O aroma de pernil assando lentamente era quase inebriante, invadindo toda a cobertura do apartamento de Padmé e impregnando cada fibra de algodão das cortinas, dos sofás e das almofadas. Por esse motivo, no exato instante em que a porta do elevador se abriu, Satine Kryze ouviu seu estômago roncar. Quase que imediatamente, o estômago de Obi-Wan, ao seu lado, também se manifestou e os dois riram baixinho assim que desceram da plataforma e foram recepcionados por um alarmado C3PO.

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— Mestre Kenobi! Lady Kryze! – disse o droid, aproximando-se dos dois, quase não lhes dando espaço para saírem do elevador. – Gostariam que eu...

— Obrigado, C3PO – interrompeu Obi-Wan, aninhando a filha de três meses de idade quase adormecida em seu colo e impedindo que ele continuasse. – Mas eu e Satine adoraríamos uma bebida, se não se importar. Está bem cedo ainda, mas eu não pretendo ficar sóbrio por nem mais um minuto.

Cordialmente, o droid fez sinal para que os dois avançassem. Apenas alguns passos à frente, eles já se encontravam na sala. Padmé, sentada, ao sofá, mal havia percebido a chegada dos dois. Os olhos da senadora de Naboo estavam fixos à frente, observando uma imensa tela onde uma contagem regressiva se fazia presente.

Curiosos, Obi-Wan e Satine ficaram imóveis, observando a cena enquanto C3PO avançava em direção à cozinha. Todas as luzes da sala estavam apagadas e Obi-Wan demorou alguns instantes para perceber que, entre Padmé e a tela, havia duas figuras em pé, segurando microfones. Antes que pudesse identifica-los na escuridão, o mestre Jedi identificou as figuras como Anakin e Ahsoka.

A contagem regressiva chegou a zero e, imediatamente, a letra de uma música surgiu na tela.

At first I was afraid, Anakin começou a cantar com a boca próxima ao microfone que segurava.

I was petrified!, continuou Ahsoka, cantando próxima ao seu próprio microfone.

Nesse instante, os dois se viraram e se encararam. Havia emoção em seus gestos e em suas feições.

Kept thinking I could never live without you by my side, os dois cantaram ao mesmo tempo.

Quase que imediatamente, Obi-Wan abafou uma risada com a mão livre.

— Silêncio! – Satine o repreendeu, rindo. – Eu quero ver cada segundo disso.

And I learned how to get along, And so you’re back!, Ahsoka parecia totalmente emocionada pela música.

From outer space!, Anakin não era diferente. Nele, havia uma estrela pop em ascensão. I just walked in to find you here with that sad look upon your face!

Ao longe, Obi-Wan e Satine observavam a cena incrédulos. As duas garrafas de vinho já vazias em cima da mesa, no entanto, lhes davam uma explicação do que estava acontecendo ali.

If I'd known for just one second you'd be back to bother me, cantaram Anakin e Ahoka ao mesmo tempo e, então, os dois se voltaram, apontando seus microfones para a boca de Padmé.

Go on now, go! Walk out the door!, cantou a senadora, divertindo-se com a cena tanto quanto os recém-chegados.

You think I'd crumble? You think I'd lay down and die?, Ahsoka canatava tão intensamente emocionada como Anakin.

Oh no, not I!, Anakin praticamente urrava ao microfone.

I will survive!, os dois cantaram ao mesmo tempo.

Novamente, os dois se voltaram para Padmé.

Oh, as long as I know how to love, I know I'll stay alive, ela praticamente gritava ao microfone.

I've got all my life to live¸ cantou Ahsoka.

And I've got all my love to give, cantou Anakin, encarando seriamente sua Padawan.

I will survive!, os dois fecharam a música aos berros.

Assim que o silêncio tomou conta da sala, Satine o quebrou com palmas. Assustados, Anakin e Ahsoka se viraram para os recém-chegados. Havia medo e horror em seus olhos, principalmente nos de Anakin.

— Mestre?! – ele perguntou, enquanto Padmé não conseguia controlar as suas gargalhadas ao perceber que Obi-Wan e Satine haviam visto tudo aquilo. – O quanto... o quanto você viu?

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— O suficiente, Anakin – disse Obi-Wan, precisando de todo o seu auto-controle para não rir também, avançando até eles. – Depois de todos esses anos, você ainda me surpreende. Quem diria que debaixo de toda a sua teimosia existia uma diva pop adormecida?

— Obi-Wan está certo, mestre – disse Ahsoka, dando tapinhas no ombro de Anakin e entregando seu microfone para Padmé, que se levantou animada. – Você arrasou. Merecia até um Grammy.

Ainda rindo, Padmé se aproximou para abarçar Obi-Wan e Satine enquanto Anakin ainda parecia estarrecido.

— Obrigada, Satine – agradeceu Padmé, recebendo da duquesa a garrafa de champanhe que ela havia trazido. – Vou pedir pro C3PO colocar pra gelar. E tem ponche na mesa se quiserem.

— Acho que C3PO já foi buscar pra gente – respondeu Satine quando o droid reapareceu, trazendo uma bandeja com duas taças sobre ela. – Agora, vai cantar! A contagem está no final!

Distraída, Padmé quase não conseguiu ocupar seu lugar em frente à tela antes que a contagem regressiva terminasse.

— Ai meu Deus, quem é a coisinha mais linda da galáxia? – Ahsoka se aproximou dos recém-chegados com uma incrível simulação de uma voz infantil. – Pode soltar ela, Obi-Wan – a Padawan retirou a bebê do colo dos pais. – Vocês já passam o dia todo com ela e agora é a vez da tia Ahsoka!

Com a bebê em suas mãos, Ahsoka se afastou, sentando-se no sofá enquanto Obi-Wan e Satine se apossavam das taças de ponche que C3PO havia trazido e enquanto Anakin ainda se recuperava do choque de ter sido visto cantando por seu antigo mestre.

***

— E então, como tem sido esses primeiros meses? – questionou Anakin no exato instante em que Leia, arrastando-se pelo tapete, chegava até ele e puxava suas calças, exigindo que ele a pegasse no colo.

Ao fundo, Padmé e Ahsoka estavam na terceira música que cantavam juntas.

— Eu não sei como vocês aguentaram com dois – desabafou Satine. – Nós só temos a Milla e mal conseguimos dormir. Ela acorda a noite inteira aos berros e só dá trégua quando o dia amanhece, que é justamente quando nós precisamos ir trabalhar.

Anakin riu.

— Eu realmente entendo isso – ele disse, em solidariedade. – A Leia sempre foi mais calma, mas desde o começo o Luke deu trabalho – Mas melhorou muito depois que passou a fase das cólicas.

— Nem me fale – rebateu Obi-Wan, quase que imediatamente. – Ela está entrando na idade e não sei como a gente vai fazer pra sobreviver a isso.

— Vocês podem ficar com C3PO por uns meses – sugeriu Padmé, voltando para o sofá e apoiando-se no marido enquanto bebia um gole de ponche. – Acredite se quiser, ele é muito bom com crianças. Só ele conseguiu acalmar o Luke em algumas das piores crises de cólica. De verdade, foi inacreditável. Pelo menos até tudo se acalmar, acho que eles podem com o C3PO, né, amor?

Padmé inclinou a cabeça para cima, esperando a resposta de Anakin.

— Claro – ele confirmou enquanto Leia, agitada, puxava uma mecha de seus cabelos e colocava na boca.

O alivio e a gratidão ficaram estampados nos rostos de Obi-Wan e Satine.

— Vocês evitaram uma calamidade – disse Obi-Wan.

— Pelo jeito, um irmãozinho pra Milla não está previsto pra muito cedo, não é? – questionou Padmé.

O alívio e a gratidão nos rostos dos dois foi substituído por puro pânico e desespero. Um pouco mais acostumados com a paternidade e a maternidade, Anakin e Padmé apenas riram.

***

— Ahsoka, eu não acredito que seja a pessoa mais adequada para te aconselhar nisso – assumiu Obi-Wan, preocupado, logo após beber um gole de whisky enquanto Anakin e Satine dividiam o microfone animadamente a poucos metros de distância deles, do outro lado da sala. – Se você se lembra, eu fui nomeado cavaleiro simplesmente por ter derrotado Maul em Naboo. Eu nunca tive a experiência de passar pelos testes e não sei se posso te ajudar.

— Eu entendo, mestre – disse Ahsoka, visivelmente apreensiva. Obi-Wan podia nunca ter sido seu mestre, mas ela ainda o chamava assim por respeito e admiração. – Mas você é uma das pessoas que eu mais confio e... Eu realmente acho que não estou pronta. Eu tentei argumentar com o Anakin, mas ele foi irredutível. Disse que eu estou mais do que pronta para passar pelos testes, mas eu acho que sou muito nova... eu ainda tenho muito a aprender antes. Eu não me sinto pronta para me tornar uma cavaleira.

Obi-Wan riu baixinho, mas logo se forçou a se silenciar, temendo que isso pudesse ser interpretado como se ele não se estivesse zombando da aflição da jovem. Vendo que ela queria falar baixo para evitar que Anakin ouvisse a conversa, o Jedi se aproximou ainda mais dela no sofá.

— Eu vou te contar um segredo, Ahsoka – ele disse baixinho. – Ninguém nunca está pronto. Até hoje eu não me sinto pronto para ser um simples cavaleiro e já fui até nomeado Mestre do Conselho. Pessoalmente, eu não sei o que eu fiz para que todos aqueles sábios Jedi achassem que eu tenho todo esse valor, mas lá estou eu, cagando regras na cabeça dos outros Jedi.

Ahsoka riu.

— Eu entendo, mestre – ela protestou. – Mas... você não acha cedo demais? Digo, eu estou só com dezoito anos!

— Pessoalmente, acho – Obi-Wan concordou com ela, falando pausadamente. – Mas, apesar de todos os pesares, eu confio na palavra do Anakin. Se ele acha que você está pronta, então eu acredito que você esteja. E, quanto a isso, eu infelizmente não tenho propriedade alguma para dar uma opinião mais substancial. Lembre-se que eu não participo do seu treinamento, eu só vejo você em ação. Particularmente, eu fico muito satisfeito com o que eu vejo, mas eu não tenho como dar uma opinião concreta sobre o que eu acho da Padawan Tano. Mas o Anakin sim. E, infelizmente, mesmo eu sendo um membro do Conselho, eu não posso impedir os seus testes de acontecerem, se o Anakin já acha que é a hora. Nem oficialmente, nem pessoalmente. Eu jamais passaria por cima de uma decisão dele quanto a isso.

Mais insatisfeita do que irritada, a jovem se afundou no sofá.

— Eu temia que você fosse dizer isso, mestre – disse Ahsoka, desesperançosa. – Porque você tem que ser tão certinho e previsível?

Mais uma vez, Obi-Wan riu. Dessa vez, Ahsoka riu também.

— Deixa eu adivinhar... – ele recomeçou. – Você ia me pedir para conversar com o Anakin e vez se consigo convencer ele a postergar um pouco os seus testes, não é?

— Você estava lendo a minha mente? – perguntou Ahsoka.

— De forma alguma – Obi-Wan rebateu, sorrindo. – Mas você é tão previsível quanto eu.

Os dois riram juntos e, após alguns instantes, Ahsoka voltou a se dirigir ao Jedi, após alguns segundos de silêncio.

— Você pode conversar com ele?

— Posso.

Antes que ele tivesse a mínima chance de reagir, Ahsoka se jogou em cima dele em um abraço brusco e apertado que o fez derramar whisky em suas calças.

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— Obrigada, mestre!

— Eu não prometo nada – ele tentou alertá-la, tentando não criar falsas esperanças no coração da jovem Padawan, mas sabendo que seria inútil. – Mas eu prometo que vou tentar.

***

Na varanda, enquanto Anakin (que lutava para segurar uma agitada Leia em seu colo), Obi-Wan e Ahsoka fingiam saber do que estavam falando enquanto experimentavam um brandy, Padmé e Satine se dirigiram para a cozinha. O cheiro do pernil assando estava tomando conta do apartamento da senadora de Naboo e Padmé havia proibido Anakin de interferir. “Se você fizer alguma coisa com esse pernil e ele queimar, eu juro que você vai dormir no sofá até o ano novo!”, ela o ameaçou.

— Você não tem medo que eles... sejam sensitivos? – perguntou Satine, com uma adormecida Milla em seu colo. – Quero dizer... se eles forem... eles vão ser retirados de você...

Padmé, após verificar que o pernil ainda estava longe do ponto e fechar o forno novamente, virou-se para ela. Em seu rosto, a preocupação de quem pensava naquilo dia e noite.

— Eu penso nisso quase todos os dias desde que eles nasceram – ela respondeu. – Morro de medo de isso acontecer. Toda essa história dos Jedi não poderem ter contato com suas famílias já me faz pensar que eu nunca mais vou ver meus filhos... Mas eu já conversei com o Anakin...

— Sério?! – perguntou Satine, exasperada e curiosa. – Eu quero muito conversar sobre isso com o Obi-Wan, mas não faço idéia de por onde começar. Tenho medo de ofender, sabe... Querendo ou não, é o estilo de vida dele e ele gosta muito disso e não quero que ele entenda que eu repudio a idéia...

— Embora você repudie.

Padmé não havia feito uma pergunta e Satine, incapaz de negar, apenas fez que sim com a cabeça. Mas Padmé sabia exatamente o que ela sentia, pois sentia a mesma aflição que via nos olhos da duquesa de Mandalore.

— Olha, o Anakin foi bem compreensivo – Padmé começou a se explicar, logo após beber um longo gole de água e, ao mesmo tempo, mantendo Luke habilidosamente equilibrado em seus braços. – Eu ensaiei por semanas essa conversa, achando que ele iria se ofender ou levar pro lado pessoal. Mas, no fim das contas, ele pareceu estar tão preocupado quanto eu sobre essa possibilidade, pra falar a verdade.

— E vocês chegaram a alguma conclusão? – perguntou Satine.

— Mais ou menos – Padmé respondeu. – Nós, como pais e mães, podemos negar que nossos filhos sejam levados ao Templo. É um direito nosso e nem os Jedi nem a República podem nos obrigar a entregá-los. Mas, sendo eu uma figura pública e Anakin um Jedi, nossas imagens iam ficar manchadas pra sempre se negássemos, não é? Não íamos mais ter paz nem por um minuto, seja no Senado, seja entre os Jedi. Pra mim, fugir e viver longe daqui era uma opção, se fosse o caso... Mas o Anakin colocou um pouco de juízo na minha cabeça e, no final, nós concordamos em manter qualquer manifestação de sensitividade do Luke e da Leia em completo segredo. Mas, se eventualmente, o Conselho acabar descobrindo que eles são sensitivos, talvez essa não seja a pior das hipóteses, não é? Afinal, o Anakin está lá no Templo. Ele pode muito bem ficar de olho nas crianças sempre que possível.

Satine pareceu não gostar muito da resposta.

— Eu entendo esse ponto de vista, mas mesmo assim eu não ficaria tranquila – a duquesa rebateu. – Você continuaria não vendo os seus filhos. Eu fico em pânico só de pensar nessa idéia. Sem contar que, mais cedo ou mais tarde eles iriam deixar de ser apenas Iniciandos para se tornarem Padawans e, quando isso acontecer, eles vão se expor a muitos riscos todos os dias. Eu já fico sem dormir direito quando o Obi sai em missão, imagina a Milla. Você achar que conseguiria ficar tranquila?

— De jeito nenhum – assumiu Padmé, olhando para o chão. – Mas eu ainda quero conversar mais com o Anakin sobre isso. De qualquer forma, acho que você não precisa ter medo de conversar com o Obi-Wan, Satine. Digo, ele e o Anakin tem personalidades bem diferentes, então não faço idéia de como ele pode reagir... embora ele realmente não pareça o tipo de pessoa que vai fazer um escândalo quanto a isso... Mas, se você falar bem calma com ele e expor os seus medos, acho que ele vai ser compreensivo e, mesmo que ele pense diferente, ele vai tentar encontrar um meio-termo.

Oh-oh-oh-oh-oooh. Oh-oh-oh-oh-oooh, oh-oh-oh.

— Eu tenho medo disso também – assumiu Satine, virando-se para a porta da cozinha para verificar a origem do barulho. – Nós duas trabalhamos com política e sabemos muito bem que “meios-termos” nunca deixam nenhum dos lados satisfeitos, só menos insatisfeitos.

— O que pode ser a melhor coisa a se conseguir numa situação dessas.

Rah, rah-ah-ah-ah. Roma, roma-ma-ma. Gaga, ooh-la-la, elas ouviram Anakin cantando na sala.

Want your bad romance!, Obi-Wan o seguia.

Quase imediatamente, Ahsoka apareceu na cozinha, aos risos.

— Vocês duas precisam ver isso! – disse a Padawan.

I want your love, love, love, love. I want your love!, mestre e aprendiz cantavam juntos na sala, aos berros.

— Pela Força, quanto será que esses dois já beberam? – Padmé resmungou, irritada, mas sem conseguir evitar uma leve risada enquanto se dirigia até a sala, seguindo Satine e Ahsoka.

I want your drama, the touch of your hand, cantou Obi-Wan.

I want your leather-studded kiss in the sand, seguiu Anakin. I want your love!

***

Após pegar um punhado de castanha com as mãos, Obi-Wan jogou algumas delas para dentro da boca e retornou à sala enquanto assistia Ahsoka, Satine e Padmé em uma apresentação digna de premiação. Um pouco zonzo com todo o álcool que já havia consumido, ele apenas teve tempo de conferir se não havia nenhum bebê no assento antes de cair no sofá ao lado de Anakin.

— Eu vi que você solicitou ao Conselho que nós apliquemos os testes na Ahsoka – ele disse.

— Sério, mestre? – perguntou Anakin. – Vai querer falar de trabalho aqui? Agora?

— Na verdade, eu não quero – respondeu Obi-Wan sem retirar os olhos das três mulheres, como se aquele fosse só um assunto trivial que pouco lhe importasse. – Mas eu andei pensando numas coisas e não achei que te chamar para uma reunião formal no Templo seria o ideal... sabe, toda aquela história de documentação, de ter tudo registrado certinho... você sabe como é...

Anakin, em choque, olhou para Obi-Wan, não acreditando no que ouvia.

— Quem é você e o que fez com o meu mestre? – ele perguntou.

— O que foi? – perguntou Obi-Wan, confuso, com a boca cheia de castanhas.

— Bem, eu simplesmente não estou acreditando que Obi-Wan Kenobi queira ter uma conversa sobre trabalho nos bastidores, por trás dos panos, sem deixar pistas – Anakin confessou. – Não faz o seu tipo, mestre, todo cert...

— Certinho e previsível? É isso? – ele completou, impaciente, finalmente olhando para seu antigo Padawan, e Anakin confirmou com a cabeça. – Você é a segunda pessoa que me diz isso e, sinceramente, estou começando a ficar irritado. De qualquer forma, eu vi que você preencheu a papelada pros testes da Ahsoka.

Por alguns segundos, Anakin se manteve em silêncio, esperando que Obi-Wan competasse seu raciocínio. Mas ele não o fez, obrigando Anakin a dar continuidade à conversa.

— E? – ele quis saber.

— Nada de muito importante – disse Obi-Wan, voltando a usar um tom de voz como se fosse (quase) completamente indiferente àquilo. – Mas eu fiquei pensando... Você não acha que a Ahsoka é muito nova? Quero dizer, você tinha pelo menos um ano a mais que ela quando foi nomeado cavaleiro. Eu sei que ela é uma excelente, aprendiz... você fez um ótimo trabalho com ela, parabéns, aliás... mas eu tenho medo que ela ainda seja um pouco imatura demais pra isso, sabe? É uma responsabilidade muito grande se tornar um cavaleiro e eu tenho um pouco de medo do que isso pode significar pra ela se ela não estiver espiritualmente pra isso.

Ahsoka devia já ter irritado muito Anakin com aquele assunto pois, enquanto falava, Obi-Wan viu seu antigo Padawan revirando os olhos nas órbitas. Aquela, com certeza, não era a primeira, segunda ou mesmo a décima vez que ele tinha que enfrentar aquela discussão.

— Sim, ela é nova, mestre – disse Anakin. – Mas ela é boa. Infelizmente, ela acabou sendo educada durante a guerra, mas isso serviu pra, pelo menos, ela ter adquirido uma experiência de campo muito mais rica do que qualquer outra geração de Padawans que veio antes dela. Ela é muito insegura, não posso negar. Mas eu posso garantir a você que essa insegurança não significa que ela saiba pouco. Ela sabe muito, mestre. Às vezes, inclusive, sou eu quem acaba aprendendo com ela, e não o contrário. Ela não tem consciência do quão boa ela é, mas ela é fenomenal e vai se tornar a melhor Jedi que já pisou naquele templo. Eu tenho certeza do que estou te falando, mestre. Ela pode ser nova, mas ela está mais do que pronta para os testes, eu posso garantir.

Ouvindo essas palavras, Obi-Wan se lembrou de ter dito algo muito parecido ao mestre Windu, tantos anos antes, quando a guerra começou. Para aumentar o número de cavaleiros disponíveis para liderar clones em ação, testes em massa foram aplicados em diversos Padawans, preparados ou não. Mas Anakin fora uma exceção. Apesar de sua vasta experiência, o Conselho havia chamado Obi-Wan para conversar quando ele solicitou que os testes fossem aplicados em seu Padawan. A aprovação dos testes havia sido barrada pelo mestre Windu, o mestre do Conselho a votar contra, argumentando que Anakin não estava pronto para uma responsabilidade dessas. Naquela época, ainda apenas um cavaleiro, Obi-Wan argumentou de forma muito semelhante (obviamente, omitindo a parte de que, na verdade, Anakin sabia o quanto era bom e que isso o tornava irritantemente arrogante).

— Bem, pelo menos nós temos a mesma impressão sobre a Ahsoka – disse Obi-Wan, por fim. – Mesmo assim, eu peço que reconsidere. Nas últimas vezes que tive a oportunidade de conversas à sós com ela, ela não me parecia bem. Parecia ansiosa, distante e preocupada. Eu não quis ser invasivo e colocar ela contra a parede, mas, depois que li a sua solicitação, eu entendi o que estava acontecendo. Talvez ela precise de um pouco mais de tempo até adquirir um pouco mais de confiança em si mesma. Não acha?

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— Eu entendo a sua preocupação, mestre – rebateu Anakin, imediatamente. – Mas eu repito... A Ahsoka não tem consciência do quanto ela é boa. Se as regras não fossem explicitamente claras, eu tenho certeza de que ela seria convidada a ocupar um lugar no Conselho logo após passar pelos testes. Você vai estar lá quando os testes forem aplicados, então você vai ver. Eu garanto que até o mestre Windu vai ficar de queixo caído. Minha palavra é final, mestre. Ela está mais do que pronta pros testes, não tenho dúvida alguma.

Anakin parecia impaciente. Evitando conflito, Obi-Wan decidiu não prosseguir. Como a própria Ahsoka dissera, ele estava irredutível.

***

— O cheiro disso está delicioso, Padmé! – disse Ashoka no momento em que o pernil foi colocado na mesa. – Você deve ter ficado horas preparando isso.

Enquanto Padmé se sentava, Anakin se levantou para cortar a carne enquanto Obi-Wan se dedicava em sua tarefa de não deixar a taça de ninguém vazia.

— Obrigada, Ahsoka – disse a senadora, encabulada. – Mas a verdade é que não, eu não fiquei horas preparando. É uma receita de família. Muito fácil e rápida.

— Ah... – resmungou Ahsoka. – De família? Eu já estava me preparando pra pedir a receita.

— E quem disse que você não é da família? – Padmé piscou para ela.

Em poucos minutos, todos estavam servidos e Padmé foi a primeira a se pronunciar.

— Eu quero agradecer a presença de todos – ela começou. – Vocês são as pessoas com quem eu mais me importo na galáxia. São meus amigos, minha família. Eu amo você de todo o meu coração e não tem outras pessoas com quem eu iria querer passar esse Dia da Vida senão com vocês.

— Somos nós que agradecemos – respondeu Obi-Wan, quase imediatamente. – Eu nunca imaginei que toda aquela confusão em Naboo iria me levar a conhecer meu melhor amigo – ele olhou para Anakin – e minha melhor amiga – ele olhou para Padmé. – Não existia possibilidade alguma de recusar um convite desses.

— Obi-Wan está certo – disse Satine, imediatamente. – Vocês são nossos melhores amigos e eu agradeço do fundo do meu coração pelo convite. Estar aqui com todos vocês hoje é uma honra.

Discretamente, enquanto acariciava a cabeça de uma Leia comportadamente sentada em seu colo, Anakin se inclinou para Ahsoka, ao seu lado na mesa, e sussurrou em seu ouvido.

“Aguenta a fome só mais um segundo, Abusada. A bajulação já está acabando.”

Ahsoka precisou disfarçar um riso quando Padmé, comovida com as palavras dos amigos, levantou a taça e pediu um brinde. Após o cessar do som dos copos de chocando, esse foi substituído pelo som dos talheres contra os pratos.

— Está mesmo delicioso! – disse Satine, antes mesmo de terminar de engolir, colocando o guardanapo à frente da boca. – Padmé! Meus parabéns!

— Está mesmo, amor – disse Anakin, com a boca completamente cheia e sem os mesmos modos da duquesa. – Dessa vez, você se superou.

Padmé, encabulada com os elogios, corou.

Quase que imediatamente, Leia jogou o brinquedo em suas mãos no meio da mesa, que caiu a poucos centímetros do prato de Ahsoka.

— Ah, Ahsoka me desculpe por isso – disse Padmé, adiantando-se para recolher o pequeno chocalho colorido.

— Não foi nada – a Padawan respondeu, sorrindo.

Antes que Padmé pudesse tocar o brinquedo, o chocalho levitou no ar, deslocando-se velozmente até...a mão de Leia, que sorria alegremente ao tê-lo de volta.

Sorrindo, Anakin beijou a bochecha da filha (sem notar que todos olhavam para a menina de boca aberta e sobrancelhas arqueadas, como se estivessem congelados) e se dirigiu à própria filha com alegria em sua voz. Um pouco mais alcoolizado do que de costume, Anakin se dirigiu à Leia, falando em voz alta algo que jamais diria nesse tom se estivesse sóbrio e em completo juízo.

— Parabéns, filha! Você conseguiu de novo! Papai vai ser o mestre mais orgulhoso da galáxia!

Ele voltou a beijar a bochecha de Leia enquanto todos na mesa olhavam para ele e Leia em completo choque.

— O que foi? – ele perguntou quando, finalmente, notou o silêncio ensurdecedor e constrangedor na sala.

— “De novo”? – repetiu Padmé, a fúria marcada nas pausas entre suas palavras e na sombrancelha rígida e fixamente arqueada. – Você já sabia disso, Anakin? Você sabia e decidiu treinar a nossa filha sem nem mesmo conversar comigo? Sem nem mesmo me consultar? É isso?

Percebendo que havia sido desmascarado, Anakin demorou alguns segundos para responder.

— ... Não... ?

— Anakin Skywalker! – bravejou Padmé, pousando seus talheres na mesa.

— Tudo bem, amor, eu sabia – ele assumiu, prontamente. A culpa em sua voz o condenava. Anakin sabia que estava errado. – Eu só não sabia como te falar e...

— Espera ai...

Nesse momento, todos os presentes na mesa se viraram para Ahsoka. Realmente, Anakin estava certo sobre ela. A garota era brilhante e estava conseguindo ligar os pontos mais rapidamente do que qualquer outro. No silêncio sepulcral que se instalara, era possível ouvir as engrenagens de C3PO rodando.

— Você quer que eu passe logo pelos testes para estar livre para treinar a Leia? – perguntou Ahsoka, desconfiada. – Você estava tentando se livrar de mim, mestre?

Novamente, Anakin estava sem resposta e o silêncio se manteve. Um silêncio longa e indescritivelmente constrangedor.

— Com licença – pediu Obi-Wan, por fim, logo após limpar a boca no guardanapo, levantando-se para encher sua taça de vinho. – Mas eu acho que vou precisar disso.

***

Sem coragem alguma de sair da varanda (uma vez que temia, ao voltar para a sala, ser alvo de algum prato ou copo voador), Anakin parecia observar aflito as naves sobrevoando o céu noturno de Coruscant. Após alguns minutos, ele percebeu que não estava sozinho. Ao se virar, viu seu mestre ao seu lado, segurando Milla com um dos braços e dando a outra mão para um pequeno Luke que, com esforço, conseguia se sustentar em pé.

— E então? – ele quis saber.

— Eu acho que você deve agradecer à Força todos os dias do resto da sua vida que a sua esposa aboliu a pena de morte em Naboo quando ela foi rainha – respondeu Obi-Wan. Ele parecia ter ensaiado aquela fala e parecia se divertir ao dizer aquilo. – Algo do qual ela deve estar amargamente arrependida no momento.

Pelas feições de Anakin, ele esperava alguma resposta próxima disso, mas estava em negação até aquele momento.

— E a Ahsoka? – perguntou.

— Está se sentindo terrivelmente traída... com razão... e está esbravejando que não vai passar pelos testes agora nem que você peça de joelhos – Obi-Wan respondeu. – E aparentemente ela está formando um sindicato com a sua esposa dedicado única e exclusivamente a acabar com a sua vida.

Novamente, as mesmas feições de quem teve suas esperanças frustradas.

— Mestre, eu juro pra você que não foi nada disso que elas estão pensando – Anakin tentou se explicar. – Isso é tudo um mal entendido e eu...

Vendo a ansiedade em seu aprendiz, Obi-Wan levantou as mãos, indicando educadamente que ele se calasse. E funcionou: exasperado, Anakin parou de falar.

— Anakin, eu te conheço desde que você tinha nove anos – o Jedi começou. – E eu já vi tantos mal entendidos seus que eu sei reconhecer um quando vejo. Eu acredito em você e é por isso que eu e a Satine estávamos, até agora, tentando dar uma de advogados do diabo e acalmar a Padmé e a Ahsoka. Aparentemente, funcionou. Um pouco, quero dizer... E elas querem conversar com você.

— Obrigado, mestre – Anakin parecia verdadeiramente grato pela ajuda.

Sem dizer mais nada, Anakin se dirigiu para o interior do apartamento. Antes que pudesse cruzar a porta de vidro da varanda, Obi-Wan o chamou.

— Sim? – Anakin se virou para encarar seu mestre.

— Se serve de conselho, você já está mergulhado no meio da merda – disse Obi-Wan. – Sai dela com dignidade ou faça dela o seu império.

Diante da cara de dúvida de Anakin, de quem não havia entendido a metáfora, Obi-Wan completou:

— Não tente explicar a elas porque você está certo, Anakin – disse Obi-Wan. – Nunca funcionou comigo, não é com elas que vai funcionar. Ainda mais agora. Assuma que você está errado e que você pisou na bola. Elas estão nervosas demais para serem contrariadas e você não está em posição de tentar provar a sua inocência.

Anakin engoliu em seco.

— Obrigado, mestre.

***

Assim que Anakin cruzou o arco de pedra, passando da varanda para o interior do apartamento, ele viu os rostos de Padmé e Ahsoka o encarando como duas leoas encaram sua presa. Ele engoliu em seco conforme se aproximava, sentindo-se discretamente menos indefeso pela presença de uma ansiosa Satine ao lado das duas mulheres. Mas esse sentimento foi desfeito instantes depois quando ele chegou próximo à sua esposa e à sua aprendiz.

— Eu vou deixar vocês à sós – disse a duquesa, que carregava Leia em seu colo.

Com a cabeça baixa, Satine saiu da sala, reunindo-se com Obi-Wan na varanda e deixando os três bebês longe da zona de guerra que estava para se formar no meio da sala.

Em silêncio, os três se encararam por alguns instantes, até que Padmé e Ahsoka resolveram quebrá-lo:

— Sente-se! – disseram as duas em coro, os braços cruzados, olhando ameaçadoramente para ele.

Com as pernas tremendo, Anakin não ousou recusar. Ele se sentou imediatamente no sofá.

— Explique-se! – ordenou Padmé. – Agora!

Não era apenas uma esposa furiosa. Nela, havia resquícios da autoridade da antiga Rainha Amidala. Havia um poder incontestável em sua voz que Anakin não ousava contrariar. Durante todo o seu casamento, ele só havia visto aquilo uma ou duas vezes, sempre quando Padmé estava completamente irada por um erro seu. Obviamente, aquele caso não era diferente e ele acreditava que, se fosse condenado a ter a sua outra mão arrancada, talvez essa fosse uma pena até branda demais.

— Antes de mais nada, eu quero dizer que isso tudo é um mal-enten...

Ele não ousou continuar. Os olhares congelantes de Padmé e Ahsoka o impediram.

— Olha, eu entendo que vocês duas devem estar furiosas e eu não culpo você por isso, eu também estaria – Anakin tentou recomeçar. – Mas eu tenho uma explicação pra tudo isso e...

— Pare de enrolar e se explique logo – grunhiu Ahsoka.

Novamente, Anakin engoliu em seco.

— Primeiramente, quanto a Leia... – ele olhou para Padmé. – Sim, eu sabia que ela é capaz de manipular a Força, mas eu descobri isso só muito recentemente.

O som do bater ritimado do saldo de Padmé contra o piso de pedra era estarredor. Como o som do machado de um carrasco sendo arrastado em direção ao tablado de execução.

— Eu estava brincando com ela umas duas semanas atrás – Anakin recomeçou. – E aconteceu a mesma coisa que hoje. Ela jogou o brinquedo e puxou ele de volta com a Força. Eu... eu fiquei paralisado! Eu não sabia o que fazer e...

— E de todas as alternativas possíveis você resolver esconder isso de mim? – a ironia na voz da senadora de Naboo era mais cortante que qualquer sabre de luz já feito na história da galáxia. – Resolveu mentir pra mim sobre a nossa filha? Em que planeta você achou que essa era uma boa alternativa?

— Eu estava desesperado! – Anakin rebateu, sentindo-se mais acuado do que nunca. – Eu sei o quanto você tem medo que eles sejam tirados de você por causa disso e eu não sabia como te dar a notícia. Nós havíamos conversado tanto aquele dia sobre o que fazer pra manter os poderes das crianças escondidos, caso eles existissem, que eu não soube como te dar a notícia sem te deixar frustrada ou desesperada. Eu estava pensando em como te contar o que eu vi pra gente poder decidir o que fazer em seguida juntos!

A resposta pareceu não convencer nenhuma das duas mulheres, que continuavam a olhar para Anakin de forma tão penetrante que conseguiam visualizar sua alma.

— Mas então você mudou de idéia, não é? – perguntou Ahsoka. – Resolveu se desfazer de mim pra treinar a Leia você mesmo, não é?

Pela Força, não...! Ahsoka não estava ajudando nem um pouco...

— Não, Abusa... Ahsoka... não foi nada disso – ele respondeu. – Sim, eu cheguei a pensar que treinar a Leia eu mesmo seria uma resposta. Caso eu e a Padmé não conseguíssemos manter os poderes das crianças em segredo, eu achei que essa seria a melhor opção. Afinal, no fim das contas, eu estaria sempre próximo deles e poderia cuidar deles pessoalmente. Achei que, se fosse o caso, Padmé ficaria menos preocupada. E que, se eu apresentasse essa idéia pra ela quando eu contasse sobre os poderes da Leia, ela absorveria a notícia mais facilmente...

— Muito lindo, muito fofo – Ahsoka parecia ter tido aulas de ironia com Padmé. – Mas isso não justifica porque você estava tentando se livrar de mim.

— Porque eu não estava – explicou Anakin. – Juro pelo que você quiser, Ahsoka, eu não estava tentando me livrar de você. Eu iria treinar meus filhos quando eles se tornassem Padawans, não desde agora.

— Um mestre pode assumir Padawans de qualquer idade desde que se responsabilize por todo o aprendizado – rebateu Ahsoka. – Por que eu devo acreditar que não queria se livrar de mim pra treinar a Leia desde já?

Anakin, frustrado que suas explicações não surtiam efeito, abaixou a cabeça.

— Não deve – ele disse. – Mas é verdade, Ahsoka. Eu nunca quis me livrar de vocês. Você é uma irmã pra mim e eu jamais iria me querer me livrar de você. E a única coisa que eu posso te oferecer pra você acreditar nisso é a minha palavra. Não a palavra do mestre Sywalker. A minha. Do Anakin.

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Ahsoka engoliu em seco.

Aquilo havia pego a jovem de surpresa e, por um rápido instante, ela se sentiu terrivelmente culpada por fazer Anakin passar por aquele interrogatório todo. Mas esse instante terminou e ela voltou a assumir uma postura séria e intimidadora.

— Então por que você quer tanto que passe pelos testes? – ela perguntou.

Era sua cartada final. Para ela, ela havia encurralado Anakin contra a parede e, de lá, ele não tinha mais escapatória a não ser terminar com aquele teatro ridículo.

Anakin, finalmente, olhou para Ahsoka.

— Por que eu acho que você está pronta, Ahsoka – ele disse. – Acho não... Eu tenho certeza. Você está pronta para os testes. Não tem mais nada que você possa aprender comigo. Eu te ensinei tudo o que eu sei e eu tenho certeza que você vai deixar cada um dos mestres do Conselho completamente bestas durante os testes.

Nesse instante, Ahsoka fora completamente desarmada e, imediatamente, ela voltou a se sentir culpada.

— Eu juro pelo que vocês quiserem, isso tudo foi um grande mal entendido – Anakin continuou. – Eu assumo... talvez eu tenha sido um pouco precipitado demais em assumir que você fosse gostar da idéia de que eu treinasse a Leia, e eu peço infinitas desculpas por isso – ele olhou para Padmé. – Mas eu juro que eu não ia tomar nenhuma atitude sem antes falar com você. Nunca! E Ahsoka... – ele olhou para a Padawan. – Você está se sentindo pouco preparada... sente que precisa de mais tempo... acha que é cedo demais... mas acredite em mim, eu não conheço um único Jedi que passou pelos testes se sentindo pronto pra isso. Eu, inclusive. Todos se sentiam despreparados e imaturos demais pra isso... Isso é normal, Ahsoka... Aconteceu com todos nós, e com você não vai ser diferente. O que é diferente com você é que você é a Padwan mais extraordinária que já pisou naquele Templo. Eu te treinei, eu vi o quanto você cresceu eu tenho certeza absoluta que você está mais do que pronta. Não tenho dúvida alguma disso. Eu não quero mais você no campo de batalha como a minha aprendiz. Quer você comigo como minha colega de trabalho, de igual para igual, como eu e o Obi-Wan.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Novamente, Anakin abaixou a cabeça e as duas mulheres coraram. Envergonhadas, as duas apenas queriam enterrar os rostos no sofá para não terem que encarar Anakin novamente.

— Ani, eu... – começou Padmé. – Me desculpe...

— Mestre... – gaguejou Ahsoka. – Eu não saia que você pensava tudo isso de mim... Eu... Me desculpe...

Padmé, imediatamente, sentou-se ao lado do marido e pegou a sua mão.

— Vocês não precisam pedir desculpas – ele disse. – Foi um baita de um mal-entendido e realmente era uma intepretação possível pra isso tudo, não é? Eu devia ter contato sobre a Leia no momento que eu vi acontecendo, Padmé, me desculpe...

— Chega de desculpas de você – disse Padmé. – Somos nós que devemos pedir desculpas dessa vez.

— Sim, mestre, Padmé está certa – disse Ahsoka, sentando-se do outro lado do sofá. – Pela Força, eu não sei onde enfiar a cara... Me desculpe, mestre... Eu nunca devia ter desconfiado de você. Você nunca faria uma coisa dessas e eu não sei porque raios eu achei que faria...

Imediatamente, as duas mulheres abraçaram Anakin.

***

De volta à varanda, Anakin observava Coruscant. No horizonte, uma final camada de luz indicava o nascer do sol. Logo, ele percebeu que não estava sozinho: ao seu lado, Obi-Wan lhe oferecia o último copo de whisky da noite. Depois de toda aquela confusão, o rapaz aceitou seu questionar.

— E então? – perguntou o Jedi, erguendo o próprio copo de whisky para o antigo aprendiz. – Dignidade ou império de merda?

Anakin sorriu.

— Dignidade – ele respondeu.

Os dois brindaram.