Spirited Away 2
Retorno
Boh suspirou. Não havia motivos para esconder as coisas agora.
- Foi Sem Rosto, Chihiro. - a garota abriu a boca para falar, mas Boh deteu-a. - Achamos que alguém está por trás disso. Se lembra de como ele ficou na casa de banhos? Deram alguma coisa para ele comer, acho. Ele nunca foi mau de verdade, o problema é que ele aprendeu a se multiplicar. Não sabemos mais qual é o verdadeiro. E... – hesitou. – Não sei se eu poderia matá-lo.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!- Mas ele assassinou... – parou no meio da frase. E lembrou-se com carinho de Sem Rosto, agradecera tanto quando ele lhe aparecera. Estava com saudades de qualquer coisa vinda do mundo dos espíritos.
- Entendeu? – Boh percebera o que Chihiro estava pensando.
- Sim. – sussurrou. – Ah, Bou! Sinto muito! Eu pensei que tivessem se esquecido de mim.
Ele a abraçou carinhosamente, enterrando o rosto nos cabelos dela.
- Nunca faríamos isso. – beijou a testa dela.
- Eu só não sei uma coisa.
- O que?
- Por que me contou isso agora?
- A barreira de Haku está prestes a estourar. As cópias de Sem Rosto provavelmente vão atravessar e invadir esse mundo à sua procura. Tem que decidir se quer voltar. Vou protegê-la de qualquer forma, mas preciso de seu apoio.
Ela pensou durante alguns segundos. E não mais vacilou. Desvencilhou-se dos braços de Boh, se levantando. Estava determinada.
- Quando partimos?
Boh parecia orgulhoso daquela conclusão. Sorriu brevemente, antes de a seriedade aparecer. Os pensamentos subitamente calorosos.
- Nesse instante. – respondeu. – Quer trocar de roupa? Vai precisar ser rápida, não podemos ficar tocando nas coisas, senão vou perder o controle.
- Não precisa, vou assim mesmo então. – tirou o prendedor de seu pulso e suspendeu o cabelo, amarrando-o. Sorriu, mas a fúria ainda estava presente em suas expressões, tornando aquele sorriso um pouco macabro.
- Chihiro. – Boh chamou-a docemente. Ela voltou seus olhos para ele. Tão grandes e límpidos, por um momento voltou a ser apenas uma menininha assustada que ia de encontro ao desconhecido. A frase ficou presa em sua garganta e ele desistiu, murmurou um fraco. – Vamos. – e tomou a mão dela. – Não toque em nada. – alertou, desviando o olhar para que pudesse pensar claramente. Não conseguiu por muito tempo manter seus olhos afastados dela. Parou na frente da porta de entrada. – Desculpe por te envolver nisso.
Ela tocou-lhe minimamente o rosto, deixando sua mão livre pousada por um momento ali.
- Isso me devolveu a vida.
Boh constatou que era verdade. Apesar de ela saber da morte de Haku e sofrer pelo que aconteceu. Estava um pouco esperançosa. E enquanto a fúria em seus olhos não cessasse, ela estaria bem. Fez um aceno positivo e beijou-a no rosto.
- Senti sua falta. – falou antes de irromper no lado de fora da casa como um imenso dragão alado. A expressão de dor da menina não lhe passou despercebida, mas ambos não comentaram. Chihiro subiu em suas costas e ele levantou vôo.
Tinha a agradável sensação dela recostada em seu corpo. As pernas e braços não se agarravam a ele, jogadas aos lados dele, a barriga e o peito em seu dorso. Podia contar as batidas do coração, notar a respiração mais forte. E as lágrimas que penetravam desde seu pelo, invadindo a carne e indo se depositar no coração.
Um som ancestral saiu de seu peito. Era de certa forma reconfortante e Chihiro respondeu arfando:
- Eu estou bem. Já vai passar.
Ela esfregou o rosto com a manga da blusa e acarinhou as costas de Boh, fazendo-o tremer imperceptivelmente.
- São tão parecidos... – suspirou, pensando que o dragão não pudesse lhe escutar.
Começaram a descer. As árvores causando-lhes alguns arranhões superficiais, não se importaram. Postaram-se na frente daqueles intimidadores bonecos iguais. Boh voltou a sua forma original. E Chihiro não fez perguntas, o coração batendo fortemente contra sua caixa torácica, falou somente:
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!- E se for como das outras vezes... E se não for para eu voltar? – estava com medo de dar um passo a frente.
Viu-se menina novamente. Queria ir para o carro, mas seus pais não lhe escutavam. As memórias lhe invadiam, inexoráveis. Respirou profundamente, tentando voltar à razão. Estendeu o braço direito, procurando por Boh, agarrou-o firmemente.
O lugar estava o mesmo, porém o que mudara fora ela.
- Agora é diferente. – disse Boh, como que lendo seus pensamentos. Ela encarou-o, tentando encontrar a coragem. Ele lhe sorriu.
- Fique comigo, por favor.
- Vou ficar. Sabe disso.
- Precisava falar em voz alta. Ter certeza... – apesar de suas palavras, falou incertamente.
- Estou aqui, ok?
Ela assentiu rapidamente e olhou para a entrada, o rosto pálido.
- Ainda pode desistir. – Boh disse com complacência.
Chihiro deu um passo à frente.
- Não vou.
O tempo voltou a agir sobre as coisas. O sol iluminou aquele fantasmagórico parque de diversões abandonado. As paredes eram de um colorido desbotado, em alguns lugares aparecia o reboco. O portal não era tão imponente quanto se lembrava; chegava a ser um pouco patético, com seus tijolos prestes a cair. Era tão triste aquela cena. Não parecia tão ofensivo. “Estou indo.” – disse Chihiro para si mesma, ou talvez para um Haku invisível que ainda pudesse estar vivo. Seria para não chamar a atenção? Para que somente escolhidos pelo acaso pudessem atravessá-lo? Então como iria conseguir deliberadamente voltar para aquele lugar mágico? Que a alterara tão profundamente. Onde fora mais feliz... Boh olhava-a com estranheza.
- Chihiro. – chamou preocupado.
- São as lembranças... – afirmou, quase sem voz. Ele apertou-a contra seu corpo.
- Eles se foram. – Chihiro não entendeu muito bem do que ele estava falando
- Não. Estão ali. – apontou com o dedo para o lado de dentro do portal.
Iria seguir aquele raio luminoso. Adentrando no mundo dos espíritos.
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