— É sério, antes o Sasuke-sama não me tratava dessa forma tão... assustadora — Hideo disse ao lembrar o olhar raivoso do Uchiha e ouviu Saori rir baixinho ao seu lado.

— Eu acredito. — respondeu e revirou os olhos pelo comportamento do pai — Mas você ainda não me disse para onde estamos indo — disse olhando pela janela do carro, vendo a paisagem em movimento.

— E nem vou falar, é uma surpresa!

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Eu odeio surpresas — rebateu Saori com o cenho franzido e o Uzumaki apenas sorriu para ela, ignorando o que a namorada dissera, afinal já sabia disso.

— Tenho certeza que você vai adorar — falou empolgado e Saori revirou os olhos mais uma vez.

— Contanto que você não saia da cidade novamente... — murmurou fazendo referência a quando ele a levou para praia e Hideo riu nervosamente, mexendo no cabelo com uma das mãos — Hideo... — censurou ao ver aquele gesto, o que ele estava aprontando?

— Não iremos sair da cidade, prometo! — Saori somente suspirou e continuou a observar a paisagem em uma tentativa de descobrir aonde iriam.

Pouco tempo depois eles pararam em uma pequena estrada de terra que estava sendo usada como estacionamento por várias pessoas. Saíram do veículo e olhou o entorno, Hideo realmente estava certo, eles não iriam deixar a cidade, apenas ficar na divisa. Revirou os olhos e se perguntou qual o problema do loiro em fazer algo dentro dos limites de Konoha? Virou-se em direção a estrada, sabia bem onde aquele caminho daria se continuassem a seguir naquela rota, não era um lugar bem frequentado e tão pouco conhecido por muitas pessoas, mas ela conhecia bem. Sentiu o namorado segurar sua mão e balançou a cabeça para sair daqueles devaneios sobre o passado.

— Gatinha, vamos? — indagou sorridente e Saori aquiesceu seguindo para a frente luminosa que se estendia do outro lado da estrada.

Saori observava encantada as luzes coloridas que se espalhavam pelo lugar, havia diversas barracas de comida e de jogos dispostas paralelamente, formando um corredor no qual era possível ver mais pessoas passeando, principalmente casais e algumas famílias. Em um determinado ponto o corredor se ampliava e do lado esquerdo era possível ver uma escadaria branca iluminada e no topo um grande templo. Saori conseguia ouvir perfeitamente a música que ecoava de lá, suave e harmoniosa, ficou parada apenas desfrutando daquele som.

— Nessa época Konoha sempre faz diversos festivais que são espalhados pela cidade — Hideo comentou ao seu lado, chamando sua atenção — Quando eu era menor, todo ano eu pedia para o otou-san e a oka-san me levarem um festival diferente, era bem divertido — riu um pouco nostálgico e Saori sorriu para si.

— Imagino mesmo... — murmurou e recordou-se que também sempre ouvia uma melodia nesse período quando estava naquela área — ... Então era o festival? — perguntou para si e sorriu ao se dar conta que nunca sequer cogitara a possibilidade de ser algo tão trivial.

— Gatinha, vamos! Você ainda não viu nada! — Hideo exclamou e passou a puxá-la para mostrar todo o lugar.

Com certeza ele estava animado e isso era visível para Saori e qualquer outra pessoa ao seu redor, bastava ver os orbes anis brilhando empolgados ao mostrar alguma barraquinha para ela ou ao chegar a uma área descampada com algumas atrações de um parque de diversões.

— Há alguns anos os responsáveis viram que havia uns brinquedos quebrados nessa área e resolveram fazer uma reforma e transformaram esse lugar em um mini parque de diversões para as crianças — explicou Hideo.

— Só para as crianças? — indagou com um sorriso ao ver a euforia do namorado.

— Er... você não gostou? — perguntou um pouco encabulado e Saori revirou os olhos ao ouvir aquilo. Olhou para os dois lados para ter certeza que nenhum conhecido estava por perto e se aproximou do loiro, ficando na ponta dos pés para dar um pequeno selinho neste.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— É lindo, eu adorei. — disse ao se separar e aquilo foi música para os ouvidos de Hideo.

— Então aonde quer ir primeiro? Está com fome? Quer ver o templo? Quer ir a algum brinquedo? Tem outro lugar legal aqui e...

— Oe, vamos com calma! — riu Saori da afobação do loiro — Hum... que tal uma aposta?

— Aposta?

— É — e apontou para uma barraquinha de jogos ao lado deles — Vamos ver quem consegue ganhar o maior prêmio?

— Tem certeza? — Hideo não estava muito certo daquilo.

— Hai, vamos logo! — mas ela estava e puxou o namorado.

Hideo pagou para os dois e segurou a arma de festim ao lado da morena que parecia empolgada.

— Não vou pegar leve com você, então dê o seu melhor! — Saori disse se concentrando para atirar. Seu pai havia a ensinado alguns meses atrás quando foi ao parque pela primeira vez e desde então ela estava ansiosa para ver se tinha aprendido.

— Está certo... — murmurou Hideo se posicionando e ao iniciar a partida atirou três vezes, derrubando todos os alvos de modo perfeito. Virou-se para a namorada e viu-a com os olhos arregalados — O que foi? Você disse para eu não pegar leve.

— Melhor de três! — disse um pouco irritada e pegou um pouco de dinheiro para dar ao vendedor. O Uzumaki somente suspirou e voltou a se posicionar, talvez ele devesse ter dito que ele já havia sido campeão de tiro em uma competição como aquela antes.

E novamente, três disparos e três acertos perfeitos. Saori estava boquiaberta com a habilidade do loiro, quando ela atirava mesmo que acertasse no alvo, não era tão precisa quanto o namorado.

— Ainda quer continuar? — indagou com um sorriso e Saori franziu o cenho disposta a ganhar do Uzumaki ao menos uma vez — Se eu ganhar dessa vez o prêmio máximo é meu. — alertou e olhou de esguelha para a morena.

— Você ainda não ganhou... — murmurou e Hideo somente balançou a cabeça com a teimosia da namorada.

Deixou Saori efetuar os tiros primeiros e tinha que admitir que ela não era tão ruim, os três disparos ficaram bem próximos do centro, sorriu para a namorada em um pedido mudo de desculpa, afinal seria fácil ganhar dela. Por um momento cogitou a possibilidade de deixa-la ganhar, mas se fizesse isso provavelmente feriria o orgulho dela. Bom, mas pelo menos poderia conseguir um bom prêmio e dar a ela como consolo. Concentrou-se no alvo e iniciou a sequência de tiros, ele não esperava a aproximação da namorada atrás de si e nem que ela iria jogar sujo para fazê-lo errar.

— Hideo-kun, você não erra nunca? Você é tão bom assim? — sussurrou Saori no ouvido do loiro enquanto colocava uma mão na costa dele e a outra no braço que apoiava a arma no momento exato que Hideo dava o último tiro que foi para fora do alvo — É, parece que você não é tão bom assim! — debochou ao se separar do namorado com um sorriso convencido no rosto. Sim, Saori era uma má perdedora e se não poderia ganhar do namorado normalmente, ele também não sairia invicto.

— Ei, isso não valeu! — rebateu Hideo com o rosto corado por ter se distraído e errado o tiro, mas a namorada apenas deu de ombros e começou a rir.

O vendedor deu ao rapaz uma pelúcia de um urso de tamanho médio e este ofereceu a namorada ainda emburrado por seu jogo não ter sido perfeito. Saori pegou o ursinho e sorrindo por ver a manha do namorado, deu um beijo estalado na bochecha dele como forma de se desculpar pela brincadeira. Hideo suspirou e sorriu ao ver que não conseguia ficar com raiva dela, principalmente ao ver a alegria da namorada com o presente.

— Saiba que se eu tivesse ganhado não teria dado o meu prêmio assim tão fácil — Saori afirmou antes de se virar para sair da barraca de jogos e o loiro a seguiu, colocando o braço ao redor dos ombros da menina, trazendo-a para mais perto de si.

— Eu sei, mas quem disse que foi fácil? Ainda está me devendo — Hideo rebateu, contemplando intensamente os lábios da morena que se sentiu corar com o olhar dele.

— Aonde vamos agora? — indagou desconcertada, mirando para qualquer outro lugar.

Andaram em mais algumas barracas, visitaram o templo, onde puderam ver algumas apresentações de danças e depois foram em direção aos brinquedos do parque. Aquele encontro realmente estava sendo divertido, mas Saori não compreendeu porque Hideo pedira para que escolhesse apenas um brinquedo e ao questionar soube que ainda havia outro lugar para eles visitarem. Insistiu em saber o que ele ainda estava planejando, mas foi uma batalha perdida, quando queria o loiro era mais teimoso que ela, então se deu por vencida, e foram em direção à roda gigante.

— Por que você escolheu esse brinquedo? — Hideo questionou, observando a grande roda que se elevava aos céus.

— Da última vez que fui a um parque, eu fui a vários brinquedos, menos na roda gigante... — disse com os olhos brilhando ao lembrar quando a família havia a levado pela primeira vez a um lugar como aquele — Vamos? — e puxou o loiro que parecia um pouco nervoso.

Sentaram-se nos assentos e o instrutor colocou o apoio de frente para o casal, a fim de prendê-los de forma segura na cadeira, murmurando um “Divirtam-se” antes de se retirar. Hideo somente respirou fundo e ao sentir o brinquedo se movimentar agarrou a trava a sua frente para em seguida soltar ao ver que ainda estavam parados, suspirou ao ver que eram apenas mais algumas pessoas que estavam se acomodando nas cabines atrás deles.

— Está tudo bem? — Saori indagou ao ver que o namorado parecia estranho.

— Claro, tudo ótimo! — e forçou um sorriso, tentando parecer relaxado, porém foi só começarem a se movimentar e ele olhar para baixo, vendo que se distanciavam do solo, que novamente agarrou a trava de segurança.

— Hideo... — chamou o namorado que tinha o olhar fixo nas pessoas abaixo deles enquanto subiam cada vez mais e não pode deixar de rir baixinho ao entender o que ele tinha — Não acredito, você tem medo de altura?

— N-Nani? Claro que não! — e virou—se para a namorada que parecia se divertir as suas custas.

— Devia ter me dito isso, eu escolheria outro brinquedo para irmos — disse com um sorriso.

— Eu não tenho medo! — retrucou um pouco irritado e Saori arqueou uma sobrancelha, descrente.

— É mesmo? — e jogou o corpo um pouco para frente, fazendo a cabine que estavam se mover e Hideo suar frio enquanto se segurava cada vez mais forte com medo de cair.

— Tudo bem, eu tenho medo de altura, agora para Saori! — mandou, fechando os olhos e sentindo as mãos tremerem, porque esse passeio não acabava logo?

Saori nem se concentrava na vista a sua frente, preocupada com o estado do loiro ao seu lado, ele estava quase em pânico e ela havia piorado a situação. Suspirou e delicadamente tocou nas mãos dele enrijecidas pelo medo.

— Está tudo bem, vai passar... — murmurou Hideo, mas parecia que ele tentava mais convencer a si do que ela.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Saori voltou o olhar para frente e pode vislumbrar Konoha naquela véspera de Natal, as luzes da cidade, quentes e acolhedoras se contrastando com o branco da neve que caia lentamente, era lindo e ela queria que Hideo compartilhasse esse momento com ela, já que era por causa dele que ela estava ali. Aproximou-se do loiro, encostando-se a seu ombro e com a outra mão, levou até o rosto dele, virando-o para si.

— Abra os olhos — pediu, acariciando a face de tez bronzeada como a do pai dele. Ao sentir o carinho da namorada, acabou por atender ao pedido, dando de cara com orbes ônix tão profundos e intensos quanto a noite que se sentiu hipnotizado por um momento — Você vai perder toda essa vista... — murmurou para ele que suspirou.

— Quando eu era criança eu caí do telhado de casa enquanto brincava, quebrei uma perna e fraturei a costela, desde então eu não consigo ficar em lugares altos por muito tempo — explicou sem desviar o olhar da menina, afinal sabia que se olhasse para o lado iria se arrepender.

— Está tudo bem... — disse retirando a mão dele da barra de segurança e a entrelaçou com a sua — ...eu estou aqui e vou te proteger agora, você não vai cair. — e apoiou a cabeça no ombro do loiro com um sorriso, sem desviar o olhar.

— Porque será que eu me sinto como se eu fosse a princesa da história? — questionou-se um pouco sem graça com a declaração da menina e Saori riu, afastando-se dele e fazendo-o lamentar por isso.

— Se é assim, acho que eu sou o príncipe, não é? — brincou e o loiro sorriu ao pensar que o relacionamento dos dois era bem incomum mesmo, já iria retrucar quando sentiu a cabine parar e ele voltou a se segurar ao se dar conta que estavam na parte mais alta da roda gigante, de frente para todo o festival — Hideo, calma... não vai acontecer nada — Saori disse, atraindo sua atenção.

— Eu... — respirou fundo, tentando se controlar, porém acabou olhando para baixo e notou a altura que estavam. Uma vertigem começou a se apoderar dele e Saori prevendo o estado que o namorado ficaria, puxou-o para um beijo a fim de distrai-lo.

Era a segunda vez que Saori o surpreendia daquela forma, ele ainda estava preocupado com o fato de onde estavam, mas conforme sentia o carinho que a morena fazia em seu cabelo e forma doce e tímida dela explorar cada vez mais sua boca, ele foi se perdendo. Sentia o calor do corpo dela próximo ao seu, o perfume suave que irradiava dela e aos poucos suas mãos ganharam vida, trazendo-a para mais perto, quando deu por si a única coisa que pensava era nos lábios macios e quentes da morena ao seu lado.

Separam-se em busca de ar, ambos ofegantes, e Hideo sorriu ao ver os lábios avermelhados e inchados da namorada. Ela estava linda, iluminada ao redor daqueles pequenos pontos de luz. Arqueou uma sobrancelha ao se dar conta do que pensara e desviou o olhar a tempo de ver a paisagem que os cercava.

— É lindo, não é? — indagou Saori ao ver que Hideo parecia abismado com o que via, ou talvez fosse pelo fato que ele não estava com medo de altura naquele momento.

— Sim, é lindo... — sussurrou, observando o rosto da Uchiha.

— Mas você nem está olhando! Ainda está com medo? — retrucou convencida e Hideo apenas meneou a cabeça em negativa.

— Estou vendo algo mais bonito que a paisagem no momento — e sorriu ao ver as bochechas dela se avermelharem. Não se importava mais se estava a mais de dez metros longe da terra, ele não conseguia apagar aquela sensação de querer mais, estava perto de voltar a beijá-la mais uma vez quando a roda gigante voltou a se mexer e não demorou muito o passeio havia acabado.

Suspirou pesaroso, uma parte de si havia ficado decepcionado por estarem de volta ao chão tão rápido. Saori revirou os olhos ao ver a cara do namorado e riu baixinho. Ele era tão bobo, em um momento estava todo nervoso por causa do brinquedo e suando frio, querendo que acabasse logo e agora estava daquele jeito. Saiu da cabine, indo em direção à outra fila quando Hideo a puxou pelo braço:

— Nani?

— Esqueceu que eu disse que iríamos para outro lugar? — e foi a vez de Saori suspirar e seguir o loiro ao se lembrar de que ainda faltava uma surpresa.

Durante o caminho conversaram banalidades, Hideo falou como gostava de festivais e como havia ganhado o concurso de tiro e Saori somente ria tentando imaginar as travessuras e como a mãe do rapaz, Hinata, deve ter tido trabalho com duas crianças energéticas. Era um daqueles momentos que somente o fato de estar ao lado de quem a gente gosta é o bastante para nos divertirmos. Porém, não demorou muito e o Uzumaki já estacionava o carro em frente a algum lugar, Saori havia ficado tão distraída que nem percebera onde ele a levara. Saiu do carro, seguindo-o, e arregalou os olhos sem entender o que o loiro pretendia.

— O que estamos fazendo aqui? — indagou e Hideo notou o tom de voz irritadiço da morena, abriu a boca para responder, mas Saori foi mais rápida — Vamos embora agora!

— Mas gatinha... — disse segurando o braço da menina, impedindo que ela voltasse para o carro.

— De todos os lugares que você poderia ter me levado... tinha que ser justo esse? Não sabe o que ele significa para mim? — voltou a reclamar pela insensibilidade do namorado.

— É justamente por saber o que você sente que eu quis te trazer aqui. — se pronunciou e Saori ficou confusa.

— Mas... — hesitou e sentiu os braços de Hideo a circundarem em um abraço apertado.

— Eu quero que veja as coisas de um modo diferente, por favor, me dê essa chance... — pediu e ela suspirou, concordando com a cabeça — Vamos — disse ao segurar a mão da menina e adentrar os portões de um orfanato.

Aquele não era o mesmo orfanato que Saori crescera, ela sabia disso, mas mesmo assim ela não podia evitar apertar a mão de Hideo enquanto observava o local. O orfanato se chamava “Second chance” e ela revirou os olhos com o título bobo, o que a fez pensar que todos os orfanatos tinham um nome parecido e que não significavam nada de especial. Perguntava-se o que Hideo queria com aquilo e passou a olhar em volta procurando algo diferente.

O casarão branco despontava a sua frente e parecia ser um pouco maior do que o lugar que vivera por anos, havia algumas luzes de natal espalhadas pelo lado de fora, enfeitando as janelas e a porta, mas não havia ninguém do lado de fora, normal em uma noite fria, “a não ser que você estivesse de castigo”, pensou desgostosa. O loiro bateu na porta de madeira a sua frente e ela prendeu a respiração ao ouvir passos, ela sabia que não tinha como voltar para um lugar como aquele, mas a sua vontade era de nunca mais colocar os pés lá devido ao temor de tudo o que passara voltar. Era como se temesse encontrar com os antigos administradores do seu orfanato e eles voltarem a fazer da sua vida um inferno. Entretanto, foi uma senhora já idosa quem abriu a porta com um sorriso gentil no rosto.

— Oh Hideo-kun! Que bom que veio, as crianças já estavam ansiosas — cumprimentou a velha senhora.

— Desculpe a demora, tivemos que passar em um lugar antes — explicou o Uzumaki e depois se voltou para a Saori que observava tudo desconfiada — Essa é a minha namorada, Uchiha Saori — apresentou orgulhoso.

— É um prazer conhecer a senhorita, me chamo Omura Kaede, sou a responsável por esse abrigo — se apresentou. Saori apenas meneou a cabeça, timidamente e entrou no recinto atrás do namorado.

O abrigo estava todo iluminado, no meio da sala havia uma árvore de natal toda enfeitada, dois sofás e uma pequena mesa com uma televisão. Era bem simples, mas ela percebeu que havia uma atmosfera quente e acolhedora ali, diferente de onde crescera. Balançou a cabeça para afastar esses pensamentos e retirou a jaqueta assim como Hideo, pendurando em um cabide perto da porta.

— Hideo-nii você veio! — gritou uma menina de aparentes sete anos, chamando a atenção de Saori e em seguida correndo por uma porta para bradar novamente — Minna, o Hideo-nii chegou!

Logo uma pequena horda de crianças de várias idades apareceu e elas correram na direção de Hideo, jogando-se em cima dele. Arregalou os olhos com a cena que via e discretamente observou a fisionomia da velha, temendo que ela brigasse com os menores ou pelo menos mostrasse desagrado com o que via, mas não foi isso que viu. Kaede apenas ria baixinho, balançando a cabeça antes de pedir para as crianças deixarem Hideo respirar.

— Você está bem Hideo-kun? — a senhora indagou para o loiro, ajudando-o a levantar.

— Hai, não se preocupe! — respondeu, bagunçando o cabelo e depois se virou para as crianças para perguntar — Parece que vocês sentiram a minha a falta, não é?

— Você trouxe os nossos presentes? — um menino de olhos e cabelos preto que parecia ter seis anos rebateu com outra pergunta.

— Presentes? Que presentes? — fingiu-se de desentendido e os mais novos começaram a ficar tristes e a fazer cara de choro — É claro que trouxe! Quando foi que eu decepcionei vocês? — tratou de emendar para evitar uma tragédia e sorriu ao ouvir o coro das crianças ao vibrar.

— Onde está? Onde? — a mesma menina que havia chamado seus amigos, indagou, segurando a calça de Hideo. Ela tinha olhos verdes escuros e seus cabelos eram loiros, divididos em duas partes.

— Eu não acredito, vocês só querem saber dos presentes? E de mim? Isso é cruel não é, Kaede-san? — continuou com o teatrinho para o desespero das crianças que iniciaram a bajulação com Hideo.

Saori revirou os olhos com aquilo, até com crianças o Uzumaki gostava de se mostrar, mas a verdade era que estava surpresa com a demonstração de afeto dos mais novos, eles pareciam realmente felizes e em nenhum momento haviam sido repreendidos pela senhora que parecia se alegrar de vê-los daquela forma.

— Não seja chato Hideo—nii! É claro que queremos presentes, hoje é véspera de natal! — um garotinho de cabelo castanho espetado e olhos azuis foi o único que respondeu daquela forma um pouco petulante. Ele devia ter uns dez anos.

— Baka! Não diga isso, Shiro, o Hideo-nii vai achar que não gostamos dele! — bradou uma menina de cabelos negros curtos que devia ter a mesma idade do menino.

Saori não pode deixar de rir com aquilo, pelo menos alguém tinha coragem de dizer a verdade ao namorado. Sua risada chamou atenção de todos que se viraram para ela, observando-a. Ficou sem jeito com tantos pares de olhos lhe observando, não sabia o que dizer e tão pouco o que fazer. Hideo vendo o acanhamento da namorada foi para o lado dela e segurando sua mão, anunciou:

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Pessoal, essa é a minha namorada, Uchiha Saori — e ouviu a surpresa das crianças que logo correram para perto deles.

— Não acredito que você tem uma namorada, Hideo-nii! — exclamou a mesma menina de cabelo curto.

— Por quê, Sayo-chan? — o loiro indagou sem entender a menina.

— Você é tão bobo, ninguém pensava que alguém fosse querer ficar com você — respondeu o garoto de cabelo castanho, Shiro, que ainda observava Saori, fazendo-a rir ao ouvir a resposta e Hideo bufou irritado.

— Você é muito bonita! — um menino de cinco anos disse com as bochechas coradas e Saori sorriu para ele.

— Obrigada... — murmurou tímida, acariciando os cabelos do menino.

Logo uma enxurrada de perguntas começou a ser feita para Saori que se sentiu perdida por não saber o que responder primeiro, coisas como “qual sua idade?”, “qual sua cor favorita?”, “você gosta de chocolate?” e até “como conheceu o Hideo-nii?” foram lhe perguntado, mas por sorte Kaede veio lhe salvar daquele interrogatório ao chama-los para jantar.

Ao longo da noite, enquanto ficaram naquele lugar, ela não conseguia deixar de observar o comportamento de todos ao seu redor. Aquelas crianças pareciam tão felizes ali, não havia sorrisos forçados e todas pareciam ser bem cuidadas, e Kaede não tinha o mesmo semblante fechado que sempre via nos administradores do orfanato em que vivia. Além disso, aquele local tinha uma atmosfera tão confortável e aconchegante que uma parte sua teve que dar o braço a torcer e afirmar, para si, que realmente combinava com o nome da placa da frente, pois apesar daquelas crianças não terem uma família, isso não parecia impedi-las de terem uma segunda chance de viver.

Talvez não fosse do modo exato que todos queriam ou desejaram, muitas das coisas no mundo não são, mas ela sabia que ter alguém que se importasse era melhor do que não ter ninguém. Saori, muitas vezes, se ausentou de conversar com os outros, tão alheia que estava, intrigada com tudo o que via.

Em um determinado momento apareceu dois adolescentes que lhe foram apresentados como Tatsumi e Mayumi e que levaram as crianças para brincarem no jardim onde Hideo já começava a distribuir os presentes, mas ela somente observou a cena de longe, da soleira da porta, tentando digerir aquilo. Suspirou, viver em um mundo sem luz muitas vezes nos deixa cegos quando vemos a claridade e era assim que ela se sentia, totalmente ofuscada pelo brilho que aquele lugar entoava.

— Você parece admirada, menina — Kaede disse ao seu lado e a assustando.

— Eu nunca vi algo assim... é algo novo para mim... — murmurou, voltando sua atenção para o namorado que brincava com os mais novos no jardim já coberto por uma fina camada de neve.

— Nós sempre tivemos um abrigo muito simples, eu já tenho uma certa idade e conto com a ajuda de todos os meus meninos, principalmente os mais velhos, e de alguns voluntários do serviço social que a senhora Uzumaki conseguiu ao nos visitar uma vez — começou a explicar a senhora.

“Acredito que se ela não tivesse nos ajudado não conseguiria manter todos os meus meninos aqui e, desde então, Hinata-san tem sido uma espécie de madrinha para as crianças. É por causa disso que, todo ano, ela e a família sempre vêm aqui no final do ano com presentes e perguntando se precisamos de algo, sem nunca cobrar nada em troca. Mas essa é a primeira vez que Hideo vem sem a família e traz alguém com ele. Você deve ser bem especial, menina.”

Saori não pode deixar de sorrir ao ouvir aquilo, Hinata era mesmo uma boa pessoa, seria grata a ela por toda a sua vida por ter lhe salvado e a colocado na casa dos Uchiha’s. Estava também um pouco surpresa, não imaginava que Hideo fosse o tipo de pessoa que fazia filantropia. Ele realmente não parava de surpreendê-la. Mas antes que pudesse dizer alguma coisa, ouviu Kaede se manifestar novamente:

— Eu sinto muito pelo o que você passou e espero que possa ver as coisas de um modo diferente agora.

— O que disse? — questionou um pouco surpresa e velha senhora lhe sorriu ternamente.

— Eu já ouvi muito a seu respeito e as crianças também. É por isso que elas ficaram tão empolgadas quando te viram, bom, por isso e pelo fato de você ser a namorada do Hideo-kun — esclareceu — Mas não se preocupe, ninguém aqui vai tocar no assunto se você não quiser.

— ...Obrigada — disse ainda surpresa e logo em seguida a senhora se despediu com um aceno de cabeça e foi em direção às crianças.

Eles sabiam quem ela era. Aquela afirmação ficou passeando por sua mente. Eles sabiam quem era e em nenhum momento a trataram de forma diferente, como uma coitada ou como uma heroína — essas eram as descrições favoritas utilizadas pelo jornal, ao menos quando não estava quebrando máquinas fotográficas —, eles apenas se comportaram como se ela fosse uma deles, o que no fundo ela realmente era ou havia sido. Fechou os olhos e respirou fundo, inalando o ar frio da noite, quando sentiu um braço envolver seus ombros e ela nem precisou abrir os olhos para saber quem era, apenas se deixou levar e se aproximou mais do corpo quente ao seu lado.

— Está gostando da visita? — Hideo indagou.

— Porque mesmo que você me trouxe aqui? — rebateu com outra pergunta, observando mais uma vez os menores que agora corriam com os brinquedos pelo jardim, enquanto os dois adolescentes tentavam evitar que se machucassem.

— Porque eu queria que você visse que nem todos os orfanatos são iguais àquele que você viveu — explicou, apertando-a mais contra si e Saori sorriu mais uma vez.

Ela sabia que as coisas não eram um mar de rosas e aquele poderia ser considerado um dos poucos orfanatos a ser daquele tipo, a trazer uma sensação de paz que parecia lhe invadir cada vez mais, mas mesmo assim era reconfortante saber que havia mais pessoas bondosas no mundo do que supusera ter e que aquelas crianças cresceriam de uma forma melhor do que ela, mesmo não tendo a família que queriam. Na verdade, elas haviam encontrado outra família, nos braços de Kaede e das outras crianças.

— Arigatou — disse baixinho em um suspiro e Hideo sorriu, encostando seus lábios nos dela, porém foi interrompido ao ouvir uma voz infantil:

— Eca, eles estão se beijando! — Shiro disse fazendo uma careta e Saori se afastou do loiro, envergonhada ao ver que tinham plateia.

— Cala a boca, Shiro! — rebateu Sayo e mais interjeições de reclamação por parte das meninas foi ouvido, enquanto os meninos tentavam defender o amigo.

— Oe, porque ao invés de brigar, não vão brincar um pouco? — Hideo tentou fazer com que os menores os deixassem em paz.

— Vem brincar com a gente Hideo-nii! — um dos meninos agarrou sua calça, puxando-o. Pelo jeito seu plano não havia dado certo.

— Er... bom... — quis arrumar uma desculpa, mas logo as meninas se aproximaram de Saori, pedindo que brincasse com elas também e soube que a batalha estava perdida. Suspirou derrotado ao seguir os meninos e deixando a namorada.

— Então o que vocês querem fazer? Eu não sou muito boa com brincadeiras — Saori afirmou para as meninas ao ver que o namorado estava longe.

E logo em seguida um montinho foi feito entre as garotas que cochichavam algo entre si, deixando somente a mais velha, Mayumi, de fora. Esta parecia ter mais ou menos a idade de Saori, seus cabelos eram de um ruivo vibrante e seus olhos castanhos claros, mas estes estavam um pouco escondidos devido as lentes dos óculos que usava, ela parecia ser um pouco tímida, pois toda vez que a mirava logo desviava o olhar para outro canto e suas bochechas ganhavam uma tonalidade escarlate.

— Você quer me perguntar alguma coisa? — indagou para Mayumi que arregalou os olhos, surpresa, chamando também a atenção das menores que começaram a levantar a mão para pedir para falarem — Er... tudo bem, vocês querem me perguntar alguma coisa, também? — indagou e ao ver que estava certa, acabou por ceder e responder os questionamentos — Você! — indicou uma das meninas.

— Saori-chan, quantos anos você tem?

— Eu tenho quinze anos, mas daqui a três meses é o meu aniversário — disse contente por saber quando seria aquela data e porque provavelmente seria primeira vez que comemoraria.

— Mayu-chan, vocês tem a mesma idade! — exclamou Sayo e a ruiva apenas aquiesceu antes de outra mão ser levantada e Saori consentir que a menina continuasse.

— Quanto tempo você namora o Hideo-nii?

— Quatro meses — e mais uma vez as meninas se reuniram para falar algo entre elas antes de se voltarem para Saori e, dessa vez, foi Sayo quem tomou a palavra:

— Então, como é namorar? — arqueou uma sobrancelha, pensando se havia ouvido direito. Aquelas crianças queriam falar sobre relacionamentos? Olhou para Mayumi que parecia curiosa pela resposta e ao mesmo tempo envergonhada e, suspirou ponderando o que responderia.

— Bom... é...namorar... é ficar junto da pessoa que você gosta o tempo todo — mesmo que ela não conseguisse fazer isso com Hideo — É você se sentir especial com ela e... — sentia seu rosto esquentar enquanto falava, estava se odiando por isso, ela realmente era horrível com sentimentos, não sabia falar sobre, apenas os sentia.

— Vocês se beijam muito? — Sayo a interrompeu.

— Sayo! — repreendeu a ruiva, ajeitando os óculos e Saori riu do jeito de Mayumi, ela lhe lembrava um pouco de Akane.

— Sem problemas... bom, é normal você beijar seu namorado — respondeu ainda risonha.

— E vocês já chegaram na terceira base? — Sayo continuou a indagar e Mayumi e Saori se espantaram com a pergunta.

— N-Nani? — Saori pensou que não havia entendido direito.

— Eu perguntei se você já chegaram na terceira base? Já? Onde é? Como é? — Sayo disparou diversas perguntas e parecia que todas as outras garotas lhe olhavam em expectativa.

Tanto Saori quanto Mayumi estavam chocadas, aquelas meninas estavam lhe perguntando sobre...sobre...sobre sexo? Mayumi estava da cor dos seus cabelos de tanta vergonha e Saori, mesmo sendo mais extrovertida, estava sem jeito por não saber o que dizer a elas. Foi por isso que agradeceu quando a ruiva se manifestou primeiro:

— C-C-Como vocês s-sabem disso? — tentou parecer firme, mas acabou gaguejando e falhando miseravelmente em seu intento.

— Nós ouvimos você e aquelas suas amigas do colégio falando sobre o Tatsumi e como ele queria chegar na terceira base, mas você não queria, então ficamos curiosas — Sayo respondeu inocentemente — Então, como não sabemos o que é, achamos que a Saori-chan podia tirar essa dúvida para você.

Saori olhou Mayumi passar de vermelha para roxa de tanta vergonha por saber que as menores sabiam do seu namoro com Tatsumi, afinal aquilo era segredo ou assim pensara ser, até porque eles namoravam há pouco tempo. E agora ainda tinha sua vida íntima exposta na frente de Uchiha Saori! Queria um buraco para se enterrar e que jogassem cimento em cima. Ao ver o estado da ruiva e temendo que ela desmaiasse na sua frente resolveu intervir, mesmo que ela também quisesse fugir daquela pergunta.

— Então... terceira base... — mexeu no cabelo, colocando uma mecha para trás da orelha e pigarreou enquanto Mayumi ficava apreensiva, não acreditava que a Uchiha fosse responder aquilo — Não é nada demais, apenas... hum... um jogo entre namorados... — inventou a primeira desculpa que lhe veio a mente e ouviu o suspiro de alivio da outra adolescente presente.

— Um jogo? — alguma garota se pronunciou.

— Sim... como, como... basquete! É isso! — a ruiva resolveu ajudar.

— Ahh! — as garotas falaram em coro.

— E você já jogou na terceira base com o Hideo-nii? — Sayo tornou a perguntar e mesmo sabendo que o significado empregado fosse outro, Saori se sentiu desconfortável com o questionamento, afinal eles nunca...

— Oe, o que vocês tanto falam ai? — Hideo indagou ao se aproximar da namorada, que deu um pequeno pulo pelo susto.

— Baka! Como você chega assim do nada? — bradou e o loiro apenas a olhou confuso.

— Mas o que foi que eu fiz?

— Nada! Olha só as horas! Está ficando tarde acho melhor irmos embora, Hideo! — mudou de assunto rapidamente, querendo evitar que ele visse seu rosto pegando fogo. Porque ele tinha que aparecer exatamente naquela hora?

— Eu ia justamente te chamar — respondeu ainda sem entender a reação da morena e ouviu as lamúrias das garotas por não poderem mais continuar com as perguntas e Mayumi suspirar aliviada. Ele simplesmente não entendeu aquilo.

Despediram-se de todos e Saori prometeu voltar outras vezes para visitar as crianças, o que gerou uma grande euforia por parte dos menores e Hideo se sentiu orgulhoso da namorada. Enquanto caminhavam, ele sugeriu que fossem comer algo ali por perto já que ainda tinham tempo para voltar e como Saori nunca dispensava comida concordou.

Foram em direção a uma pequena lanchonete que, apesar de movimentada, não parecia abarrotada de gente como as outras por onde passaram. A sineta indicando a entrada de novos clientes os anunciaram e foram recepcionados por uma garçonete que os levou até uma mesa.

Colocaram os casacos na cadeira, fizeram os pedidos e, enquanto esperavam que o pedido ficasse pronto para irem buscar, Hideo começou a contar tudo sobre o orfanato que visitaram e ficou feliz ao ver que Saori parecia interessada no assunto ao perguntar sobre as crianças:

— Eu conheço cada um daqueles meninos! — exclamou como se fosse a coisa mais importante do mundo e naquele momento Saori concordava que era — Tatsumi é o mais velho, ele tem dezessete anos.

— Imaginei mesmo que ele devia ter quase a sua idade — e Saori se deu conta de algo — Espera, se essa é a idade dele, quer dizer que ano que vem é o último ano dele no orfanato, não é?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Hai! Pelo o que nós conversamos ele quer tentar uma faculdade fora da cidade.

— Nani? Mas e o orfanato? Ele não vai mais estar lá? — perguntou um pouco apreensiva ao se lembrar de Mayumi.

— Bom, eu não sei ao certo como ele vai fazer com isso — respondeu dando de ombros, estranhando a pergunta da namorada.

— E ele não tem namorada? — inquiriu, tentando parecer desinteressada.

— Por que quer saber? — Hideo cruzou os braços e torceu a boca. Saori ao ver a cara do namorado revirou os olhos e sorriu.

— Não seja bobo, estava me referindo a Mayumi!

— Nani? Tatsumi e Mayumi estão namorando? — exclamou alto e Saori se encolheu ao ver que algumas pessoas se viraram para eles.

— Fale baixo! — retrucou entredentes.

— Gomen, eu meio que fiquei surpreso — desculpou-se e a morena apenas aquiesceu, já estava se acostumando com o jeito escandaloso dele, mesmo que não lhe agradasse. — Eu... ah, espere um pouco, vou pegar os nossos lanches — se interrompeu ao ver que chamavam a sua senha.

Saori apenas observou Hideo sair da mesa para ir em direção ao caixa onde mais duas pessoas também esperavam pela comida e passou a observar o local. Eles estavam sentados em uma mesa perto da janela e ela podia ver a movimentação das pessoas do lado de fora que tentavam se aquecer devido ao frio. Do lado de dentro, havia alguns grupos de colegiais que conversavam atrás da sua mesa e mais a frente havia um grande balcão com dois homens sentados distantes um do outro, preferiam comer em silêncio, que ficava ao lado do caixa onde Hideo estava.

Ao ouvir a sineta tocar, desviou o olhar para porta e viu mais um cliente entrar, um homem com um casaco verde-musgo que cobria os cabelos e o rosto, ele parecia um pouco trôpego enquanto limpava a roupa por causa da neve e teve sua confirmação ao vê-lo começar a andar como se estivesse com os pés trocados.

— Bêbado... — sussurrou para si ao sentir o cheiro de bebida que exalava do homem que ao passar do seu lado estancou no lugar.

Arqueou uma sobrancelha e voltou seu olhar para o homem, se perguntando se ele ouvira o que disse. Conseguiu ver alguns fios negros escapando do casaco, mas o rosto dele ainda permanecia oculto e o fato dele não sair do seu lado estava a deixando apreensiva. O que tanto ele encarava?

— Gatinha é bom estar com fome, porque isso aqui é enorme! — Hideo exclamou ao se aproximar, ignorando o clima que pairava ao redor e ao cruzar com o homem, acabou sendo empurrado com força quando este voltou a andar, derrubando toda a comida em cima do loiro.

— Hideo! — Saori se levantou para ajudar o namorado que caíra no chão — Você está bem? — indagou preocupada ao Uzumaki que apenas meneou a cabeça, enquanto ficava de pé e tirava uma alface que ficara presa no cabelo.

Porém o responsável pelo acidente nem ao menos se importou com isso e aos tropeços continuou sua caminhada até o balcão. Aquilo realmente irritou Saori, ele havia feito aquilo de propósito com Hideo.

— Escuta aqui, cara! Você não vai se desculpar, não? — bradou, chamando a atenção do encapuzado, que se voltou para ela, e dos outros clientes. O homem não disse nada, apenas sorriu para si de forma debochada, estava prestes a responder a garota, quando o loiro o interrompeu:

— Esqueça isso Saori! — Hideo contrapôs e Saori se virou indignada para o namorado, mas se surpreendeu ao vê-lo tão sério sem tirar os olhos do homem — Pegue seu casaco, não vamos criar confusão aqui. — disse firme e ela apenas concordou, indo pegar a jaqueta da cadeira.

Já estavam andando há dez minutos e ela ainda observava Hideo bufar irritado ao seu lado, com a roupa um pouco manchada. Mas Saori não compreendia o motivo dele estar tão chateado, quer dizer, era normal ele ficar irritado com o que aconteceu, mas não era do feitio dele ficar dessa forma por tanto tempo, geralmente esse papel era dela. Suspirou cansada daquilo.

— Hideo... — chamou um pouco incerta.

— Gomen, não queria que isso tivesse acontecido — disse simplesmente, tentando se acalmar.

— Não ligo pra isso, mas porque ainda está tão chateado? Se fosse pra ficar assim era melhor ter me deixado bater nele! — tentou animá-lo, por mais que no fundo fosse verdade, e conseguiu arrancar um sorriso.

— O cara estava sozinho na véspera de Natal e bêbado, acho que ele já devia ter problemas demais. Uma briga só pioraria as coisas — disse colocando as mãos nos bolsos do casaco. Então ele havia percebido? Pensou admirada. — Eu só fiquei chateado porque eu queria que tudo fosse perfeito hoje pra você — e bufou, fazendo um biquinho.

Saori não pode deixar de ficar maravilhada e ao mesmo tempo sem jeito por ele estar preocupado com o que ela acharia desse pequeno incidente, mas ela duvidava que algo pudesse estragar sua noite, afinal Hideo havia sido tão atencioso e mesmo com as surpresas, o parque, a visita ao orfanato haviam sido melhores do que imaginava que seria quando concordou em sair com ele.

— Mas foi perfeito, na verdade está sendo — murmurou e Hideo arregalou os olhos antes de abrir um sorriso de orelha a orelha.

— Gatinha... — e foi a vez dele pegá-la desprevenida ao colar seus lábios com os dela.

— Oe baka! — reclamou ao se separar dele com o rosto corado, afinal estavam no meio da rua.

— Me espere aqui, sei que temos que voltar, mas pelo menos posso te trazer um chocolate quente antes — disse ao parar em frente a uma loja de conveniência, ignorando a bronca da namorada.

— Esse loiro de farmácia... — suspirou ao ver que ele já havia entrado e sorriu ao ver que ele havia ficado entusiasmado mais uma vez.

Encostou-se perto da entrada do estabelecimento e ficou a observar a placa luminosa e os pequenos flocos de neve que ainda insistiam em cair. Provavelmente amanhã estaria tudo branco. Sorriu ao pensar como a noite estava fria agora e ela tinha que admitir que um chocolate quente era tudo o que precisava no momento. Bom, talvez também precisasse de luvas. Levou as mãos em direção a boca, fazendo o formato de uma concha e assoprou a fim de se esquentar e depois as colocou no bolso da jaqueta, imitando o gesto que o namorado fizera a pouco.

— Nani? — disse ao sentir um pequeno embrulho em um dos bolsos — Não acredito! Ele também planejou isso? — Hideo havia colocado o seu presente de natal no bolso de sua jaqueta? Sorriu ao pensar que ele não parava de surpreendê-la, talvez até passasse a gostar de surpresas a partir de agora.

Porém ao desembrulhar o pequeno papel, arregalou os olhos e sentiu as mãos tremerem enquanto levantava o pequeno e delicado objeto para ter certeza do que via. Era um cordão com o seu nome. Não. Era o seu cordão. Aquele que pensava nunca mais ver e junto a ele havia um pequeno bilhete que fez seu sangue gelar quase que na mesma temperatura da noite.

Feliz Natal Saori. Em breve nos veremos.

E ela percebeu que estava errada em duas coisas: primeiro, não tinha como ela gostar de surpresas e, segundo, ela estava errada quando pensou que nada arruinaria a sua noite.