LEIAM NOTAS INICIAIS

Gale

Katniss está atrasada.

Olho pela milésima vez a hora no meu relógio de pulso. Mas isso é bem típico dela, afinal ela nunca foi pontual mesmo.

Olho pra lápide à minha frente. Darius. Quem iria pensar que você ia terminar enterrado aos 17 anos e quem iria pensar que eu faria isso.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Eu sinto muito. – sussurro pra ele. - Eu nunca quis que terminasse assim... Era pra ser uma brincadeira.

Uma brincadeira idiota e ciumenta, mas, ainda sim, uma brincadeira. E era pra terminar com uma Katniss com raiva e provavelmente caindo nos braços daquele cozinheiro loiro, e com todos meio rindo meio com raiva. Mas nunca, morte.

Eu devia ter vindo no seu funeral. - me lamento. Eu deveria ter vindo dá meu último adeus ou só pedir perdão. - Me perdoe por ser um covarde.

Sinto meu celular vibrar no bolso da minha calça estragando meu momento.

– Fala, Madge. - digo assim que atendo.

Oi. - diz educada. - Quer sair pra tomar um café comigo?

Sempre direta. Era uma das coisas que eu gostava nela. Madge nunca enrolava, ela ia direto ao ponto sem rodeios nem desculpas.

– Hoje não posso. - não quis ser grosso e dizer não de uma vez. Eu tinha uma certa consideração com ela. - Tenho um encontro com Katniss hoje...

Ah. - posso imaginar ela fazendo uma cara meio decepcionada e com os lábios comprimidos em desaprovação. Todos sempre fazem essa expressão quando falo de algo relacionado a Catnip.

– Mas por que você não fala com a Johanna, tenho certeza que ela vai adorar sair contigo. - tento concertar.

Johanna está aqui? Em Nova York? - Madge solta cheia de entusiasmo, logo esquecendo sobre meu encontro.

– Ela chega... - olho meu relógio. - quer dizer, chegou à meia-hora.

Fala sério! Finnick a convidou?

– Pra você ver.

Claro que eu disse a ele que não era uma boa ideia trazer Johanna do Japão pra cá, quando tudo está indo as mil maravilhas entre ele e Annie, e todos esses preparativos para o casamento e tal. Mas Finnick resolveu cair na de "eu superei ela"e achou que traze-la pra cá podia ajuda-lo a, enfim, por um ponto final nisso. Espero que ele consiga.

Tudo bem. Vou ligar pra ela. Tchauzinho. - e desligou afoita.

Guardei o celular no bolso outra vez e voltei minha atenção pra lápide, mas meu momento havia sido perdido, as palavras sumiram da minha mente. Me limitei a ficar olhando pro túmulo do meu amigo até ser despertado dos meus pensamentos pela voz mais doce do mundo.

– Estou muito atrasada?

Virei-me pra encara-lá. Estava linda usando um vestido floral e sapatilhas cor bege, o cabelo solto e nenhuma maquiagem no rosto além de um gloss rosa nos lábios, mas estava perfeito. Nada além dela mesma: minha Catnip.

– Nenhum pouco. - falei, toda a impaciência que estava sentido antes indo embora com a simples visão sobre ela.

A morena se pôs ao meu lado e ficou encarando a lápide, fiz o mesmo.

– Então?

– Hum. - não sabia como começar, a presença de Katniss ainda me deixava nervoso, apesar de todos esse anos. - Eu achei que você gostaria de dizer algumas palavras pra ele já que não veio no funeral.

A morena continuava não me encarando, ficava fitando a lápide como se tentando descobrir o que era e pra que servia e como podia Darius está ali. Katniss se abaixou e tocou a lápide, desenhou com a ponta dos dedos as letras esculpidas ali - o nome de nosso amigo. Ela tirou umas folhas secas que estavam encima da lápide. Ficou outra vez em pé ao meu lado.

– Eu sinto muito por você não ter tido tempo de se tornar o Presidente dos Estados Unidos.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Eu sorri de lado ao escutar isso. Era o que ele costumava nos dizer entre nossas brincadeiras sobre o que nos tornariamos quando terminasse o ensino médio. "Eu serei médica, eu acho", Johanna dizia. "Quero ajudar as pessoas, disso tenho certeza", Annie se impunha - sempre foi a mais sensata do grupo. "Pois, eu serei Presidente dos Estados Unidos!", Darius dizia com fé sempre que estávamos nesse impasse do que ser ou não ser. Ele sempre foi o mais inteligente entre nós, sempre ajudando quando podia - passando cola ou acobertando nossas fugas. Darius era o único em que eu apostava todas as minhas fichas de que se daria bem na vida e em tudo o que fizesse. Acho que até se ele terminasse vendendo cachorro quente no Central Park, seria o melhor cachorro quente do mundo inteiro e ia acabar ficando famoso nisso.

"Eu voto em você" , eu dizia. E todos diziam o mesmo, rindo, todos entrando na bagunça.

"Vocês seriam idiotas se não votassem", falava meio sério, uma insinuação de sorriso travesso no canto da boca.

E quase posso escutar a voz dele repetindo e repetindo isso, aqui, do meu lado como se ele ainda estivesse conosco, como se ele ainda estivesse aqui...

– Eu teria votado nele. - digo. E Katniss me encara com um sorriso triste no rosto.

– Eu também.

~~

Johanna

Meus pés estão mergulhados na água da piscina do hotel. Até que aqui é um lugar legal, elegante e confortável. O serviço de quarto é ótimo, a comida do restaurante também. Existem homem bonitos aqui... Se algum dia eu voltar aqui - em Nova York quero dizer - , ficarei nesse hotel outra vez.

Fecho os olhos e deixo minha cabeço ir pra trás. Isso é tão relaxante.

Madge fora embora assim que o dia amanheceu, depois da nossa noite de conversas acho que ela percebeu que eu precisava desse tempo sozinha e ela também tinha que resolver algumas coisas do seu trabalho. Então aqui estou eu: sentada na beira da piscina em plena 10 da manhã, enquanto a maioria dos hóspedes estão em seus quartos se aquecendo ou coisa do tipo. A verdade é que nunca tive problemas com o inverno, acho-o uma estação confortável e cheia de possibilidades. Mas de qualquer forma não está tão frio aqui fora, alguns raios de sol escapam por entre a massa de nuvens nubladas.

– Senhora?

Abro os olhos e fito quem me chamou, já que só pode ser eu a "senhora"quando apenas eu estou aqui na piscina.

Acabo por encontrar o mesmo garoto das malas, aquele de olhos cor de esmeralda, abro um sorriso.

– Sim?

Ele parece um pouco nervoso, mexe no cabelo tentando tirá-lo da frente dos olhos mas não adianta muito, pois logo o mesmo volta pra posição inicial. Então eu mesma quero por minha mão em sua franja e afasta-la da frente de seus olhos. Me contenho.

– Não está com frio, senhora? Aqui fora não está muito agradável. - diz meio me encarando meio desviando o olhar.

Acho que é o jeito que ele pronuncia senhora que me faz pensar nele como fofo.

– Aqui está ótimo, - procuro seu nome no pequeno crachá que todos os funcionários usam, uma plaquinha vermelha com letras brancas sobre o peito esquerdo. - Riley.

Fico encarando-o ao mesmo tempo que pego a taça com champanhe ao meu lado e tomo um gole.

– Esse frio não incomoda a senhora?

– Não me chame de senhora. - deposito a taça ao meu lado no chão outra vez. - Me chame de Johanna.

Vi um certo desconforto passar sobre si.

– Gosto do frio. - continuo e fecho os olhos pra sentir uma brisa tocar meu rosto. Ao abrir os olhos encontro-o me fitando com curiosidade como se tentando descobrir que espécie de ser eu sou. - Por que não me faz companhia?

A pergunta saiu do nada, eu não pretendia fazê-la mas, talvez, tenha sido a brisa ou o champanhe que me deixou um pouco sem filtro, ou tenha sido aquele verde dos olhos dele que me deixou hipnotizada.

– E-eu estou trabalhando, se... Johanna.

– Ah. - não sei porque mas aquilo me decepcionou um pouco. Acho que foi porque não sou muito acostumada a levar foras. Olhei pra minha taça, estava vazia. - Pode trazer outra pra mim?

Dei a taça a ele.

– Sim, sim... - foquei meus olhos nos meus pés sob a água, balancei-os sem entusiasmo. - E desculpa por - olhei-o surpresa por ele dizer algo. - não poder lhe fazer companhia.

Ele parecia terrivelmente envergonhado e cheio de culpa que fiquei impressionada por ele se dignar dizer algo. Os caras geralmente não diziam, eles vinham ficavam comigo e pronto. Mas ali estava o garoto das malas, Riley, pedindo desculpas por não poder deixar seu trabalho e ficar comigo e isso, esse gesto - essas palavras - ditas assim com tanta sinceridade enquanto tudo que eu faço é destruir as coisas à minha volta e a única pessoa que é meu refujo está fugindo de mim, eu senti uma coisa tão diferente e boa e quente no peito que sorrio pra ele.

Enquanto Riley pegava minha taça e ia enche-la no bar dentro do hotel, eu o chamei depois de pegar minha câmera que estava abandonada no meu lado esquerdo à beira da piscina, a posicionei na frente do meu olho direito. Riley olhou pra mim, apertei o botão e a foto foi tirada.

– O que está fazendo? - perguntou confuso.

– Trabalhando. - respondi.

– Tirando fotos? - e tiro mais uma foto dele.

– Trabalho tirando fotos de coisas bonitas. - digo ao passo que ele cora e pego esse momento na foto.

Então ele se vira e vai atrás de encher minha taça.

~~

Gale

Então você caiu de cara na lama. - falei rindo.

– Eu não cai! - protestou. - Johanna colocou aquele lindo pé de princesa dela na minha frente. Foi trapaça, admita!

Eu não conseguia concordar ou discordar. Estava ocupado caindo na risada. A lembrança vindo num rompante, mais rápida do que eu achei possível.

Tínhamos, o quê? 12 anos? E estávamos numas das inúmeras excursões do colégio junto de Johanna, Annie e Magde. Ainda não conhecíamos Finnick, íamos conhecê-lo no verão do décimo quarto aniversário de Johanna durante uma briga entre esses dois. O fato é que nessa excursão aconteceu umas gincanas e como Katniss sempre foi um tanto hiperativa, a morena gostava dessas coisas e me obrigou a participar com ela. Johanna tinha uma implicância com ela - coisa de criança. Então vez ou outra elas batiam de frente e era aquela discussão.

Então havia essa competição de pega o bastão, Johanna estava no time adversário junto de outras pessoas que eu não me recordo agora. O negócio foi que estávamos quase ganhando a competição depois que Catnip pegou o bastão do outro time e assim que ela cruzasse a linha para o nosso lado nós iríamos ser os vencedores, mas por algum motivo ela caiu de cara no chão lamacento e eu fiquei tão surpreso com isso que me distrai e perdemos nosso bastão pro outro time. Desde esse dia Katniss foi zoada sem dó durante um bom tempo na escola.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Pare rir! - reclamou a morena dando um tapinha leve no meu peito.

Mas eu não conseguia. A cara que ela fez ao levantar do chão foi tão boa, o rosto todo sujo de lama e os olhos faiscando de raiva.

Alguém devia ter tirado uma foto daquilo.

– Ah, Catnip não fique brava. - digo depois de me recuperar.

Fazia tanto tempo que eu não ria desse jeito com alguém. Devo admitir que isso me fez bem, me fez ficar um pouco mais leve.

– Então pare de rir. - cruzou os braços.

Contive a vontade de beija-la, pois ela provavelmente não ia receber bem um beijo meu. Me limitei a colocar as mãos nos bolsos da frente de minha calça jeans. Continuamos andando, agora em silêncio. Estávamos dando uma volta num parque, tínhamos saído do cemitério há um tempo. Não tínhamos muita coisa pra fazer lá além de nos lamentar e nos sentir miseráveis.

– Quer uma pipoca? - pergunto assim que avisto um carrinho de pipoca.

– Sim, pode ser. - ela parece outra vez distraída.

Paramos e compro a pipoca, e logo voltamos a andar lado a lado. Katniss está aqui do meu lado, mas parece que está à um milhão de anos-luz daqui. Vejo ela comer distraidamente uma pipoca, mastigar devagar e olhar ora pro céu ora pras árvores que nos cercam.

Eu realmente a amo. Não é um sentimento infantil da época de criança, não é porque Katniss foi a única que me apoiou quando decidi morar com meu pai e não com minha mãe depois que eles se divorciaram, não é tampouco porque eu falhei com ela e sinto uma dívida e quero quitar isso. Eu realmente a amo mais do que amiga mais do que aquele cozinheiro será capaz de amar. E é por esse sentimento todo e por um dia termos escrito nossos nomes numa árvore - com direito a corações extras - que eu não posso desistir dela. Nem agora nem nunca. Katniss faz parte de mim, sempre vê-la saindo da minha vida está acabando comigo. É doloroso, é cruel, é...

– Tudo bem? - a morena me olha preocupada e é só assim que percebo que estou lhe lançando meu olhar doloroso.

– Nada. - trato de dizer e mudar de assunto. - Eu estava me perguntando quando a Catnip que eu conheci no tempo de escola começou a prestar e virou essa mulher de negócios?

Comi uma pipoca.

– Ei! Eu sempre prestei. - ela sorriu ao mesmo tempo que tacou uma pipoca em mim.

Eu ri.

– Eu não sei na verdade, acho que a faculdade me escolheu. Fiquei um bom tempo sem saber o que queria, os testes vocacionais não davam um resultado certo... Peeta costumava me dizer que eu era muito criativa. - vi ela sorri ao dizer o nome dele. - E assim no último momento me inscrevi pra disputar uma bolsa de Marketing e olhe só, fui aceita e agora to aqui com uma firma de eventos, com Portia como sócia e com nosso nome na lista de Empreendimento do Ano. - olhou pra mim pra ver meu olhar aprovação. - Mas e você, como virou Gale, O Grande Advogado?

– Ah. Ninguém tinha muita dúvida sobre o que eu me tornaria, não é? Advocacia é o ramo da minha família, eu só segui o fluxo. - dei de ombros.

Katniss jogou o saco vazio de pipoca no lixo.

– Mas tipo você não se sente infeliz nessa área? Porque, pelo que eu lembro, você queria ser jogador de futebol americano e você era bastante bom nisso.

– Mais ou menos, eu realmente odiei essa profissão durante um tempo, contudo acabou escapando detalhes da advocacia que começaram a me chamar a atenção e me deixar animado. - falei e uma brisa passou por nós e vi Katniss se abraçar por causa do vento friu. - Eu aprendi a gostar disso. E jogar futebol acabou virando nada além de um hobby.

Paramos em frente a um banco de madeira do parque, nos sentamos nele. Katniss apoiou os cotovelos em cima dos joelhos e pôs o queixo sobre as mãos. Ficou nessa posição durante bastante tempo, olhando pra frente sem realmente estar vendo algo, parecia mais como se ela estivesse viajando em pensamentos.

Será que ela está achando minha companhia um saco? Ou está triste por termos visitado o túmulo de Darius?

– Katniss, o que você tem? - resolvi perguntar, pois já fazia um tempo que vinha percebendo seu distanciamento.

– Hum? - olhou pra mim, saiu de sua posição e ficou apenas sentada, me olhando.

– O que você tem? - repeti.

– Eu só estou pensando numas papeladas que tenho...

Levantei a sobrancelha desconfiado, eu a conhecia o suficiente pra saber quando estava mentindo e quando viu meu olhar incrédulo sobre ela, ela parou de falar.

– Pode falar. Sério. - disse, porque me preocupo com a morena.

– Estava pensando no jantar de noivado da Annie.

Então foi quando entendi tudo.

– Você está insegura com a perspectiva de encontrar Finnick...

– Isso. - ela concordou sorrindo. - Vão estar todos lá.

– Relaxa, Catnip. Acho que talvez se formos juntos as coisas fiquem mais calmas. - joguei, pois seria um ponto e tanto no meu placar se eu fosse junto dela pro jantar de noivado de Finnick.

– Não acho que seja uma boa ideia.

– Me dê uma chance, Katniss. - pedi. - Eu estou me esforçando pra concertar as coisas com você, quero sua confiança de volta.

Aquilo pareceu pega-la desprevenida. Katniss ficou um tempo em silêncio e eu não tirei meus olhos de cima dela. Queria que a morena visse que eram verdadeiras as coisas que eu disse. Eu estou tentando, Katniss.

No fim ela suspirou e disse:

– Tudo bem.

~~

Finnick

Não é amor. Não pode ser amor. Não pode ser nada além de desejo, prazer, luxúria e todos esses adjetivos. Não pode ser nada além disso...

– O que foi? - a voz dela saiu macia e sonolenta, eu não tinha percebido que a estava encarando há muito tempo.

Deitada de barriga pra baixo ao meu lado na cama do hotel em que ela está hospedada, o lençol cobre apenas metade do seu corpo - da cintura pra baixo. A luz do sol que entra pela janela cai por cima de suas costas fazendo sua pele reluzir. Seu cabelo está meio bagunçado e ela tem o queixo apoiado nas mãos. Estico meu braço direito e toco-lhe o rosto, Johanna fecha os olhos com meu toque.

O que foi que eu fiz?

Eu não pude resistir a ela. Vim aqui com a intenção de acabar tudo entre nós, de deixa-la ir... Mas quando a vi sentada na beira da piscina do hotel jogando charme pra cima daquele garoto, o sangue subiu meu rosto e fiquei com tanta raiva que esqueci o que viera fazer aqui. Apenas a arranquei dali, levei-a pro quarto e tivemos uma briga feia sem sentido algum com direito a um tapa que levei de Johanna no rosto, mas confesso que mereci.

– Eu não devia ter dito aquelas coisas pra você. - falei enquanto tocava seu rosto. - Foi idiota.

– Você sempre é idiota quando está com ciúmes. - diz.

É verdade. Sempre faço coisas impensadas quando estou com ciúmes, mas com Johanna é diferente. A morena tem a capacidade de despertar meu pior lado e mesmo assim, mesmo quando ela vê meus defeitos nunca deixa de me olhar assim... Do jeito que ela está fazendo agora: cheio de alguma coisa grande e forte que não sei identificar. Mas gosto mesmo assim.

– Você não tem que ir embora ou algo do tipo? - Johanna se senta, com a parte de cima nua, o lençol cobrindo-lhe da cintura pra baixo.

Gosto nisso nela. Johanna nunca teve vergonha do seu corpo. Ela sempre aceitou suas falhas muito bem, apesar de não ter quase nenhuma. Apenas umas cicatrizes pequenas espalhadas aleatóriamente pelo corpo como lembranças das suas aventuras atrás de ângulos bons o bastante pra uma foto.

– Está me expulsando? - solto fingindo indignação.

Ela rir da minha cara e me empurra pra fora da cama.

– Estou. - fala. Tento beija-lá, mas ela desvia. - Madge está vindo jantar comigo.

É só então que percebo que passei o dia inteiro fora de casa, pois já é fim de tarde e o sol está se pondo la fora.

Putz! Alguém está muito encrencado.

Isso só comprova o quanto ficar na presença de Johanna me fazia perder a noção do tempo.

Começo a recolher minhas roupas do chão e vesti-las rapidamente.

– Annie vai me matar!

– Você acha? - ela rir.

– Não tem graça Johanna. - ralho enquanto coloco meus sapatos. Mas não adianta muito, porque ela continua rindo e nua na minha frente.

Vou pra cima dela e enlaço sua cintura fina, colo seu corpo no meu e a beijo. É como sempre é: profundo, faminto e longo.

Não, isso não é amor.

Mas então ela se afasta de mim e me empurra em direção a porta e antes que ela feche a porta na minha cara, eu a seguro outra vez pela cintura. Como sou mais forte, Johanna não consegue se desvencilhar de mim.

– Johanna...

Estamos na porta do seu quarto, com meu corpo quase todo pra fora do mesmo e a morena nua em meus braços. Eu gosto de tê-la assim: perto de mim. Sabe quando está terrivelmente quente e você sente aquele vento no rosto que te dá uma sensação de alívio? Ou quando você está num bosque e ver o sol abrir caminho por entre as árvores, e tudo fica incrivelmente lindo? Johanna é isso pra mim: ela é o vento nos dias quentes, a luz por entre as árvores... Ela é esse refúgio estranho pra mim.

E eu quero dizer algo a ela agora. Talvez, não vá ou eu volto. Mas nosso relacionamento nunca foi de palavras, nunca foi tão cheio de toques quanto agora, quer dizer, não esses tipos de toques: carinhosos e longe do ato sexual.

– Johanna... - tento de novo. Mas as palavras não vem, mesmo por que eu não sei o que dizer ou talvez, porque no fundo eu sei e estou com medo de sua reação.

– É melhor você ir. - ela diz, mas não se afasta.

Olho dentro dos seus olhos castanhos. Aproximo meu rosto do seu e a beijo. Não é um beijo faminto ou cheio de desejo. Ele é calmo, delicado... e antes que eu possa começar a me acostumar com essa sensação nova que está vindo, Johanna me afasta. Fecha a porta na minha cara e me deixa sozinho e confuso do lado de fora.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Não, isso não é amor. Mas então o que há de tão errado com o mundo quando ela não está comigo? Por que tudo fica cinza? Ou por que me sinto tão terrivelmente vazio?

–-----------------------------------------------------

LEIAM NOTAS FINAIS!!