Sombras do Passado

Capítulo 3 - Revivendo o Passado


POV Edward

Bato meus pés impaciente no piso do aeroporto, já iam fazer 20 minutos que estava esperando meu carro ser entregue. Tinha acabado de chegar no país, após uma partida na Europa e já estava viajando novamente. Minha residência fixa era em Califórnia mas tinha apartamentos espalhados por todo país. Emmett diz que é porque virei um metido que gosta de esbanjar que tem dinheiro, mas a verdade é bem mais simples que isso. Tenho tantas casas porque assim é mais prático. Jogo para um grande time de basquete com base na Califórnia, mas passo uma boa parte do meu tempo viajando para Nova York. Ao invés de ter que esquentar a cabeça dos meus agentes para escolher um hotel, ou a minha, sempre tendo que fazer e desfazer as bagagens, comprei um apartamento lá e tudo se tornou mais fácil. E o mesmo motivo me levou a comprar outros apartamentos em outras cidades que eu visitava frequentemente. Como o de Seattle, que menos frequentava mas era mais perto da casa da minha família. E é nesse mesmo apartamento onde eu deveria estar nesse exato momento!

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Ando de um lado para o outro apressadamente. Estou nervoso hoje. Não gosto de atrasos. Principalmente porque querendo ou não sou uma figura pública, e por maior que seja a quantidade de tecido que eu use para me cobrir sempre alguém, uma hora ou outra, me reconhecia. Por isso quanto menos tempo eu levar em um lugar assim, menor a chance de isso acontecer, e eu realmente, realmente, não quero ter que parar para conversar, ou sorrir, ou ter que tirar fotos com ninguém hoje. A ansiedade faz com que eu me sinta um pouco sufocado, por isso afrouxo a gola do casaco que uso. "O que diabos há de errado comigo?" penso. Desde a hora que pisei no país na volta do jogo até agora tenho sentido algo estranho, como se alguma coisa fosse acontecer.

Meus pensamentos são cortados pelo som de uma buzina. Finalmente! Sempre alugo carros na mesma empresa em Seattle, e já que a mesma pertence ao meu irmão Emmett, não preciso de nenhum tipo de documento ou explicação a dar. Seus funcionários sempre foram eficientes em entregar o carro e discretos sobre quem eu sou. Mas mesmo sabendo que provavelmente houve algum problema que fez com que o pobre coitado que estava saindo do carro para me entregar a chave se atrasasse, eu dei um olhar mortal que o fez recuar e gaguejar uma explicação.

— De- desculpe senhor, houve um ac-ci-idente próximo e o transito es-estava...

— Me poupe de explicações, só me entregue a chave e termine seu serviço.

Quase aos tropeços, o jovem me entrega a chave e logo que entro no carro tiro a toca e os óculos que estava usando. Finalmente podia respirar direito. O transito estava realmente uma bosta, o que fez com que levasse quase o dobro do tempo que eu levaria para chegar no meu apartamento na cobertura de um dos grandes edifícios de Seatlle. Entro me livrando da metade daquelas roupas que estava usando, ficando só de jeans e com uma camiseta, e vou direto pro bar. Meu melhor amigo nos últimos anos. Me sirvo de um copo de whisky e me jogo no sofá.

As cortinas estavam fechadas e a única luz que existia no ambiente vinha do abajur que eu tinha acabado de ligar. Tombei a cabeça para trás depois de tomar outro gole do copo tentando relaxar. Fiquei mais alguns minutos nessa mesma posição, e já estava quase dormindo quando escuto meu celular tocando. Olho o visor e gemo, Dona Esme de novo não! Como eu sei que ela não vai me deixar em paz até eu atender clico no botão de aceitar chamada.

— Mãe, por mais que você insista, eu não quero que convide Tanya para o jantar. Já te disse mil vezes que o que a gente tem não é sério e eu não me importo se ela quer que seja, eu não quero!

— Edward, eu não liguei por causa da Tanya.

— Ah, bem, se a senhora me ligou pra tentar me convencer a ir até aí hoje, eu já disse para Alice que não vou. Não precisa se preocupar, eu vou ficar duas semanas inteiras com vocês! Mas antes preciso resolver algumas coisas aqui na cidade. Amanhã mesmo eu devo devo ter resolvido tudo e vou direto para aí.

— Bem, por mais que ame a ideia de ter você aqui mais cedo também não foi por isso que te liguei.

É então que noto o tom de voz da minha mãe. Ela soa como se estivesse chorado. De repente aquela mesma sensação volta com força total e me levando com um solavanco do sofá.

— Aconteceu alguma coisa? Alguém se machucou?

— Não filho, fica calma, não tem ninguém ferido. - Suas palavras me tranquilizam e volto a me sentar no sofá, me servindo de outra dose do Whisky que eu deixei sob a mesa de centro.

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— Bem, então porque me ligou?

Silencio total

— Mãe?

— Eu e seu pai discutimos pra saber se contávamos pra você por telefone ou se esperávamos você chegar, mas achamos melhor que você já venha preparado pro que vai encontrar.

— Mãe, o que está acontecendo?

E então minha mãe tira o band aid com um puxão rápido.

— É a Isabella meu filho. Ela voltou e está aqui em casa.

Paro com o copo de bebida no meio do caminho até minha boca, minha mente entra em um branco total. Volto com o copo para em cima da mesa lentamente, o deixo lá e solto uma risada nervosa.

— Que engraçado, será que você podia repetir mãe? Podia jurar que disse que havia uma certa pessoa na sua casa mas acho que entendi errado.

Escuto seu suspiro do outro lado.

— Você não entendeu errado Edward, ela e a filha dela estão aqui e vão ficar por um tempo.

E então minha mente que tinha parado de trabalhar volta com força total.

— O QUE?! O QUE ESSA MULHER ESTÁ FAZENDO NA NOSSA CASA?

— Edward, por favor, escuta..

— NÃO!! VOCÊ VAI DEIXAR ESSA MULHER FICAR AÍ? VOCÊ SE ESQUECEU DO QUE ELA FEZ COMIGO?!?!

— Edward, calma..

— NÃO MÃE, É MELHOR ESSA VAGABUNDA NÃO ESTAR AÍ QUANDO EU CHEGAR SE NÃO EXPULSO ELA EU MESMO!!!

Não chego nem a desligar o telefone quando o taco contra a parede.

Não podia ser. Não, não, não. Ela não podia estar de volta. Ela não pode fazer isso comigo.

Isabella Swan, a garota que era minha melhor amiga, a garota que eu amei, e a garota que arrancou meu coração e chutou com ele como se fosse uma bola de futebol. A garota que eu odiei com cada célula do meu ser, que eu odiei por ter me traído, e que odiei ainda mais por não conseguir deixar de amar.

Peguei o garrafa de whisky e a arremessei contra a parede.

NÃO, DROGA!! Ela não podia voltar. Depois de tantos anos, pela primeira vez eu ando conseguindo me lembrar cada vez menos dela. Já fazia meses que ia dormir sem chorar por causa dela. Droga, eu tinha conseguido até ter um rolo de mais de uma semana com uma mulher pela primeira vez desde que nos separamos e agora ela decide voltar?

Sento no chão e apoio minha cabeça nas minhas mãos, agarrando meu cabelos e tendo vontade de arrancar eles, enquanto as memórias do passado que eu tanto tentei esquecer voltam com tudo.

Fleches de momentos da nossa infância, nosso primeiro dia na escolinha, nosso primeiro dia nadando no rio, nossa primeira viagem, nosso primeiro beijo, nossa primeira vez..

Lembro perfeitamente da nossa primeira vez. Eu estava com 18 e ela 17, já namorávamos há 4 meses. Eu não era mais virgem e ela tampouco, então não havia um lado inexperiente. Os dois sabiam o que fazer e como fazer e foi a melhor noite da minha vida. Os pais dela estavam viajando e ficamos o dia inteiro na cama. Transamos 4 vezes naquele dia, eu me lembro porque foram 4 embalagens de camisinha que eu tinha levado. Logo depois tive que ir de viagem com o time da para um campeonato e ela ficou pra trás. Era a nossa despedida.

No caminho de volta sofri um acidente. Nada muito grave, mas tive que ficar em observação por umas semanas. Enquanto estava no hospital ela me visitava, levava comida, levava presentes. Droga, ela me levava flores! Me beijava, dizia que me amava.. que estúpido fui eu. Fiquei ainda mais apaixonado. Quando recebi alta decidi passar em sua casa, mas quando estava passando pela rua vi a porta da frente se abrindo e Mike Newton saindo de lá. Ela sorriu para ele e eles se abraçaram. Então ele se virou e foi embora com um sorriso do tamanho do mundo em seu rosto. Apertei o volante na hora e sem pensar só segui direto.

Eu era muito ciumento com Isabella. Não era como sou hoje. Nunca fui feio, era bem apessoado, mas nem chegava perto de ser tão bonito quanto Mike, ou Tyler, ou Jacob.. ou todos aqueles garotos que viviam atrás dela. E ela? Ela sempre foi tão linda, que na metade do tempo me perguntava porque estava comigo, e isso me deixava com uma insegurança enorme. Meu ciúmes sempre foi o principal motivo de nossas discussões. E aparentemente, eu sempre tive razão em ter ciúmes. Porque assim que cheguei em casa e subi para meu quarto, encontro envelopes em cima da minha cama, e quando os abro vejo fotos da Bella, da minha Bella, na cama com Mike e ainda outras dela com Tyler. Eu nem raciocinei como aquilo foi parar ali e sinceramente não quero saber, porque a verdade estava sendo esfregada na minha cara. Nas fotos ela usava o colar que eu dei pra ela no dia que fizemos amor pela primeira vez.

Não lembro de muito mais daquele dia. Me lembro de chorar. E gritar. Me lembro que minha família estava lá. Alguém me colocou no chuveiro, havia mais pessoas chorando, e alguém estava discutindo. Mas eu entrei em um estado de estupor tão forte que se caísse uma bomba na casa que eu não iria notar.

Não dormi durante a noite. Depois de certo tempo eu não tinha mais lágrimas para chorar, então só fiquei deitado com minha dor, em silêncio, olhando fixamente para o teto.

O próximo dia também veio em fleches. Isabella me ligou, disse que queria conversar. E eu falei pra ela vir. Mas quando ela chegou não conseguia sair do lugar onde eu estava. Eu não queria ver ela. Minha mãe me chamou, falando que ela estava esperando no meu quarto e que eu tinha que conversar com ela. Alguém me empurrou em direção as escadas e meio grogue, eu fui. Quase na porta do meu quarto escuto seu choro. E foi esse som que me tirou daquele estado de transe.

Eu senti raiva, uma raiva tão grande que senti que poderia matá-la naquela hora. ELA me traiu! ELA! EU sou o único que tem direito a lágrimas por aqui! Porque aquela piranha chorava?

Entrei no quarto com tudo, perguntei se ela tinha algo que me falar e Deus, ela teve. Gravida. Isabella estava grávida. E ainda esperava que eu acreditasse que era filho meu. Por um segundo eu até pensei que poderia ser e fiquei pálido. Mas me lembrei das embalagens de camisinha, das malditas embalagens e sabia que não poderia ser meu. Sabendo agora o quão vadia ela era, não me surpreenderia que fosse de outra pessoa além daqueles dois. Talvez o sortudo tenha sido Jacob. Com certeza ela fodia com ele também.

Depois daquilo minha vida foi por água a baixo. Por meses fiquei só trancado no quarto, comendo só quando era obrigado pela minha mãe, acabei sendo expulso do time e ainda adquiri um maravilhoso vício por álcool.

Demorei muito pra me reerguer mas o fiz. E movido por raiva me tornei quem eu sou hoje. A pessoa que eu sempre quis ser. Foi nela que pensei quando entrei para o time, era nela que pensava quando aceitei um trabalho de modelo atrás do outro. Eu queria que ela ligasse a tv e me visse, que ela saísse na rua e se deparasse com um outdoor meu. Veja como eu estou bem Bella! Veja como conquistei tudo isso! Veja! VEJA! Era isso que sempre me passava pela cabeça durante o dia. E ainda assim, ia pra cama sozinho, com um copo na mão e uma foto dela na outra.

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Isabella Swan me estragou. Só depois de dois anos consegui transar de novo e ainda que houvesse várias depois daquela, nunca, por mais bêbado que eu estivesse, consegui ficar com uma morena. Sempre loiras, talvez ruivas, mas nunca morenas. Mas na única vez que tentei ficar com uma morena foi a quase um ano atrás, fiquei o mais bêbado que pude, disposto a provar para mim mesmo que ia conseguir, que eu tinha a superado. Mas em algum momento eu a olhei e vi Bella. E eu não fiquei com raiva, eu não quis xinga-la ou batê-la como eu deveria, como eu pensei que faria se a encontrasse. Não. Eu chorei. Igual a um bebezinho. Eu não gritei que a odiava, que ela a uma vagabunda que destruiu minha vida. Eu disse que a amava que que sentia sua falta.

E agora estou aqui, Edward Cullen, realizado na carreira, financeiramente bem, e chorando de novo porque mesmo depois de 6 anos, eu ainda amo a garota que quebrou meu coração.

Eu já li que para superar um amor a gente leva o dobro do tempo que passou amando a pessoa. Eu amo Bella já faz uma vida inteira, será que vou levar outra pra esquecê-la?

Não, eu não ia me afundar nessa de novo. Penso com raiva. Pego minhas chaves em cima da mesa e saio do apartamento. Nem paro pra ver se deixei a porta aberta ou não. Ligo o carro as pressas e arranco com ele, em minha mente um único objetivo. Ir para casa de meus pais e tirar aquela mulher de uma vez por todas da minha vida.

Passo pelas ruas sem notar os carros ou as pessoas ao meu redor. Corria pelas estradas como um louco, atravessando em sinais fechados. Quando pego a avenida, bato 180 km/h com facilidade. Fiz o percurso com metade do tempo que levaria normalmente para fazê-lo. Poucas horas depois já entro na familiar rua que leva a casa de meus pais. O carro nem havia parado direito quando salto dele, sem me importar em fechar a porta. Subo os degraus que leva a porta da casa correndo, coloco a mão na maçaneta, pronto para invadir a casa e.. paro.

Ela estava lá dentro. Em algum lugar, Bella estava lá dentro. Fecho os olhos e encosto minha testa contra a madeira fria da porta, implorando a qualquer Deus que me dê força para não desabar de novo. Inspiro uma boa quantidade de ar para dentro dos meus pulmões, expiro lentamente, juntando todo o ódio que nutri por ela nesses anos e abro a porta.

Quando entro no saguão da casa, sigo direto para a sala de visitas, já sabendo que seria para lá que minha mãe a levaria. Porém, ao chegar lá encontro a sala vazia. Então escuto vozes vindo da cozinha e refaço meu caminho para lá. Assim que passo pela porta vejo de relance minha mãe se levantando e meu pai em algum lugar do cômodo, falando comigo, mas eu não escuto nada. Meus olhos presos na figura sentada a poucos metros de mim.

Isabella levanta lentamente da cadeira, seus olhos pregados nos meus. Usava um jeans velho e um casaco de lã, parecia que tinha tomado banho recentemente, com seus lindos cabelos desciam molhados pelas suas costas, e segurava uma xícara de café nas mãos. Ela estava mais magra, mas mesmo magra consigo ver que seu corpo ganhou curvas que antes não tinham. Já não era mais o corpo de uma adolescente, e sim de uma mulher. Enquanto me afundava naqueles olhos castanhos, por um momento me esqueço de tudo. Bella parece tão abalada quanto eu, vejo seus olhos se enchendo de lágrimas e sinto a saudade e a dor que carreguei por todos esses anos refletidas no olhar dela. Ela dá um passo na minha direção e podia jurar que iria me abraçar. E eu queria isso. Deus! Eu queria pegar ela nos meus braços, afundar meu rosto em seus cabelos e sentir seu cheiro. E eu estava a ponto de fazer isso quando Bella sussurrou meu nome.

— Edward..

Ela começa a falar, bem baixinho. O som de sua voz me desperta e sinto a raiva voltar. Sem pensar no que estava fazendo, agarro seu pulso e a arrasto pela porta da cozinha, ignorando o choque que correu por meu braço ao encostar em sua pele. Escuto meus pais gritando comigo e ignoro. Arrasto Bella até a porta da frente, que deixei aberta e a jogo para fora de casa. Ela tropeça nos seus próprios pés e cai no chão. A culpa que me atinge vem rápido e forte e tento ao máximo ignora-la.

— Vá, antes que eu perca a paciência.

— Edward por favor..

— VÁ!! E NEM PENSE EM PISAR OS PÉS NESSA CASA NOVAMENTE!!

Bella treme quando grito com ela, seus olhos magoados e assustados só aumentam minha raiva. Como ela continua sentada, me movo até ela e a levanto, pronto para carrega-la até o portão e a tacar no meio da rua, quando sinto algo se bater contra minhas pernas.

— SOLTA ELA! SOLTA ELA!!

Grita para mim uma voz fininha, enquanto sinto pequenas mãos socando minha perna com uma força que não seria suficiente pra matar uma mosca.

Assim que meus olhos se movem para baixo, meu mundo para.

A garotinha mais bonita que já vi na vida estava enroscada nas minhas pernas, com lágrimas nos olhos e me olhando com raiva.

Ao observar aqueles olhinhos escuros eu sinto algo mudar dentro de mim. Não sei explicar o que era aquilo, mas eu sabia que nunca tinha sentido nada parecido.

Crescer, se mudar, ter uma casa própria, ter meu próprio trabalho e meu próprio dinheiro, dormir com uma mulher.. pensei que isso era o que fazia de mim um homem, e nunca estive tão enganado. Porque foi olhando para aqueles olhinhos que, pela primeira vez, senti o que era ser homem de verdade.

Depois de anos, senti meu coração bater em meu peito novamente.