Sobreviva Ao Seu Destino

Entre mandíbula e caninos.


Observar o novo animal malhado se aproximar fez com que muitos do grupo desviassem o olhar do lobo branco no auto da colina, e no mesmo estante este avançou correndo para cima deles.

Pietra percebeu logo e pôs o arco no ar, esticando o máximo da corda, e buscou a melhor mira, enquanto Sean, Charlotte e Henry se moviam na frente dela. Quando surgiu a chance, a flecha voou e acertou o lobo de forma certeira, ferindo as funções cerebrais através do olho, e logo o corpo da criatura capotou devido ao embalo, girando sobre si até se jogar sobre os mais próximos dos banidos, Ross e Tae até tentaram correr, mas foram derrubados pelo corpo recém-abatido.

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Entretanto, ao mesmo tempo, outra movimentação tinha se iniciado do outro lado enquanto Pietra ainda mirava: O segundo lobo avançou bem veloz, sabendo bem o que faria, chegou ao grupo dando um bote sobre o primeiro que alcançou. Por pouco não alcançou Frederico, que foi puxado por Aurora para o lado e os dois acabaram caindo juntos, um por cima do outro. Então, no meio do grupo o lobo avançou em outro que estivesse dando a chance, virou a cabeça para um lado e encontrou o ombro de Louis. O jovem rapaz logo o golpeou com o machado que tinha em mãos, resistindo em ficar de pé enquanto o lobo forçava mais as mandíbulas e o perfurava com os longos caninos até os ossos. A arma feriu o lobo no musculo da pata direita e o animal teve que solta-lo. A dor e o ferimento de Louis foram tão profundos e sangrentos que ele apenas caiu liberando o grito de dor que tinha guardado. Aurora e Fritz, ainda caídos no chão, assistiram a cena de perto, enquanto Rose tentava estimula-los a se levantarem logo do chão e se afastarem, antes que fossem a próxima vitima.

Quando o lobo malhado ignorou o ferimento e se voltou para Alice, a mais próxima, mostrando os dentes avermelhados, um pequeno machado se fincou na têmpora do crânio no animal com um baque bruto. O sangue do lobo escorreu, brotando por entre as mandíbulas nos segundos em que ele ficou desnorteado e mexendo a cabeça levemente com a arma fincada na face. Yuki surgiu no campo de visão de Alice e da pequena Charlotte, que ainda encaravam o animal, o loiro levantou a espada e foi em direção ao lobo com uma face sem expressão, mas os olhos esverdeados demonstravam qualquer coisa fria. O lobo até notou a movimentação e a energia do rapaz e rosnou para ele, mas o golpe de Yuki foi rápido, direto na nuca, e o lobo malhado deixou sua existência no mundo selvagem.

A agitação se dissolveu muito mais rápido que o ataque. O silêncio tomou conta, juntamente com o enfraquecimento da chuva. Federico se pôs de pé e olhou ao lado, seu gesto chamou a atenção das garotas que estavam com ele para o jovem ensanguentado.

— Louis... — Rose disse o nome do menino caído no chão, com parte do ombro e braço embebido no vermelho, que se misturavam na água sob seu corpo. Ele já não se movia, pouco demonstrava da dor de segundos atrás e a respiração era quase imperceptível até parar de vez.

Alice se aproximou agitada do rapaz, com um mínimo de esperança, mesmo sem saber o que fazer com um ferimento daqueles e acabou olhando para os outros em busca de alguma ajuda.

— Ele não ficou com nenhuma chance. A mordida do lobo foi destruidora... Até o som que ouvimos não foi bom. — Aurora lhe disse, com pesar na voz e expressão.

— Onde esta o Richard?! — Piper olhou em rapidamente em volta, ainda com Judie tremendo e segurando parte de sua capa.

Sean, que já não tinha seu machadinho, seguiu a visão dela e procurou o garoto. A floresta em volta deles não deu nenhum sinal de onde o pequeno Rick estaria.

— Eu acho que vi ele correndo para aquele lado. — Charlotte apontou uma direção, com uma das facas de lançamento na mão e incerta. Já que no momento havia se distraído mais com a aproximação do predador.

— Eu vou atrás dele. — Sean falou ainda tenso, com a adrenalina ainda percorrendo seu corpo. — Fiquem aqui por um tempo, não vou demorar.

— Você não pode ir sozinho. — Judie falou largando a ruiva e dando um curto passo até ele.

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— Eu posso ir vou com você. — Henry falou antes de Sean responder alguma coisa, e o ruivo concordou em tê-lo como companhia.

Quando os dois seguiram para o meio do mato, Yuki os seguiu sem dizer nada, mas foi notado pela dupla que o esperou e então se infiltraram na mata atrás do mais novo que não devia estar muito longe.

Parte do grupo tratou de mover e preparar um lugar onde o corpo de Louis pudesse descansar. Alice ajudou Ross e alguns outros com isso, ela achava que isso era o mínimo que podia ser feito por alguém que teve a vida dura de um órfão na colônia, com tristeza ou não o destino sempre levava a uma morte, e o tempo naquele lugar só mostrava as possibilidades diversas de encontra-la.

A noite se fez presente aos poucos, os três rapazes não tinham voltado. Tae com Cheryl logo se acomodaram próximo de um fogueira que demorou para ser feita pela umidade dos materiais que foram inflamados, os dois receberem alguma roupa seca emprestada dos outros que se preocuparam. Judie também se vestiu com uma camisa de algodão colorida de Piper, e se juntou a eles perto do fogo enquanto esperava que Sean retornasse. Rose ajudou Aurora e Piper com um dos alimentos, preparando uma sopa quentinha, que caia bem para matar a fome depois da chuva e com o tempo frio que estava fazendo. Frederico ainda encarava os dois volumes caídos no mesmo lugar. Mesmo mortos, e um pouco longe de onde o grupo estava, os lobos tinham uma energia assustadora de noite, bastava saber que estavam ali que a ameaça pesava sobre o rapaz. Subitamente Pietra se levantou, depois de um tempo em silencio, e foi em direção ao lobo branco sendo encarada por Ross e Fritz. A jovem morena deu a volta no corpo iluminado levemente pela fogueira e recuperou sua flecha com um puxão forte, olhou em direção ao primeiro lobo que atingiu, mas aquele estava distante demais para ela recuperar a munição, então caminhou de volta para o grupo. Charlotte gostou da ideia, olhou uma vez para Judie, então foi até o outro lobo recuperar o machadinho de Sean, limpou a lamina no próprio pelo do animal e quando voltou entregou a arma para Judie dizendo:

— Devolva para ele quando ele voltar. E cuidado para não se machucar com isso.

Pouco tempo depois, uma tocha improvisada surgiu no meio dos arbustos e arvores e se direcionou á fogueira deles. Tae ficou atento a quem seria, não queria ser capturado novamente pelos humanoides, porém logo Henry, Sean e Yuki surgiram com Richard á frente, o menor correu até a fogueira se ajoelhou e esticou as mãos frias para a fogueira quente, olhando com um sorriso os outros que o observavam.

— Estou com frio — ele se explicou, achando que fosse sua ação que chamou atenção deles, e não o fato dele ter sumido e retornado.

— Onde vocês o encontraram? — Aurora quis saber.

— Em uma árvore como um macaco nativo. — Henry respondeu rindo, se aproximando dela, e da fogueira, enquanto os outros arrumavam outro lugar para descansarem. — Quase que aquele ali... — ele apontou para aquele que ele não sabia o nome.

— O Yuki? — Auri’s denominou-o.

Henry concordou.

— Quase que o Yuki o tirou da arvore com ‘espadadas’. Foi o primeiro que o encontrou e Rick não quis descer falando que o loiro era um dos que na opinião dele também teria fugido do ataque, e estava só o querendo como companhia para ter uma isca para usar. Parece que o Yuki entendeu que o chamou de covarde e só isso, mas o Sean falou com eles e agora estão em paz.

Em outro canto:

— Alice, olha isso... — sussurrou Piper, que auxiliava Alice a cuidar do ferimento no braço de Joy antes que este acordasse. — É uma cicatriz antiga. — a ruiva puxava levemente a barra da camisa verde escura dele, observando uma linha grossa e desforme que sumia na parte ainda oculta do abdômen do rapaz. — Como será que ele fez isso?

Alice a olhou estreitando os olhos por um segundo:

— Hum...­ Em treinamento com espadas, foi um golpe de má sorte que o atingiu. — falou ela de forma tão seria e convicta, que pareceu por alguns segundos que era verdade, até que sorriu e voltou a terminar de enfaixar a ferida suturada. — Eu não sei, Piper. Quando ele acordar, você pergunta e depois me diz a resposta, OK? Agora também quero saber.

Pouco depois de elas terminarem Joy acordou calmo, até que as memorias se encaixaram repentinamente e ele se sentou agitado, olhando em volta e sentindo que usar o braço como apoio foi um erro.

— Calmo aí, mocinho. — disse Alice e ela logo foi encarada pelo rapaz. — Eu tive um trabalho para fazer esse curativo, vai acabar estragando.

— Vocês conseguiram? — Joy perguntou estranhando. — Conseguiram matar os lobos?

— Claro! — A ruiva disse chamando a atenção dele — Todo mundo colaborou um pouco. Os últimos momentos foram tensos, acabamos perdendo um de nosso grupo... E acho que no fundo você estava certo. Não fomos mais atacador por lobos depois que o branco e um malhado apareceu... — Piper ficou em silencio e pensativa subitamente. — Mas... você disse que eles podiam ter filhotes, como eles vão sobreviver agora que assassinamos os pais deles?

— Não é a época do ano disto. Não tem filhotes. — Joy respondeu, deixando de olhar os olhos castanhos de Piper, pra dar uma olhada no curativo, constatando que não havia mais sangue escorrendo - o que era um alívio, porque ele era do tipo de pessoa que preferia seu sangue dentro de si a qualquer custo.

— Você sabe bem sobre essas coisas de lobos, como...

E a ruiva perdeu a atenção dos olhos azuis celestes com a aproximação e interferência de Cheryl, que esticara a mão segurando a capa de pele do rapaz, lhe devolvendo. Joy sorriu no canto da boca, mas não se deu o trabalho de pegar de volta.

— Cuidou bem disso? — Cheryl o encarou sem paciência de ficar ali, naquela postura. — Por nada, então.

Ele finalmente pegou a capa e se cobriu, mas a garota não entendeu porque ela devia agradecer.

Por nada, por quê? Isso não serviu para muita coisa. — ela levantou o queixo o olhando sentado no chão.

— Sério? — ele se fez de surpreso. — Isso costuma funcionar para deixar o predador mais longe. Os lobos ignoraram o cheiro de quem usa por que se confunde com o desse aqui — cutucou a cabeça canina de sua capa —, que é praticamente um primo nanico dele.

— Ah! Tipo: os lobos não vão atrás de quem o usa, porque acham que é um parente e preferem as presas? — Piper perguntou e Joy concordou com ela. Então ela se virou para Cheryl. — Isso pode ter salvado a sua vida.

A loira de cabelos escorridos os olhou por um segundo e depois deu as costas para voltar para o seu lugar. Ela não era do tipo que demonstrava agradecimento ou qualquer outra coisa, e ainda não se convencia de que aquele item de fato tinha feito algo por ela.

— Ela parece uma pessoa difícil. — comentou Alice, entregando um pouco de sopa aquecida para o moreno, que logo aceitou notando que além da dor do ferimento estava com alguma fome. — Talvez se ela desse um sorrisinho, eu pudesse já puxar uma conversa e poderia fazer ela mais feliz. Dar risada a toa é divertido às vezes.

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— Dar risada à toa?— Piper a olhou levantando as sobrancelhas acobreadas — Tudo para você sugere uma piada, Alice. Mesmo não sendo hora... — e ela sorriu para a companheira, lembrando um momento em que ela ficou apertada, ninguém parava de andar e a sugestão de Alice para o problema a fez rir, acabou que todos tiveram que dar um tempo quando a ruiva sumiu.

— Quando a fizer rir, me chama para te ajudar. — Joy disse à Alice, voltando-se para sua comida no mesmo segundo que as duas olharam-no. Era uma coisa um pouco estranha a que ele via na vasilha, mas quentinho, então experimentou e teve que cuspir o primeiro gole para um lado vazio.

— O que foi? Tá quente demais? — Alice se preocupou. Ele negou e voltou ao sabor estranho sem dizer nada, a cada gole ele se acostumava e a sopa se tornava até que saborosa.

Joy continuou em silêncio, observando as duas que conversavam próximas e alguns dos outros do grupo de pessoas. Não se lembrava de ver uma variedade de cor de cabelos como aquelas. Principalmente da menina de fios vermelhos por perto. Ele não evitou observa-los, mesmo sendo encarado de volta por alguns. Era estranho tanta gente junta e confuso, não sabia quem observar para analisar as ações ou então em qual das conversas alheias prestar atenção. Observou-os até que cada um buscou um lugar e se acomodaram para dormir. Logo ele mesmo cansou-se de ficar acordado, olhou uma ultima vez os três que ele conhecia longe dele, um conversando com alguma garota de cabelos escuros do novo grupo e os outros dois na deles e em silêncio, então se deitou, cobrindo-se com a capa de pele e refletiu o que iam fazer depois dos fatos daquele dia até que o sono o atingisse e seus pensamentos se confundissem com os sonhos.