Do príncipe para a selecionada, da selecionada para o guarda, do guarda para a princesa, essa era a troca de olhares que se mantinha nos últimos minutos, olhares curiosos, preocupados, confusos, desesperados...

–Violetta, o que houve? –Leon ponderou.

–O que houve? –Violetta repetiu suas palavras e ele assentiu. –O que houve...bom...é... Por que não conta a ele, guarda Diego?

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O guarda ficou mais pálido do que ele já estava, já era branco, e agora estava quase da cor da neve. A princesa Francesca, com as mãos trêmulas empurrou o amor secreto pelos ombros, tentando dar um “apoio moral”, o que não funcionou.

–Leon...Digo, Vossa Alteza...Você quer saber o que aconteceu, certo? –Diego perguntou e Leon assentiu, já começando a ficar impaciente. –Eu vou te contar o que aconteceu, foi assim, numa bela manhã, os passarinhos cantavam.

–Guarda Diego! Francamente, se for me enrolar peço que não tente. –Leon falou e Diego se calou. O olhar do príncipe passou pelos três, estava até meio decepcionada quando passou os olhos castanhos esverdeados por Violetta.

–É algo sério?

–Não. –Os três responderam em um uníssono.

–É algo que eu deveria saber? –Leon perguntou, com a curiosidade explodindo em seu ser.

–Não. –Uníssono novamente, um uníssono desesperador.

–Está bem. –Leon falou, olhou para Vilu, que ainda estava em seus braços, e sussurrou: - Vou confiar em você. –E saiu com Ludmila, dando continuidade em seu encontro, não que este estivesse muito interessante, a loira casta 4 ao seu lado era uma boa pessoa, mas Ludmila não era a garota.

O encontro durou mais umas duas horas, já que os dois optaram por assistir a um filme, e discutir os interesses, descobriram não tem muitas coisas em comum, e o ditado “os opostos de atraem” não funcionava para os dois.

–Foi um prazer conhecê-la melhor. –Leon foi cordial, nenhum dos dois se sentiam a vontade.

–Igualmente. –A loira falou sorridente. Sentia-se mal por não estar caindo de amores pelo príncipe, óbvio que ele era atraente e ela o achava bonito, mas sabia que não seria capaz de amá-lo, mas ela sabia de alguém que seria.

Ludmila apostaria tudo que tem em Violetta, tinha certeza que Leon a escolheria, e mais, que eles se amariam, mas não entendi o porquê da amiga fugir do que estava começando a sentir.

–Talvez, poderíamos sair amanhã, eu te mando um bilhete logo que amanhecer. –Leon falou, por mais que não Ludmila não fosse a garota, ela era bem melhor do que as outras com que ele tinha encontros. A maioria das selecionadas só sabiam falar sobre si mesmas, e aquilo era insuportável.

–Eu adoraria sair com você de novo, Leon. –Com um beijo demorado no rosto da loira, os dois se despediram, cada um para o seu lado.

Ludmila caminhava pelos imensos corredores do castelo, havia muita gente morando ali, mas tudo parecia sempre tão vazio. Sentiu alguém puxar-lhe o braço, deu um grito e se virou assustada, escutando risadas em seguida.

–Seu idiota. –Esmurrou de leve o rapaz.

–Calma, meu amor. –O mesmo respondeu, arrumando o uniforme da guarda e passando as mãos pelos cabelos castanhos. –Temos uns dez minutos, daqui a pouco preciso voltar ao trabalho. –Murmurou, preocupado caso alguém os visse.

Ludmila nada respondeu, os dois se enfiaram em um canto escuro, e não demorou muito para a mão do guarda encontrar casualmente as coxas da loira. Era uma confusão, se agarram com pressa e rapidez, não sabiam quando poderiam se ver novamente, mas aí...

....

–Violetta? Violetta está aí? –Leon sussurrava, e dava leves batidas na porta do quarto da amiga. Depois de pensar se deveria mesmo abrir a porta para Leon, Violetta acabou cedendo, presumindo que não fariam mal algum tê-lo no mesmo quarto que ela. –Finalmente. –Leon comentou, dando risada enquanto passava pela porta.

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Talvez fosse seguro manter-se há uns 3 ou 4 metros de Leon, assim que ele entrou, o perfume masculino que somente ele aparentava ter, invadiu suas narinas, e ele teve que se controlar para não fazer nenhuma besteira.

–Está melhor? –Indagou Leon, despenteando os cabelos, que até então estavam cheio de gel e fixador.

–Sim, sim, foi só...

–Só...?

–Um momento. –Um momento? Aquilo não era uma boa desculpa.

–Você não mente bem. –Ele falou e soltou um riso. A risada dele era estranha, mas bonitinha, foi o que Violetta percebeu ao ouvi-lo rir pela primeira vez, não que isso seja tão importante para a continuação de nossa história...Mas é de fato interessante.

–Olha quem fala. –Respondeu secamente, e Leon estranhou. –Você disse que estava bem, aquele dia, quando te achamos no abrigo, não falou com ninguém e não explicou o que aconteceu, até sua mãe sabia que você não estava bem, mas você insistiu em mentir.

–Eu tive meus motivos. –Leon murmurou, não gostando muito do rumo da conversa.

–Eu também tenho os meus. –Vilu respondeu, cruzando os braços.

–São coisas diferentes.

–Como sabe que são motivos diferentes? –Violetta retrucou, se aproximando dele.

–Duvido que seus motivos sejam os mesmos que os meus. –Sussurrou um pouco nervoso.

–Então me conte. –Pediu.

–Eu não posso, me desculpe, mas não posso.

–Então não confia em mim? Ótimo, mas não venha cobrar segredos de mim, sendo que você mesmo não me conta os seus. –Cuspiu as palavras, estava estressada com coisas que ela mal entendia, e aproveitou para descarregar a raiva no primeiro que apareceu, ela costumava fazer isso.

–Droga, Violetta! Eu confio em você, mas não quero que você saiba! -Ele gritou.

–Não quer? É pelo visto as coisas são piores do que eu pensava. –Respondeu irônica, e viu Leon fechar a cara.

–Está sendo infantil. –Comentou.

–Eu não estou sendo infantil! –Berrou. –Você é infantil, uma droga de príncipe infantil, eu não sou!

–Tem certeza? –Leon provocou, sabendo que quem estava sendo infantil realmente era ela.

–Escuta aqui seu...-Mas não tiveram tempo de continuar a discussão, batidas frenéticas na porta interromperam o momento, felizmente se querem saber, pois com certeza a briga seria pior se os dois ficassem sozinhos por mais tempo.

–Vossa Alteza! Vossa Alteza! Está aí? É urgente! –gritou um homem, e Violetta jurou já ter ouvido aquela voz.

–Entre. –Ela pediu, vendo que Leon ainda estava transtornado.

–Vossa alteza, temos um grave problema, uma das regras da Seleção foi quebrada. –O homenzinho baixinho e rebusto disse.

–O que aconteceu? –O príncipe perguntou, e Violetta só observava, não sabendo se seria educado ficar ou ir embora, optou por ficar, afinal aquele era o quarto dela.

–A selecionada Ludmila Ferro foi pega aos beijos e outras coisas com um guarda. A punição irá acontecer em uma hora. –Leon empalideceu.

–Que punição? –Perguntou até um pouco desesperado.

–A mais severa, senhor. E depois ela irá para casa, se ela sair viv...

–Temos como evitar isso? –Ele perguntou interrompendo o homenzinho, andando de um lado para o outro, impaciente. Já Violetta estava sem reação, não sabia qual era a punição mais severa, mas estava preocupada, extremamente preocupada.

–Sinto muito, vossa Alteza, mas foi seu pai quem a pegou com o guarda. –O homenzinho falou, lamentando cada palavra dita. –Preciso ir, somente vim avisá-lo.

–Tudo bem, tudo bem, obrigado Jimmy. –Leon agradeceu e o homenzinho, o tal de Jimmy, se retirou.

Leon se virou para Violetta, esquecendo a briga, mas ainda transtornado, só que agora o transtorno era por outro motivo.

–Violetta, eu sinto muito por ela. –Falou com pesar na voz, mas estava sendo sincero.

–Por que sente muito? Leon o que vai acontecer? –Ela finalmente disse algo. –Vão machucá-la? Impeça que façam algo com ela, por favor, impeça.

–Você vai ver, eles vão obrigar vocês a verem. De verdade eu sinto muito. –Ele a abraçou. –Eu preciso ir, ainda vou tentar fazer um milagre e convencer meu pai, mas não fique feliz por isso, ele não muda de ideia.

.

[...]

Todas as selecionas estavam sentadas em bancos, em frente a uma espécie de praça. Havia um poste de madeira no centro da praça, uma grande parte da população daquela região estava do lado de fora dos portões observando tudo, havia centenas de guardas também, vigiando cada canto do portão.

Leon logo apareceu, sentou-se ao lado de um grande trono, no qual seus pais ocupavam. Ele deu uma rápida olhada para Violetta, a mesma olhava para ele também, e apenas lamentou o que ela teria que ver.

–Os traidores! –Um homem gritou. –Tragam os traidores aqui!

Então Ludmila apareceu, junto com um guarda, o qual o nome Violetta não sabia. Os dois estavam presos a correntes, e eram praticamente arrastados até o poste de madeira.

–Como se sentem sendo a vergonha desse lugar? –O mesmo homem perguntou, e depois deu uma gargalhada. –Esses dois traíram nossa alteza, traíram a confiança e hospitalidade do rei! Por isso, aqui na frente de todos vocês, eles irão pagar!

Ludmila e seu companheiro foram amarrados no poste, o guarda teve sua camisa arrancada. O tal homem que gritava no centro de tudo, e se divertida com o sofrimento do casal, pegou um chicote, e Violetta arregalou os olhos ao perceber o que iria acontecer.

–Leon! –Ela berrou, atraindo alguns olhares, inclusive o de Leon. –Não o deixe fazer isso. –Mas ele nada respondeu.

–10 chicotadas em cada um, você acham que é pouco? –O homem odioso perguntou e apenas pode se ouvir gritos da população. –Vão ser 15 então!

E lá foi a primeiro, no guarda que urrou de dor. O segundo em Ludmila, em suas pernas. As chicotadas eram intercaladas entre os dois que sangravam, as mãos, as costas e as pernas eram os mais atingidos, e Violetta não aguentava mais ver aquilo, ainda faltavam 7 chicotadas em cada um.

Ela correu, passou por todas as selecionadas, quase parou ao ouvir um berro de Ludmila, quase...Mas não parou.

–Leon! –Gritou ao chegar nele, o mesmo estava com uma expressão de dor no rosto, como se sentisse tudo aquilo que Ludmila e o guarda estavam sentindo.

–Violetta, por favor. –Leon segurou a pelos ombros, as mãos dele tremiam tanto que parecia que ele estava tendo algum ataque em seu sistema nervoso. –Por favor, por favor, volte para o seu lugar, por favor.

Mais um berro, agora do guarda.

–Leon, faz ele parar, ninguém merece isso, você não tem o direito de mandar alguém chicotear outra pessoa.

–Não fui eu, eu jamais admitiria isso, mas meu pai viu os dois, Violetta. Meu pai não tem piedade. –Leon sussurrou, e a expressão de dor em seu rosto se tornou mais marcante assim que ele ouviu outro berro de Ludmila.

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–Não seja covarde, mande-o parar. –Pediu, e ele odiou ter sido chamado de covarde.

–Não sou covarde. –Marcou bem as palavras. –Não tem nada que eu possa fazer, preciso que entenda isso.

–Então é um covarde! Você é o príncipe, Leon!

–Mas meu pai é o rei, o que ele pede é lei! –Leon gritou, e Pablo decidiu se levantar de sua poltrona, ao ouvir que fora mencionado na conversa.

–Me chamou, filho? –Perguntou irônico, ele obviamente estava se divertindo com todo aquele massacre inocente.

–Vossa Majestade, por favor, acabe com isso, eles já foram punidos. –Violetta pediu, com lágrimas e lágrimas escorrendo por sua face.

–Mesmo que eu quisesse. –O que era obvio que não. –Eu não poderia fazer mais nada, já paguei o carrasco que está chicoteando os traidores.

–Pai, por favor. –Leon pediu.

–Já disse que não dá, sinto muito, mas eles mereceram.

–Pai, isso não é sensato...-O próprio Pablo o interrompeu.

–Se continuar a me contestar vai sobrar para você. –E o rei se sentou em sua poltrona novamente aproveitando o espetáculo. Outro berro.

–Eu vou lá. –Vilu falou, ou melhor, o desespero falou por ela, o extinto falou por ela. Mas antes que pudesse fazer qualquer movimento, Leon a segurou. –Me larga.

–Você está louca? Ele vai te matar se você for lá. –Mas ela não ligou, tentou se soltar do príncipe, até chegou a estapea-lo, o que com certeza deixaria marcas, pois o tapa que ele recebeu no rosto não fora fraco, os guardas logo chegaram, parando a “briga” de Violetta com o corpo do príncipe.

–O que quer que façamos com ela, alteza? –Um guarda perguntou, era Diego.

–Podem levá-la ao quarto dela, ela só está um pouco nervosa, vai passar. –Leon pediu cordialmente, ele aparentemente não ficou estressado com o que Violetta fez.

–Covarde! –Ela gritou um pouco antes de sumir do campo de visão de Leon, ele apenas abaixou a cabeça e se sentou ao lado do pai, ouvindo o último grito de Ludmila, as chibatadas haviam acabado...

Leon colocou as mãos sobre a cabeça, e ficou lá por horas, sozinho, pois todos foram embora e ele se recusou a sair, era de fato um covarde? Não queria ser um covarde, desde criança ouviu seu pai chama-lo de covarde, ele não era um! Não poderia ser covarde.

Ele só queria chorar, mas não estava muito afim de ser chamado de fraco pelo próprio pai. Sua cabeça latejava, se pudesse teria trocado de lugar com o casal, e levado as 30 chibatadas, mas não podia, não fariam isso, Ludmila e o guarda seriam punidos de qualquer forma.

Ele elevou o olhar até a praça, ainda ensanguentada pensando em como podiam fazer aquilo com uma pessoa, ou melhor, duas pessoas.

Então aquilo era ser rei? Ficar feliz como sofrimento alheio, ser chamado de covarde e de fraco, por se importar com as pessoas. Ninguém via o quanto ele se esforçava para ajudar os outros, mas não era sempre que conseguia, como agora, não conseguiu evitar as chibatadas.

–Do que adianta? –Ele olhou para o céu, não que ele fosse religioso. –Eu só me ferro mesmo, nasci em berço de ouro, eu sei, mas...mas não posso fazer coisas boas com isso.

–Preferia ter nascido na casta 5 então, talvez lá eu pudesse fazer a diferença, ajudar, talvez lá meu pai me amasse, talvez lá a Violetta me entenderia, as pessoas veriam o meu lado bom, se é que tenho lado bom, talvez lá as pessoas não veriam o que eu não sou, me chamam de metido, egoísta, covarde, egocêntrico, por quê? Eu fiz por merecer isso? Não sou a melhor pessoa do mundo, só preciso entender, por quê? Por quê?

Então ficou quieto, não sabia se suas palavras faziam sentido, falava consigo mesmo, e para ele nada estava fazendo sentido.

–Me desculpe se estou sendo egoísta, sei que há pessoas sofrendo muito mais do que eu, só preciso entender, preciso me encontrar. Quero fazer a diferença, vou me esforçar para isso, eu juro, nem que eu tenha que fazer tudo sozinho, afinal foi sempre assim não é? Sempre sozinho...

“O covarde nunca começa, o fracassado nunca termina, o vencedor nunca desiste.” Norman Vicente Peale