre as potencialidades de nossa espécie, eles mudaram seus planos com relação à jovem humana. Mas de qual deles seria?

– Ei! Vocês podem, por favor, me explicar do que vocês estão falando! – reclamei.

– Tanya, achamos que eles engravidaram a moça, com o intuito de gerar, eles mesmos, seus próprios híbridos de vampiros, quem sabe, tão especiais quanto Nessie. – explicou Carlisle.

– Oh! – eu ofeguei. Não encontrava palavras diante de tamanha crueldade. O futuro de Gianna seria a morte de qualquer jeito. Não servindo de refeição, seria reprodutora.

– Eles, sem sombra de dúvida, não vão fazer por ela o que você fez por Bella, Edward. Ela vai acabar morrendo quando a criança, sem mais espaço em seu ventre, abrir caminho com os dentes para sair. – completou Carlisle.

Eu estava completamente perplexa. Um sentimento de culpa se apoderou de mim e, deve ter ficado estampado em meu rosto, porque Carlisle apressou-se em me dizer:

– Tanya, não fique assim. Não há nada que você pudesse ter feito por ela. E, além disso, Gianna deveria saber com quem estava se metendo. – eu assenti, sem me deixar convencer pelo argumento de Carlisle.

– A essa hora, possivelmente, ela já está morta. A barriga já era tão grande... – conjecturei, envergonhada. Mas, logo me recompus, eu ainda podia fazer algo por ela: encontrar seu irmão e entregar-lhe a carta, mesmo que fosse tarde demais.

Então, relatei aos dois tudo que li nos registros de Athenodora, e depois, despedi-me de Carlisle e Edward. Imediatamente fiz contato com minha casa, falei com Kate, Eleazar e Carmem haviam saído para caçar e ela ficou esperando, junto com Garret, que eu fizesse contato. Contei tudo para ela, que me ouviu surpresa e preocupada. Logo depois, saí para procurar pelo Castelo de Churburg.

Ainda era madrugada. Sluderno despertava preguiçosamente, e por sorte, o tempo estava nublado. Não tive dificuldade para encontrar seu principal ponto turístico. Só que o castelo ainda estava fechado àquela hora. Resolvi ir correr um pouco, fazer uma caçada rápida no parque florestal e garantir aconchegantes olhos dourados, para encontrar o irmão de Gianna.

Não fui tão longe à procura de animais de grande porte, por isso, me satisfiz com um pequeno grupo de lebres, sem precisar procurar por muito tempo. Bebi todas elas e sequer sujei minha roupa. Quando voltei, os funcionários do Castelo já se preparavam para mais um dia de visitação pública e eu, pelo visto, seria o primeiro turista a entrar.

Visitei os corredores medievais e as obras de arte sem grande emoção. Depois disfarcei e comecei a procurar pelo escritório do curador. Não foi difícil achar o setor administrativo, e na última sala daquela ala do castelo, havia uma placa na porta, que indicava que era o que eu estava procurando: Marconi Simeonini – Curador do Acervo Histórico. Eu bati na porta suavemente. Uma voz de ancião respondeu lá de dentro:

Entrare. – eu girei a maçaneta e entrei lentamente fechando a porta atrás de mim.

Marconi Simeonini era um senhor com seus setenta anos de idade. Cabelo branco, baixo, não era gordo, mas também não era magro demais. Usava óculos de armação arredondada e preta. Estava sentado em frente à porta, atrás de uma grande mesa de madeira de cabeça baixa, escrevendo e ainda não havia olhado para verificar quem tinha acabado de entrar em sua sala, com o seu consentimento. De certo, pensava que fosse algum dos funcionários do Castelo.

O escritório era decorado austeramente. Grandes estantes cheias de livros, um tapete persa que cobria praticamente toda a extensão do chão. A mesa de trabalho, em que Marconi estava, ficava de frente para a porta e ele sentado, estava de costas para a grande janela, que estava fechada, devido ao frio, que deveria estar incomodando os humanos. Havia duas cadeiras em frente a sua mesa. No canto, uma mesinha com garrafas térmicas, com xícaras e pires de porcelana para chá e café.

Aproximei-me lentamente da mesa e tentando agir como humana, disse alegremente:

Buon giorno, signore!

Ele levantou a cabeça assustado, de certo, com o som da minha voz. Obviamente, eu não era quem ele pensou que fosse. Quando ele olhou para mim, uma série de emoções atravessou seu rosto. Consegui ver surpresa, mas uma surpresa diferente. Era a grata surpresa de quem encontra um velho amigo que não vê há muito tempo. A surpresa veio seguida de medo, pavor, como se ele soubesse exatamente que era uma vampira que estava diante dele. O que estava havendo aqui? Comecei a me perguntar se talvez ele soubesse muito mais do que eu poderia ter imaginado.

Signore Marconi Simeonini? – eu perguntei em italiano, sorrindo para acalmá-lo.

– S... Sim?! – ele gaguejou.

– Meu nome é Stacy Phelps. – achei melhor não estender-lhe a mão para um aperto. Minha temperatura poderia assustá-lo ainda mais. Preferi usar o nome dos meus documentos falsos, apesar do sotaque, e continuei. – O senhor tem uma irmã chamada Gianna? – ele pareceu lívido, com a menção ao nome de sua irmã.

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– S... Sim... A senhorita co-conhece minha irmã?

– Trago uma carta dela para o senhor. O senhor está bem? – perguntei fingindo inocência. Conversávamos em italiano.

– C-claro! Sente-se, per favore, Ms. Phelps. – ele gesticulou para uma das cadeiras a sua frente e respirou algumas vezes profundamente, como se tentasse se acalmar. Depois, como se lembrasse de algo importante, ofereceu-me. – A senhorita aceita café? Ou chá?

– Não obrigada! – eu sorri, ele estreitou os olhos. Pareceu mesmo que ele estava me testando?

– A senhorita conhece Gianna de onde? – ele perguntou vacilante. Porém, quando eu me preparava para inventar uma história, algo sobre a mesa dele me chamou a atenção: meu celular, que havia sumido na Antártida.

Simeonini seguiu meu olhar, tentando entender minha pausa. Quando viu pra onde eu olhava, ele apressou-se para pegar o aparelho. Um rosnado, involuntário, irrompeu no meu peito, ele amedrontado, imediatamente retirou sua mão e deixou o celular onde estava. Eu, abandonando a farsa, perguntei sem rodeios:

– Onde conseguiu este celular? É o meu celular! Eu o perdi. – minha voz começou a se alterar um pouco. Não imaginei ver meu celular ali e, sem pensar no que fazia, peguei o aparelho e o levei ao nariz. Simeonini arfou.

Senti meu cheiro bem fraco, mas era o meu cheiro com certeza. O péssimo odor que rastreei também estava lá, tão fraco quanto o meu cheiro. E, o mais forte de todos, o cheiro do próprio Simeonini. Inalei profundamente para ter certeza, e sim, havia estes três cheiros.

– A... acalme-se. N-nós não tínhamos ideia de quem poderia ser. N-não havia na-nada que pudesse indicar o dono. – apesar de trêmulo e gaguejando, ele ainda tentava falar pausadamente, tentando me acalmar. Ele continuou. – Olhamos a agenda, mas nenhum nome era familiar.

– Nós? – perguntei sem deixar passar o plural que ele usou.

Ele fez uma pausa, suspirou profundamente e me respondeu:

– Sim. Se, de fato, a senhorita é a dona deste celular, deve imaginar que não fui eu quem o encontrou. – disse ele levantando uma sobrancelha.

– E por que eu deveria?

– Porque a senhorita sabe que eu não poderia estar, facilmente, no lugar onde ele estava caído. Porque quem o encontrou, na verdade, estava sendo caçado pela senhorita. – ele me encarou nos olhos, respirando pesadamente, seu coração batia furiosamente em seu peito e por um segundo temi que o velho Simeonini pudesse sofrer uma parada cardíaca.

– O senhor sabe, não é? – perguntei diretamente, ele entenderia.

– Se está se referindo ao fato de eu saber que a senhorita é uma vampira, a resposta é sim, eu sei. – agora parecia que o coração dele ia saltar garganta acima. Tratei de acalmá-lo.

– Respire e acalme-se, senhor. Não vou machucá-lo.

– Quem garante...

– Não me alimento de sangue humano. Sou vegetariana. Caço somente animais. – respondi com sinceridade.

– Vegetariana? Nunca ouvi falar de nada parecido.

– Olhe para os meus olhos, senhor. Por isso não são vermelhos.

– Estranhei quando os vi, mas podem ser lentes...

Apoiei minhas duas mãos na mesa, me levantei lentamente e me aproximei dele, até ficar a dez centímetros de sua face. O coração dele voltou a saltar em seu peito.

– Não. Uso. Lentes. – disse pausadamente, olhando em seus olhos. – Meus olhos são dessa cor.

Ele arfou e sussurrou, mais para si mesmo:

– Dourados... – e continuou boquiaberto me olhando e pensando, por alguns minutos, perdido no meu olhar. Gastou mais alguns minutos olhando para o meu cabelo. Por fim, me sentei novamente e perguntei decidida, esperando uma boa explicação:

– Então, se o senhor sabe que eu perdi meu celular na Antártida, como ele pode ter vindo parar sobre sua mesa?

– Se minha irmã confiou em você a ponto de lhe pedir que me trouxesse uma carta, acho que também posso confiar... – ele sussurrou ponderando, e depois falou, me olhando fixamente. – Quem encontrou e me trouxe seu celular? A resposta é simples. Aquele que você caçava...!

Eu arfei sem poder acreditar...