Sob Nova Direção

Capítulo 2 - Inimigos


Capítulo 2 – Inimigos

As duas meninas, a morena latina e a loira europeia, caminharam pelos corredores até o auditório, onde todos haviam sido chamados. Não havia sequer um par de olhos que não as encarasse. Eram lindas, populares, era justo que chamassem a atenção.

Lá, o diretor Figgins tentava, inutilmente, chamar a atenção dos alunos mais interessados em conversar para si.

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-- Jovens... Silêncio, por favor... – Ele dizia.

-- Ah, que inútil... – Santana murmurou para si mesma. – Será que não podemos logo ir para as aulas e acabar com isso?

-- Jovens, eu os chamei aqui para, antes de tudo, dar as boas vindas ao colégio McKinley aos novatos e bom retorno aos veteranos. Queria dizer que...

A voz do homem era lenta e entediante, aquilo estava deixando os olhos da morena pesados. Inclinou a cabeça e a apoiou no ombro de Brittany. As palavras do diretor começaram a parecer distantes, flutuando em qualquer lugar bem longe dali... Sentiu um toque suave e relaxante nos cabelos, tão gostoso... Brittany estava os acariciando... Fez menção de afastá-la, mas era uma sensação tão boa...

Santana só se deu conta que dormira ao acordar. Brittany batia levemente em seu rosto, o que a fez sobressaltar-se e se arrepender logo em seguida, pois o movimento brusco fez sua cabeça doer.

-- Que foi, Britt?

-- Olha – a loira disse simplesmente, apontando para uma mulher que se postava ao lado do diretor.

Olhou. Olhou bem, de cima a baixo, olhou tão notavelmente e sem pudor que tinha certeza de que seu olhar fora visto. Mas não se importou. Não podia ser ela, podia? Pele cor de café torrado, cabelos escuros até os ombros, com um cacheado perfeito, roupas folgadas demais, excesso de joias por todo o corpo contrastando com os jeans surrados, a única peça de roupa que não parecia vir de uma caríssima grife, tênis de marca. Tudo muito bonito e perfeito, exceto pelo fato de que nada combinava. Santana conhecia aquela mulher.

-- Maya Miller... – A latina sussurrou para si própria, surpreendentemente, ao mesmo tempo que a própria ao se apresentar.

-- Não parece aquela mulher que nós conhecemos sexta-feira na boate? – Brittany sussurrou.

-- Não parece ela – Santana respondeu, sentindo o sangue congelar nas veias. – É ela.

Kurt Humel estava, simplesmente, apavorado. Como alguém podia ser tão cafona como aquela mulher? Além do mais, ela era tão feminina quanto ele era masculino. Apostaria sua coleção do Mark Jackob’s que o colégio McKinley recebia mais um membro gay. Por um lado era interessante ter um membro homossexual no corpo docente, mas por outro... Ela parecia ter dinheiro suficiente para fazer uma boa reforma no guarda-roupa. E quer saber? Estava mesmo precisando.

-- Jovens, -- disse Figgins – mais especificamente, jovens do clube do coral, como todos devem se lembrar, não obtivemos bons resultados na última competição.

-- Bando de maricas, tinham mesmo que perder! – Alguém sussurrou propositalmente alto,fazendo Kurt enfurecer-se.

-- Devido a isso, -- o diretor prosseguiu sem se incomodar – eu deveria cortar o clube por falta de verba. Entretanto, graças à senhorita Miller, temos verba suficiente para manter o clube.

Sussurros explodiram pelo auditório. Surpresos, raivosos, felizes.

-- Porém... – O diretor ergueu a voz. – O professor William Schuester foi deposto do clube, permanecendo apenas como professor de Espanhol.

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-- O quê? – O jovem exclamou. Aquilo não era justo!

-- Por quê? – Seu colega, Artie, perguntou em algum lugar atrás de si.

Outros membros do clube erguiam suas vozes, revoltados.

-- Jovens, por favor!

Com um tilintar de correntes, provavelmente as que estavam presas no cós do jeans e pendendo pelas pernas, a mulher, Maya, deu um passo a frente e ergueu uma das mãos. O movimento em si era muito simples. O gesto que um aluno fazia para chamar a atenção de seu professor. Porém, o gesto foi acompanhado de um olhar faiscante partido da mesma. Realmente intimidador.

-- Urgh! – Kurt murmurou, afundando em sua cadeira. Ela o fazia sentir-se exposto, pequeno, como se estivesse diante de uma presença tão forte que poderia desintegrá-lo. Não gostava dessa sensação, não gostava nem um pouco.

-- As devidas explicações serão dadas pela senhorita Miller e o senhor Schuester a vocês na sala do coral após o horário de almoço. Peço que, até lá, assistam suas aulas normalmente e não fiquem chateados!

-- Como não vamos ficar chateados? – Uma jovem de pele escura esbravejou ao seu lado. Era Mercedes. – Queremos saber porque tirar o senhor Schuester de nós!

Outras vozes uniram-se à reclamação. A de Kurt foi uma delas. Fora o Senhor Schuester que fizera um clube tão ruim chegar onde chegara agora! Verdade que ainda não estavam em boa posição social, mas tudo podia ser melhorado. Eram suficientemente corajosos de se exporem, cantando seus sentimentos. Não haviam ganhado as regionais, verdade, mas Senhor Schue os dera tanta força... Isso deveria acontecer de novo, eles melhorariam e assim poderiam vencer as próximas competições...

-- Alunos, por favor! Tenham paciência! – Figgins pedia. – Tudo lhes será esclarecido no momento certo! – E assim, ignorando mais alguns protestos, o diretor apenas acenou e declarou aquela reunião encerrada.

Na sala dos professores, William Schuester conferia seus horários das aulas de Espanhol. Faltavam alguns poucos minutos para a primeira do dia, mas queria conversar com Maya, sua substituta, antes. Estava preocupado com seus meninos. Será que se adaptariam à nova coordenadora do clube?

-- Preocupado, amigão? – Perguntou Sue Silvester, a treinadora das líders de torcida da escola. Sentada relaxadamente em uma cadeira notavelmente mais confortável que as demais, analisava o homem.

-- Estou sim... – Respondeu, deixando escapar um suspiro.

-- Bem, neste caso, tente relaxar um pouco. Seu cabelo horroroso está começando a soltar fumaça e poluir essa sala minúscula.

Apesar do comentário maldoso a respeito de sua preferência de penteado, Will sorriu. Pouco a pouco, acostumava-se com o jeito de Sue. Era apenas uma defesa, uma máscara. Além do mais, estava claro para ele que não fora culpa da mulher a sua atual situação.

Minutos antes, tivera uma conversa com Figgins sobre as mudanças ressentes e Sue estava lá para ser testemunha de que William, por justa causa, não faria mais parte daquele clube. Verdade que a mulher não ficara muito feliz ao descobrir que o New Directions seria devidamente patrocinado e as Cheerius não, mas ao menos ela sabia que a culpa não fora de Will. Não diretamente, ao menos, mas seu relacionamento com a treinadora estava suficientemente agradável para que ele contasse a verdade, iniciando uma nova guerra.

A nova treinadora do time de futebol, Shannon Beist, essa sim não ficara nem um pouco feliz com a distribuição de verba aos clubes.

-- Onde já se viu as líderes de torcida terem mais dinheiro do que o próprio time de futebol? – Ela dissera e com razão.

Mas Will não teve a necessidade de defendê-la, afinal, a tal Beist mostrava-se um posso de orgulho. Engoliu suas objeções e garantiu que, o clube de futebol sob sua direção, conseguiria o que precisasse de dinheiro através de doações. Fazia o professor lembrar de si mesmo quando jovem, que precisava vender balas para sustentar o clube do coral, o qual ele mesmo fazia parte. Para sua sorte e a de seus meninos, isso não aconteceria mais.

Ainda assim, Will estava preocupado. Temia que a autoestima do New Directions tivesse quedado bruscamente com a perda das regionais. Agora, recebiam o choque de enormes mudanças, tendo um novo coordenador no clube. Será que aceitariam Maya? Ou estavam demasiado presos a ele? Com certeza, apenas uns dias seriam necessários para que gostassem dela, mas a questão era: dariam essa chance?

A porta da sala se abriu e, seguida do aroma de algum forte perfume francês, entrou Maya. Trazia um frasco de Frapuccino em uma das mãos e a tampa do mesmo na outra.

-- Que bom que você chegou! – Disse Will enquanto a mulher se acomodava em um canto.

Ela nada disse. Apenas sorveu um gole de sua bebida e o encarou interrogativamente.

-- Sabe, estou preocupado com o clube do coral. Não sei se os meninos vão se acostumar com as mudanças... – A mulher balançou a cabeça afirmativamente. Vendo que não obteria qualquer comentário, Will continuou. – Peço que tenha um pouco de paciência com eles. Podem ser um pouco rebeldes, mas são ótimas pessoas. Você verá!

-- Um pouco rebeldes? – Sue deixou seu comentário sarcástico escapar.

Will dirigiu-lhe um olhar e se levantou. Estava na hora de sua primeira aula do dia e não queria render aquele assunto na presença da treinadora.

-- Ah! Maya? – Chamou da porta, ao que a mulher apenas o encarou. – Muito obrigado de novo por aceitar. – Deixou as palavras pairarem no ar e se retirou da sala.

Sue estreitou os olhos e encarou a nova funcionária da escola. A mulher era, definitivamente, estranha. Pior do que isso: aquela postura relaxada, tranquila, estava começando a irritar a treinadora. Talvez ela precisasse saber quem mandava ali:

-- Maya, certo? – Disse, ao que a mulher apenas afirmou com um movimento de cabeça. – Posso saber por que está tão silenciosa? Por favor, não me diga que tem algo de errado com a sua voz. Eu “odiaria” – fez aspas com os dedos no ar – ter um motivo para caçoar você pelo resto do ano.

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A mulher mudou de posição na cadeira, fazendo um tilintar ecoar na sala. O que fez Sue notar mais atentamente os acessórios que ela trazia no pescoço: uma corrente, grossa e aparentemente pesada, tão rente à pele que quase poderia ser usada como gargantilha. Fazia a treinadora pensar em submissão. Tamvém usava um cordão com um pingente que repousava entre os seios, os quais eram tão grandes que nem mesmo aquelas horrorosas roupas largas conseguiam disfarçar.

-- Senhorita Silvester, me responda: como uma coordenadora de coral pode ter algo errado na voz?

A voz da mulher permanecia arrastada, lenta, entediada. A cabeça recostada na parede e os olhos semicerrados. Uma tranquilidade tão grande que poderia muito bem estar sob efeito de drogas. E aquilo foi o que mais irritou Sue. Não a postura em si, mas a arrogância escondida nos gestos pacíficos. Sentou-se mais ereta na cadeira e tentou transmitir toda sua ferocidade e raiva através do olhar, por pouco não vacilando ao ver os da outra: semicerrados, tranquilos... Tranquilamente verdes e ameaçadores!

-- Presta muita atenção, querida. – A última palavra foi enfatizada com o máximo de sarcasmo possível. – Eu sou treinadora das Cheerius, as líderes de torcida mais belas e talentosas de Ohio. Não aceito qualquer um no meu grupo seleto de meninas. Sou uma campeã nata! Sou uma mulher muito influente, sabia que já fui capa da New York Times? Tenho o meu próprio programa na televisão e...

-- Onde queremos chegar mesmo? – Maya interrompeu-a, erguendo um dedo.

-- Você ousa me interromper? – Sue fervia de raiva, podia sentir o rosto quente. Aquele projeto feminino de rapper estava pisando em campo minado. – Não sabe mesmo com quem está falando, não é?

-- Só conclua, por favor.

-- Quero que fique bem claro que este maldito clube do coral só existe porque eu estou permitindo. Se eu quiser, faço você mover esse seu traseiro até o primeiro voo para seja lá qual for o fim de mundo de onde você veio. Não me interessa quem seja o coitado que está queimando os dólares com o New Directions, nem todo dinheiro do mundo pode me tirar da minha posição muito bem conquistada dentro dessa escola, entendeu?

-- Tudo bem – Maya disse simplesmente.

Sue inclinou a cabeça para o lado, piscando em descrença.

-- Tudo bem? – Questionou. – É só isso que tem pra me dizer?

-- Sim. Tudo bem.

-- Ora, que sem graça! – A treinadora voltou a recostar na cadeira, frustrada. Esperava uma resposta à altura da outra, quem sabe um debate que terminaria com advogados envolvidos. Algo realmente divertido. – Então estamos entendidas? Você entende que sou sua superior?

-- Não – ela respondeu, tomando o último gole de sua bebida e colocando o frasco de lado.

-- E então? – Sue estava confusa. Onde aquela louca queria chegar com respostas evasivas às suas perguntas?

Maya levantou-se, seus 1,80, no mínimo, tornando-se evidentes. Agarrou o frasco vazio da Star Buks e fez menção de deixar a sala.

-- Onde você vai? – Perguntou Sue, voltando a se irritar. – Ainda não respondeu minha pergunta!

A mulher apenas a olhou de soslaio, balançando os cachos escuros de um lado para outro.

-- Primeiro, vou levar a garrafinha para a lata de lixo reciclável. Segundo, não perco meu tempo com discussões inúteis.

Deixou o local em passos lentos, os tênis de mola rangendo, deixando para trás uma Sue Silvester vermelha de raiva. “Quem ela pensa que é?” A treinadora pensava. Tomara sua decisão: Maya Miller havia acabado de ganhar uma inimiga.

Ao fim da aula de Espanhol, os amigos do clube do coral cercaram o professor Schuester, à fim de tirar a limpo toda a confusa história de sua deposição do clube. Mercedes Jones era uma deles. Sentia-se triste. Não queria alguém novo no clube, queria o bom e velho Senhor Schue! Ele havia feito sentir-se especial, importante para algo. Não queria perdê-lo.

-- Mas não pode ao menos nos dizer o que aconteceu? – Sua amiga asiática, Tina, insistia em perguntar.

-- Gente, eu já disse... À tarde vou encontrar vocês na sala do coral e esclarecer tudo para todo mundo.

-- Mas o senhor não vai voltar? – O outro asiático, Mike, perguntou. Mercedes acreditava que os dois estavam namorando, tão próximos pareciam estar.

Senhor Schue passou as mãos pelos cabelos encaracolados, parecia cansado. Mercedes sentia sua angústia crescer no peito, mas não queria ver seu professor favorito assim. Talvez ele também estivesse sofrendo.

-- Deixa, gente. – Ela disse, a tristeza óbvia e crescente na voz. – Depois nós vamos conversar com ele e tudo vai ficar bem.

A contragosto, os amigos concordaram e rumaram à próxima aula do dia. Mercedes não se decidia entre o medo do que estava por vir e a ansiedade de conferir com seus próprios olhos as mudanças. Vira a cara da tal Senhorita Miller. Não parecia alguém com quem ela se identificaria. Verdade que, naquelas condições, não poderia definir com clareza os próprios sentimentos. Afinal, ela estava substituindo o Senhor Schue e isso poderia sim distorcer sua imagem.

Maya conferia a falta de interesse dos alunos no clube do coral através da lista de inscrições. Nenhum nome a mais. Verdade que havia uma postagem no blog de um dos alunos da escola, a qual ridicularizava o clube. Não era mesmo uma postagem positiva. Mas Maya acreditava que música é algo muito divertido. Jovens gostam de música e ela, em seus 26 anos, sabia bem disso. Estava disposta a mostrar-lhes o quanto poderiam ser populares, mesmo fazendo parte de um clube já caracterizado como perdedor e o faria, custasse o que custasse.