Uma semana depois...

Vestindo seu melhor traje de gala, Harry olhou para o espelho do quarto e avaliou-se. Queria ficar impecável para quem quer que tivesse enviado aquela carta e acabado com sua paz. Um convite para um castelo luxuoso só poderia vir de alguém que quisesse impressionar seus convidados, pois bem, com a longa capa negra, gravata borboleta de seda, camisa branco-gelo lisa e sapatos lustrosos, sentia-se a altura de esnobar o anfitrião. Pegou a varinha em cima da cômoda e guardou-a no suporte da capa.

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Bem que Merlin poderia criar uma situação em que ele pudesse azarar alguém naquela noite.

Gina abriu a porta, entrando já toda produzida. Se trocara no closet, afinal não era boba, e percebeu que o marido vinha tentando atrasá-los do compromisso, jogando charme e carícias inconvenientes ao momento.

Para a noite escolheu um vestido longo, sem mangas e amarelo sol, com um trabalho em pedras verdes e transparentes na saia, que iam descendo até a barra criando nuances brilhosas. O bustiê era liso, e o decote generoso, empinando seus seios sardentos.

Harry piscou quando viu a mulher, estava exuberante.

— Você vai assim? - foi o que conseguiu gracejar no lugar de um franco elogio.

— Ah, não. Estava pensando em ir com o uniforme de Harpias. — atirou, pegando as joias na cômoda.

Ele molhou os lábios e ajeitou os óculos, pensando no que dizer a ela sem explodir uma briga. Ginevra Potter, sua esposa, não era boba, nem nada. Podia pressentir as vontades do homem com quem casara, de longe, e isso o assustava algumas vezes. Conseguir ser um livro aberto e estar deixando evidente o quão incomodado ficara com o possível alavanque na carreira da ruiva. Nada tinha haver com preferir que se apagasse mais que ele profissionalmente, Harry torcia pelo sucesso do seu amor, porque era como torcer por seu sucesso. Mas, a ideia da distância, da falta de tempo entre eles, o angustiava. E nesse ponto, tinha sim, um iceberg de ciúmes do privilégio partilhado entre Rony e Hermione.

— O que? — ela instigou-o, que ainda olhava-a sem falar nada.

Colocou brincos de pedra verde, pulseiras, uma braçadeira dourada, e pegou o colar que combinava com os brincos.

— Eu ponho para você. — Harry se propôs. Ela olhou-o desconfiada, mas deixou.

Harry veio por trás, afastou o perfumado cabelo, transpassou o cordão e encaixou.

— Desculpe. — anunciou de supetão.

— Pelo o que? — Gina encarava-o do espelho.

Ela sabia, mas queria ouvir dele.

— Por parecer estar de má vontade. É que você é minha vida, como bem sabe.

Virou-se delicadamente para o marido, com um leve brilho labial cintilando no rosto maquiado, dando-lhe um selinho na ponta do nariz.

— E quem pode viver sem sua vida? Quero que confie em mim. Jamais sairei de perto de você.

Aquilo o animou. Quis beijá-la, mas foi repelido para não amarrotar o vestido de festa.

Não tinha certeza se as desculpas eram verdadeiras.

***

Uma segunda carta chegara na segunda-feira, dando-lhes instruções de como chegar até o Castelo Monte Sacro. Uma chave de portal, um pequeno canudo de papelão, também foi encaminhada. Às seis e meia da noite do Sábado o objeto mágico foi ativado, puxando-os num espaço entre os espaços, até a Roma, Itália.

O casal habilidosamente parou numa área externa, um jardim imenso de grama aparada e elegantemente iluminado. O frescor da noite, com o fuso horário uma hora adiante, acariciou seus rostos trazendo consigo o odor agradável da cadeia de pinheiros plantados por toda a orla do lago, quase camuflado. Depois do lago, iniciava-se uma carreira, infinita na escuridão da noite, de algo que parecia ser pequenas árvores ou grandes arbustos.

A atenção do casal foi rapidamente atraída por uma monumental construção medieval, encarrapitada na elevação do terreno, o castelo Monte Sacro. Ele não podia ser comparado com Hogwarts em tamanho, mas numa disputa por beleza e arquitetura, certamente criaria um empate. As ameias vinham decoradas de trepadeiras podadas, as torres principais seguravam tochas potentes, além de todo o paredão fortificado trabalhar num jogo de cores cintilantes.

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Harry ouviu música e animação vindo de lá, sentindo uma pontada de receio pelo que pudesse os esperar. Ao lado deles, mais pessoas surgiam em suas chaves portais, e, de mãos dados com a esposa, foi sendo conduzido de encontro a uma comitiva de carruagens debaixo das árvores, somente agora notada. Percebeu que os veículos levavam os convidados pela estradinha de pedra até as portas do castelo.

— O convite, senhor, senhora. — fez uma meia reverência o cocheiro.

O auror retirou o convite de sua capa, entregando ao funcionário. Uma espiada nos nomes o fez lançar um olhar significante para Harry, certamente o reconhecendo como o prodígio inglês.

Subiram à carruagem de assento aveludado com mais um casal e partiram para a grande noite.

***

Grandes astros do Quadribol Mundial eram figuras corriqueiras no mar de gente que preenchia o salão de pedra e mármore. Estrelas para todo lado, robustas, esbeltas, ágeis, esnobes.

Evitando encarar as pessoas por muito tempo para não ser reconhecido, Harry apoiou as mãos nas costas desnudas da ruiva e arrastou-a discretamente para um local menos movimentado, diante da orquestra. De fato, a música agradável vinha de um conjunto italiano famoso, que não saia das paradas da estação Sinfonia Merliniana.

— Já encontrou alguém do clube? — perguntou ele.

Gina foi abordada pelo garçom e pegou duas taças de bebida.

— Ele disse que é vinho. — argumentou, entregando uma aguardente de cor creme a ele. — E não. Do Harpias, somente eu recebi o convite.

— Quê? — quase engasgou. — Porque essa exclusividade? Annelise também recebeu um prêmio esse ano, pelo que me lembro.

— Por favor. — resmungou ela, entre dos dentes.

Silêncio. A música criou um vácuo entre eles. Incomodado e irritado, mordeu os lábios, vendo-se como um bobo, parado ali, de taça na mão. Tomou um gole, achando a bebida contraditoriamente palatável.

— Onde está o anfitrião?

Gina simplesmente não lhe respondeu, saindo para o meio da multidão. Ele ficou ali, feito uma estátua de pedra-sabão que acaba de se rachar em dois. Tentou enxerga-la entre a massa, mas antes que pudesse dar passos atrás dela, foi fisgado no ombro por uma mão grande e firme. Virou-se, deu de frente com Vitor Krum.