Somos um só

Capítulo 6


Era um dia nublado e abafado de verão; o céu ficava cada vez mais escuro, avisando que logo iria chover. Jack estava visitando cidades aleatoriamente e independente de sua estação – alguns privilégios foram concedidos a ele após ajudar Norte em algumas tarefas. Antes ele estava preso a visitar apenas a Europa no inverno, e agora ele podia ir aonde ele quisesse quando bem entendesse.

Era uma pequena cidade em algum lugar da Escandinávia (não sabia onde, já que estava voando aleatoriamente, e por isso se sentia um pouco perdido). Estava andando e observando a cidade em si no verão, tudo era novo para ele ali. As pessoas ficavam suadas e cansadas facilmente, e as crianças reclamavam algo sobre férias acabando. Os vendedores de jornais nas ruas disputavam entre si para ver quem vendia mais jornal gritando. Era algo quase insuportável; balançavam seus jornais no alto anunciando as manchetes e os preços.

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Apesar de sentir-se feliz e satisfeito observando as cidades, Jack ainda sentia um vazio. O vazio havia sido preenchido por Elsa, mas cinco anos atrás o vazio voltara – cinco anos em que não a via, cinco anos falando apenas com Norte, tirando a Fada do Dente que algumas vezes ia visitá-los, agora que Jack morava na fábrica de brinquedos. No começo era pior – ajudava norte às vezes na fábrica com seus brinquedos de gelo, e imediatamente lembrava-se de Elsa.

– Você vai sentir saudades de sua humana no começo, Jack – Norte disse, colocando a mão no ombro do garoto como forma de consolo. – Talvez para a vida toda... Mas, no final, terá sido melhor. Ela está em segurança agora.

Jack sabia que Norte tinha razão, mas para ele devia ser fácil falar; Devia ter pelo menos mil anos, já era acostumado.

Tentando ajudá-lo, Norte oferecia tarefas para Jack, como ajudar a entregar os presentes na noite de natal ou manutenção nos brinquedos. Em troca, ele o ensinava a lutar. Essas pequenas distrações ajudavam Jack, diminuindo o desespero para um vazio.

Quando finalmente passou a fazer tarefas nas cidades, independente da estação e do local – ganhando o privilégio de visitar o mundo afora -, ele sentia o vazio crescer a cada vez que via duas crianças brincando, um casal de amigos conversando e rindo ou simplesmente se abraçando. Jack havia tido tudo aquilo e, num piscar de olhos, não tinha mais. Tentava se distrair após ver aquelas cenas, mas só conseguia manter a saudade afastada por um tempo.

O que o céu estava avisando finalmente aconteceu: as gotas de chuva eram grossas e batiam com força no chão. Foi tão de repente que as pessoas levaram um tempo até se recolherem em suas casas. Em poucos minutos a rua já estava vazia por causa da chuva, e o delicioso cheiro de terra molhada envolvera Jack. Incrível como as pessoas têm medo de se molhar. O cabelo molhado de Jack deixava algumas gotas escorregarem pelos fios e caírem em seu casaco, refrescando-o daquele calor.

Pegou do chão da rua um jornal que havia pisado. Sentia-se tão perdido que resolvera ver no jornal em que cidade estava, mas além de descobrir qual era a cidade, leu uma nota que o intrigara.

Rainha de Arendelle tem seus poderes revelados

Elsa, rainha recém-nomeada após cinco anos da morte do rei e da rainha, tem seus poderes revelados em suas primeiras horas de mandato.

Segundo testemunhas, sua irmã Anna na festa pós-coroação da rainha a provocara com várias perguntas, causando a explosão de poderes da rainha. Claramente, ela não tinha controle de seus próprios poderes, sendo considerada uma ameaça para o reino e acusada de bruxaria. Assustada, a nova rainha fugiu do castelo e foi para as montanhas, sendo procurada por homens que se ofereceram nessa missão de risco. Alguns dias depois a rainha foi levada de volta ao castelo e mantida como prisioneira, mas logo prenderam príncipe Hans, acusado de tentar roubar o reino para si e causar todo o problema. A rainha passa bem, e o reino de Arendelle abriu os portões após tantos anos com eles fechados. O reino, finalmente, está em paz.

Jack só havia percebido que estava prendendo a respiração quando terminara de ler a nota. Abaixo, estava a foto das duas irmãs; Anna, como sempre, alegre e familiar. Estava abraçada com um homem alto e loiro que Jack não conhecia. Ao lado, estava Elsa. Ela havia mudado – não tinha mais nos olhos a alegria que costumava ter quando ele estava ao seu lado a ajudando, mesmo sorrindo. Bem, é apenas uma foto. Posso estar enganado. Saber que Elsa passara todos esses anos sozinha, os pais mortos e a irmã afastada, Jack se sentiu estranho. Sentiu como se tivesse a abandonado, mesmo sabendo que era para o bem dela. O vazio dentro de Jack crescera instantaneamente, misturado com culpa, saudades e uma pontada no peito. Sabia que Elsa era forte, mas até certo ponto - afinal, ninguém era de ferro.De repente, um pensamento lhe ocorrera: Elsa devia pensar que ele a abandonara.

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O simples pensamento roubou o seu ar, e Jack sentiu como se tivesse levado um soco no estômago; não suportaria ver Elsa achando que ele havia abandonado-a, esquecido dela ou até mesmo se cansado dela.

Deixou aquela cidadezinha sem saber que o jornal era antigo.

~~~

O céu à noite em Arendelle estava rosa, indicando chuva. Não devia ser muito tarde – quando Jack passou pelas ruas, ainda havia movimento. Ele sabia o risco que corria indo até o reino. Achava-se egoísta e irresponsável por estar em Arendelle novamente, mas ler aquela nota fora a gota d’água para Jack. Ele apenas torcia que Norte não o estivesse vigiando naquele momento e que, o que quer que tenha o atacado aquele dia, não voltasse novamente.

Voou até a janela do quarto de Elsa e ficou pairando, tentando ver algo através do vidro. Uma luz no quarto estava acesa, e, através das finas cortinas, Jack pôde distinguir Elsa na cama lendo um livro. Sabia que já havia abusado demais, mas já que estava ali...

Tocou a mão suavemente no vidro, criando uma fina camada de gelo no vidro e ouvindo um estalo. Tirou a mão e instantaneamente o gelo se desfez. Jack empurrou a janela vagarosamente para não assustar Elsa – afinal, após tantos anos ela poderia muito bem ter se desacostumado.

Entrou no quarto silenciosamente, encostou seus pés descalços no tapete felpudo branco e encarou a garota. A janela estava consideravelmente aberta, e Elsa nem se tocara.

– Elsa? – Jack chamou. Ela continuou concentrada no livro que lia – estava por baixo das cobertas e usava óculos delicados. Jack riu. – Ei, eu não sabia que você usava óculos para ler.

Um vento frio entrou pela janela, atingindo Jack que estava perto, e Elsa. Só então ela levantou o olhar e viu que a janela estava aberta. Fez cara feia e levantou.

– Só falta ter quebrado de novo... – fechou a janela e a trancou, passando diretamente por Jack. Deitou-se na cama e se cobriu. Retomou a leitura, dando a mínima para Jack. Um desespero crescia dentro dele; ela não estava vendo ele? A sensação de angustia e desconfiança tomou conta de Jack.

– Elsa? Sei que errei, mas, por favor, não me ignore – Jack implorou. – Por favor, me diga que você está me ignorando...

Elsa bufou e fechou o livro, deixando-o na mesa de cabeceira. Tirou os óculos, colocando-os sobre o livro, e apagou o abajur. Soltou a trança que prendia os seus cabelos e se acomodou. Torceu o nariz.

– Esse cheiro... – pensou alto.

– Elsa! – Jack chamou, chegando mais perto da rainha. – Elsa, sou eu. Elsa! – Jack tentara criar pequenas aves de neve para mostrar que ele estava ali, mas era como se a neve derretesse no momento em que tentava criar. – Elsa...

A chuva começou; primeiro fraca, depois forte. Virou então uma tempestade, iluminando o quarto por alguns segundos com relâmpagos.

– Elsa, por favor – tentou tocar o seu ombro, mas sua mão passou direto – como se não existisse ou fosse um fantasma. Imediatamente, Jack sentiu vontade de sentar aos pés de Elsa e começar a chorar. Sentia-se incapaz e sozinho; era como se estivesse em um mar de agonia.

A única pessoa que acreditou nele perdera a fé.