Pov Eric

– O que diabos aconteceu aqui? - eu esbravejei, quando finalmente consegui me recompor e compreender o que estava acontecendo.

Belle estava sentada na minha frente. Olhava para os lados lentamente, sem enxergar nada de verdade. Ela estava estranha. Até mesmo para ela.

– Ele é um grifinório... Só um grifinório... - ela repetiu lentamente.

– E eu sou só um transferido. - eu retruquei. - Belle, você não era assim. Sophie está passando por coisas piores do que nós, você sabe disso. Você vê isso. Eu não preciso ser oráculo para saber que a falta do tão irritante Potter, vai acabar por enlouquecê-la, e a própria presença dele, também vai destruí-la. Sabe que ela está em uma sinuca de bico. Tem que dar chilique pra ela?

– Desculpe... - ela sussurrou - Eu ando tão... frustrada! Já não entendo mais nada! Desde que o cassino do papai foi atacado por aqueles malditos encapuzados com suas varinhas e caveiras, eu nem consigo sequer dormir. Tentei me convencer de que, sei lá, se eu fingisse ser normal, talvez não descobrissem a Sophie...

– Vão descobrir mais cedo ou mais tarde, você mesma disse isso. - eu caminhei pela cabine, nervoso.

– Tá bravo comigo? - ela choramingou, com aqueles olhos brilhantes.

– Não é comigo que tem que se preocupar. - eu suspirei.

– Vou encontrar a Sophie. - ela se levantou.

– Não. Belle, deixa ela. Vamos ter um ano inteiro pra isso. Deixa ela. - eu a impedi.

Belle olhou nos meus olhos, tentando encontrar algum motivo para tentar me contrariar e procurar a Sophie, mas desistiu. Sentou no sofá, derrotada.

Sabe, viver com a Belle tem sido difícil. Eu a amo, e eu não volto atrás com minha decisão, mas ela tem me deixado quase louco. Ela acorda no meio da noite com pesadelos, e eu fico cuidando dela até voltar a adormecer. Ela para de repente, fica olhando para o nada. Nem sei mais se ela está tendo alguma visão ou se está delirando. Nossos gêmeos são um amor perto dela.

– Ouviu isso? - Belle disse, de repente.

Ouvir mesmo, eu não ouvi nada. Mas senti o trem parar. Ele ficou alguns minutos parado, e depois voltou a andar, como se nada tivesse acontecido. No silêncio da nossa cabine podíamos escutar o burburinho dos outros alunos, que também não estavam entendendo nada. Belle olhou para mim, receosa. Mas eu nem sabia o que dizer, ou se deveria dizer alguma coisa.

Então, dois grandes vultos caminharam lentamente pelo corredor. O mais baixo era uma mulher, e ambos estavam de capas longas, grossas e negras. Meu coração disparou. Eu sabia exatamente quem eram. Os irmãos Carrow, famosos por serem bastante cruéis. A mulher seguiu adiante, mas o homem parou na frente da porta da nossa cabine. Ele olhou por um tempo na direção onde a irmã seguira, esperando algo que valesse a pena se mexer. Pareceu-me que a irmã lhe deu um sinal. Ele olhou para dentro da nossa cabine, analisando bem. Olhou para mim rapidamente, e seus olhos fitaram Belle, que tremia. Eu senti meu rosto queimar de raiva. Ele ficou encarando a Belle, que tremia cada vez mais. Então, deu um sorriso e seguiu adiante.

Belle olhou para mim, apavorada.

– Pode respirar agora. - eu sussurrei, queria eu mesmo poder seguir meu comando.

Belle se levantou rapidamente e sentou do meu lado no sofá, abraçando-me e chorando desesperadamente. Eu acariciei seus cabelos negros, sussurrando coisas idiotas, como "está tudo bem" e "eu estou aqui". Como se eu pudesse fazer qualquer coisa contra dois comensais altamente treinados na pilantragem e malvadeza. Mas se a Belle acreditou, isso é o que importa.

Quando o trem parou para descermos, Belle estava bem mais calma. Até sorria para mim, segurando minha mão enquanto caminhávamos. Eu quase tinha me esquecido do susto no trem, quando vimos a agitação dos alunos denovo, desta vez no portão.

– Isso não é justo! Eu sou aluno desde o primeiro ano! - eu vi um grifinório do último ano gritar. Se me lembro bem, seu nome era Simas. - Tem que me deixar entrar!

– As ordens são claras, moleque! - Amico Carrow disse, em tom de deboche - Nenhum nascido trouxa pode entrar em Hogwarts. Ordem do Ministério.

– Mas eu estudo aqui desde o primeiro ano! E eu sou mestiço! - o garoto insistiu - Tem que me deixar entrar! O professor Snape...

– O diretor Snape está ciente disto e concorda com o Ministério. - Aleto, a irmã, o cortou - Agora volte para o trem antes que eu perca minha paciência!

O garoto saiu de perto deles, furioso e derrotado. Ouvi Neville Longbottom falar com ele, instruindo-o a ficar em Hogsmeate até que ele conseguisse encontrar um jeito de colocar o garoto dentro do castelo.

– E você, bonitinha? - Amico disse, olhando para Belle.

Belle apertou firme minha mão, mas este foi o único sinal de medo que ela demonstrou.

– Bom, já ouvi coisas piores... - ela disse, com seu ar sedutor.

Normalmente eu a não apoiaria, mas por Merlin, ele é um comensal da morte! Belle tem que tentar não irritá-lo.

– Qual seu nome? - ele perguntou.

– Izabelle Scolfh. - Belle disse, com muito orgulho.

– Scolfh? - Aleto se aproximou do irmão - Achei que eles estavam extintos!

– Extintos? Não. Escondidos. - Belle respondeu. - Pode me chamar de lenda viva.

– Ou também de traidora. Eu fiz o dever de casa, Srta Scolfh. - Amico respondeu - Sua família que foi para o mundo trouxa, por causa de vocês que os bruxos foram perseguidos! Somos obrigados a viver na clandestinidade por sua culpa!

– Que culpa eu tenho? - Belle sorriu - Sou só uma pobre menina rica.

– Rica ou não, não vai entrar aqui. - Amico decidiu.

– Mas ela tem sangue puro! - eu retruquei.

– Mas nasceu no mundo trouxa. - Amico sorriu vitoriosamente. - E nenhum nascido trouxa pode entrar em Hogwarts.

– Mas toda a minha família é bruxa! Nunca houve uma única gota de sangue trouxa! - Belle se defendeu. - E eu estou estudando aqui porque o Ministro anterior me mandou uma carta dizendo que eu devia estudar aqui!

– Volte para o trem. - Amico apontou a varinha para Belle.

Ela recuou, derrotada. Não acredito nisso! Como assim ela não pode entrar na escola? Ficamos ali, sentados em um banco na estação, enquanto assistíamos os alunos entrarem pelos portões, e outros serem barrados. Belle estava revoltada e desconsolada. Não era para menos. Eu sabia que o Ministério estava interferindo em Hogwarts, mas isso é absurdo demais.

Sophie desceu do trem, acompanhada do Draco. Meu primeiro impulso foi de ir falar com ela, mas me contive. Ela estava com o Malfoy, e isso para mim não era um bom sinal. Ela apenas lançou um olhar breve para mim, e passou adiante, entrando pelos portões. E Belle chorou mais ainda. Sophie nos abandonara, sem sequer sentir pena. Belle tinha escolhido mesmo a pior hora para brigar com a melhor amiga.

O trem partiu, levando os alunos que foram barrados devolta para Londres. Mas tudo o que conseguimos fazer foi assistir ele se afastar, levando nossas esperanças com ele. Eu não podia voltar para casa. Belle muito menos. Agora éramos só nós dois. E o garoto de nome Simas Finnigan, que estava sentado no outro banco da estação.

– Vem, Bell, vamos passar a noite em Hogsmeate... - eu sussurrei. Belle apenas concordou. É isso. É o fim.

Ouvimos os portões rangerem e se abrirem. Uma figura sinistra caminhava por entre as sombras. Ele era alto, cabelos negros, seu rosto pálido contrastava com sua capa sombria. E bem ali do seu lado, Sophie.

– O que faz aqui fora, tão tarde da noite? - ele sussurrou, com sua voz monótona.

– Eu fui expulsa! - Belle soluçou.

– Expulsa? Por quem? - ele retrucou, sem nenhuma alteração na voz - Acaso não sabe que apenas o diretor tem a autoridade de expulsar e banir alguém de Hogwarts?

Nesse momento, meu coração gelou. Era ele quem estava falando conosco. O Snape. O próprio. Tinha virado diretor de Hogwarts! Eu nem conseguia acreditar. O Ministério nomeou ele para cuidar de Hogwarts? Ele?!

– Então eu posso entrar? - Belle suspirou, esperançosa. Sophie sorriu.

Belle se levantou, e correndo, atirou-se nos braços da amiga. Eu a segui, ainda atônito pelo que estava acontecendo. Snape estava nos ajudando. E isso, mesmo a pedido da Sophie, era sinistro para mim.

– Diretor, - Sophie pediu, pouco antes dos portões se fecharem - será que o Sr Finnigan não pode vir conosco? Ele não tem para onde ir...

O diretor fitou-a por um longo tempo. Parecia esperar que ela desistisse. Eu também esperei que a Sophie desistisse. Mas como ela mesma diz, ela é uma jornalista. E o diretor, por fim, suspirou.

– Que ele não traga mais problemas...

O garoto, ao ouvir aquilo, assustou-se. Também deve ser estranho para ele. Mas, por fim, veio conosco, tão aliviado quanto a Belle. Tão grato quanto a Belle. Mas eu ainda estou revoltado. Se até mesmo uma bruxa de sangue puro foi barrada em Hogwarts, o que será que vai acontecer esse ano?