Acordei no chão da sala, suado e ofegante.

Aquele sonho de novo.

Eu já não aguentava mais aquela porra de sonho. Me perturbava, me irritava.

Mas eu não ia me livrar daquilo nunca, era fato.

Edd: Tibo, o Skate tá preso no vaso de novo!

Fui pro meu quarto e lá estava o Skate. Mais uma maldita vez.

Eu tinha um vaso de vidro que era gordinho embaixo e estreito em cima. E aquela porra de gato entrava naquela porra de vaso e ficava preso direto. Puxei ele pela pata traseira e ele saiu sem esforço. Ele era pequeno, parecia filhote, mas já tinha três anos.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Eu: Ow, tu é mó vacilão, cara. - coloquei o Skate no chão. - Que foi que tu bebeu ontem?

Edd: Sei lá. Porra, Tibo. Parece até que tu nunca deu vexame.

Eu: A Carol teve aqui ontem. - mudei o assunto. Aquilo não ia dar em nada mesmo. - Ela disse que queria me ver.

Edd: E aí, ela mandou o mesmo texto de sempre?

Eu: Dessa vez não. Eu mandei ela embora e ela simplesmente foi. Ela não disse que ia falar, como sempre faz. Ela me mostrou o dedo e foi embora. E essa foi a parte preocupante.

Edd: Cara, não tá na hora de fechar a boca dessa guria? Porque eu já tenho até umas ideias aqui…

Ideias de Eduardo Berchara… isso pode ser fatal.

Mas é uma boa opção a considerar.

Sábado. Geralmente é o dia que eu passo na pista fumando e andando de skate, mas aquele sábado eu tinha um velório pra ir.

Ninguém tava chorando. Ninguém tava realmente triste. Ninguém gostava do Guedão. Nem eu. Só ia pra fazer número, pra falar que fui. Como todo mundo lá.

Segundo a Pri, o tiro que deram no Guedão não foi fatal, pegou no pé. Mas enquanto ele tava mo hospital alguém foi lá e brincou de desligar os aparelhos.

Aí o cara morreu.

Lari: Tibs, por que tu não tá de preto? - eu tava de calça e camiseta laranja.

Eu: Porque eu não tô de Luto. Só vim ver o cara.

Ela deu um tapinha no meu ombro e eu fui pra perto do caixão. Devia ter dez pessoas lá. Tudo conversando de boa, como se não tivesse um morto bem no meio delas.

Edd: Olha quem tá lá. - apontou com a cabeça pra um canto e eu vi a Carol. Porra, que mina infernal. - Hora de colocar o plano em prática. Leva ela pra minha casa.

Depois de um papinho de que queria conversar de boa com ela, consegui levá-la pra casa do Edd, que era ali perto. Ela sentou no sofá assim que entramos.

A casa do Edd era pequena. Ele morava com o pai, mas o velho tava preso por pedofilia. Eu mesmo já tive vontade de enfiar um cabo de vassoura no cu dele por causa disso.

Carol: Que tu quer?

Eu: Falar contigo de boa. Eu quero que tu pare de ficar ameaça do contar pra todo mundo o que viu.

Carol: Tiago, tu achava que eu não ia me aproveitar disso? Eu posso contar, eu posso te controlar.

Eu: CHEGA! EU JÁ CANSEI DESSA PORRA! - ela arregalou os olhos, mas não se deu por vencida. - Quanto tu quer pra ficar de bico fechado?

Carol: Nada. Não aceito suborno.

Cansei. Era hora de agir direito.

Um simples assobio foi o suficiente pro Eduardo aparecer ao lado do Jota e da Lari, cada um com uma pistola na mão. O Jota tirou uma do cinto da calça e me deu.

Todos apontamos pra Carol, que ficou em choque.

Carol: Era uma cilada, seu filho da puta?

Jota: CALA A BOCA! AGORA EU FALO. - sorri pra ele continuar - Tu vai ficar de boca fechada, escutou? Foda-se o que tu sabe. Foda-se o que tu viu. Tu vai esquecer. E se não fizer por bem eu vou fazer com que tu esqueça com minhas próprias mãos.

Carol: Jota, tu acha mesmo que eu tenho medo de tu? Tu é arregão, aposto que essas armas nem tão carregadas.

Ele levantou a arma e atirou no teto. A bala se alojou perto do lustre e a Carol soluçou de medo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Jota: É bom tu ter medo de mim, guria. Vamo combinar? Boquinha fechada, ok?

Ela mexeu a cabeça afirmativamente e olhou pra baixo.

Eu: Tu faz isso, tu fica tocando no assunto porque não foi tu. Não foi o teu irmão. Não foi contigo. Não é tu que acorda todo maldito dia querendo tá enterrado no lugar de alguém.

Carol: Tibs eu…

Eu: Vaza. Vai embora daqui. - ela não se mexeu. - VAI EMBORA, PORRA! - atirei no chão, perto do pé dela e isso a fez levantar e cair fora da casa sem olhar pra trás.

Larguei a arma no chão e caí de joelhos. Minha cabeça tava explodindo e meus olhos começaram a arder.

Lari: Tibo. - ajoelhou do meu lado - Relaxa, cara. Acabou.

Eu: Não. Não acabou, não. A Carol até pode fechar a boca e pá, mas a memória, aquela cena vai me seguir pro resto da minha vida. E enquanto eu não falar a verdade pro meu pai isso vai me corroer por dentro, até que eu morra de cansaço.

Edd: Não foi culpa tua, mano.

Eu: Foi. E eu sei que foi. Não adianta dizer eu não tenho culpa nisso. Porque eu tenho.

Eu queria não ter caído na onda daquele Fred filho duma puta.

Pelo menos agora ele tava fritando no inferno.