“Não, não, não, não...” minha mente gritava. Tudo girava ao meu redor, foi como se o ar que eu respirava se tornasse cada vez mais falho.

― Pequeno Sevilin? Você está bem? ― Ayvaz segurou meus ombros com força, me chacoalhando ― Você está pálido!

Queria responder, entretanto, minha mente estava muito distante. Quem havia pegado as moedas? Será que alguém havia descoberto? Será que meu pai pegou e guardou? Eu esperava, desesperadamente que fosse a última opção, mesmo com meu coração estar dizendo o contrário.

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“Não, não, não, não, idiota, idiota, idiota, você vai morrer! Acabará na estaca sendo ridicularizado pelo vilarejo inteiro. Imbecil, imbecil, imbecil!” minha mente me martirizava dos piores jeitos. Eu queria morrer.

― Pequeno Sevilin! O que aconteceu com você? O que aconteceu com as moedas? ― Meu melhor amigo estava desesperado.

Tentei chamar palavras cá de dentro, mas foi como se eu tivesse perdido a fala, a voz, o chão. Foi como se meu mundo tivesse caído.

― Ayvaz, eu não sei como as moedas desapareceram! ― Respondi, finalmente, sentindo minha boca ficar seca ― Eu não havia contado para ninguém! Nem mesmo Ruzgar sabia disso. Eu estou perdido. ― Exclamei desesperado.

― Calma, você não está perdido! E se seu pai tiver pegado as moedas? ― Exclamou, numa clara tentativa para tentar me animar.

― Não, eu tenho certeza que meu pai não pegou, se tivesse, teria me contado! ― Respondi, sentindo meus olhos arderem em lágrimas.

― E se ele tiver dado a igreja? Sei lá, Sevilin, às vezes nossos pais fazem coisas para nos proteger.

― Eu sei disso! Mas meu pai nunca escondeu nada de mim, por que esconderia essas moedas, assim, do nada?

Ficamos em silêncio nos olhando. Ayvaz estava assustado, isso era óbvio, e eu, não estava diferente. A vontade de chorar era enorme, mas eu não queria fazer isso na frente de meu melhor amigo. Ficamos assim, por longos minutos, que pareciam uma eternidade, o mundo parecia desabar em nossas cabeças, mais precisamente, na minha.

― Vamos dar um jeito nisso. Eu vou estar do seu lado! ― Ayvaz disse, me tirando daquele mártir, me puxando para um abraço apertado ― Estarei com você, não se preocupe.

Com tais palavras, chorei em seu ombro. Meu coração parecia se partir a cada lágrima que caía de meus olhos. “Oh, Deus, por que dói tanto viver?” Me perguntava. Ayvaz parecia partilhar de minha dor, e me apertava com força.

― Eu queria poder arrancar toda essa dor de você, pequeno Sevilin. Me machuca te ver assim...

― E-Está tudo bem... ― Exclamei enquanto os soluços se misturavam ao meu choro.

― Não minta, nada está bem. ― Sussurrou.

Me apertei ainda mais a ele. Sem Ruzgar por perto, meu melhor amigo me salvava dos momentos em que me afogava em minha própria solidão. Continuava a chorar desesperadamente, enquanto o loiro dizia palavras doces e de conforto. Naquele momento, parecia apenas existir Ayvaz, eu e minha dor, era como se o mundo lá fora, não existisse, mas infelizmente, existia e além de tudo, desabava sobre minha cabeça constantemente.

― Obrigado por ficar ao meu lado ― Exclamei, com a voz embargada pelo choro ― Sem você, minha vida não iria fazer sentido algum.

― Eu sei! ― Murmurou soltando um riso baixo. Aquilo me fez sorrir também. Apesar de tudo, havia beleza em meio a tanta desgraça. E ficamos assim, num abraço caloroso, por um grandioso tempo.

Tempo este, que parecia ser infinito e, que aos poucos, foi me acalmando. Quando fui perceber, quase estava dormindo nos braços de Ayvaz, que parecia estar invicto, já que eu literalmente, ainda permanecia de pé, por seus braços fortes, já que eu não havia forças.

― Está mais calmo? ― Ayvaz me perguntou.

― Sim! ― Levantei meu rosto e olhei em seus olhos claros, que pareciam brilhar ainda mais com a luz do luar ― Obrigado, por tudo.

― Eu é que agradeço, pequeno Sevilin. Agora, vamos, você tem que voltar pra casa e dormir. Será um longo dia amanhã.

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― Quer passar a noite aqui em casa? ― Perguntei

― Oh, não, Sevilin. Acho melhor voltar pra casa, você sabe, mamãe pode precisar de mim.

― Espero que sua mãe melhore, Ayvaz... ― Murmurei, colocando minha mão sobre seu ombro.

― Eu também, pequeno, eu também... ― Suspirou pesadamente.

Eu sabia o quanto falar sobre sua mãe era doloroso, por este motivo, eu evitava ao máximo não comentar ou fazer perguntas a respeito dela. Assim, caminhamos em silêncio até a frente de minha casa, para nos despedir, eu iria pular em seus braços e dar-lhe um grande abraço, mas algo me impediu. Eram vozes, altas, surgindo entre meio a escuridão. Antes que eu pudesse pensar em algo, me puxou e nos levou atrás de uma enorme árvore, com um olhar sério, levou o indicador até seus lábios, num claro gesto de silêncio. Tremi. Algo dentro de mim dizia que alguma coisa iria acontecer, eu só não sabia distinguir se era boa ou ruim. Meu melhor amigo me abraçou, numa clara tentativa de me acalmar, já que, eu estava tremendo, dos pés a cabeça. Eu estava com medo, muito medo e não sabia o porquê.

― Deveríamos queimar a casa do herege ― Uma voz masculina desconhecida vociferou entre meio a escuridão se aproximando de minha casa.

― Não, não vamos fazer isso. Sabemos que o pai dele é um homem de bem, não tem culpa do filho ser um doente anormal que vai contra as leis de Deus ― Outra voz se ergueu, mas era uma voz feminina. Eu conhecia aquela voz... Tentei olhar por cima do ombro de Ayvaz, mas ele era alto e me apertava com força, não conseguia ver.

― Eles merecem morrer, Sevda! O filho por ser um herege e o pai, por cobrir essas nojeiras. ― A mesma voz entoou enfurecida.

Ayvaz me olhou com os olhos arregalados. Não, não podia ser! Ela havia prometido.

Meus olhos se encheram de lágrimas, senti-me traído. Nunca deveríamos ter confiado na mãe de Ruzgar. Seria muito egoísmo de minha parte começar a rezar? Sim, com toda certeza seria. Eu sou um egoísta. Além de ser fadado a ir para o inferno, levarei a todos que me protegeram e me guiaram nesse caminho. Idiota, idiota, idiota.

― Então, o que faremos? ― Outra voz feminina desconhecida perguntou ― Iremos queimar a casa com os dois dentro?

― Não... Isso não ― Sevda exclamou desesperada ― Deveríamos apenas avisar a igreja.

― Mas você sabe, que seu filhinho imbecil e idiota irá junto, não sabe? ― A voz masculina bradou com raiva ― Seu filho é pior ainda, se tornou um pecador porque quis, se sabia que Sevilin é um herege que pratica o homossexualismo por que não denunciou a igreja? Isso me dá nojo!

― É, é isso aí. Teu filho também pecou, deve ser queimado! ― Outra voz masculina entrou na conversa, com um claro deboche na voz.

― Não, o meu filho, não! ― Sevda exclamou, desesperada, em meio aos soluços.

― O teu filho, sim! Sevilin não pecou sozinho, teu filho também irá para o inferno ― A voz feminina proferiu com ódio.

Silêncio.

O que dava para ouvir, era um soluço contínuo, que eu julgava ser de Sevda.

Oh, Deus, proteja-me!

― Por favor, não façam isso com o meu garoto... ― Sevda suplicou ― Eu lhe imploro. Poupe meu Ruzgar, ele não tem culpa, por favor...

― Ele tem culpa, Sevda, pare de tentar proteger teu filho asqueroso ― A voz feminina exclamou com nojo.

― Não iremos poupá-lo, se queimarmos Sevilin e Alp, teu filho irá junto! ― A mesma voz enfurecida exclamou. Passos foram ouvidos e o silêncio reinou, deixando apenas alguém choroso e soluçando para trás. Sevda. Minha vontade era de sair correndo e abraça-la, mas ela já tinha raiva de mim o suficiente por encaminhar seu filho para o inferno. Não a culpo. Por isso, decidi ficar quieto e apenas chorar nos braços de Ayvaz, pela segunda vez.

Passos foram ouvidos, lentos, até que desapareceram completamente. Eu não tinha forças nem para me mover. Estava tremendo, dos pés à cabeça. Eu queria morrer.

― Acalme-se, pequeno, por favor... ― Ayvaz sussurrou em meu pescoço.

― N-Não tem como, Ayvaz, eu vou morrer e levarei meu pai e Ruzgar também. Eu sou um egoísta. ― Mais lágrimas escorriam de meus olhos.

― Me escuta ― Ayvaz olhou em meus olhos ― Você não é egoísta, por que seria? Apenas por amar outro homem?

Não soube o que responder. Apenas me atolei ainda mais em lágrimas.

Eu queria sumir. Desaparecer. Virar pó e ser levado pelo vento.

Por que estava doendo tanto, Deus? Por quê?

― Tenta se acalmar, por favor, nós daremos um jeito nisso.

― Que jeito, Ayvaz? Não tem jeito nenhum.

― Tem sim. Você vai fugir!

― Fugir? Como, Ayvaz? Enlouqueceu?

― Não, não enlouqueci. É a nossa única saída.

― E Ruzgar? ― Perguntei, sentindo meu peito apertar de saudades.

― Pare de pensar um pouco nele, pequeno! Ele tem a mãe, ela pode protege-lo... Mas e você?

Silêncio.

Ele tinha razão.

― Tudo bem, você tem razão, Ayvaz.

― Darei um jeito nisso, eu te prometo, pequeno! ― Ele me abraçou novamente. Por algum motivo, eu me sentia protegido com ele. Isso era bom.

Eu não sabia nem como agradece-lo. Ayvaz fazia tanto por mim. E eu não podia retribuir. Depois de algum tempo, estando mais calmo e sonolento, meu melhor amigo me levou até meu quarto e me colocou para dormir. Ficou um pouco comigo, me fazendo companhia, até que finalmente fui levado pela inconsciência.