Jimmus-sama estava com as mãos no rosto, tamanha a exasperação que o fato do príncipe ter fugido lhe causara. Foi Jadeitte quem relatou o que aconteceu na noite anterior e desde então estamos em uma reunião secreta.

Falo secreta, porque a corte de Elysion não está presente, como era de costume. Na sala do trono somente estão presentes nós, os Shitennous, generais da guarda especial do príncipe, e Elliot. Sim, o sacerdote de Elysion, o parente distante de Endymion e segundo na sucessão do reino em conjunto com o seu cruel irmão gêmeo, Icelos. Mas este não deve ser considerado, pois anos atrás, quando eu ainda era um mero trainee, foi condenado por traição e encarcerado em uma prisão de cristal. Foi nesta fatalidade que a grande rainha Amaterasu pereceu...

Elliot era diferente de Icelos, era um ser gentil e bondoso, um verdadeiro nobre. Porém carente de maiores poderes, ele não possuía um décimo do poder do Príncipe Endymion e nem o desejava. Para ele, a missão de cuidar dos bons sonhos das pessoas era mais do que suficiente... Mas agora discutíamos sua sucessão, algo que ele demonstrava claramente repudiar a mera possibilidade.

–- Endymion voltará, Jimmus-sama, não precisamos pensar em uma sucessão!

–- Eu sei, Elliot, mas – Jimmus ponderava, era angustiante quando ele fazia isso, sempre saia decisões necessárias, mas fatalistas, o peito de todos os presentes arfava – quero ter uma segurança, se Endymion prosseguir com esta insanidade precisamos garantir a segurança de nosso reino.

–- Posso aguardar Endymion, mas nunca ocuparei o seu lugar! – Elliot era um dos poucos corajosos, ou tolos o suficiente, para desafiar Jimmu-sama.

–- Dissuadiremos Endymion, imperador – era o General Kunzite quem estava se manifestando – imagino que conseguiremos.

–- Vejo que nem você, General, acredita no que estais a falar – Jimmus-sama conhecia bem o filho e concordei internamente com ele – Mas aceito, Elliot, aceito que aguarde o príncipe. O procedimento de proteção será iniciado agora. Vá buscar as Memades, Jadeitte.

O procedimento de proteção é algo que está em Elysion desde antes de qualquer um de nós nascermos. Elysion é o reino fundamental para o planeta terra, se ele for destruído, todo o planeta e, talvez o sistema solar, será extinto. Para que tal mal nunca ocorra, nossos antepassados criaram o procedimento de proteção que se baseia na conservação do chi do reino em duas ou mais criaturas, sacerdotes do reino, que concentram a luz e as trevas dos sonhos das pessoas.

Estes seres são criaturas que não possuem ligação forte com a família real, mas podem receber o poder do reino e são destinados a sempre proteger este poder. Devem já ter havidos outros, não sei, mas os que eu sempre soube da existência são Elliot e Icelos.

Icelos, pela traição, foi privado do livre-arbítrio e da consciência, hoje ele somente existe para conservar o chi dos pesadelos existentes nos sonhos das pessoas. Ele jaz no templo de Elysion, do qual nunca sairá.

Agora, até que o Príncipe Endymion volte à razão, Elliot também será submetido a uma prisão de cristal. Porém sem perder completamente a consciência, ele somente será conservado para que, caso haja a desgraça prevista nas estrelas, ele e Icelos se mantenham saudáveis e, com isso, Elysion também não pereça completamente.

Jadeitte veio com as Mêmades, iniciará o procedimento de proteção...

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Ao terminarmos a cerimônia de proteção, na qual Elliot e duas Mêmades foram aprisionados no cristal de proteção, Jimmu-sama definiu nossas funções.

A mim, foi designado procurar na superfície da terra algum sinal de Endymion, considerando que este possa retornar.

A Jedeitte, ir ao clã de Lady Beryl e auxiliá-la no fortalecimento do planeta, já aos Generais Kunzite e Zoicite foi designado a busca celeste. Eles iriam procurar nos demais planetas, sistemas e galáxias.

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Já faz uma semana que faço rondas periódicas na terra, mas não vejo sinal algum do casal... Hoje é o primeiro dia do inverno terrestre, então pego meu casaco de pele de urso.

O solo estava completamente coberto pelo cobertor branco de neve. As folhas das árvores já se foram há muito e estão negras ou congeladas. O vento estava muito frio, que eu precisava cerra os olhos para ver mais além, mas isso não me impediria de procurar por Endymion. Caso ele estivesse nesta parte do planeta, sem dúvidas, estaria próximo aos casebres deixados por nós, para servir de abrigo caso algum habitante de Elysion ou mesmo da terra, se perdesse.

Rumo para estes casebres. Eram pequenas construções de madeira e pedra que ficavam localizadas em cavernas nas montanhas, elas seriam os lugares mais seguros em uma tempestade de neve.

Olho para o céu e vejo que uma tempestade não está longe de começar. Enquanto estou andando tropeço em algo estendido no chão e caio. Era algo comprido e quando me aproximo para verificar o que era o susto toma conta de mim: era uma pessoa.

Ela estava gelada, verifico seu pulso, ele está fraco, há um ferimento, já congelado em suas costas. Deve ter sido vítima de um dos ursos e rolou montanha abaixo.

A respiração está vacilante, se permanecer aqui, com certeza morrerá... Olho em volta e vejo um dos casebres das montanhas, elevo o corpo esguio e o conduzo até ele.

Ao ingressarmos no ambiente aquecido do casebre ela dar sinais de melhora, a coloco no sofá próximo à lareira e vou fechar a porta. Uma tempestade está começando...

O casebre é bem aconchegante, vou até o porta-lenha e vejo que há troncos suficientes para dois dias ou mais.

Respiro fundo, vou acender a lareira e me volto para a acidentada. Ela está gelada e suas roupas ensopadas.

Ela não pode permanecer com estas roupas...

Mas...

Eu não posso...

Não posso mesmo...

Tirar...

Sinto um calor estranho subir pelo meu pescoço.

Só a ideia me deixa inquieto, eu sou um cavalheiro e nenhum gentleman que eu conheço sai por aí despindo jovens donzelas...

Mesmo feridas...

Mas ela pode morrer...

Escuto-a gemer, suas bochechas ficaram rosadas pelo choque térmico...

Se eu não retirar a roupa gelada ela poderá...

Pego alguns cobertores no armário, cubro, admito tentado a não cobrir, o corpo de minha companheira e abro a parte frontal do vestido, sendo cauteloso para não roçar a mão naqueles seios macios, nem em nenhum pedaço proibido de pele...

Como eu sei que eles são macios?

Eu a carreguei, né? Lembro envergonhado.

Não tenho coragem de vesti-lhe algo... Então, somente a cubro com os cobertores quentes e tento aumentar o fogo da lareira...

Escuto-a gemer mais uma vez e me recordo do ferimento... precisarei tratá-lo...

Que falta me faz as Mêmades... Elas são ótimas curandeiras... Sem falar que são mulheres...

Viro-a de bruços e limpo os arranhões com o material de primeiro socorros que encontrei em um dos armários. Quando vejo bem, não é nada grave realmente...

Agora que ela está tratada e bem coberta me permito observá-la.

Ela é jovem, não deve possuir mais do que 18 anos, tem a pele clara e luminosa, quase um personagem de conto de fadas, seus cabelos são castanhos, um pouco mais claros que os meus, os lábios são carnudos e bem vermelhos, infelizmente estão um pouco rachados pelo frio intenso que passou. Elevo-me e trago um chumaço de algodão embebido em água para umidificá-los.

Ela é muito bonita.

Esta constatação faz meu coração bater um pouco mais forte, muito bonita, retiro um pouco de sua franja umedecida da testa e vejo que ela está quente...

A única coisa que eu poderia fazer era tentar baixar a febre e faço isso até não conseguir mais definir minhas ações e me perder a escuridão da noite e ao sono que me acometia...

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Onde estou?

Sinto o chão duro nas minhas costas, sem dúvidas não estou no meu quarto no palácio de Elysion. Abro minhas pálpebras para a luz fraca da lareira e vejo a mulher que salvei noite passada. Ela está em pé e de costas para mim.

Minha boca abre levemente, ela está inteiramente sem roupa alguma. Suas pernas são longas o quadril é amplo, a cintura é fina e as costas estreitas. O ferimento que tratei ontem é somente três riscos vermelhos em suas costas.

Ela se vira e fecho os olhos rapidamente, para entreabri-los e continuar a observá-la...

Sim, sim! Isso é errado! Eu não deveria de modo algum observar uma donzela despida!!

Mas a perfeição que ela é despida, aquela pele branca e luminosa, aquelas formas firmes, me fazem querer continuar a observá-la.

Ela veste a camisa, grande demais para ela, mas única que existia no armário... A priori eu queria vesti-la, mas isso seria demais para mim.

Ela olha desconfiada para mim e vai até a porta, vejo que tenta abri-la, desiste e fecho os olhos novamente quando ela vem me ver.

Sinto sua aproximação, sua respiração quente, ela tirar um fio de cabelo de meu rosto.

–- Detesto admitir, mas você é bem bonito – sua voz é suave, quase uma melodia – Mas como viemos parar aqui?

Abro os olhos fingindo estar acordando e ela se move para longe de mim.

–- Você já acordou? – movo-me sedutoramente apoiando o peso do meu corpo em um dos braços.

–- Estava acordado? – havia uma expressão engraçada em seu rosto, tanto que fiquei tentado a falar que ouvi que ela me achava atraente, mas considerei mais adequado ignorar a pergunta.

–- Você parece bem melhor.

–- O que aconteceu ontem?

–- Te encontrei desmaiada e lhe trouxe para a cabana...

–- Minhas roupas? – ela arqueou a sobrancelha acusatoriamente.

–- Fui obrigado a removê-las – seu rosto adquiriu um tom carmim que eu nunca tinha visto antes em qualquer pessoa, então completei – As retirei, por baixo do cobertor...

–- Você não viu nada?

–- Prometo que quando estava retirando suas roupas molhadas -- depois eu vi tudo, mas naquele momento em específico posso ser sincero que... – nada vi. Tanto que não pude te vestir com outra roupa... Fico feliz que tenha encontrado o camisão.

–- Obrigada... -- Ela observa o vestido destruído – Aquele urso me queria para o jantar...

–- Você teve sorte.

–- Sim... – ela sorriu, o sorriso dela era algo que me deixou tão fascinado quanto a imagem de mais cedo, era um sorriso doce e sapeca. – Parece que houve uma avalanche... A porta está emperrada...

Elevo-me e vou verificar isso: Era verdade, estávamos presos, a neve havia soterrado todo o casebre.

Olho para os olhos dela, ela era um pouco mais baixa do que eu, dois ou três dedos. Neste momento, meu odioso estômago, se ocupa de me constranger com um sonoro ronco...