Tamaran

Ruínas


“Já faz uma hora que começaram a busca.” A figura armada disse enquanto descia do céu e pousava ao lado do grupo de monstros. “Quero novidades!”

“Bom, mestre, um de nós conseguiu identificar um leve rastro de patas humanas. Porém, este estava gasto devido aos demais animais que por lá passaram e não pudemos prosseguir com a missão...”

“Idiotas!! Isso é tudo que podem fazer?! Achei que fossem ao menos capazes de achar os rastros daquelas pestes!!”

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“Estamos fazendo o máximo que podemos, chefe. Acredite, aqueles terráqueos não vão escapar!”

“É bom mesmo, pois se escaparem...” Ele então sacou uma pequena navalha com um veio vermelho luminoso na ponta. “... vou ter que estrear meu novo brinquedo. Já até estou pensando em quem será minha cobaia!...”

A criatura engoliu seco. Mesmo estando cobertos por uma lente escurecida, de forma que era praticamente impossível vê-los, sabia que os olhos de seu líder estavam apontando para seu rosto.

Por sorte, o clima pesado que o tamaraniano de armadura estava causando contra o servo foi interrompido em poucos segundos devido a um forte rugido de uma das bestas.

Era um sinal. O aviso de que haviam encontrado algo importante para que pudessem capturar os cinco fugitivos. Ou ainda, quem sabe os tivessem encontrado e encurralado?

Assim, sem sequer pensar duas vezes, o guerreiro e seu servo correram ao local de origem daquele som forte. Minutos depois, já estavam em frente à meia dúzia de bestas que cercavam um dos seus, justamente o que tinha rugido e invocado a todos.

“O que está havendo? Achou alguma coisa?!” O tamaraniano queria ir logo ao ponto.

“Na verdade sim. Essa pedra foi removida de seu lugar anterior e foi usada para bloquear uma passagem. Achamos que foi... um abrigo recente.”

“Ora essa. Se acham que foi um abrigo usado pelos pirralhos então o que estão esperando pra tirarem logo essa pedra do caminho?! Andem logo!!”

O monstro murmurou algo baixinho que fora impossível de se entender, mas com certeza era um insulto ou reclamação pelo mau trato recebido. Assim, como a pedra não era muito grande ou pesada, foi rapidamente removida.

Depois de sua remoção foi possível notar que a passagem era um tanto estreita. Ciborgue devia ter tido um pouco de dificuldade ao passar por ali, e se comparássemos o titã com qualquer uma das bestas ali presentes diríamos, sem hesitar, que estas deviam ter de duas a três vezes seu tamanho.

Ou seja, nenhum dos guardas poderia entrar.

“*suspiro* Então eu vou lá já que estou acostumado a fazer tudo por aqui! Vocês não passam de inúteis mesmo!!” O mestre gritou pouco antes de desaparecer na leve escuridão que invadia a caverna. Mas logo prosseguiu. “Vão fazendo algo que preste pelo menos, como buscar por outros rastros! Não to a fim de continuar olhando pra suas caras quando voltar...”

Eles apenas trocaram olhares nervosos e, em seguida, se dissiparam por entre as árvores sombrias que formavam a floresta.

O comandante então começou a vasculhar o que antes era um refúgio de cinco jovens. As cinzas da fogueira já indicavam esse fato. Principalmente as pegadas recentes e marcas de que algumas pessoas haviam dormido em certos pontos. Ao ver rastros se prolongando até uma das paredes que formavam o local, como pés arrastados pelo chão quando um corpo fosse, digamos, puxado por algo ou alguém, o sujeito logo chegou a uma conclusão.

“A maldita abriu outro portal.” Murmurou para si mesmo enquanto socava a parede que fora usada para a fuga dos heróis. Porém, também viu que havia cinco tipos de pegadas marcando o solo. Isso significava que Estelar já estava desperta. Caso contrário, deveriam ter apenas quatro tipos distintos. “Então quer dizer que minha amiguinha já acordou... se não me engano sobre aquelas pestes, eles bem que pediriam uma ajuda dela pra poder fugir pra um lugar seguro, fora de meu alcance. Afinal, Estelar conhece muito bem seu planetinha de origem!”

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O guerreiro se desencostou da parede e começou a caminhar para a passagem, fazendo menção de partir.

“O que ela não sabe é que eu também conheço muito bem esse planeta. Assim como todos os lugares que ela costumava freqüentar aqui! Agora, eu já tenho certeza do lugar onde ela e o bando de covardes estão...” Ele prosseguiu sua fala enquanto voava da fenda na rocha. “Então porque não fazer uma surpresinha pra eles? Aposto que ficarão muito felizes em me ver novamente. Caso não, pra mim tanto faz! Vou acabar com eles mesmo... hahahaha!!”

Agora, o tamaraniano atravessava o céu numa velocidade incontrolável, chamando a atenção de todos logo abaixo, como seus seguidores e outros animais da região. Ele estava decidido. Encontraria os cinco e os aprisionaria novamente. Também, quem sabe, poderia dar um ‘lição’ na garota que tanto odiava. Isso a faria pensar duas vezes antes de o desafiar uma segunda vez.

Mas também estava em uma forte dúvida sobre isso. Não sabia se continuaria sua diversão, torturando Estelar e mantendo-a presa, ou acabaria com aquilo de uma vez por todas, cumprindo seu maior desejo. Talvez o gosto de ver a titã morrer em suas mãos fosse tão bom quanto faze-la sofrer ainda mais com seus castigos. Ou talvez não?

Bom, o que ele queria mesmo era acabar com a raça dela, mas fazer isso tão rápido e de uma só vez não seria tão... divertido! Tinha que ter algo mais. Faze-la sofrer uma morte lenta e agonizante. De forma que sua missão fosse cumprida da forma mais brutal e cruel que algum tamaraniano já fizera na história daquele planeta ou galáxia. Se tornar assim um o general mais conhecido por seus atos violentos e ser temido por todos ao seu redor. Se isso ocorresse, seu domínio em outros planetas seria quase impossível de ser evitado, já que todos os seres teriam medo pelas conseqüências, isso incluía os tamaranianos e as bestas que tinha como escravos e servos.

Enquanto pensava assim, mantinha um sorriso maligno no canto dos lábios e tocava num pequeno instrumento que mantinha numa das cápsulas da armadura. Sim. Era aquela navalha que antes fora mencionada.

“Bom, em breve verei se isso é tão bom quanto dizem.” Ele murmurou com uma risadinha. De fato, se deliciava enquanto visualizava a cena da morte de Estelar na sua mente.

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Mais ao norte, no ponto mais alto da civilização abandonada, havia uma grande e longa rocha pontiaguda que se estendia em direção ao céu como se fosse uma montanha, só que um pouco mais fina. Ela servia de suporte para o famoso palácio de Tamaran.

Este sempre fora um motivo de orgulho para os habitantes daquele planeta e inveja aos demais inimigos. Não era à toa. Possuía detalhes feitos desde metais valiosos como ouro até pedras preciosas e raras. Também servia como principal depósito de armas de guerra feitas do melhor material existente, local de treinamento e possuía uma praça para pequenas festas e celebrações. Um lugar realmente magnífico, segundo os tamaranianos.

Bom, pelo menos costumava ser.

Agora o que era repleto de beleza com suas torres luxuosas não passava de uma construção cinzenta e terrivelmente opaca. Sem falar que muitas partes estavam praticamente em ruínas. As paredes que restaram apresentavam sinais de terem sido incendiadas há um bom tempo e não eram mais enfeitadas por todas aquelas riquezas, mas sim manchas de sangue seco e profundas rachaduras.

Aquela construção, juntando com a cidade completamente abandonada, fazia com que um ar sombrio possuísse a região. Como se esta estivesse... morta.

Porém, na grande varanda de uma das largas janelas circulares do castelo, uma sombra parecida com um redemoinho se formou logo acima. Era bem pequena, mas forte. Tanto que alguns fragmentos que se desalojaram das paredes danificadas acabaram movendo alguns metros devido ao vento gélido que era soprado. Passado pouco tempo, o portal se abriu bruscamente e jogou quatro titãs no chão com a mesma força que empurrara a pedras.

“Caramba, Rae, será que não dava pra fazer um pouso melhor?!” Mutano estava massageando a cabeça com uma das mãos e mantinha um olhar irritado sobre ela. Ravena fora a única que não tinha sido jogada no chão devido ao fato de que era ela quem controlava o portal, e o garoto achava isso uma verdadeira injustiça.

A empata apenas o ignorou e começou a observar onde estava assim como os demais fizeram. Mas aparência não era das melhores...

“Onde estamos, Estelar?”

“No castelo, Robin. Não o reconheceu?” Só então ele percebeu que aquela varanda enorme era a mesma que subiu para discutir com a amiga a fim de convence-la a desistir daquele casamento arranjado na última vez que os titãs visitaram o planeta. Mas ainda assim não acreditava que fosse esse lugar. As cores tinham sumido e deram lugar a um cinza horrível e gasto. Parecia até que alguém tinha raspado cada centímetro das paredes.

“Peraí, eu devo ser daltônico porque, pelo que me lembro, esse lugar era mais...”

“Colorido?” Ravena interrompeu o robô.

“É!”

“Caso não tenha notado, essas paredes foram queimadas há uns dias. Por isso a perda de coloração.” Estelar disse depois de examinar uma parede com sua mão direita, provocando um pequeno descascamento da mesma. “Quando cheguei no planeta e vi que a cidade estava vazia, decidi vir até aqui para ver se havia mais alguém... e encontrei o castelo assim. Depois me afastei em busca de ajuda e foi nesse momento que as criaturas me capturaram e me levaram àquele lugar horrível.”

“Deve ter sido aqueles caras que deixaram esse lugar um caco...”

“Não me diga... como chegou a essa conclusão genial, Mutano?” Ravena voltou ao seu tom cínico mais uma vez.

“Ah, dá um tempo, Rae!”

Estelar tentou ignorar a semidiscussão daqueles dois e decidiu entrar no que antes era seu quarto. Estava ainda pior que sua visão exterior. Todos os objetos importantes que ela deixara ao partir foram reduzidos a pó e os que restaram estavam em pedaços ou queimados assim como as paredes. Uma pilha de fragmentos cristalizados se encontrava numa das extremidades do recinto. Provavelmente formava o belo espelho que enfeitava o lugar antigamente. O que não fora totalmente destruído ou muito danificado estava virado e espalhado por todos os cantos, como a cama, mobília e etc.

Para Estelar, ver seu antigo quarto daquela maneira era de partir o coração. A maior parte de sua vida estava lá e agora... foi arruinada.

“Star?” Robin percebeu a ausência da amiga e olhou para a entrada do quarto a fim de ver se ela estava dentro, mas a escuridão era tanta que chegava a ser impossível ver algo por lá. Por isso, tentou se aproximar vagarosamente para confirmar a suspeita.

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Tudo o que pôde ver foram os destroços espalhados por toda parte. Uma cena que o assustou na hora. Por que alguém destruiria um castelo inteiro enquanto a cidade permanecia intacta? Parecia não fazer muito sentido. Normalmente, um vilão com intenção de dominar um planeta ou algo parecido simplesmente passaria por cima de tudo à sua frente. Não só um palácio. E pelo fato de que aquele soldado tinha praticamente todos os tamaranianos sob seu controle, era estranho não ter destruído nada além daquilo...

Robin então interrompeu o pensamento e se lembrou do motivo pelo que entrara naquele quarto. Não era hora para bolar supostas causas que o vilão encontrara para cometer tal destruição. Tinha que ver se Estelar estava bem...

Enxergar naquele lugar estava parecendo um verdadeiro desafio. Havia uns orifícios nas paredes que permitiam a passagem de alguns pequenos veios de luz, mas que não ajudavam muito a melhorar a visão do herói. Tudo que podia ver eram vultos, sombras. Só conseguiria designar um objeto por lá se o tocasse ou o aproximasse de seus olhos. Mas, devido aos estragos feitos, provavelmente nem esse método possibilitaria o reconhecimento de qualquer coisa que estivesse ali...

Por sorte, foi possível ver a sombra de uma garota ajoelhada numa das extremidades. Estelar, claro. E, mesmo não vendo seu rosto, Robin percebeu uma certa tristeza nela.

“Star.” Ele disse, pousando uma mão no ombro dela. “Tá tudo bem? O que houve?”

“Estou... preocupada.” Disse com uma pausa a fim de recuperar um pouco de ânimo e tentar não preocupar o líder. Falhou! “Se fizeram isso com o palácio, então o que aconteceu às pessoas que moravam aqui?”

“Devem estar servindo de escravos como aqueles tamaranianos que a gente viu lá perto da fortaleza.”

“Mas, Robin, Galfore não estava lá...”

Aquilo pegou a garoto de surpresa, Estelar tinha razão. O principal motivo de a titã ter começado a viagem para o planeta natal era a tal missão de Galfore. Então, se tudo aquilo não passara de uma armadilha para ela, o que teria acontecido com ele? Um guerreiro como aquele era praticamente impossível de ser preso ou intimidado, mesmo por aquelas feras. Então não era novidade alguma o fato de que não estava no meio dos escravos ou numa cela da fortaleza. Talvez também tivessem armado uma missão falsa para que ‘se livrassem’ de Galfore e começassem o plano do rapto de Estelar... mas o tamaraniano era bem esperto. Não cairia numa armadilha dessa, cairia??

“Bom... eu não sei o que pode ter acontecido... mas Galfore é um cara forte, ele deve estar bem.”

“Eu espero que sim...” Ela suspirou, angustiada. “Queria tanto saber quem teria feito... isso... com o castelo...”

“A gente vai descobrir, Star. E ele vai pagar caro por tudo que fez a você naquela fortaleza!”

“Primeiro eu gostaria de saber o motivo pelo qual me machucou. O que eu devo ter feito de errado? Deve ter sido algo bem grave para-”

“Star.” Ele interrompeu. “Star, me escute. Você não fez nada de errado e sei que nunca faria. Aquele cara é louco e só está botando mentiras na sua cabeça pra tentar te atormentar e enfraquecer. Quer que fique vulnerável.” Estelar até o momento não olhara para o rosto do rapaz ao lado, estava angustiada demais. Ainda não tinha esquecido as palavras do sujeito quando esteve na sala de tortura...

“O que... o que eu te fiz para que me tratasse de forma tão... brutal?...” Ela mal conseguia abrir os olhos. Seu corpo inteiro estava latejando de dor.

“Quer mesmo saber?”

Ele se agachou em frente a ela e começou a sussurrar.

“Você nasceu!”

Porquê um tamaraniano teria tanto ódio pela sua existência a ponto de machucá-la daquele modo, destruir seu antigo lar e escravizar todos os moradores da civilização? Talvez Robin esteja certo. Ele devia ser um louco...

Robin, vendo como a amiga estava triste, se lembrou de algo que guardava em seu cinto há um bom tempo. Algo que pertencia a ela. Então, era quase que um dever seu devolver o objeto...

“Erm... Star.” Ela o olhou e fez um sinal com a cabeça para que continuasse. “Acho... que isso é seu.” Robin estendeu a mão com a palma virada para cima, carregando a pedra esverdeada. Foi então que, pela primeira vez naquele dia, Estelar deu um leve sorriso. Um sorriso um tanto tímido, mas foi único meio de agradecer que encontrou naquele momento. O que fez em seguida foi se virar para tentar encaixar o objeto em seu devido lugar...

Ela estava mesmo muito feliz pela devolução do objeto, só não soube expressar-se.

“Encontrei isso no meio da floresta. Estava todo... sujo de sangue...” Robin murmurou as últimas palavras em baixo tom. Odiava lembrar daquilo. “Que bom que, no final, tudo acabou dando certo.”

“É...” Estelar não queria, mas ainda demonstrava seu desapontamento. Ver o lar naquele estado lhe causou uma ferida que parecia demorar a cicatrizar. Robin percebeu isso.

“Star, sei que está triste pelo que aconteceu, mas as coisas vão melhorar, eu prometo!” Ele poucou sua mão no ombro de Estelar uma segunda vez. Ela então olhou para o garoto ao seu lado a tempo de ver mais um daqueles sorrisos confiantes que este sempre esboçava. Aquilo, de alguma forma, fazia com que se sentisse melhor. Restaurava parte de seu ânimo uma vez perdido.

Assim, sem dizer uma só palavra, ela o abraçou. Não aqueles abraços sufocantes que sempre dava nos amigos, mas um que esboçasse seu carinho e gratidão pelo apoio que o líder estava lhe dando agora. Robin ficou um pouco sem jeito diante da situação no começo, mas, aos poucos, foi retribuindo o gesto do mesmo modo.

“Obrigada, Robin...” Ela disse. Este continuou o que fazia. Poderiam ficar assim por muito, muito tempo. Uma eternidade. Era o que desejavam agora mesmo.

Mas, como sempre, nem tudo ocorre como planejado...

“Pessoal!” Ciborgue gritava a toda força. “Temos problemas!!”

Robin e Estelar ficaram frustrados novamente, mas não hesitaram em correr para perto dos colegas.

“O que foi?” O líder perguntou já sacando o bastão.

“Nosso amigo voltou!”

As palavras de Ravena foram o suficiente. Ao olhar para o horizonte, a pouco menos de um quilômetro do castelo, era possível ver uma pessoa avançando em alta velocidade na direção dos titãs. Estava... voando!

“É ele... Titãs, preparem-se para atacar!!”