Annie estava sentada entre Connie e Boris, enquanto ouviam as críticas de Reiner e Marlowe ao Dennis Eibringer, o professor de geografia deles. Ela ponderou por um segundo o como aquilo seria impensável no ano anterior. Ela estudou com Connie antes e nunca tinha trocado uma palavra com ele. Agora, eles eram amigos e conversavam por mensagens de texto no grupo da turma.

“Mas eu ainda não vejo porque reclamar”, Hitch disse. “Ele faltar é bom pra gente. Digo, quanto mais professores faltarem, melhor”. Era segunda-feira, último tempo do dia e o professor Dennis havia faltado. Alguns alunos não estavam muito contentes – o Pimentinha não era muito popular. Ele era conhecido por ser preguiçoso e pouco competente.

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“Mas essa não é a questão!”, protestou Reiner. “A única questão ao menos. Não estou querendo pagar de responsável e nem ser o certinho, mas ele é um péssimo professor. Compara só ele com o Leviatã, com o Maluco Beleza, Narigudo ou Sobrancelha...”, Reiner fez um gesto de impaciência. Eles haviam começado a se referir aos professores por apelidos, depois que Eren, Ymir e Nac Tias começaram a se referir ao professor de educação física deles como Hartman, em referência ao filme ‘Nascido para Matar’. Leviatã era, naturalmente, o professor Levi de literatura; enquanto Maluco Beleza era Dot Pixis de ciências políticas; Narigudo era Mike Zacharias de química; e Sobrancelha era o competente professor de história Erwin Smith.

“Acho que não precisa nem comparar com eles”, disse Marlowe, balançando a cabeça em afirmação. “Eu estava comparando com o Armin e Marco outro dia...”

“Nerds!”, disse Hitch, fingindo uma tosse. Marlowe a ignorou.

“O caderno de geografia tem muito menos matéria que os outros. Se comparar com a Ricobô ou o Pinguim, então, dá pena”, Marlowe afirmou. Ricobô era a professora Rico, de física. Pinguim era o Gunther. Não em referência a sua aparência, mas ao personagem de Hora de Aventura. Fora Hannah e Krista que criaram este último apelido.

“Mas a Rico e o Gunther passam mais matérias no caderno que qualquer um”, Ruth dissera, timidamente. Até os alunos que não eram muito unidos com a turma, como Ruth, Sandra e Floch, estavam próximos participando da discussão. Eles se reuniram no gramado da escola, onde costumavam esperar os ônibus.

“Isso vai mais do estilo do professor”, concordou Daz.

“Bem, mesmo os professores que gostam de fazer discussões em sala em vez de simplesmente jogar matéria no quadro passaram muito mais coisa”, Armin disse, por trás de Annie. Ela se virou para olhá-lo. Ele estava de pé ao lado de Eren, que parecia um pouco alheio a conversa, olhando para os seus próprios pés. Armin prosseguiu: “Ou os que têm mais aulas práticas também. Leviatã, Biruta e Doutor... E a aula de saúde é a metade do tempo das aulas de geografia”.

Doutor era Ian Dietrich, professor de saúde. Não era o apelido mais inteligente de todos, admitidamente. Biruta era Hange e Annie não conseguia pensar em palavra melhor para defini-la, embora ela fosse certamente uma excelente professora.

“Se bobear, o Keith passa mais matéria no caderno que o Dennis”, brincou Jean. Os alunos riram e ele olhou ansioso para alguém atrás de Annie. Ela nem precisou se virar para saber quem. Mikasa Ackerman. Meninos são tão transparentes! Era um caso perdido, porém. Mikasa parecia ter olhos apenas para Eren. Annie, no entanto, não podia deixar de torcer para que Jean tivesse um pouco mais de sorte em seus flertes desajeitados e nervosos. Por motivos nada pessoais, claro. Por que a pergunta?

“Eu acho que a gente deveria fazer alguma coisa”, Reiner disse depois que as risadas morreram. “Reclamar com alguém, sei lá”.

“A gente podia falar com ele, tipo cobrando para que ele passe mais matérias”, Franz sugeriu, com o braço entrelaçado com Hannah.

“Eu aposto que ele não se importaria com nada do que a gente falasse”, Armin disse. “Não ia nem tirar os olhos daquele celular. E talvez ainda ferrasse a gente na prova”.

“Então você acha que a gente deveria deixar por isso mesmo?”, Reiner desafiou.

“Não”, Armin respondeu com calma. “Deveríamos levar a situação para alguém acima dele. Aí ele não vai poder ignorar e nem descontar na gente”.

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“Você quer dizer o diretor Zackly?”, perguntou Marlowe, levantando-se agitado.

“Acho que não”, Armin deu com os ombros, “talvez o professor Erwin. Ele é o professor responsável por esse tipo de coisa, não?”

Erwin era como se fosse o coordenador dos professores. Quase como um chefe de sindicato. Certa vez, num dia em que a matéria do dia fora encerrada mais cedo, ele contara sobre como chegara naquela posição e que seu antecessor fora Keith Shadis, o Hartman.

“Professor Smith”, perguntara Sasha, “mas porque o professor Har- digo, o professor Shadis saiu da coordenação?”

“Keith não é a pessoa mais diplomática do quadro de professores, digamos”. Os alunos riram na ocasião.

“Bem, o Sobrancelha com certeza ajudaria a gente se alguém falasse com ele”, ponderou Marlowe, fazendo Annie voltar a prestar atenção na conversa sobre Dennis.

“Poderíamos falar com a senhorita Ral ou com a senhorita Nanaba”, sugeriu Ymir. “Afinal, não é a responsabilidade das pedagogas ouvir os alunos?”

“Ou com as duas”, Krista adicionou.

“Leviatã”, falou Eren, para depois repetir: “Leviatã”.

“Você acha que ele ajudaria?”, Annie perguntou, se virando para falar com ele.

“Sim”, Eren disse, olhando-a.

“Talvez a gente devesse falar com todos eles”, Armin concluiu. “Assim mostraria para eles que é algo sério”.

“Então vamos lá reclamar? Quem vai?”, Reiner disse, quase puxando Sasha e Bertolt, que estavam do seu lado.

“Ei! Não dá pra ir todo mundo de uma vez”, Sasha protestou.

“Connie está certo”, Boris disse baixinho, ao lado de Annie, “não precisa ir todo mundo de uma só vez”.

“A gente podia ir em grupos de três”, Armin sugeriu. “Falar com o professor Smith e Ackerman e com as senhoritas Ral e Nanaba”. Armin pausou. Annie, ainda virada para Eren, percebeu que ele estudava o rosto dos colegas. Annie percebeu no que ele estava pensando. Reclamar por trás de Dennis era fácil, fazer algo para acabar com o problema efetivamente já era mais complicado.

“Eu falo com o Leviatã, se vocês quiserem”, Eren então se ofereceu.

“Eu posso ir junto”, Mikasa, que estava quieta do lado do amigo, também se ofereceu.

“Eu também”, Annie se notou dizendo, de impulso. Mikasa a encarou por um instante e Annie devolveu o olhar.

“Bem, eu posso falar com o professor Smith, suponho”, Armin deu com os ombros.

“E eu falo com a senhorita Ral”, Reiner se ofereceu.

Depois de uma breve discussão, acabou se decidindo quem falaria com quem. Eren, Mikasa e Annie falariam com Levi; enquanto Armin, Marlowe e Jean falariam com Erwin. Para falar com Nanaba, ofereceram-se Ymir, Krista e Marco. E para falar com Petra, decidiu-se que iriam Reiner, Mylius e Nac Tias.

“Ei, boa sorte pessoal”, disse Samuel quando os grupos se moveram, depois que o sinal do último tempo tocara. Annie o viu dando um tapa nas costas de seu amigo: “Não me decepcione, Nac Tias”.

“Ei, me deixa”, Nac Tias reclamou.

“Vocês já repararam que a gente sempre se refere ao Nac Tias pelo nome completo?”, perguntou Sasha. “Será que o incomoda?”

“Incomodar quem? O Nac Tias?”, Connie perguntou.

“Sim, o Nac Tias”.

“Não sei, talvez devêssemos perguntar ao Nac Tias”.

“Nac Tias, você se incomoda que a gente te chame apenas de Nac Tias, sempre usando o nome completo?”, perguntou Reiner, segurando o riso.

“Não”, ele respondeu, com as orelhas vermelhas. E com esta nota, Annie seguiu os passos de Eren e Mikasa.

Os três foram quase em silêncio. Mikasa olhava disfarçadamente para Annie, que retribuía o olhar. Annie se perguntou qual o problema dela. Não só pela atenção que ela dava ao Eren, algo que era completamente exagerado, aliás. Além disso, nunca conseguia definir qual era a relação dos dois. Algumas vezes pareciam namorados, outras vezes pareciam irmãos, outras vezes pareciam apenas amigos e em algumas ocasiões pareciam que apenas se toleravam. Mas a veneração de Mikasa era sempre constante e Annie podia ver que eles tinham um laço forte. E isso não a deixava com ciúmes, imagina. Não é como ela gostasse do Eren. Por que perguntar isso de novo?

“Eren”, Annie chamou. “Por que você acha que falar com o Levi ajudaria em algo?”

“Hã, ele é capaz de dar bons conselhos”, Eren disse.

“Ele me parece meio frio”, Annie confessou.

“Também acho”, Mikasa concordou.

“Ele só parece frio, mas é um professor legal. Tenho conversado com ele... de vez enquanto”, Eren admitiu. “E ele não é frio, apenas tem um jeito distante. Igual a duas garotas que conheço. Mas elas também são legais”, ele disse, com um sorriso extremamente convencido. Annie conscientemente tentou não corar. Por um breve momento, trocou um olhar com Mikasa e percebeu que a garota poderia estar fazendo o mesmo.

“Pode entrar”, Levi disse, quando eles bateram na porta. “Senhor Yeager?”, Levi pareceu momentaneamente confuso. “Bem acompanhado como sempre, suponho”, ele olhou para Annie e Mikasa. “Bem, eu estou terminando de corrigir seus últimos trabalhos. Yeager, trabalho aceitável”.

Eren sorriu. O professor costumava dizer isso para os alunos que tiraram nota máxima. “Tecnicamente, eu não estou mentido. Apenas vendendo abaixo do preço”, ele sempre dizia.

“Hã, valeu”, Eren agradeceu.

“Não é um texto tão apaixonado e visceral quanto o que você fez sobre ‘Fire and Ice’, mas eu acho que você está no caminho correto. Sua escrita melhorou sensivelmente depois do que conversamos, senhor Yeager”.

Annie olhou de esguelha para Eren. Ela já reparara que o rapaz parecia estar conversando com Levi entre as aulas, mas agora parecia que os dois eram quase... Amigos. Perguntou-se se falavam apenas de literatura ou de outras coisas.

“Bem, valeu, mas não é isso que queremos falar”, Eren disse sem jeito.

“Então desembucha, guri”.

“A gente veio fazer uma reclamação... sobre o professor Eibringer... de geografia”.

“Reclamação?”, Levi coçou o queixo. Annie sempre gostava de observar bem a reação das pessoas, porém ela não conseguiu ler nada no rosto de Levi. Era como se o rosto dele fosse uma estátua de mármore. Impenetrável. “Prossiga”.

“Ele faltou hoje”, disse Eren. “Mas não é só isso. Ele não passa muita coisa da matéria. Ele chega em sala, manda a gente ler algo do livro e fica mexendo no celular. Uma vez eu acho que ele cochilou”.

“É mesmo?”

“E isso não sou só eu reclamando, é a turma inteira. A gente decidiu vir falar com você pra ver o que você pode fazer e o que a gente deve fazer também”.

“Vocês também concordam com ele, mocinhas?”, Levi virou sua atenção as garotas que se mantinham caladas.

“Sim”, Mikasa e Annie disseram juntas. Levi resmungou algo que Annie não conseguiu entender, mas ela percebeu Eren, que estava um pouco mais próximo, ficando encabulado e olhando de esguelha para ela e Mikasa.

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“Bem, vocês fizeram bem em vir falar comigo”, Levi se levantou da cadeira e começou a arrumar a sua mesa. “Eu vou procurar saber o que está acontecendo com o senhor Eibringer, prometo. Também vou falar com o Erwin e com a Petra. Aliás, vocês deveriam falar com eles também”.

“A gente foi falar agora”, disse Eren. “Bem, não nós três. Mas a turma se reuniu entre si e a gente decidiu falar com você; com a senhorita Ral; a senhorita Nanaba; e o professor Smith”. Eren pausou por um segundo. “Foi o Armin que organizou tudo, mais ou menos”.

“É bem o estilo do senhor Arlert, sim. Bem, vocês e sua turma nunca deixam de mostrar serviço”, Levi sorriu com o canto da boca. “Pois bem, prometo que vou procurar saber o que está acontecendo com o professor Eibringer e ver se isso acontece só com vocês ou se com outras turmas também ocorre. Mais alguma coisa?”

“Só isso mesmo, professor Ackerman”, disse Eren. Depois que os três se saíram de sala, Eren se virou para as duas e disse: “ei, isso foi fácil. Se bem que eu falei tudo sozinho, né?”

“É que você é o único de nós que fala pelos cotovelos”, Annie disse. Eren lhe deu um empurrãozinho gentil. “Além disso, você estava se saindo tão bem que não precisei te resgatar dessa vez”, ela brincou.

“Eren”, Mikasa chamou com uma voz estoica, “está quase na hora do ônibus chegar”.

“Ah, é melhor a gente dar uma corrida”, Eren disse. “Mas, por favor, deem uma maneirada no ritmo e não corram muito rápido. Acho que pega mal eu chegar sendo carregado pelas duas”.

Annie e Mikasa sorriram lentamente, lisonjeadas. As duas eram boas em educação física. Annie se lembrava de que Reiner havia brincado que elas duas poderiam ser tanto líderes de torcida como também atletas ao mesmo tempo. Eren concordara naquela ocasião. Mikasa e Annie riram abertamente também, encabuladas.

Annie lembrou daquilo quase com choque. Ela e Mikasa chegaram a ensaiar serem boas amigas e, de repente, começaram a agir estranho perto da outra. O que acontecera?

“Vamos logo, vamos nos atrasar”, disse Eren, começando a correr. Mikasa e Annie trocaram um rápido olhar e correram para alcançá-lo.

Naquela noite, Annie teve um sonho longo. Ela estava em sala de aula, os outros alunos fazendo uma bagunça. Eren então entrou pela porta com Armin e Mikasa. Ele estava sem camisa, com músculos aparentes. Annie percebeu que, de algum modo, ela sabia onde os músculos dele ficavam embaixo da camisa. “Vocês podem sentar onde quiserem, eu vou sentar com a Annie”.

Annie, mesmo num sonho, corou. “Annie e Eren estão namorando! Annie e Eren estão namorando!”, cantaram Connie e Sasha, que se materializaram na frente dela.

“Estamos mesmo, e daí?”, disse Eren dos sonhos, subitamente do seu lado. “Annie é a minha namorada, algum problema?”

“Eren...”, foi tudo o que a loira disse. Ou gemeu. Eren a olhou com seus intensos olhos verdes.

“Shhh”, ele disse e fechou os olhos. Aproximou a cabeça. Annie o beijou. Assim que os lábios se tocaram, ela acordou com o som do celular. Ela se esquecera de colocá-lo no modo silencioso. Era Jean mandando alguma bobeira no grupo, ela percebeu. Praguejou mentalmente o rapaz.

Ela então levantou da cama. Envergonhada e excitada. De algum modo, ela ainda sentia o toque dos lábios de Eren, embora tivesse sido apenas um sonho. Levou a sua mão direita aos lábios, mas travou o movimento no meio do caminho.

“O que estou fazendo?”, Annie sussurrou para si mesma. “Eu sou nova demais para ficar pensando nessas coisas”. Ela ignorou as borboletas em seu estômago (e em partes mais íntimas) e voltou a se deitar.

Mas, secretamente, desejou ter o mesmo sonho de antes. E um pouco mais.