Eu estava em um lugar diferente. Eu estava em uma campina cercada de flores amarelas e brancas que se perdia de vista, por todos os lados. Era como um enorme mar amarelo e branco. Eu estava em um circulo perfeito, o único lugar onde não havia flores. O cheiro era maravilhoso, um cheiro que não pertencia àquelas flores. Mas isso não me incomodou. Eu não pensava, eu apenas olhava as flores e sentia o maravilhoso cheiro.

Ao longe avistei um homem. Ele era estranhamente familiar. Acenei para ele, mas ele não acenou de volta. Ele vinha calmamente em minha direção passando por entre as flores. De repente ele pegou algo no bolso e gargalhou alto. Eu conhecia aquela risada. Ouvi uma vez enquanto ouvia o que se passava na casa do Sr. Siqueira através das escutas que nós havíamos instalado lá. Ele olhou para o objeto em suas mãos e depois de alguns segundos o jogou no chão. E ele saiu correndo. Pude perceber, que naquele local, onde o homem a pouco estava, surgiu uma chama que logo se espalhou por todas as outras flores.

O mar de flores agora se transformara em mar de fogo. Não havia para onde eu pudesse correr. Tudo ao meu redor pegava fogo, mas o fogo não me atingia. Repentinamente as chamas abaixaram e o fogo cessou revelando flores murchas. Flores que deveriam ter virado cinzas. Aos poucos as flores começaram a se desintegrar em um líquido vermelho, sangue. Agora tudo era sangue. Mas o sangue não me atingia. Eu ainda estava protegida no meu circulo.

Em uma parte do mar de sangue vi algo submergir. Forcei meus olhos a identificarem o que era e logo descobri o que era. O desespero me atingiu com força e eu comecei a chorar. O corpo sem vida de meu pai estava flutuando na imensidão vermelha. Logo a minha direita outro corpo apareceu, desta vez o de minha mãe. Em seguida Lucy, Fred ,Jim, Mike e Thomas. Todos flutuando debilmente no mar de sangue. Colin e Evan também estavam ali. Eu chorava desesperadamente enquanto via todos que eu amava mortos. De repente a barreira que me separava do sangue se desfez e o sangue me atingiu com força me cobrindo rapidamente. Eu forçava meu pulmões a respirar, mas não conseguia. Eu estava sufocando. Sufocando. Fechei meus olhos e deixei que tudo seguisse seu rumo.

Acordei assustada e chorando.

- Ei, ei. Jess. Calma. – Disse acendendo o abajur.

Olhei para o lado e lá estava Evan. Ele me envolveu em seus braços enquanto eu chorava descontroladamente.

- Foi só um pesadelo. – Ele falava para me acalmar enquanto passava as mãos carinhosamente em meus cabelos.

Aconcheguei-me mais em seus braços e aos poucos fui me acalmando. Reparei que eu estava em meu quarto e não me lembro de quando foi que eu vim para cá.

- Como eu vim parar aqui no meu quarto? Estávamos na sala e... – Falei tentando me lembrar do filme que estávamos assistindo, mas não consegui lembrar muitas coisas.

- Você acabou adormecendo no sofá. E quando seus tios chegaram eles falaram para que eu trouxesse você aqui para cima. E como estava tarde eles falaram que eu podia ficar, mas era a primeira e última vez que isso iria acontecer.

- Ah sim. – Sussurrei. Sequei minhas lágrimas e me levantei.

- Algum problema? Quer que eu vá embora? – Ele perguntou se levantando também.

- Não. Só vou tomar um copo de água.

Desci as escadas com cuidado porque estava muito escuro e segui até a cozinha. Tateei a parede da cozinha em busca do interruptor e logo o achei e liguei a luz.

- Calma, garota. Controle-se. Seu namorado não pode te ver assim. – Falei para mim mesma.

Bebi água, respirei fundo e voltei para meu quarto.

Um pensamento maldoso passou por minha cabeça quando vi Evan deitado na minha cama de bruços com o braço esquerdo apoiando a cabeça, mas logo o dispersei e deitei ao seu lado. Ele virou de lado para me olhar melhor e me puxou para mais perto.

- Está bem? – Perguntou pegando minha mão.

- Sim. Obrigada. – Soltei minha mão da dele e a usei para acariciar seu rosto e em seguida o beijei. – Desculpe por isso.

- Por me beijar?

- Não, por chorar que nem uma boba.

- Tudo bem, Jess. – Ele sorriu. – Você não precisa se desculpar por chorar.

- É, só que eu choro mais que o normal.

- Chorona. – Ele falou em tom de brincadeira.

- Você é sempre o lenço. – Entrei na brincadeira dispersando aquelas imagens ruins do meu sonho e adotando uma postura mais divertida.

- “Evan, o Secador de Lágrimas” – Ele disse rindo.

- “Evan, o Aproveitador” – Corrigi.

- O quê? – Ele se sentou escorando na cabeceira da cama.

- Ora, você está na minha cama nesse momento. O que é no mínimo suspeito. – Sorri e me sentei de frente pra ele.

Ele estreitou os olhos e veio lentamente em minha direção. Ele se aproximou ainda mais. Fechei meus olhos esperando a boca dele pressionar a minha, mas isso não aconteceu inicialmente. Seus lábios roçavam minha orelha, depois meu pescoço, minha clavícula, novamente o meu pescoço e depois passando para minha face formando uma trilha de fogo incansável.

- Esse sou eu me aproveitando de você. – Sussurrou no meu ouvido e depois seus lábios pressionaram os meus com força. Sua mão direita me impulsionava gentilmente para trás e logo pude sentir o colchão sob minhas costas. Ele me beijava com uma urgência admirável e eu como açúcar me derreti por sua presença sob mim. Sua mão que passeava por meu rosto desceu até encontrar a barra da minha blusa e sua mão deslizou por baixo do pano me provocando arrepios com o contato. Ele beijou meu pescoço e falou baixinho: – Jess, não estou na sua cama esperando que algo aconteça. Só quero dormir ao seu lado. Mas se o problema é o fato de que eu estou na sua cama... – Ele rolou de lado lentamente e pousou no chão me levando junto. Cai em cima dele um pouco indelicada. Comecei a rir e afundei minha cabeça no seu pescoço. Ele ria também.

- Evan, eu oficialmente te odeio. – Falei entre risos.

- Obrigada, eu acho.

Levantei-me e ele fez o mesmo.

- Você estava tentando me seduzir para mostrar que não queria se aproveitar de mim? – Sentei na cama.

- Não exatamente. – Falou dando um sorriso torto.

- Não exatamente significa o quê exatamente?

- Queria te mostrar que não preciso estar na sua cama e esperar você ter um pesadelo para me aproveitar de você. Alias, você não tem o hábito de me rejeitar.

- Ah. – Falei ciente que estava com uma cor acima do vermelho. – É mais forte que eu. Desculpa, cara.

- Sem problemas. – Ele riu e completou: - E o seu sonho?

- Não consigo me lembrar. Tudo que me vem à cabeça agora é que eu sou uma vítima do seu poder de sexualidade. – Menti sobre o sonho, porque ele ainda era nítido em minha memória. Mas eu só queria não precisar ser sempre frágil.

- Jess, cala a boca. – Disse deitando e me arrastando junto. – Vamos dormir que é melhor.

Deitei minha cabeça em seu peito e o abracei desajeitadamente. Ele me abraçou de volta.

- Oh, meu Deus. E se meu impulso de não resistir a você atacar e eu abusar de você enquanto eu durmo? – Brinquei sem olhar pra ele.

- Eu te acordo, pode deixar.

- Obrigada, garanhão.

- Disponha. – Disse rindo. – Agora feche seus olhos e durma.

- Já estou com os olhos fechados. – Falei sorrindo.

- Agora durma.

- Ok.

- Bons sonhos.

E voltei a dormir, desta vez sem mais sonhos e ciente de que Evan estava ao meu lado.