Stay With Me

O monstro dentro de cada um


Sthefan

A vida nem sempre sai como o planejado... Ela nos engana, trama contra nos, conspira a favor dos nossos inimigos... E nós, sempre sofremos, choramos, vemos quem amamos partir sem poder fazer nada para salva-los... A vida é engraçada... Ela nos trás a felicidade ao longo dos anos, mas a retira em um piscar de olhos. As lágrimas parecem durar mais que um sorriso, as lembranças, parecem voltar para nos torturar e a cicatriz jamais se apaga...

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No final, todos nós não passamos de um brinquedo na terra do gigante, apenas aguardando o momento certo para sair da caixa e conhecer um pouco da liberdade e do ar puro, sonhando com isso para sempre, sem saber que, no calar da noite, somos jogados de volta para o mesmo buraco sem o menor carinho, sem o menor cuidado. Apenas somos jogados de qualquer jeito, como um lixo é descartado. E, com o passar do tempo, envelhecemos, somos rasgados, ganhamos cicatrizes, surgem outros melhores que nós e então, o que, outrora era um prestigio e uma exclusividade, se torna comum e ultrapassado...

Não podemos lutar contra a vida nem contra nossas cicatrizes do passado, mas podemos fingir um sorriso, forjar a falsa força e lutar pelo o que vale a pena. Porque no final, sempre aprendemos com os nossos erros.

Se eu pudesse reparar meus erros, faria tudo diferente, mas não posso voltar para o passado e tentar conserta-lo, apenas posso utilizar as ferramentas ganhas, durante esse percurso, e tentar mudar o curso da história.

Acredito que todos nós somos anjos. Não estou falando bobagem nem nada, mas acho que, para cada ser humano nesse mundo, existe um anjo humano para nos proteger, nos ouvir, nos ajudar no calar da noite. Um anjo caído, não por ter errado e sido expulso do paraíso, mas um anjo destinado a nos ajudar nos momentos mais terríveis... Esses são os nossos amigos, aqueles insuportáveis e retardados que sempre estão do seu lado para te aconselhar e te impulsionar a fazer merda, mas, apesar de seus defeitos, olhamos apenas para suas qualidades, olhamos apenas para o bem que eles nos fazem e nunca nos arrependemos...

Nós temos dons, talvez não vejamos isso, mas todos possuem um dom, por menor que seja. Pode ser escrever, cantar, tocar, ser leal, confiável, risonho, realista, conselheiro. Realmente, não importa, apenas temos o poder de tornar o dia de alguém melhor. Acredite, um simples gesto pode mudar tudo.

Talvez não esteja fazendo sentido tudo isso que estou falando... Mas, o que faz sentido nessa vida? Eu escrevo cartas e cartas, tentando colocar meu pensamento em ordem, e essa não é diferente. Na verdade, isso é um texto e eu espero que você... Alice... Leia quando acordar... Esse é um dos, melhor dizendo... Apenas quero que você entenda que minha vida não faz sentido sem você aqui, você é o meu anjo... Minha melhor amiga, a garota dos meus sonhos e o amor da minha vida... Perdoe-me por ter demorado a perceber, mas essa é a realidade... Eu tive tantos amores, tantas paixões... Mas nenhum deles foi tão intenso quanto o seu...

Não foi um sentimento voraz que bagunçou minha mente e enlouqueceu meu coração... Pelo contrario, foi paciente e gentil... Compreensivo e doce... Acolhedor, como a brisa de outono... Você sempre foi e sempre será aquela por quem lutarei, mesmo que você ame outro...

Larguei aquela folha, cheia de meras verdades, em cima de outra pilha de papeis em minha escrivaninha. Alice teria muito o que ler ou, talvez, nada. Talvez não lhe mostre isso, simplesmente, para não enche-la de bobagens da minha mente.

Passei minhas mãos em minha cabeça, bagunçando meus cabelos antes de acertar tudo o que estava em cima da mesa e jogar no chão. Papeis, livros, canetas e até mesmo um copo vazio de whisky, colidiram contra o assoalho frio. Eu estava frustrado, cansado e de saco cheio dessa zona toda. Desse caos.

Ontem foi Natal, o pior de todos da minha vida. Precisei suportar Felipe e seus olhos inchados de tanto chorar, ou talvez de apanhar, murmurando sozinho pelos cantos e ver Isabella pegar algumas coisas que deixara para trás, ostentando um leve sorriso de felicidade. Ela era sadomasoquista e eu não tinha duvidas. Ashley, por sua vez, estava melhorando aos poucos, Christopher lhe fazia um bem inimaginável. Eles foram feitos um para o outro, mas nunca viram isso. Entretanto, mesmo fazendo de tudo para distrai-la, ela ainda chorou quando o relógio anunciou meia noite. Chorou por não estar com sua nova melhor amiga... E Christopher também chorou, assim como eu e Felipe. Nunca pensei que aqueles dois iriam sentir tanto a falta dela quanto eu sinto, nunca pensei que os “polos” deles iriam bater em lados iguais, mas a vida é surpreendente.

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– Você está uma merda – Christopher apareceu no quarto, caçoando da minha aparência. Mas, no fundo, ele tinha razão.

Lancei um olhar para o espelho ao lado do guarda-roupas e vi a imagem digna de um alcoólatra. Meus cabelos estavam totalmente desgrenhados, a barba estava ficando enorme, pois faziam dias que eu não cortava, minhas roupas estavam amarrotadas, suadas e um pouco sujas. A camisa metade abotoada e metade aberta, com uma parte fora da calça, dizia isso explicitamente. Eu estava um trapo, com olheiras profundas e um hálito de álcool horrível. Não ia para a escola há alguns dias e não me importava.

– À dor!- Levantei um copo de whisky, que se salvou do meu surto, oferecendo um brinde irônico. – Porque esse é o meu sobrenome.

– Pare de falar bobagens – Christopher revirou os olhos – Venha, você precisa se arrumar. Acha mesmo que a Alice vai gostar de ter um pinguço ao lado dela?

– Sou o Romeu do século XXI – Bufei irritado.

– Uhum e como. – Caçoou. – Você precisa tomar um banho e cuidar de raspar essa floresta ai. – Christopher dizia sério, realmente se importando com minha aparência.

– Talvez eu faça isso. – Disse indo em direção à porta, cambaleando um pouco. Eu ainda estava de ressaca misturada com uma noite sem dormir direito.

– Cuidado pra não cair, Julieta! – Ele riu quando me viu tropeçar em meus próprios pés e quase dar de cara com o chão.

– Vá pro inferno. – Mostrei meu dedo do meio ou o que eu julguei ser o do meio, pois estava quase sem noção nenhuma, e caminhei até o banheiro no final do corredor. Aos trancos e barrancos, rezando para não cair e não conseguir me levantar mais do chão.

– Eu vim de lá – Riu. Ele sempre tentava fazer piadinhas sem graça para tentar quebrar o clima em situações difíceis e, na maior parte do tempo, conseguia, mas não porque elas eram engraçadas e sim porque ele fazia uma cara de idiota quando era algo realmente terrível.

Entrei no banheiro batendo nos batentes da porta antes de conseguir chegar a pia. Abri uma gaveta, no armário da pia, peguei um barbeador e o levantei até a altura do rosto, ainda fitando aquele ser estranho na frente do espelho, completamente diferente do que eu sempre fui.

– Sem espuma nem nada? – Christopher perguntou surgindo do nada, novamente, na porta do banheiro.

– Você quer me ver tomar banho? Fala que eu já tiro logo a roupa – Revirei os olhos. Abri a torneira da pia molhando um pouco a lamina e a passando em meu rosto.

– Deus me livre – E então, como em um passe de magica, ele desapareceu do banheiro, batendo a porta e me deixando sozinho ali.

Por minutos, ou horas, perdi a noção total do tempo, fiquei na frente do espelho, me barbeando e encarando o homem que surgia por detrás dos pelos. Eu me sentia um monstro, mesmo não tendo contribuído, diretamente, para o acidente de Alice. Eu me culpava por não ter sido mais rápido ou mais forte e a culpa é o pior sentimento de um ser humano, sendo capaz de atormenta-lo dia após dia, noite após noite, com pesadelos, revivendo intensamente a cada segundo terrível que presenciei.

O maior erro do ser humano, no final das contas, é desejar ser imune a qualquer sentimento. É desejar não ter um coração, ser frio. Pois sem essas qualidades, você não pode sentir nenhum sentimento, nem mesmo, dor. Você se torna um vazio ambulante, alguém sem razão para existir, alguém que não tem a chance de mudar, pois não tem pelo o que lutar.

Christopher

Voltei para a Itália muito antes do planejado deixando alguns problemas, como Kate, para trás. Nossa conversa não havia terminado e talvez nunca tivesse um fim. Ela insistia na ideia de voltarmos a formar um casal, não por ela me amar e sim por amar a repercussão que tínhamos. Eu era um dos garotos mais conhecidos do colégio, não por ser extremamente lindo ou por ser capitão de algum time, mas por saber tocar violão e saxofone e participar de alguns concursos de talento.

Foi através de um show de talentos que Kate me conheceu, ela era uma das mais populares da escola, perdia apenas para Beatrice, a garota mandachuva de seu grupo. Elas não tinham dó, passavam por cima de qualquer um para ter o que queriam e se achavam no direito de terem suas próprias regras dentro da escola. Elas eram um grupo pouco numeroso, no máximo, seis ou sete garotas de corpos esculturais, cabelos loiros, olhos verdes ou azuis, magérrimas e altas. Perfeitas lideres de torcida.

Eu era apaixonado por Cindy, ela era a garota mais perfeita de todas, não era a mais linda, não diante daquelas loiras, mas ela era cobiçada por alguns jogadores – o que a tornava um incomodo para Kate e as demais – inclusive por mim. Mas, nunca estive de olho em sua beleza, na verdade, começamos como amigos. Ela estava treinando uma musica no piano da escola, para se apresentar em um show interno, quando entrei na mesma sala, para pegar algumas partituras, e me deparei com ela focada, em frente aquele enorme instrumento, tocando a mais bela canção.

Ela era tão doce e gentil que quando me viu com o saxofone, pediu para acompanha-la e dar um ritmo mais interessante, convencendo-me a participar do show ao seu lado, tocando uma musica que ela mesma compôs. De primeira, não acreditei que fosse dar certo, mas, quando começamos a tocar, uma ligação incrível aconteceu. Então, logo de primeira, nos tornamos grandes amigos por compartilhar a mesma paixão: A musica.

A apresentação foi maravilhosa, nossos nomes não saiam da boca de ninguém, éramos então o casal prodígio da escola. Não demorou muito para nos tornarmos namorados e ela se tornar essencial para a minha alegria. Éramos como carne e unha, unidos pela musica, ligados por uma sintonia especial, exclusivamente nossa. Entretanto, após a minha fama momentânea, Kate se interessou por mim, não pelo meu talento, mas sim pela minha beleza e pelo meu mais novo status.

Nunca me importei com Kate, alias, fui o responsável pelo primeiro fora da vida dela, na frente da escola toda, quando recusei a largar Cindy por ela. Desde então, ela desapareceu por um tempo e eu pensei que tudo estava bem entre nós, até acontecer aquele maldito acidente que acabou com ela... Cindy não morreu, muito pelo contrario, ela continuou viva... Mas, com o fogo abalou algumas colunas de madeira que sustentavam o teto, fazendo-a ceder e cair uma tora diretamente na cabeça dela retirando 70% dos movimentos de suas mãos. Nem a fisioterapia poderia ajuda-la, isso devastou a todos, inclusive ela que nunca mais tocou e enlouqueceu comigo quando eu a pedia para ter paciência.

Alguns meses depois Kate ressurgiu, não como aquela garota mesquinha e egocêntrica e sim como alguém que queria me ajudar, diante do júri, a testemunhar sobre aquela noite, pois a pericia detectou que o incêndio foi criminoso e, algumas evidencias concretas, caíram diretamente sobre mim, quase arrancando minha liberdade e me mandando para a cadeia.

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Foram meses exaustivos indo para o tribunal e repetindo a mesma historia de sempre: Éramos um grupo de amigos, reunidos em um maldito prédio abandonado, criando nossa própria musica e tentando seguir o sonho de uma banda. Mas, assim como minha amiga Kristen, um componente a mais bastou para destruir nossos sonhos e desfazer a banda por completo. O baixista e o guitarrista nunca foram flor de se cheirar, porem, sabiam levar a serio o trabalho. Eu cuidava, na maior parte do tempo, de fazer alguns solos no violão e depois finalizar com o sax, enquanto Cindy fazia a maior parte do vocal e a harmonia toda no piano.

Cindy e seus pais, após verem o que o júri estava prestes a concluir, me incriminaram e passaram a me ver como o destruidor do sonho de sua filha. Eu neguei, afinal, era a verdade, eu não havia iniciado incêndio nenhum, mas quase todas as provas apontavam para mim e diziam que eu havia incendiado o local espalhando gasolina aos arredores do prédio, conectando milhares de aparelhos na mesma tomada, posto a cortina bem em cima dela e, apenas esperando os instrumentos sobrecarregarem a energia, amolecer o fio, entrar em contato com o simples pano fazendo-o entrar em chamas instantaneamente e esperar atingir a gasolina lá fora. Era um total absurdo, pois eu não tinha motivo nenhum para fazer isso, entretanto, a acusação afirmou que nossos instrumentos tinham seguro – algo que um dos garotos havia feito para prevenir furtos – e, se eles sofressem algo, teríamos outros novos, de ultima geração e mais um apoio financeiro para suprir nosso “emocional”.

Foi frustrante ver a garota que eu amava me chamar de monstro, ver meus amigos darem as costas e meus pais não acreditando no próprio filho. Então, foi nesse meio tempo que Kate se tornou essencial e, provando ter mudado, dei uma chance a ela, até perceber que ela não se importava com meus sentimentos, apenas com sua grandeza...

Com o julgamento sem um veredito final, ou seja, ficando em aberto para novas provas, e meu ultimo ano no colégio concluído, decidi que seria a hora de ir para outro país, me distanciar de todos os meus problemas e tentar relaxar um pouco com os meus amigos. Tentar uma vida nova com novas aventuras e desventuras.

Então, pela primeira vez em muito tempo, me senti livre e despreocupado, apenas carregando esse “segredo”. Nunca desejei contar para nenhum dos meus amigos, pois não queria ser um suspeito aqui ou parecer o total vilão, também não queria ver o olhar triste e preocupado deles para cima de mim. Dispensava qualquer tipo de comentários sobre isso e lembranças que me atormentassem mais do que já podiam. Entretanto, em um dia qualquer, Alice me ouviu surtar comigo mesmo em meu quarto e entrou para ver o que era. Ela juntou as peças, me colocou contra a parede e ouviu a dura e triste realidade. Desde esse dia, prometemos contar nossos problemas, um para o outro, e buscar uma saída para eles.

Entretanto, nada é tão simples quanto parece. Reencontrar Sthefan e Felipe foi uma emoção incrível para mim, pois mostrou que os anos não haviam apagado nossa amizade e o mesmo posso dizer de Kristen e Allyson. Porém, em ambos os casos, posso dizer que o mundo à nossa volta mudou. Sthefan e Felipe estavam apaixonados pela mesma garota que, mais tarde, se tornaria uma das minhas melhores amigas e confidente. Allyson e Kristen eram o casal que superou muitas dificuldades, mas, agora, passava por mudanças enlouquecedoras. Kristen havia se afastado e passou a amar incondicionalmente outra garota. Assim como eu quando deixei Cindy e Kate para trás e encontrei Ashley aqui. A garota que mais pegou no meu pé e mais detestei se tornou quem eu amava. Tão irônica a ligação entre nossas histórias... E são nessas horas que percebo que o mundo não tem tantas opções assim, afinal.

Agora, Isabella que, por sinal, tinha as atitudes de Kate ao se jogar para cima de mim – que, no final, aproveitou – estava em qualquer lugar desse país sendo acusada pelo acidente de Alice. Queria sentir raiva dela, por tudo o que Ashley me contara sobre o acontecido na noite anterior, porem, sabia como era ser julgado e condenado precipitadamente pelos outros. Não estava dizendo que ela era inocente, pois, pelo o que ouvi, ela era o único motivo pelo qual tudo aquilo aconteceu, mas não me colocaria contra ela sem antes ouvir uma explicação plausível. Com isso, tomei a decisão de ir atrás dela no inicio de janeiro.

– Está tão pensativo... – Ashley murmurou surgindo atrás de mim e passando seus braços ao redor do meu corpo. Seus toques eram capazes de despertar o mais profundo sentimento e me fazer sorrir como uma criança feliz. Sempre achei que Cindy e eu fomos feitos um para o outro, mas, quando beijei Ashley pela primeira vez, tive certeza de que ela era quem eu procurei por tanto tempo.

– Só me lembrando de algumas coisas... Bobagem... – Sorri torto dando um breve selinho nela. O clima estava tenso e eu queria ter minha chance para sofrer em silencio, mas percebi que deveria ser forte ali e tentar juntar os pedaços e limpar a bagunça que Isabella deixou. Não podia ver meus dois amigos parecendo mendigos bêbados e minha amada sofrer inconsolavelmente, por isso, pegava no pé deles, atormentando-os com piadas e frases idiotas, na vaga tentativa de distrai-los.

– Kristen te trouxe muitas lembranças... – Observou. Ela ainda estava abraçada em mim com o rosto enterrado em meu peito.

– Sim, aquela praga maluca, descontrolada, linda e divertida... – Sorri distante ao criar uma vasta linha do tempo em minha mente, me recordando de todas as lembranças que tive ao lado dela.

– Linda? – Indagou Ashley se afastando.

– Ela é lesbica, relaxa... – Murmurei rindo ao vê-la me fitar com ciúmes.

– Sério é? – Perguntou com uma sobrancelha arqueada demonstrando interesse.

– Olha, você não começa! – Reclamei revirando os olhos. Se eu conseguia faze-la ciúmes com algo bobo, ela conseguia o dobro do efeito com algo ainda mais sem nexo.

– Estou brincando – Riu, pela primeira vez em muito tempo, com aquela cena. – Ela parece ter feito bem pra você... – Refletiu pensativa.

– Sim, tenho muitas lembranças com ela e seu... Falecido irmão... – Suspirei frustrado ao me recordar de como foi à perda dele... O grupo se sentiu despedaçado, partido em milhares de pequenos pedaços irreparáveis e, infelizmente, isso estava acontecendo aqui também... Porque todos os lugares que vou, trago sofrimento as pessoas?

– Sinto muito... – Murmurou notando minha tristeza.

Coloquei a mão no bolso da minha calça, remexendo em todo o canto à procura do broche que parti ao meio. Por um momento, senti meu coração parar ao pensar tê-la perdido, entretanto, foi só revirar um pouco mais e tirar a dobra do bolso que o encontrei.

– Que lindo... – Ashley disse ao ver aquele pequeno objeto, partido ao meio, em uma das minhas mãos.

– As asas irão te proteger e te reerguer quando você cair... - Murmurei a frase que representava seu significado.

– Bela frase... Mas elas estão partidas... – Observou apenas uma asa com metade do “C” de capitão.

– Separadas fisicamente sim, mas para sempre unidas na memoria. Jamais serão como antigamente, mas servirão para nos mostrar que, mesmo quebradas, são lindas – Recitei o novo significado dela, explicando o motivo pelo qual a parti.

– Então quer dizer que você e ela têm uma ligação? – Perguntou tentando entender.

– Sim... Pois mesmo após tanto tempo longe, nós nunca mudamos nossa amizade e jamais deixamos de acreditar, mesmo parecendo impossível, que dias melhores estão por vir... Afinal, mesmo em meio a um mar de problemas, temos a força necessária para supera-las, só precisamos ter paciência e fé...