Still Not Over

Capítulo 21


O primeiro dia de Shikadai na academia ninja não tinha sido nada como ele havia planejado.

Bem, para começar, ele nem havia planejado levantar da cama naquela manhã.

Mas digamos que as coisas não foram exatamente como ele queria. E a culpa de tudo isso residia em somente uma única pessoa...

— Shikadai, hoje é seu primeiro dia de academia, levante logo, eu não vou falar duas vezes! — Ah, sua mãe. Aquela com o gênio indescritivelmente problemático, provavelmente a pessoa mais mandona e cruel que ele já havia conhecido. Aquela que acabava com todas as suas vontades de ter um dia tranquilo, deitado e imerso no mundo dos sonhos por horas a fio.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

E apesar de desejar claramente contrariá-la, ele sabia muito bem que se fizesse isso, as coisas não terminariam nada bem.

— Onde está o Otou-san? — Shikadai perguntou assim que se encontrou com sua mãe na cozinha, desejando pegar algo para comer. Sua cara amassada denunciava o sono enorme que ainda não havia se dissipado.

— Já saiu, precisou resolver alguns assuntos com o Hokage. — Ela respondeu, distraída demais tomando seu café para lhe dar maiores explicações.

Shikadai suspirou.

Sua mãe era uma mulher forte e durona, mas ele percebia como ela ficava chateada quando seu pai ficava ocupado demais com o trabalho. E nos últimos dias, nem mesmo Shikadai havia visto o seu velho direito, já que na maior parte do tempo Shikamaru estava trancado no escritório do Hokage, ajudando-o com algum trabalho que Shikadai certamente não entendia. E nem queria entender.

Honestamente, pensar sobre isso lhe dava raiva. Por que seu pai se submetia a trabalhar tanto dessa forma? Por que ele não ficava um pouco mais em casa com eles? Com a sua mãe, principalmente? Tudo bem que Temari também tinha trabalhos para fazer, mas comparado com Shikamaru, ela tinha muito mais tempo livre.

Ah, pensar sobre isso naquela hora da manhã também era muito problemático.

— Shikadai, pare de pensar besteiras. Seu pai jantará conosco essa noite — Temari disse subitamente, fitando o filho, como se adivinhasse o que se passava pela cabeça do Nara. — Vá terminar de se arrumar, já está atrasado.

§

Assim que Shikadai entrou na sala de aula, a primeira coisa que fez foi analisar todos os locais, procurando um ideal (de preferência bem ao fundo) onde pudesse simplesmente sentar e, bem... dormir.

Mas para seu azar, ele havia chegado atrasado e a maioria dos lugares já estavam ocupados. Talvez devesse ter se levantando quando sua mãe o chamou pela primeira vez, assim teria chegado mais cedo.

Ou não.

E com a sala cheia, o falatório entre os outros alunos estava incrivelmente alto. Shikadai pode perceber nitidamente a voz de Boruto se destacando entre todos os outros. Desde que conhecera o garoto, ele sempre foi barulhento. Era um pouco irritante.

Shikadai finalmente se arrastou para o fundo da sala quando localizou um lugar vazio logo atrás de Sarada que conversava com uma Chouchou bastante animada. Ou melhor, Chouchou conversava com ela, já que a outra garota parecia mais séria e evidentemente menos interessada no assunto.

— Ah, mas é mesmo incrível como aqui não tem nenhum garoto bonito! — Shikadai se arrependeu de ter ido até lá no instante em que se sentou em seu lugar e a voz de Chouchou ecoou perto de si.

Ele não conseguiu conter a vontade de revirar os olhos diante da conversa das duas meninas. E para seu azar, a Akimichi tinha o fitado justo naquele instante.

— O que foi? Algum problema?! — Ela foi logo perguntando de forma alta e claramente irritada.

— Ah precisa falar tão alto? Não é nada... — Shikadai reclamou, tapando os ouvidos e depois se deitando com a cabeça na carteira. — Problemática. — Resmungou com a voz abafada.

Nota mental: procurar um lugar bem longe de Chouchou para se sentar no dia seguinte.

— O que ele está fazendo? — A pergunta peculiar vinda de alguém familiar ao lado de Shikadai o fez erguer sua cabeça.

Inojin estava de pé ao seu lado, apontando o dedo para frente da sala, aonde Boruto havia colocado uma cadeira perto da porta e agora subia nela com um pequeno apagador em suas mãos.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Boruto, você é idiota? — Shikadai perguntou mais para si mesmo do que para o colega que estava distante demais para lhe ouvir.

— Que estúpido. — Sarada a sua frente também resmungou, cruzando os braços.

Pelo menos alguém concordava com ele.

— O que você está fazendo?

— Não é óbvio? — Boruto respondeu para Chouchou, sorrindo de maneira travessa.

— Ouvi dizer que ele é um ninja bastante qualificado, é claro que não vai cair em uma brincadeira desse tipo. — Inojin comentou, mas o Uzumaki não lhe deu ouvidos, descendo da cadeira depois de ter preparado o apagador bem acima na porta, pronto para dar as boas vindas ao seu professor.

Antes que mais alguém pudesse argumentar alguma coisa, a porta lentamente começou a se abrir e todos se viram prendendo a respiração, com os olhos fixos em quem entrava por lá.

Só que, ao contrário do que todos esperavam, não foi o professor que adentrou a sala naquele instante.

— Ai. — Um garoto de cabelos brancos disse, ao receber o apagador em sua cabeça. Ele pegou o objeto que havia caído no chão, olhando de forma curiosa para todos os presentes.

Uma onda de risos, misturada com a indignação de Boruto, invadiu o ambiente.

— Ah Mitsuki! — O Uzumaki reclamou, bufando e tomando o apagador da mão do garoto. — Você tinha mesmo que atrapalhar, hein?!

O outro olhou para ele sem entender, mas decidiu não comentar nada, indo se sentar em alguma cadeira.

Boruto, no entanto, retomou o seu trabalho de começar a arrumar novamente sua pegadinha. Porém mais um imprevisto iria ocorrer e acabar com todos os seus planos.

— O que pensa que está fazendo? — Uma voz grossa perguntou para o loiro enquanto ele subia em uma cadeira e tentava posicionar novamente o apagador na porta entreaberta.

Boruto parou o que estava fazendo, olhando para o espaço da porta que teoricamente deveria estar vazio, imediatamente dando de cara com Aburame Shino, seu professor da academia.

Ele engoliu em seco.

— É... oi? — Deu um sorriso amarelo, enquanto descia rapidamente da cadeira.

Ao fundo da sala, a risada dos outros alunos foi ao pouco se espalhando enquanto um Boruto com a cara vermelha (não somente por vergonha, mas também por raiva), se sentava em um lugar vago ao lado de Shikadai.

— É claro que isso não iria dar certo, eu sabia. — Chouchou comentou, sorrindo e dando os ombros.

— Que idiota... — Shikadai ainda ria, sem se preocupar em ser ouvido pelo Uzumaki.

— Tsc, cala a boca!

É claro que o Nara pretendia retrucar, mas acabou desistindo quando o professor finalmente os mandou ficarem quietos, tomando o controle da sala.

Shino estava ciente desde o momento em que aceitara ser professor da academia, que aquele dia iria chegar. Iria chegar o momento em que ele teria que dar aulas para os filhos de seus amigos. E ele sabia muito bem que não seria nada fácil.

Embora não imaginava que seria tão complicado assim também, afinal os garotos pareciam ter herdado o que há de pior de seus pais.

Agora só restava torcer para conseguir terminar aquele ano de aulas com ao menos um resquício de sanidade.

§

Em um resumo de todo aquele primeiro dia de academia, Shikadai só pode concluir algumas coisas: primeiro que ele odiava seu professor, afinal o mesmo o impossibilitou de dormir durante a aula, o que claramente já fazia com que o Nara não simpatizasse com ele. Sério, chegava a ser irritante, toda hora que ele ameaçava abaixar a cabeça em sua mesa, um sensor parecia apitar dentro da cabeça de Aburame-sensei, que não só lhe chamava atenção, como também jogava pequenos pedaços de giz em sua cabeça.

Não entenda mal, Shikadai até queria se tornar um ninja, mas acordar cedo todas as manhãs para estudar aquelas coisas nada interessantes era simplesmente problemático demais para ele.

E para piorar, havia ainda outros fatores que o havia dado sono e uma baita dor de cabeça naquele dia.

É claro que ele estava falando de seus colegas. Conviver com os outros garotos em um ambiente como aquele, longe dos pais, era legal. E Shikadai já conhecia bem o suficiente a maioria deles, para saber como iriam se comportar. Mas não significava que estava sempre disposto a aturar as idiotices de Boruto, ou até mesmo as conversas femininas e irritantes demais de Chouchou.

Ao menos Inojin era alguém fácil e de bom convívio. Alguém que mantinha uma sanidade mental e bom se de manter um tipo de conversa. Assim como Sarada, que gostava de jogar shogi com o garoto e se tornava até mesmo um bom desafio em partidas assim que envolviam certo raciocínio e estratégias, apesar de ser um pouco competitiva demais (não que ele pudesse exatamente reclamar disso, já que o mesmo já fora informado que quando se tratava de competitividade, ele se tornava excepcionalmente irritante).

Então, bem, quando finalmente sua mãe fora lhe buscar no fim do dia na academia, Shikadai só queria comer alguma coisa e ir direto para a sua cama.

— Como foi seu primeiro dia? — Ela lhe perguntou de forma doce, algo que não era exatamente o costume de Temari, especialmente para alguém de fora de sua família.

— Problemático. — Resmungou e depois ergueu seu olhar para ela. — Eu preciso ir mesmo todos os dias?

Temari riu enquanto andavam a caminho de casa.

— Claro que sim. Precisa estudar bastante para se tornar um ótimo ninja.

Shikadai suspirou e coçou de leve a cabeça, com uma expressão emburrada.

— Eu posso fazer isso mesmo se faltar alguns dias sabe...

— Está fora de questão, Shikadai. Você não vai faltar. — Temari respondeu dessa vez com um pouco mais de autoridade em sua voz, o que fez o garoto respirar fundo novamente, mas permanecendo em silêncio dessa vez.

Não adiantava mesmo contestar.

Mas de qualquer forma, ele ainda não havia desistido. Tudo por algumas horas a mais de sono, afinal.

Ao chegar em casa, Shikadai foi imediatamente para o seu quarto, jogando sua mochila em um canto perto da porta e se deitando na cama, sem se importar com o fato de que precisava seriamente de um banho depois daquele longo dia de academia.

Deitado, ele olhou para a mochila fechada e soltou um gemido, lembrando nos deveres de casa que havia recebido do Aburame-sensei.

Que tipo de professor era aquele que mandava dever de casa no primeiro dia de aula?

Ah, mas certamente ele iria ignorar aquilo por completo por um certo tempo.

Depois de algumas horas, em que utilizou puramente para descansar e tomar um bom banho, o garoto ouviu sua mãe lhe chamar, dizendo que o jantar estava pronto.

— Otou-san ainda não chegou? — Shikadai perguntou ao sentar à mesa junto com Temari, observando a cadeira vazia a sua frente.

— Ele ligou, disse que iria se atrasar, está preso em alguma reunião. — Ela respondeu, olhando para sua comida. — Não se preocupe com isso, só coma.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Shikadai ficou em silêncio, ainda olhando o lugar vazio, sentindo uma irritação crescer interiormente. Por que seu pai estava fazendo isso? Será que ele não se preocupava com a sua família e achava mais interessante ficar trabalhando o dia todo?

Pensar sobre essas coisas fazia com que o pequeno Nara se questionasse se queria mesmo ser um ninja tão elevado assim algum dia. Não se isso o fizesse abdicar de tudo em sua vida e viver em prol de trabalho vinte e quatro horas por dia.

E olha que Shikamaru não era o Hokage, apenas seu conselheiro. E de repente, Shikadai imaginou que seria exatamente assim que Boruto se sentia, talvez... só talvez, ele não deveria achar tão ridículo os atos de rebeldia que o Uzumaki fazia pela vila apenas para chamar a atenção de seu pai...

Mas de qualquer forma, aquilo era algo revoltante, ele pensou, enquanto comia em completo silêncio.

Lançando alguns olhares de esguelha para sua mãe, Shikadai via que ela parecia estar perdida em devaneios também. Embora tentasse esconder, era evidente para o pequeno que Temari não estava exatamente satisfeita com aquela situação também.

Mas ao contrário de Shikadai, ela entendia perfeitamente como era estar imersa em trabalho, em como aquilo era sim importante e que Shikamaru estava fazendo o correto. Embora soubesse também que gostaria de passar mais tempo ao lado de seu marido, de certa forma, mesmo morando juntos, ela sentia falta dele, assim como seu filho também sentia.

Ao terminar de comer, Shikadai se espreguiçou, dando um longo bocejo logo em seguida.

Ele estava realmente com sono.

— Boa noite. — Resmungou para sua mãe depois de estar pronto para deitar em sua cama, e se surpreendendo ao encontrá-la sentada na mesa, desta vez com vários papeis em suas mãos. — Okaa-san, não vai dormir?

— Ainda não, vou revisar alguns documentos do trabalho.

Shikadai cerrou os olhos. Ele sabia que aquilo era somente uma desculpa para ela ficar acordada até seu pai retornar.

— Hm... — Murmurou, sem saber ao certo o que dizer. — Não demore.

— Não se preocupe.

Ele se dirigiu para o seu quarto, se deitando logo em seguida, sentindo o coração pesado e triste. Era estranho se sentir assim. E o mais estranho ainda era que incrivelmente seu sono parecia ter se dissipado naquele momento.

Shikadai fechou os olhos, tentando dormir. E depois virou para um lado... e para outro. E não se sabe quanto tempo se passou, até que o garoto se sentou na cama, parecendo incomodado e bem desperto.

Aquilo não estava dando certo.

Ele se levantou, ciente de que já deveria ser tarde da noite, mas sem se preocupar muito com isso. E andando com os pés descalços, foi até onde sua mãe estava na última vez que a viu naquela noite, encontrando-a agora com a cabeça abaixada sobre a mesa e vários papéis em torno dela, completamente esquecidos.

Temari ressonava baixinho, dormindo de modo sereno.

Shikadai suspirou, indo para o quarto de seus pais e voltando rapidamente para onde Temari estava, agora com uma coberta em suas mãos.

Ele colocou de forma desajeitada a coberta sobre a mulher, sem saber exatamente o que fazer em seguida. Não queria acordá-la...

— Boa noite. — sussurrou para sua mãe, dando um leve beijo em suas bochechas e depois se afastando, voltando para seu quarto.

Embora não estivesse exatamente com sono, ao menos agora se sentia um pouco mais leve, e talvez fosse capaz de conseguir dormir.

E com os olhos fechados, quando já estava começando a se deixar levar pelo sono, o movimento de alguém sentando ao seu lado na cama, despertou um pouco mais o pequeno Shikadai.

Ele não se moveu, no entanto, permanecendo de olhos fechados e aparentando estar dormindo enquanto ouvia agora a voz baixa de Shikamaru próximo de si.

— Me desculpe por não estar sempre presente, eu também sinto a falta de vocês. — O homem falava em um tom doce, tomando cuidado para não despertar o mais novo. — Você tem ajudado muito a sua mãe, Shikadai, tenha certeza de que estamos orgulhosos de você. — E então fez um movimento, ajeitando a coberta em torno do filho, e se levantando em seguida.

Shikadai abriu os olhos quando sentiu seu pai se afastar e fechar a porta de seu quarto. Suas bochechas estavam quentes e um sorriso ameaçava sair de seus lábios. Ele sabia que Shikamaru não fazia aquilo por mal, ele sabia o quanto o pai se esforçava em seu trabalho. E agora também tinha a certeza de que Shikamaru sentia a falta de estar com sua família.

No fim, eles não eram uma família perfeita, também tinham seus problemas, mas o que importava era que estavam sempre dispostos a passar por cima de todas as dificuldades e mostrar o quanto se importavam uns com os outros.

E aquilo sim valia a pena.