Tamaran

Discrição


Quase uma hora se passara desde que os titãs haviam sido seqüestrados. Mas mesmo depois desse tempo, Robin não teve nenhum progresso em sua tentativa de abrir as algemas.

“*bocejo* Cara... você ainda tá tentando... fazer isso?...” Mutano dizia com os olhos lagrimejando de sono. Tinha dormido a maior parte do tempo que ficara naquela cela tão sombria. Afinal, qualquer lugar escuro o fazia adormecer.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Com os outros não era diferente. Ciborgue, que não podia sequer se mexer, só não dormira devido ao desconforto que sentia naquela posição. Apenas mantinha um olhar cabisbaixo e estava praticamente mudo.

Já Ravena permanecia calada e com os olhos fechados, mas ainda estava desperta. Só agia dessa forma para poder ordenar os pensamentos e se concentrar o máximo possível. Estava evitando uma possível fraqueza seguida de um desmaio, devido aos poderes bloqueados pelo acessório em sua cabeça.

“Silêncio, Mutano, eu to quase conseguindo!” Robin respondeu, girando a chave mais uma vez.

“Você disse o mesmo há uns quinze minutos atrás... *bocejo* eu vou dormir mais um pouco, isso sim.”

Robin odiava quando ouvia algo assim, principalmente quando um de seus lados concordava com isso. Um lado de sua consciência, naquele momento, estava fazendo-o reconhecer que essas tentativas eram inúteis e era melhor gastar tempo bolando outro plano, um que... funcione!

Não, vou perder ainda mais tempo com outro plano!

Agora seu orgulho falou mais alto e quis que o herói continuasse. Nem que isso durasse mais uma hora. Afinal, quem estava em jogo não era só ele, ou os outros três ao seu lado, era...

“Star...”

“Uh... falou alguma coisa, Robin?” Mutano se virou assim que ouviu o murmuro do rapaz ao lado.

“O quê? Ah! Nada, nada...” Ele respondeu, nervoso. “Tava pensando alto...”

“Ahn...”

Assim que o garoto se virou novamente, Robin deu um suspiro de alívio. Não gostaria que toda aquela confusão da “namorada” começasse de novo. Já não bastava o que havia acontecido da última vez!

Acho melhor pensar em outra coisa mesmo... ou quando eu me libertar será tarde demais pra salva-la...

Embora pensasse essas coisas, sua mão continuava remexendo o aparelho na tentativa de encontrar a abertura. Parecia não querer obedece-lo.

Será que vale a pena mudar, justo agora que eu devo estar tão... perto?

Ele parou por um minuto e começou a se relembrar de cada luta que teve ao lado dos amigos. Poderia contar nos dedos as vezes em que mudara um plano seu antes de cumpri-lo só por ter perdido tempo demais com ele. Se fizesse isso, ainda sobraria uma mão inteira para completar a porção.

Não vai ser dessa vez que vou desistir tão fácil.

Ele então revirou a chave mais uma vez e ouviu um pequeno estalo. Bem baixo, mas pôde ouvir. Para Robin, aquele era o som da vitória.

As algemas começaram a reproduzir um som estranho e desordenado. Figuras variadas passavam sem parar pelo painel de digitação como se fosse uma máquina caça-níqueis, mas, no caso, eram letras de um alfabeto desconhecido, tamaraniano talvez.

Isso não vinha ao caso. O que importava era que, logo, cinco figuras foram selecionadas no visor e as algemas se abriram ao meio, liberando as mãos já doloridas de Robin.

“Cara, cê conseguiu!” Mutano disse quase gritando. Isso fez com que Ciborgue e Ravena despertassem de seus pensamentos.

“Shhh! Fica quieto! Quer que os guardas saibam também?!” Ele sussurrou. Estava massageando os punhos para tentar recuperar a força e aliviar a dor nas juntas, já que ficaram tanto tempo imobilizadas.

“Tá, já entendi. Mas será que poderia dar uma mão aqui?”

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

“Desde que cale a boca...”

Mutano acenou positivamente com a cabeça e deixou que o líder encaixasse a chave em cada uma das três argolas que o prendiam. Logo, estava livre, mas se transformou num gato para poder esticar os membros que ficaram tanto tempo parados.

“Tome.” Robin estendeu a chave. “Faça o mesmo com os outros enquanto eu procuro uma saída pra esse lugar!”

“Sim senhor.”

O menor correu para onde Ciborgue se encontrava e foi fazendo o mesmo procedimento com suas algemas. Já Robin ficou observando cuidadosamente cada canto da cela.

Esse lugar é escuro demais, não vejo nenhuma passagem além da porta da frente.

Ele então começou a apalpar uma das paredes.

Normalmente, lugares assim têm pequenas passagens para alimentos. Mas duvido que aquele cara tenha feito isso. Ele deixaria qualquer um morrer de fome nessa fortaleza!

Robin então parou um pouco e se recostou nas pedras. Começou a pensar.

Mas... essa é uma fortaleza de pedra. Foi feita de um jeito tão... primitivo! Deve haver alguma pedra frouxa ou mal colocada por aqui.

Ele recomeçou a apalpar as extremidades cuidadosamente. Mutano, ao ver a cena, ficou um tanto confuso com tal atitude.

“O que deu nele?” Ele perguntou, terminando de soltar a última algema.

“Bom... procurando tesouros que não está!”

“Ele deve estar procurando uma saída, gênios” Ravena disse.

“Ah é, eu sabia!” Mutano tentou disfarçar o quão estava sem graça. Uma tentativa literalmente frustrada.

“Ótimo. Então também deve saber o que vou fazer com você se não me soltar logo!”

“*gasp* Acho melhor nem perguntar...”

“Bom mesmo.”

Parando de debater com a empata, Mutano começou a destrancar a tiara e a peça que fixava as correntes aos seus pulsos. Porém, Robin continuava investigando cada pedra.

“Achei!” Ele disse para si quando notou que uma das grandes pedras que compunham o local estava mal colocada. Mas, pelo visto, só poderia ser retirada por uma força maior. No início pensou em Ciborgue. Ele tinha uma força descomunal.

Não. Faria muito barulho...

Depois, pensou em Ravena.

“Ei, Ravena.” Ele disse ao perceber que esta já se mantinha em pé. “Dá pra me ajudar aqui?”

“O que foi, Robin?” Ela perguntou enquanto se aproximava. Mutano e Ciborgue a seguiram.

“Essa pedra tá frouxa. Se você usar seus poderes e tira-la, poderemos fugir dessa cela.”

“Entendi. Vou ver o que posso fazer.”

Ela estendeu as mãos e fechou os olhos, pronunciando assim as três palavras que tanto usava. Porém, nada acontecia.

“E então... estamos esperando.”

O comentário de Mutano fez com que a empata abrisse os olhos e compreendesse o que tinha acabado de acontecer. Agora, estava encarando suas próprias mãos.

“Tá tudo bem, Ravena?” Ciborgue perguntou. “Não saiu nenhuma faísca!”

“Não, não está nada bem...”

“Então o que houve?”

“Parece que aquela tiara que me colocaram não só bloqueou o uso dos meus poderes... como os retirou de mim!”

“Peraí, como assim ‘retirou’?” Mutano disse abanando as mãos. Parecia que aquela era a única solução para escapar e agora... simplesmente desapareceu!

“Não é permanente. Só sugaram a energia que eu possuía até agora. Vou recuperar, mas isso leva tempo...”

“Quanto tempo?” Robin perguntou, temeroso pela resposta.

“Algumas horas.”

“Não temos todo esse tempo. A gente tem que sair de outro jeito!”

Robin estava indignado. Agora, os outros capazes de retirar a pedra seriam Ciborgue e... Estelar. Claro, Mutano também, mas provavelmente faria ainda mais barulho caso se transformasse num animal realmente grande. Não. Tinham que ter discrição.

Então, o único que sobrara era...

“Ciborgue, já que ela não pode mover isso, tenta você.”

“Pode deixar! Tiro isso em um segundo!”

“Mas cuidado, a gente precisa ser discreto. Se aquelas... ‘coisas’... nos ouvirem, é o fim!”

“Tudo bem, vou passar um pouco do óleo que trouxe sobre a pedra pra ficar melhor.”

Assim ele fez. Com o óleo, a pedra pôde deslizar com mais facilidade e rapidez, sem fazer muito barulho. O máximo que pôde ser ouvido foi um ou dois rangidos. Em pouco segundos, a passagem estava feita.

Por sorte, o buraco era grande o bastante para que todos passassem sem problemas. Somente Ciborgue teve um pequeno contratempo quando seus ombros começaram a ralar de forma brusca pela parede de pedra. Mas, com um pouco de força dos amigos, ele pôde sair rapidamente.

“Ótimo, saímos de uma cela... pra parar em outra!” Mutano murmurou logo depois de ajudar o titã cibernético.

“Espere.” Ravena apontou para uma área ainda mais sombria. “O que é aquilo?”

Os três imediatamente se viraram para avistar o que a empata estava apontando. Havia algo no chão, algo que estava entre a escuridão e um pequeno feixe de luz vindo de uma brecha entre dois dos grandes tijolos de pedra. Parecia ser um corpo inerte, jogado no chão há pouco tempo.

Ao ver aquilo, Robin sentiu o estômago desabar de uma só vez e um forte arrepio correr por suas costas. Não era à toa. O corpo parecia ser o de...

“Estelar!” Ele correu na sua direção, desejando que a garota estivesse apenas dormindo ou algo do tipo. Os outros ficaram apenas observando o líder agir.

Robin não sabia se estava feliz por reencontra-la ou desesperado por vê-la daquele modo. De qualquer forma, enquanto se aproximava, tentava se convencer de que ela estava bem e que, assim que a acordasse, poderia ver mais um de seus belos sorrisos.

Mas isso não aconteceu.

“Oh não, Star.” Ele disse assim que parou ao seu lado. A visão não era a das melhores. Assim, Robin se ajoelhou e colocou uma das mãos sobre o ombro da tamaraniana. “O que fizeram com você?...”

Estelar estava repleta de marcas e manchas de sangue seco. Não aparentava estar... viva. Ao notar isso, o garoto começou a chacoalhar impacientemente o ombro que segurava esperando alguma reação.

Nada.

Não, ela não pode...

Ele voltou a balançar o ombro dela, agora também a chamava pelo nome. Mesmo assim, o corpo de Estelar continuou imóvel.

“Ciborgue!” Ele disse. “Preciso da sua ajuda!”

Ciborgue correu para o seu lado imediatamente e só então pôde ver o porquê do desespero do rapaz. Mutano e Ravena fizeram o mesmo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

“Caramba, o que aconteceu?” Mutano começou, ainda assustado com a aparência da titã.

“Não sei, mas aquele desgraçado vai pagar por isso!” Robin se sentia triste e enraivecido ao mesmo tempo por ver o estado da garota, e estava deixando isso bem claro. “Ci, pode checar se ela está bem?”

“Claro.” Ele ativou um dos controles de seu braço direito e, do lado oposto, uma luz de tom vermelho foi liberada e começava a passar pelo corpo de Estelar. Os dados que conseguia apareciam na tela aos poucos.

“Mutano.” Robin chamou. “Você ainda tá com a chave que eu te dei?”

“Aham.”

“Então vai destrancando essas algemas que estão nas mãos da Estelar.”

“Pode deixar!” Mutano então começou a cumprir o mesmo procedimento de antes para soltá-la enquanto Ciborgue analisava as informações que conseguira.

“Não se preocupe.” O robô começou. “Ela está viva. Mas desmaiou depois de tudo que sofreu...”

“O quê, exatamente?”

“Bom, pelo que analisei, ela tem diversas queimaduras, hematomas por pancadas ou socos, cortes profundos e até arranhões. Alguns, inclusive, foram feitos pelas garras de algum dos monstros daquele cara...”

Robin fechou os punhos ao ouvir isso. Não só por raiva, mas por medo do que poderia acontecer com Estelar de agora em diante. Do jeito que estava, qualquer golpe que sofresse poderia leva-la à morte...

“Robin, eu gostaria muito de cura-la. Mas meus poderes ainda não voltaram por completo...”

“Tudo bem, Ravena. Eu entendo...”

“Não, você ainda não entendeu.” Ela retrucou com seriedade na voz. “Meus poderes ainda não voltaram e Estelar está muito ferida. Isso significa que temos que sair logo daqui, do contrário, poderão nos pegar de novo e fazer algo ainda pior, tanto a ela como a nós quatro!”

“Ela tem razão. Se aquele cara descobrir que a gente tá de saída desse lugar, pode acabar com ela de vez!” Ciborgue disse.

“Tá, mas como vamos sair se a Rae ainda não pode abrir um portal pra fora daqui?” Mutano tinha acabado de abrir as algemas e agora enxugava um pouco das gotas de suor que escorriam de sua testa.

“Então vamos ter que fugir do modo tradicional. Teremos que correr e driblar todos que estiverem à nossa frente.”

“Bom, até que o plano é legal, mas não estão esquecendo de nada?” Mutano agora apontava para Estelar. Não era à toa. Se fugissem daquele jeito, teriam que criar um modo para leva-la consigo.

Assim, um curto silêncio tomou posse daquela cela imensa, como se fosse uma pausa para que os titãs pensassem em algum plano suficientemente bom para que escapassem.

Mas logo, um alarme disparou e todo o lugar ficou iluminado de vermelho. Era possível sentir um leve tremor causado por passos pesados que percorriam os corredores mais próximos. Provavelmente pertenciam às feras.

“Ferrou! Descobriram a gente!!”