Sugartown

Alexandra


Estávamos em algum canto escuro, a caminho da minha casa e a garota me beijava enquanto eu a puxava para ainda mais perto de mim. Provavelmente estávamos debaixo da árvore da velha e chata senhora Honeycutt, que nunca gostou de mim, então, isso era um bônus. Mesmo que a garota comigo não saiba disso. Ela nem liga, e eu ligo menos ainda, porque, ahn, tem coisas mais importantes acontecendo.

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— Okay. – Ela murmurou, se afastante alguns centímetros. – Alex, espera!

— Esperar o que? A velha que mora aqui vir nos ver da janela? – Arqueei a sobrancelha e ela fez uma careta engraçada.

Nós demos risada, enquanto eu passava os braços em sua cintura, e ela me encarava, me beijando de novo.

Essa coisa, eu e ela, tinha começado há um tempinho já. Ela é da equipe, treina comigo, por isso nos vemos muito, mesmo eu ainda estando no ensino médio e ela na faculdade. Na última quarta-feira, depois do treino, acabamos ficando pela primeira vez e agora...

Hoje, depois que o Desmond me trouxe até em casa, até ficamos conversando por um tempinho. Eu o fiz beber alguma coisa, já que parecia que ele podia cair duro a qualquer momento, mas depois ele disse que tinha que ir embora pra fazer sabe-se lá o que.

Eu tinha muita sorte de ter conhecido o Desmond, mas se não fosse pela Helena, eu nunca teria falado com o aluno de intercâmbio que veio do outro lado do planeta. Mas ainda bem que nos aproximamos. Até hoje ele e Helena são meus melhores amigos, e eu não consigo me imaginar um dia sequer sem algum deles.

De qualquer jeito, depois que ele foi embora e eu tomei um banho, recebi uma mensagem de Josy, perguntando se eu queria sair com ela, alguma lanchonete ou algo do tipo. Acabamos indo ao shopping, e logo quando estávamos indo embora, quem encontramos? Ah é, a rainha adolescente com suas discípulas, Ashley, Sabrina e as gêmeas segundanistas, Pilar e Pamela.

— Olha só, Alexandra. – Sorriu Ashley, antes de fechar a cara. – Estragar meu sábado já não foi o bastante pra você?

— Ash, cuidado, meu horóscopo disse pra evitar qualquer tipo de conflito. – A baixinha, Sabrina, maníaca por astrologia, horóscopo e sapatos, aconselhava a amiga, enquanto piscava os olhos escuros cheios de rímel.

Josy já estava pegando nossos milk shakes, então eu já iria embora dali. Mas... provocar as líderes de torcida era legal demais pra deixar uma chance dessas passar.

— Não se preocupe, já estou indo embora. – Sorri. – E, Ashley, vai devagar no sorvete. É impressão minha ou essa roupa te deixa com uma bunda enorme mesmo?

Virei as costas, sorrindo enquanto ia até Josy, que me esperava na porta, me entregando meu copo e pegando minha mão.

— Cuidado, Alex, não vai deixar a Helena ficar sabendo disso. – Ouvi a voz de Ashley, enquanto as outras riam, e eu ia embora dali.

Josy e eu andamos por aí por algum tempo. Mesmo depois de termos terminado os milk shakes, continuamos andando, até ela andar comigo até minha casa. Em tese, já que paramos umas casas antes da minha, e é aí que estamos. Nos pegando na frente da casa da senhorinha que não tem nada de doce.

— Tá, agora é sério, Alex, tenho aula amanha cedo e você também. – Disse Josy, parando novamente o beijo.

Suspirei. Infelizmente ela estava certa.

— Dessa vez, você venceu.

— Quarta a gente se vê?

— Se você não faltar no treino, nos vemos. – Ela sorriu e eu me inclinei, lhe dando um selinho antes de nos despedirmos e eu ir pra minha casa.

— Cheguei! – Gritei após bater a porta. A TV estava ligada, mas não tinha ninguém na sala, então fui pro meu quarto. Olhei pra mochila jogada de qualquer jeito aos pés da cama desde sexta-feira. Merda. Eu ainda tinha um dever de cálculo pra fazer pra primeira aula de amanha.

❥❥❥

— Adivinhem quem é a pessoa com os melhores amigos do mundo?! – Cheguei, abraçando Desmond e Helena, enquanto eles pegavam seus livros nos armários.

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— O que você quer, Alex? – Desmond perguntou, franzindo o cenho, me encarando desconfiado.

— Às vezes eu só quero que saibam como os considero meus amigos e...

— Diz logo, Alex. – Sorriu Helena, e Desmond riu enquanto eu suspirei, me rendendo.

Não adianta, esses dois me conhecem bem demais.

— Okay, preciso copiar seu dever de cálculo, Helena. Não tive tempo de fazer o meu.

— Você nunca faz o seu. – Acusou Desmond, e eu vi Helena assentindo, fazendo todo aquele cabelo cacheado balançar e então espirrou, coçando o nariz em seguida.

— Nossa, vocês me apoiam mesmo. Eu estava ocupada, agora pode me ajudar?

Eles riram, e Helena me estendeu o caderno de cálculo dela, enquanto Desmond balançava a cabeça e eu os abraçava.

— Obrigada! Vamos logo, ainda tenho que copiar isso tudo! – Falei, os empurrando escada acima até a sala.

Eu e Helena entramos e fomos pros nossos lugares enquanto o Desmond foi para suas aulas avançadas. Ele é super nerd, tão nerd que nem ele nega isso. Tão nerd que ninguém liga pra isso.

Copiei correndo todos os exercícios e assim que o professor entrou, eu devolvi o caderno da Helena, que hoje estava tossindo e espirrando. Será que ela ia ficar doente logo na segunda semana de aula?

Durante a aula, me sentei de lado, acabando por olhar para o novo irmão da Helena e um dos caras mais chatos que eu conheci. Brandon.

— Como tá a vida com o irmão novo? – Acabei perguntando. Helena virou pra trás, me encarando e dando de ombros.

— Ele saiu ontem com os amigos, voltou de madrugada e pela conversa de hoje cedo estava bêbado.

— Que estúpido. – Dei risada, enquanto ouvia o sinal tocar e eu me levantar, arrumando meu material para ir pra próxima aula.

❥❥❥

Certo, uma segunda-feira sem nenhuma turbulência. Conseguimos passar um dia completamente normal e chato na escola e eu já estava indo embora à pé, já que morava aqui perto.

No dia seguinte, no fim das aulas, cutuquei Helena, que continuava meio resfriada.

— Ei, vamos sair?

Ela se virou, sorrindo e tombando a cabeça.

— Hoje não dá. Sinto muito, Alex.

— Mas por quêêê? – Sei que fiz um bico, o que fez a garota rir enquanto guardava seus livros no armário.

— Hoje começam as atividades do clube de artes. Prometi ao Adam que iria.

Claro. Helena é uma dessas poucas pessoas genuinamente boas, ou simplesmente ingênuas, e ela é ligada nessa coisa de artes. Ela até pinta, o que faz com que ela esteja no clube de artes.

— Ele te prometeu alguns desenhos macabros caso você fosse? – Brinquei, e ela balançou a cabeça, batendo a porta do armário e me cutucando, para irmos andando.

— Você tem que parar com isso, sério. O Adam é realmente legal.

— Sei disso. Eu até gosto dele, sabe? Com toda aquela maquiagem nos olhos. – Sorri, me lembrando do Adam. Vi ele pela última vez no clube de artes, enquanto acompanhava Helena e Desmond no último dia de aulas antes das férias de verão.

Adam era um cara alto e magro, super, super pálido, com muita maquiagem escura nos olhos e um cabelo preto que caía nos olhos. Ele era o típico gótico artista, e vivia dando desenhos e pinturas pra Helena, que já tinha me contado que ele escreve versos ou algo do tipo.

Fomos andando e conversando até chegarmos no corredor onde ficavam as salas dos clubes, e Helena já foi entrando na sala.

— Oi, Adam! – Ela sorriu, colocando a bolsa numa mesa, e o garoto ergueu os olhos até ela, seguindo-a com o olhar e sorrindo.

— E aí? – Ele disse.

— Oi, Adam! – Imitei Helena, que me devolveu um olhar de censura, enquanto Adam me encarava meio que surpreso.

— Ahn... – Ele parecia meio confuso. – Oi, Alexandra.

— Ignore-a. – Aconselhou Helena, após espirrar, pegando alguma coisa nas prateleiras do clube enquanto eu ria, acenando e fechando a porta, pensando que, agora que as atividades de todos os clubes voltaram, eu provavelmente teria que aparecer algum dia se quisesse manter minha vaga no time de handball. Mesmo isso significando ficar perto da Ashley e das outras líderes de torcida, além, é claro, de Collin e Brad.

— Eu tô tão entediada! – Reclamei no telefone, rolando na cama com o notebook no chão ainda tocando músicas de uma banda que eu gostava. O garoto suspirava, já tendo que aturar a mesma conversa várias e várias vezes.

Você fica entediada praticamente todos o dias.

— Vamos sair, Des, por favor! Prometo que nem fico jogando na sua cara que você me deve um sorvete.

Não dá mesmo, Alex. Tenho dever de casa. Alguns de nós realmente fazem o dever, e eu estou na turma avançada. Por que a Helena não quis ir?

— Ela ficou no clube de artes...

Ah, é mesmo. Conversei com um cara do clube de astrologia. Logo também começamos.” – Blá, blá, blá... – “Olha, você não estava num clube ou time ou algo assim?

— Eu estou no time de handboll... – Respondi.

Por que não vai treinar lá na escola?

Gemi em protesto, fazendo uma careta mesmo sabendo que Desmond não veria a intensidade do meu descontentamento.

— Por que não. As líderes estão lá, além do time de futebol... E algumas meninas do time de hand adoram puxar saco da Ashley. Não, obrigada.

O ouvi suspirando do outro lado, o que fez uma luzinha de esperança acender em mim.

Não posso, Alex. Mas tenho certeza de que vai achar algo pra fazer.”

E essas foram as últimas palavras dele. Suspirei, rolando de novo na cama. O que eu podia fazer? Será que eu estava mesmo cogitando ir pra escola?

Mas, sabe, eu até tenho algum dever de casa pra fazer... Me levantei, indo até a cozinha e pegando um copo d’água, me sentando no sofá e ligando a TV... Até que tinha umas coisas interessantes passando.

❥❥❥

Hoje eu tenho treino de salto com vara lá na faculdade. Eu tinha combinado de ver a Josy lá, mesmo estando na mesma equipe. Mas isso só aconteceria depois das aulas e se eu chegasse lá antes do horário e meu avô ficasse sabendo, ele ficaria uma fera e contaria pros meus pais que eu matei aula.

Como sempre, vi quando Desmond e Helena foram pegar os livros e fui até eles.

— E aí, gente? – Sorri, mas quando Helena se virou pra mim... – Puta merda, Helena, resolveu virar gótica também? Que olheiras são essas?

— Acho que estou pegando um resfriado. – Disse, e mesmo assim, sorriu.

— Eu tenho certeza. – Falou Desmond, empurrando os óculos pra cima do nariz e olhando pra mim. – Achou alguma coisa pra fazer ontem?

— Sabia que até que é bem legal assistir aqueles canais de compras? – Respondi, e Desmond pareceu desapontado enquanto Helena ria.

Acabamos indo os três até o meu armário para pegar meus livros, e então fomos subindo as escadas. Olhamos pra cima e vimos todo o esquadrão da Ashley junto com ela, todas vestindo aquela mesma droga de uniforme de líder de torcida nas cores da escola, azul de amarelo. Elas nos encararam também e enquanto subíamos e elas desciam, nos encontramos no meio da escada. Ashley não desviava os olhos de nós, tendo a certeza de jogar o cabelo loiro por cima do ombro quando estava bem do nosso lado.

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— Argh! Ela é insuportável! – Reclamei, após termos terminado de subir as escadas.

— Será que a gente fez alguma coisa a ela? – Desmond ergueu os óculos no nariz. – Ou ela é assim com qualquer um?

— Com o Brad ela não é. – Disse Helena, revirando os olhos e eu dei risada.

— A capitã das líderes de torcida e o jogador de futebol. Que império, hein?

— Eu diria mais clichê. – Des fez uma careta, e eu e Helena demos risada. – Bem, vou subir pra minha sala. Vejo vocês no intervalo.

E então, acenando, foi em direção às escadas, enquanto eu e Helena entrávamos na nossa sala.

— Agora, sério, Helena. Eu não acredito que você era amiga dela.

Eu adorava lembrar Helena disso, de que ela e Ashley já foram super amigas, mesmo isso sendo antes da puberdade de Ashley, que foi quando seus poderes do mal apareceram junto com os peitos.

— Para. Eu era, na sexta série, até ela começar a me odiar.

— Ou odiar qualquer um que não fosse popular o bastante? Sei disso. – Falei, e Helena revirou os olhos enquanto eu ria. – E olha só quem resolveu entrar...

Brad estava entrando na sala junto com Drake e Collin, e é claro que eu via algumas pessoas os encarando enquanto passavam.

— Acha que ele desbanca o Drake e vira quarterback? Ouvi que é isso que ele tá querendo. – Comentei, e Helena deu de ombros, ainda o encarando.

— Ele provavelmente faria isso. Com o próprio amigo. Acho que Brad só pensa nele mesmo.

— É, provavelmente. – Concordei, enquanto o professor chegava e começava a aula...

E eu juro, eu não aguentava mais ficar parada. Nem o intervalo ajudou muito. Assim que o sinal tocou, eu guardei meus livros no armário e saí correndo, gritando despedidas para Helena e Desmond, que riam.

Fui andando pra faculdade, onde eu teria meus treinos de salto com vara, além de ver a Josy.

Quando cheguei, fui direto pro vestiário, pra poder trocar de roupa. Algumas meninas do time já estavam lá, mas eu não estava vendo Josy em lugar nenhum.

Ela provavelmente faltaria hoje. Acho que era seu jeito que dizer que tudo tinha terminado entre nós.

— Já vou me aquecer, alguém vem comigo? – Gritei, mas a única resposta de eu tive foram gemidos desanimados, alguns não e cabeças balançando negativamente, o que me fez sair de lá rindo. Comecei a correr pelo terreno da faculdade. Meu avô gosta que o time se aqueça, mas pelo menos metade do time pula essa parte. Eu até gosto de correr um pouco antes do treino.

Eu ia dar a volta no grande barracão da piscina olímpica, quando eu vi... Acho que diminui o ritmo até parar completamente.

Há!

Realmente, tudo tinha acabado entre a Josy e eu.

Atrás do barracão da piscina, estava ela, e junto com ela, estava um cara, e eles definitivamente não estavam só conversando.

Pigarreei, andando em direção aos dois, e eles se afastaram, assustados. A cara de surpresa da Josy foi o melhor.

— Alex... Eu...

— Relaxa! – Ergui as mãos, rindo. – Não tem que inventar nada. Eu entendi, acabou. Não estou magoada, sério.

— Sinto muito, Alex. Eu...

—Sério, Josy, desculpa te interromper, eu vou continuar a correr. – Dei risada, começando a correr de novo, passando por eles quando a ouço me chamando.

Me virei, a encarando, e ela franzia o cenho.

— Não está nem um pouco chateada? Isso não te incomoda nada?

Dei de ombros.

— Sinceramente... Não. Nem era nada sério, você mesma disse isso.

Ela parecia surpresa, e não de um jeito bom. Acenei, e voltei a correr, dando a volta em todo o barracão e voltando para a pista, onde as outras meninas estavam se alongando e eu via meu avô com a mesma prancheta de sempre nas mãos.