Ao descer as escadas de maneira apressada e junto de Ethan, Eileen já viu em cima da mesa da sala a invenção que eles estavam trabalhando já dias. Ela notou que estava praticamente igual ao do desenho que havia visto anteriormente. Não era realmente muito grande, poderia ser até mesmo segurado no colo, embora parecesse ser pesado.

Joshua estava de costas para a invenção, olhando os outros dois com um pequeno sorriso triunfante no rosto.

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— Isso vai realmente nos levar de volta? — Eileen já tinha feito aquela pergunta e recebido uma resposta positiva, mas ainda não conseguia crer naquela possibilidade. — Uma coisa tão pequena assim é capaz disso?

— Tenho quase certeza de que conseguiremos voltar. — Ele passou a olhar para o equipamento. — Veja, veja. A bateria com os pósitrons ficará aqui na ponta, entende? Quando a energia eletromagnética for ativada, haverá calor, o que fará com que os pósitrons passem a se movimentar mais rapidamente.

Eileen ouvia tudo o que ele dizia, tentando guardar todas as informações na mente.

— Iremos fazer aqui e agora?

Joshua pareceu pensar um pouco sobre o assunto.

— Na verdade, eu queria fazer isso no campo, perto da cabana do Sr. Caulfield — disse Joshua, agora fitando Ethan. — Talvez tenha mais chance de funcionar lá, já que foi o primeiro lugar onde os pósitrons apareceram. Apenas para prevenir, se me entendem.

Eileen entendia perfeitamente a posição dele, mas também lembrava-se de que havia o toque de recolher ali. Com certeza já tinha passado das dez horas da noite, de modo que eles estavam impedidos de sair.

Talvez houvesse mesmo mais chances de a máquina funcionar se fosse no campo, onde havia uma maior carga de energia, mas a probabilidade de haver uma falha a atormentava também. Era a única oportunidade que possuíam. Eles poderiam muito bem esperar até o dia seguinte – Eileen apostava que Joshua sequer dormiria durante a noite –, mas tinha certeza de que chamariam mais atenção.

— Sr. Sanders, o senhor já tem conhecimento da minha resposta — disse Ethan, sentando-se no sofá. Estava com mais olheiras do que o normal e sua expressão de cansaço era mais do que evidente. — Podemos ir amanhã logo que amanhecer, se assim o senhor quiser.

Joshua pareceu ter perdido toda a animação, infeliz por ter de esperar ainda mais tempo para finalmente poder conseguir voltar para seu tempo. Ele suspirou, resignado. O que seriam mais algumas horas para quem estava preso ali há dias? Seria difícil, mas aguentaria.

O cientista assentiu, acertando o horário exato com Ethan e subindo para o segundo andar, ansiando voltar ao quarto. O cansaço era extremo e ele sequer fazia ideia de quando havia conseguido dormir direito.

Ao se ver sozinha com o rapaz, Eileen também sentou-se no sofá, logo ao lado dele. Eles permaneceram um longo tempo em silêncio, com o lugar sendo iluminado apenas por algumas velas. A assassina olhou de esguelha para Ethan, notando que ele estava com os olhos fechadas e a respiração lenta.

— Está com medo?

Eileen se sobressaltou ao escutar a voz dele tão repentinamente. Havia pensado que ele estava cochilando ou até mesmo dormindo – não que ele fosse o tipo de pessoa que dormiria em público. Ela ponderou um pouco sobre a pergunta jogada no ar.

— Medo?

— De não conseguir voltar ou... — Ele continuava com os olhos fechados. — Ou algo parecido.

Ela ponderou um pouco antes de responder. Quando havia feito a viagem pela primeira vez, havia visto a si mesma se desintegrando pouco a pouco, além da dor alucinante que percorrera todo seu corpo. Sentiu um arrepio com a lembrança ainda fresca na mente.

— Creio que medo não seja a palavra correta — respondeu, sincera.

— Seja o que for, você precisa dormir. — Ele finalmente tinha passado a olhá-la, ainda que fosse com a expressão séria. — Repor as energias para voltar ao seu tempo. — Ethan logo desviou o olhar, passando a observar uma das velas, como se fosse o objeto mais interessante naquele momento. — A não ser que você mude de ideia.

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Eileen sentiu o coração acelerar com as últimas palavras dele. Não soube dizer se havia algo implícito ali e ele estivesse acanhado demais para dizer, considerando a falta de tato dele para lidar com as pessoas.

Em um ato impensado, tudo o que ela fez foi encostar a cabeça no ombro dele e fechar os olhos, aspirando o cheiro que ele possuía. Queria poder dizer a Ethan que tinha realmente mudado de ideia, que não queria passar pela experiência de se desintegrar novamente e ficaria ali, naquela época, por mais que a quantidade de regras a serem seguidas a incomodasse.

Tudo o que fez, porém, foi manter em silêncio, não demorando a dormir, bem como Ethan.

. . .

Logo cedo pela manhã, assim que os três já estavam prontos, a casa tinha sido deixada. Eileen sentiu certo aperto no coração ao fazê-lo, já tão apegada ao lugar. Duvidava que encontrasse uma casa tão bela como aquela em seu próprio século. A Sra. Bradley estava com um sorriso enorme no rosto quando presenteou a assassina com as roupas que ela usava quando chegara ali. Eileen não demorou a vesti-las, feliz por não ter que usar os vestidos que tanto a incomodavam.

Durante o caminho, Joshua havia avisado a Eileen de que eles dois não poderiam estar carregando mais do que as roupas do corpo, além de terem que usar um calçado isolante, de maneira que a energia não escapasse para o solo. “A energia precisa estar concentrada somente em nós dois”, ele tinha dito. Ela assim o fez, deixando, infeliz, sua lâmina aos cuidados de Ethan.

A carruagem que os havia levado parou perto do campo, com Ethan dizendo para o condutor que ele não seria mais necessário naquele dia. O homem agradeceu e logo retirou-se, com um sorriso satisfeito nos lábios pelo suposto dia de folga.

Eileen suspirou profundamente enquanto eles caminhavam até a cabana devastada pelas chamas. Ainda havia uma quantidade significativa de pó cinza ali, devido ao fato de o lugar ainda não ter sido limpo. Um sentimento saudosista logo tomou conta de si quando, enfim, chegaram ao local.

— Eu vou arrumar as coisas — disse Joshua, entrando no lugarzinho de madeira com o equipamento em mãos.

A assassina sentiu-se estranha por um momento. Sempre teve em mente que faria de tudo para voltar para casa, mas nunca passou pela sua cabeça que estaria com Ethan quando esse momento acontecesse. Não era acostumada a lidar com despedidas, uma vez que simplesmente não se importava com tais coisas. Mas aquilo era diferente. Ela não queria se despedir.

Tinha se acostumado com o jeito sério daquele homem tão sério; com o fato de ele ter uma preocupação excessiva quando se tratava dela. Apesar de ter passado poucos dias naquela época, sabia que não haveria nenhum tão cordial e cavalheiro como ele.

— Queria que você fosse comigo — ela disse, não sabendo de onde tinha tirado coragem para dizer tais palavras.

Ethan soltou um sorriso de lado. Eileen quis gravar aquela cena para sempre na mente, dadas às circunstâncias de que nunca mais poderia vê-lo.

— Você conseguirá sobreviver sem mim.

Eileen quis sorrir. Era realmente estranho ouvir algo com um tom diferente do usual sério sair da boca dele.

Ethan queria adiar aquele momento o máximo que pudesse, mas aquela decisão simplesmente não cabia a ele. Não queria perder a única mulher por quem conseguia sentir algo – com exceção de sua falecida mãe e de Louisa. Não soube como e nem quando, mas era fato que Eileen tinha o conquistado, embora ele lutasse para não revelar tais sentimentos.

Sabia como era perder pessoas, e sabendo que ela um dia voltaria para o seu tempo, ele se negou a aceitar o sentimento. Fitou o rosto dela, observando cada detalhe ali. A tez clara que fazia seus olhos e cabelos parecerem ainda mais escuros do que já eram; o olhar sempre zombeteiro e a boca.

De maneira impulsiva, ele aproximou-se de Eileen e tocou os lábios dela com os seus. Notou que ela se assustou com o ato, mas ao senti-la relaxar, ele aprofundou o beijo, sentindo-a rodear seu pescoço com as mãos.

Ao mesmo tempo em que adorou a sensação, ele mesmo quis voltar no tempo para ter feito aquilo antes. Queria aquela mulher consigo, naquele século, naquele instante e em tantos outros.

Somente quando se separaram foi que Ethan notou que suas mãos tinham ido parar na cintura dela. Ele não soube dizer o que se passava nos pensamentos dela, que estava com o olhar indecifrável no rosto bonito.

— Então... — Ethan começou, com os pensamentos sem rumo certo. — A senhorita precisa mesmo ir?

Eileen soltou um sorriso melancólico e se afastou dele com relutância.

— Você é um bom homem, Ethan. Bom demais para ficar com alguém como eu — ela disse, sentindo a voz falhar por um pequeno instante. — Mas há uma pessoa no meu tempo... Eu... Eu não posso abandoná-la.

— Uma pessoa? — ele indagou, incerto sobre o que ela dizia.

— Minha mãe.

Era desnecessário falar mais que aquilo. Ethan não conhecia muito sobre as pessoas com quem Eileen se envolvia, sobre a família ou amigos dela, mas ele reconheceu o modo como ela falou da própria mãe. Ele próprio falava de sua mãe da mesma maneira antes que ela se fosse.

Sabendo que não poderia insistir no assunto, ele sorriu novamente para ela e deu-lhe um outro beijo, mais simples e rápido, como apenas um toque.

— Fique perto do Sr. Sanders — aconselhou Ethan, quando o cientista apareceu — Talvez ele consiga inventar realmente uma máquina do tempo. Uma de verdade, dessa vez. — E então, tomou a mão dela na sua e depositou um beijo rápido. — Se cuide, Eileen Hawkins.

Ela não pôde evitar sorrir ao ouvir novamente seu nome sair da boca dele.

— Você também, Ethan Caulfield.

Eileen sabia o que ele queria dizer com aquelas palavras. Ele queria voltar a vê-la, embora não tivesse dito de maneira objetiva. Ela olhou para a máquina, posta sobre uma cadeira de metal que parecia ter sido enferrujada.

— Pegue isso, meu jovem. — Joshua entregou a bateria com os pósitrons para Ethan, que a pegou sem hesitar. — Você já sabe o que fazer. Devo dizer, é claro, que foi um prazer passar esses dias nessa época maravilhosa.

Ele não respondeu, apenas assentiu com a cabeça. O cientista ficou logo em frente à máquina, ao lado da assassina, que permanecia com o olhar fixo no rapaz.

Ethan se aproximou da máquina, dando uma última olhada em Eileen. Após um suspiro profundo, ele finalmente colocou a bateria em um encaixe que havia, no que ela se adaptou perfeitamente.

Ao fazer isso, ele viu quando uma luz acendeu-se na máquina aos poucos e, no minuto seguinte, um raio foi disparado em Eileen e Joshua, criando um clarão que iluminou uma boa área dali. Ethan teve de cobrir os olhos com o braço, sem sucesso ao tentar enxergar qualquer coisa à sua frente. Logo sentiu o ar ficar mais estranho, o obrigando a afastar-se do equipamento.

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Quando toda a luminosidade, enfim, dissipou-se, nada mais havia na frente de Ethan. A máquina, Eileen e Joshua tinham desaparecido, como se nunca houvessem existido.

Sabendo que nunca mais poderia ver Eileen novamente, tudo o que ele fez foi cair de joelhos no chão, com a dor preenchendo o peito.

. . .

Eileen abriu os olhos, incomodada com a claridade violenta. O corpo inteiro estava doído e ela estava completamente ofegante. Estava deitada no chão, com a cabeça encostada na parede de um edifício. Piscou algumas vezes, tentando se acostumar com a luz, relembrando aos poucos os últimos acontecimentos.

Ethan!

Ela sentiu o coração se acelerar ao lembrar-se do rapaz. Sentou-me imediatamente, aflita, e logo que olhou para o lado, reconheceu de prontidão a figura que parecia estar acordando naquele momento também.

O estado de Joshua Sanders se assemelhava ao dela. Após ele se recompor, pôs-se a massagear as têmporas, aparente incomodado com a luz solar. Assim que os olhos claros dele fixaram-se em Eileen, ela logo pôde notar um brilho surpreso ali.

— Nós... conseguimos? — ele indagou, olhando para as palmas e costas das mãos, como se estivesse tentando confirmar que tinha mesmo sobrevivido à experiência de viajar pela segunda vez no tempo.

Eileen não o respondeu. Mesmo com os olhos e o corpo ainda doendo, ela levantou-se, reconhecendo o lugar de imediato. Estava entre o hotel que se hospedara para investigar o cientista e a pequena casa dele.

— Quantas horas são? — ela indagou para o velho.

Joshua tirou o relógio do bolso da calça e verificou, arregalando os olhos ao olhá-lo.

— São três e trinta e cinco da tarde — ele sussurrou, ainda olhando para o objeto. — Creio que foi exatamente nessa hora que nós nos esbarramos pela primeira vez.

Eileen absorveu a informação. A energia dos pósitrons não tinha sido o suficiente para levá-los ao momento exato em que Eileen atirara na máquina, mas havia sido algo bem próximo a isso. Ela olhou para Joshua e este a fitou de volta, levantando-se também, mas sem saber o que fazer ou dizer.

O medo tinha voltado a percorrer seu corpo e ele apostava que seriam seus últimos minutos ali. Pensou que, assim como antes, iria aparecer em um lugar diferente do dela, podendo, assim, buscar algum refúgio e poder concluir sua pesquisa.

Ela deu alguns passos na direção dele, que recuou, aflito.

— Eu sei o que você está pensando. — Ela deu mais um passo. — Você pode até não estar acostumado a errar, mas aceite isso: você está errado.

Joshua fez uma expressão de quem não havia entendido, mas continuou a afastar-se dela.

— Eu não vou te matar — disse Eileen, impassível, como se estivesse lendo todos os pensamentos dele. — Eu também errei em agir por impulso. Não te conhecia; tudo o que eu sabia era que você supostamente estava criando algo perigoso.

— Eu já te disse... — começou Joshua, com a voz trêmula. — Minha máquina é a cura da humanidade e eu posso te provar isso.

Eileen lembrou-se do homem que havia encomendado a morte do velho. Mark William. Ela ainda tinha algumas contas a acertar com ele, mas isso poderia esperar mais um pouco. Naquele momento, ela estava curiosamente interessada na criação que a tinha levado ao passado.

. . .

Eileen olhava o sol se pôr pela janela do hotel que estava hospedada. Lá embaixo, os carros faziam barulho e já era visível a luz nos postes das ruas. Estava escurecendo mais cedo naquela época e a assassina apreciava aquilo. Gostava do escuro e do frio que a noite possuía.

Tinha acabado de retornar da casa do cientista que dedicara tanto tempo odiando. Ainda não tinha absorvido tudo o que Joshua tinha lhe dito, e poderia muito bem duvidar daquilo, achando impossível, mas depois de ter feito a proeza de viajar duas vezes no tempo, poucas coisas agora entravam naquela categoria de não ser possível.

Ela soltou um suspiro. Não estava realmente acreditando que tinha conseguido voltar ao século vinte e um. Era o que ansiava desde que aparecera no campo, em meios às luzes. Mas não sentia-se totalmente feliz por aquilo. Era bem verdade que tinha feito um esforço sobrenatural para se manter impassível na frente do cientista, mas ali, sozinha, ela sentiu todas as emoções tomarem conta de si.

Quando notou, as lágrimas não paravam de deixar rastros irregulares em suas bochechas. Nem uma das pessoas que tinha conhecido estava ali – Ethan, Adelaide, Louisa. Estavam todos mortos. Era a mesma sensação que havia sentido com Caleb, a diferença era que tinha perdido três pessoas de uma só vez.

Ela limpou as lágrimas do rosto e ouviu um soluço sair da própria boca ao lembrar-se particularmente de Ethan. Ainda conseguia sentir o cheiro dele em si.

Não me deixe, ela pensava incessantemente, sabendo que seus desejos nunca viriam a se concretizar.

. . .

— Mama, eu trouxe seu chá.

A moça entrou no quarto silencioso com uma bandeja nas mãos, depositando-a na mesa logo ao lado da cama onde Kalel Hawkins estava deitada. A mulher abriu os olhos com dificuldade ao ouvir a voz.

— Por que está me acordando tão cedo, Madalena?

Eileen suspirou. Era realmente um milagre que sua mãe estivesse viva. Os médicos haviam conseguido fazer com que o estado do câncer regredisse, dando à sua mãe mais alguns valiosos anos de vida. Todo o dinheiro que a assassina ganhava ao eliminar uma vítima ia direto para os fundos de tratamento de Kalel.

No último ano, entretanto, a mulher tinha tido quedas de memória frequentes, até que chegara o dia em que sequer lembrava o nome da própria filha. Semanas depois comprovara-se que se tratava realmente de um caso de Alzheimer.

Sem saber o que fazer com a mãe, Eileen a hospedara em uma casa de repouso para pessoas com aquele tipo de doença. A visitava sempre que podia, por mais que ainda doesse vê-la chamá-la a cada dia por um novo nome.

— E esse chá? Já te disse que não gosto desse sabor — disse ela, cruzando os braços. Ver aquele temperamento forte em sua mãe ainda fazia com que a assassina estranhasse tudo. Kalel sempre tinha sido uma mulher de palavras doces e gestos calmos.

— Até ontem era o seu preferido, mama.

— Ontem? Você deve estar me confundindo, Madalena.

Eileen suspirou novamente, não respondendo. Ela passou um tempo em silêncio, apenas escutando os causos da mãe, que contava alegremente sobre uma viagem que havia feito quando mais jovem – viagem essa que só aconteceu em sua cabeça.

— E você? — indagou Kalel, franzindo o cenho. — O que anda fazendo?

Ela pensou sobre o que deveria falar. Provavelmente sua mãe esqueceria tudo no dia seguinte, mas ainda assim, optou por omitir os acontecimentos mais importantes de sua vida.

— Um amigo meu criou um acelerador de partículas. — Eileen sentou-se na cama, sendo observada pelos olhos escuros e sérios. — Ele está tentando produzir alguns prótons que irão atuar contra as células cancerígenas sem que as outras sejam mortas.

Ela sorriu ao lembrar-se do velho que tentara matar. Sequer poderia imaginar que aquela invenção dele se tratava de algo do tipo. Quando ele lhe contara, ainda no dia que haviam retornado, ela só conseguiu lembrar-se da mãe.

Kalel bufou, em resposta, bebericando o chá.

— A cada dia é uma nova tecnologia. Aposto que não irá funcionar.

Eileen torceu para que a mãe estivesse completamente errada.

. . .

Mark William apertava os botões do controle remoto incessantemente, mudando de canal, sem conseguir se decidir. Estava usando apenas uma calça, deixando o peito nu livre de qualquer vestimenta. Olhou para o relógio de pulso pela enésima vez, constatando que sua companheira da noite já estava 7 minutos atrasada. Era um homem excessivamente pontual e ansioso, punindo todo tipo de atraso.

Quando ouviu a porta ser aberta, ele não conseguiu esconder um sorriso malicioso, sabendo que a hora que tinha dado horas antes fora cumprida. Já havia deixado um recado dizendo que ela não deveria bater, apenas entrar, e assim foi feito.

Observando a mulher, viu que ela vestia um vestido longo e escuro, com uma abertura na lateral que ia até uma das coxas alvas. Ela usava uma máscara de gata, o que fez sua curiosidade se aguçar ainda mais.

Sentado no sofá de dois lugares, ele deleitou-se quando ela se aproximou por trás e colocou as mãos sobre os ombros, fazendo uma leve massagem.

— Oh, meu bem. — Ele fechou os olhos, apreciando a sensação. — Desse jeito você vai acabar me matando de prazer antes de começarmos.

Ele ouviu uma risada vir dela.

— Não é de prazer que pretendo te matar, senhor Mark William.

O homem imediatamente abriu os olhos, sentindo um arrepio percorrer todo o seu corpo. Aquele jeito de falar só poderia pertencer a uma pessoa. Antes que pudesse sequer se mexer, ele sentiu uma agulha no pescoço e uma certa pressão.

— O que está acontecendo aqui?

A voz dele tinha saído exasperada, mas não alta o suficiente para alertar alguém. Ele levantou-se, mas logo sentiu-se tonto, tendo que apoiar-se no sofá. A visão ia ficando mais turva a cada segundo que se passava.

A assassina deu a volta no móvel, aproximando vagarosamente dele, que agora arfava. A garganta começava a se fechar, de maneira que ele não conseguia mais pronunciar uma palavra sequer sem tossir no meio. O desespero de Mark William cresceu ao ver uma lâmina na mão dela.

— Eu sinto muito — disse ela, empurrando-o no sofá, fazendo-o ficar deitado de costas.

— Sente muito por me matar? — ele ainda conseguiu falar, por mais que sentisse dor ao fazê-lo.

— Não. — E afundou a faca no peito dele, sem rodeios. — Sinto muito por não ter te matado antes.

Não demorou muito para que Eileen visse o brilho deixar os olhos do homem, sentindo-se satisfeita pelo o que tinha feito. Era por ainda existir gente como Mark William que ela cumpria seu papel.

Sabia que aquilo de tirar vidas era moralmente errado, mas a ajudava na tarefa de esquecer os acontecimentos que tinha vivenciado semanas atrás, mesmo que por pouco tempo, considerando que as memórias insistiam em invadir seus pensamentos.

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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ainda assim, ela continuava lutando para mudar isso. Sempre que lembrava-se de algo sobre aquilo, ela saía para matar, afinal de contas, aquelas lembranças simplesmente não passavam de sombras do passado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.