Stay Strong - HIATUS

Primeiro dia de aula - Parte 1


Abri os olhos lentamente, pedindo internamente para que tudo pelo que eu passei no fim do dia anterior não tenha passado de um sonho. Sentei na cama e olhei em volta. Argh, aquilo aconteceu mesmo!



Flashback On



Depois da topada com a patricinha loira, voltei direto para casa, encontrando meu pai na cozinha.



– Onde você estava? – questionou-me.



– Fui confirmar a matrícula no colégio - respondi, já subindo as escadas. Ele me seguiu.



– Já esqueceu como se avisa? Para que diabos eu te dei esse celular? Eu estava preocupado!



– Viu que eu tô bem? É isso que importa! - falei em tom irônico. Aff, como se ele se preocupasse comigo!



– Não, o que importa é você me obedecer, e de agora em diante quero que me avise quando for sair, diga para onde vai e quem vai estar com você.



– O que é isso, prisão?!



– Quando é que você vai perceber que eu só tento cuidar de você?



– Não acha que está meio tarde para isso? - me virei e subi as escadas correndo, impedindo que ele dissesse qualquer outra coisa.



Mas que raiva que isso me dá! Depois do que aconteceu, ele simplesmente me impede de sair, não quer que eu encontre meus amigos e ainda por cima diz que é pelo meu bem, faça-me o favor! Quando eu precisava dele, ele não estava aqui. Não vai conseguir repor aquele momento. Não vai e sabe disso, então por que tenta?



Caminhei pelo corredor. Pelo visto era como um quadrado, com salas por todos os lados e o escritório dele bem no meio. Abri porta por porta procurando qual deles seria meu quarto. Quando os móveis foram descarregados eu não estava aqui, agora não sabia nem onde ia dormir.



Pelo visto ele fez o máximo para que eu não possa trazer amigos para cá... Na velha casa tínhamos quase cinco quartos somente de "hóspedes". Sempre eu e minhas amigas fazíamos festas do pijama e nunca cabia todo mundo no mesmo quarto, sem falar que outras vezes vinham garotos e não podíamos ficar no mesmo cômodo, senão... Já viu né?



Agora tinha apenas um quarto vago, e em todos os outros ele fez questão de colocar alguma coisa. Até agora já vi um bar, um salão de jogos, uma biblioteca... Ah, até que enfim, meu quarto!



Todos os meus antigos móveis estavam lá, arrumados nos mesmos lugares (papai estava tão arrependido assim ao ponto de colocar tudo do jeito que eu queria? Hm... Óbvio que não!). A cama de casal ficava bem no meio, uns quadros e pôsteres na parede, televisão de 60 polegadas na parede... Tudo certo.



Entrei no lugar e caminhei até a janela. Ah não, estava bom demais para ser verdade! Ao invés da minha janela dar para uma linda e gloriosa vista para o mar (estamos um tanto longe do mar aqui, mas isso não vem ao caso!), ela dava para o prédio ao lado, mais exatamente em frente à outra janela.



Abri a janela e olhei dentro da outra casa, dava diretamente para o quarto de alguém. Olhei melhor, será que eu conhecia? O que você está pensando Beatriz, não mora aqui há nem um dia!



– Procurando alguém, patricinha? - me assustei ao ouvir aquela voz. Quando me virei de novo me deparei com aquele ruivo idiota dentro do quarto à frente do meu. Ele ria da minha reação.



– Ah não, eu só posso ter colado chiclete na cruz! - falei comigo mesma, e ele riu mais uma vez. - Sério que você mora ai?



– Não, não, só estou aqui assaltando a casa. Os donos estão amarrados na cozinha! - ele respondeu em tom de ironia. Revirei os olhos. - Qual é seu nome mesmo?



– Beatriz, e você é...?



– Castiel - ele deu um meio sorriso, mas eu apenas o fitei.



– Com licença, vou matar meu pai aqui do lado e volto já - falei, fechando as finas cortinas dali. Isso ainda ia dar merda, aquelas cortinas não cobriam nada! Eu não tinha a mínima privacidade!



Mas ele vai me pagar por isso! Como ousa fazer isso comigo? Poxa, eu só queria ser um pouquinho mais respeitada por aqui, só queria ter um pouco de privacidade e ter o mínimo direito de cuidar da minha própria vida. Será que ele não entende?



– Por que você fez isso comigo? - perguntei, já dentro da cozinha mais uma vez.



– O que foi? - ele falou, com um sorriso travesso nos lábios.



– Você sabe! Por que me deixou num quarto com vista para um apartamento? Com tantos quartos por aqui você me deixa logo com aquele! - me queixei, enquanto ele ria de mim. - Isso não é engraçado, pare de rir!



– É claro que é. Você apenas está colhendo o que plantou, não estava aqui quando era para ter escolhido seu quarto. Então ficou com o que sobrou.



– Eu só estava confirmando minha matrícula na escola, acha que agora querer estudar é um crime?



– Não, é um pretexto mesmo. Como se você ligasse muito para estudar - ele riu uma última vez e logo ficou sério. - Agora suba pro seu quarto, já está tarde. Amanhã você tem aula. - o encarei durante alguns minutos, mas ele apenas se virou e continuou a cortar umas cenouras, me ignorando.



– Saiba que isso não vai ficar assim! - disse, logo saindo do lugar.



Ah, que merda! Condenada a uma cidade medíocre, com pessoas sem graça, meu reinado (o único lugar onde eu realmente mando que é meu quarto) tem vista para um garoto com cabelo de tomate e... Argh!



Flashback Off



É, aquilo tinha mesmo acontecido. Mas ele ainda vai acordar de manhã e me encontrar dormindo no meio daquela merda de bar, ah se vai!



Mas por enquanto... Estou com preguiça demais para fazer isso, apenas me levantei com um salto e desliguei o despertador. Já são 6:35 e minha aula começa 7:30, vou ter que me apressar!



Entrei no banheiro (que por sorte era dentro do meu quarto, ou eu perderia tempo demais procurando por ele) e tomei banho, mas sem molhar meu cabelo (odeio quando ele está molhado, incomoda). 6:49.



Abri o armário e coloquei uma calça jeans preta, uma camiseta com gola alta (para cobrir a cicatriz e evitar perguntas incomodas) e por cima um moletom cinza da Disney que é maior do que eu, de modo que cobria minhas mãos e chegava até a metade da minha coxa. Prendi o cabelo em um coque solto e coloquei um all star preto.



Coloquei minha mochila dois cadernos, cinco pacotes de Fini (um de cada sabor, aquilo é viciante!), canetas e um livro. Peguei também meus fones de ouvido amigos e meu celular. Coloquei para tocar e sai do meu quarto.



– Bom dia! - ele me cumprimentou, enquanto virava uma panqueca na frigideira.



– Hm - respondi seca, pegando uma maçã e saindo logo dali. - Estou atrasada! - justifiquei, antes que ele começasse a pegar no meu pé por causa de eu "não avisar para onde vou".



– Tenha uma boa aula - escutei ele dizer enquanto batia a porta.



Olhei no relógio, 7:00. Era meu primeiro dia de aula e já iria chegar atrasada, mas que... Ah, quem liga? Não estou mesmo a fim de estudar...



– Acho que você está atrasada, patricinha - olhei para o lado e ali estava Castiel.



– Você anda me seguindo por acaso? - perguntei revirando os olhos.



– E por que eu faria isso? - quando olhei novamente ele já estava longe. Aquele cara se teleportava ou coisa do tipo?



É, pelo visto eu não tinha saída... Peguei na bolsa um bipe ou sei lá como se chama e apertei o botãozinho, chamando o motorista que papai pagava para mim. Pelo menos alguma coisa ele tinha feito de útil.



Aumentei a música e poucos minutos depois chegou uma BMW 320i preta parou na minha frente e eu entrei no banco de trás.



– Me leve para a escola - disse séria, e o motorista assentiu.



Não se passaram nem dez minutos e eu já estava em frente ao novo colégio. Enquanto saia do carro, notei os muitos olhares direcionados para mim. As garotas com inveja e provavelmente já pensando coisas como "vadia casada com velho podre de rico" e "filha de chefe da máfia", enquanto os garotos apenas admiravam. Pelo visto eu não terei a chance de ter uma amiga garota por aqui...



Fechei a porta e vi Castiel chegando ao final da rua. Ele estava boquiaberto, e eu sorri mentalmente. Isso que dá me deixar falando sozinha, eu teria oferecido uma carona se ele não fosse tão mal educado.



Entrei no colégio com os horários na mão, estava totalmente perdida. Não, felizmente (ou infelizmente?) eu não tinha chegado atrasada e os corredores estavam abarrotados de gente. Resolvi ir ao único lugar que eu sei que alguém pode me ajudar. Vi a porta da sala dos representantes de longe e fui até lá, entrando. Apenas Nathaniel estava ali.



– Olá - ele me cumprimentou com um sorriso. - Posso ajudar?



– Oi, e é claro que pode. Primeiro... Tenho algum livro ou coisa do tipo para receber? Sei lá, vi uns armários lá fora. - Sempre gostei dessa coisa de armários dentro da escola, é tão legal! Na minha última também tinha, mas a cada armário novo vem uma nova surpresa e... Sério que estou fazendo esse discurso todo só por causa dos armários?



– Ah sim, um minuto - ele se virou e mexeu em umas caixas, abriu umas gavetas e depois me entregou quase uma dezena de livros e um papelzinho onde estava escrito uma combinação numeral. - A senha do seu armário está aqui e seus livros também.



– Percebe-se - respondi, colocando os livros sobre a mesa. Ele riu. - Por que você é sempre tão sério? Quero dizer... Você não se diverte nunca?



– Eu gosto de ficar por aqui, é um jeito fácil de fugir dos problemas.



– Resolvendo os problemas dos outros? - ele riu. Nesse momento o sinal tocou.



– Está na hora de você ir para sua sala.



– Ajudaria muito se eu soubesse onde é! - tentei pegar a pilha de livros novamente, mas me desequilibrei com o peso e tudo aquilo caiu no chão. - Merda! - me abaixei, juntando os livros e o loiro veio me ajudar.



– Quer que eu te ajude a levá-los até seu armário? - assenti, ele pegou sete e eu três.



Saímos daquela sala e o corredor já estava totalmente deserto. Meu armário ficava bem ao lado de uma sala de aula que Nathaniel disse ser a minha. Explicou também que por ser o representante tem a obrigação de ficar naquela sala ao invés de assistir a aula (acho que vou me candidatar a ser isso...) e por isso só está lá de vez em quando.



– Com licença professor - ele abriu a porta e chamou, quando todos os olhares se direcionaram para nós. Senti minhas bochechas ficarem quentes.



– O que foi? - perguntou um homem loiro de rosto "fino" e olhos negros que usava óculos perguntou. Provavelmente o professor. Chaaaaaato!



– Essa aqui é a aluna nova, chegou atrasada porque precisou pegar uns livros na minha sala - ouvi alguns "hmmmm" e fiquei tipo "QUÊ?", mas não disse nada.



– Obrigado por trazê-la até aqui - ao ouvir isso, o loiro que estava ao meu lado desapareceu e eu entrei na sala com apenas um dos fones, de modo que o professor não viu. - Ei, você! - ele me chamou. - Apresente-se para a turma.



Mas o quê?! Pelo menos eu não estava no meio da sala quando isso aconteceu, mas que merda é se apresentar para a turma? Nas minhas outras escolas nunca teve nada desse tipo!



Apenas fiquei olhando para ele durante alguns segundos, perguntando mentalmente o que exatamente é isso. Esses americanos, sempre inventando moda...



– Diga seu nome e idade, depois responda a possíveis questões que os alunos tenham - assenti, respirando fundo. Não gosto muito quando todos os olhares à minha volta estão direcionados para mim, mas...



– Me chamo Beatriz Lemos e tenho quinze anos - disse finalmente.



– Alguma dúvida? - o professor perguntou. Um garoto de cabelos pretos e olhos azuis levantou a mão. Mas que merda...



– De onde você é? - perguntou.



– França - os olhos dele se arregalaram e muitos fizeram do mesmo modo.



– E por que se mudou?



– Problemas pessoais - eu não queria deixar exposto para todo mundo saber os meus motivos, isso já era demais! Ele ficou vermelho pela minha resposta seca e deu um sorriso sem jeito. Outro garoto levantou a mão, ele tinha cabelos azuis e olhos violeta. Era muito parecido com o outro.



– Quer sair comigo? - ele perguntou, e todos na sala não conseguiram conter as risadas, fiz o mesmo. Qual foi, eu mal entrei na sala e o cara já está me cantando?


– Mas você não era gay, Alexy? - alguém perguntou, mas eu não consegui distinguir de quem era aquela voz.


– Shiu! - o garoto respondeu, e desatou a rir. É, agora parecia mesmo que ele era gay! Só sendo gay pra querer sair comigo...

– Já chega! - o professor fez com que as risadas parassem (não totalmente, claro). - Sente-se - disse para mim, e eu me apressei a caminhar até a última carteira da sala e sentei ai, perto da janela.



Pelo menos agora nem todos ali olhavam para mim... Olhei em volta enquanto abria minha bolsa. Aquela loira estúpida estava ali juntamente com suas seguranças de unhas pintadas. Elas olhavam para mim enquanto cochichavam entre si e depois começaram a rir.



Mas é muita falta do que fazer, fala sério, recalque é mesmo fogo! Deixando elas de lado, ainda percebi um garoto baixinho e com óculos de lentes grossas olhando para mim. Ele era tão fofinho!



Peguei meu caderno, uma caneta e um pacote de dentaduras. Copiei no "automático" as coisas que o professor escrevia no quadro e com a outra mão eu comia as deliciosas gelatinas. É aquilo era simplesmente viciante.



– Com licença professor, posso entrar? - Castiel perguntou da porta.



– De novo? - o homem bufou, enquanto o ruivo apenas coçou a nuca, como se estivesse envergonhado, porém sua expressão não mudou nem um pouco. - O único lugar vago é ao lado da garota nova, sente-se lá - QUÊ? Vai sobrar pra mim, é isso? Ele procurou o lugar vago durante alguns segundos e logo depois nossos olhares se encontraram.



Senti-me corar e logo voltei minha atenção para o quadro novamente, enquanto ele revirava os olhos e vinha caminhando em minha direção.



– Por que não faltou logo, eim? - perguntei emburrada.



– Oi pra você também, patricinha.



– Já disse que não sou patricinha.



– Lembrando que esses a partir de agora são seus lugares definitivos até o final do ano - o professor falou. Nos entreolhamos, e eu me levantei batendo a mão na mesa.



– QUER DIZER QUE EU VOU PASSAR O RESTO DO ANO DO LADO DESSA COISA COM CABELO DE TOMATE? - quando disse aquilo, todos na sala começaram a rir. Castiel ao meu lado se levantou também, percebendo que estava ficando para trás.



– EU NÃO VOU ATURAR ESSA TÁBUA ATÉ O FIM DO ANO! - berrou, olhando para mim ao invés de olhar para o professor.



– SÉRIO QUE VOU TER QUE CONVIVER AO LADO DESSE BIPOLAR TODOS OS DIAS?



– NÃO QUERO PASSAR O TEMPO TODO PERTO DESSA PATRICINHA!



– Não sei por que se dão ao trabalho de brigar - o professor finalmente se pronunciou, enquanto todos ainda riam. Porra, qual era a graça? Eu estava aqui sofrendo e esse povo ri? - Ainda não perceberam que eu não ligo? Acho melhor a "patricinha" e o "cabeça de tomate" começarem a se entender melhor para o bem da própria convivência - e o sinal tocou mais uma vez. O homem juntou seus materiais e saiu da sala.



Logo todos começaram a conversar e a maior parte deles falava de nossa pequena discussão. Me sentei com raiva na cadeira mais uma vez e devorei o resto do pacote de dentaduras mais rápido que imaginava, afogando minhas mágoas na gordura ali contida.



Ele se sentou também e pegou o celular, mandando mensagens para o resto da gangue de que ele fazia parte e me ignorando novamente. Daí você me pergunta "ele faz parte de uma gangue?". Pois bem, eu e respondo: Não sei e nem quero saber, mas com essa pose toda de "o fodão" só pode!



– Dentaduras? - ofereci o próximo pacote que acabara de abrir. Se o que aquele cara disse era mesmo verdade, era melhor começar a ter uma mínima amizade com Castiel.



– Hm - ele falou, pegando o pacote da minha mão e devorando-o.



– Ei! Eu te ofereço alguns e você pega o pacote todo, seu idiota?! - me levantei e tentei pegar minhas dentaduras da mão dele, mas no mesmo instante ele soltou o celular e se pôs de pé também.



– Agora que eu vi! Você é baixinha, eim! - ele zombou, rindo. Esticou seu braço o mais alto possível e eu fiquei na ponta dos pés, mas mesmo assim não consegui alcançar. Ele riu mais ainda.



Tentei mais uma vez, fiquei na ponta dos pés e apoiei uma das mãos no peito de Castiel enquanto me esticava ao máximo para conseguir pegar. Alcancei.



Olhei para ele sem nem ao menos me mexer, e notei que ele estava corado. Só então me dei conta da proximidade em que estávamos e de que todos nos olhavam.



Do nada meu pé fez um movimento involuntário para frente e eu pisei no pé dele.



– Ai... - ele gemeu de dor, se desequilibrando e caindo no chão, e consequentemente eu também cai, e bem em cima dele.



O corpo dele era quente e eu podia sentir seu peitoral definido por baixo da fina camiseta que usava. Quando se deu conta que eu estava em cima dele, Castiel sentou-se e começou a mexer nos meus cabelos. Mas o quê....?!



– Sai daqui, tomate! - quase berrei, me levantando em um salto.



– O QUE É QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO COM O MEU CAST? - quando me dei conta, só vi uma cabeleira loira vindo em minha direção.



[CONTINUA]