Simplesmente acontece

A primeira vez que saímos juntos


Acho que a minha história com Bruce Banner pode ser resumida em encontros, desencontros e reencontros. Cada um deles me marcou de um jeito. Alguns positivamente. Outros nem tanto. Mas todos foram intensos de alguma forma e importantes na construção dessa confusa jornada. Círculo vicioso resume bem. Alguns podem chamar de novela melodramática, eu não ligo.

Depois de tantas fugas por parte dele, eu já tinha desistido da ideia de romance. Parecia que Bruce nunca permitiria que eu me aproximasse pra valer. Eu via em seus olhos que ele me queria e juro que não estou sendo convencida quando afirmo isso. Porém, algo sempre o impedia de admitir os sentimentos, de se arriscar no campo da paixão, de se permitir viver de verdade. Infelizmente, o Hulk sempre manteve os pés do seu alter ego no chão e o coração dele aprisionado.

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Da última vez que Bruce se esquivou assim, eu decidi que faria um esforço para vê-lo apenas como amigo. Confesso que fiz isso muito mais para atormentá-lo com a minha desistência e para me preservar. No fundo, eu não acreditava que seria possível.

Sentimentos não são como aparelhos eletrônicos que você liga e desliga, na hora que bem quer, apertando um simples botão. Nem que eu arrancasse o meu coração da tomada teria conseguido desligar o que sentia — e ainda sinto — por ele. Só estava disposta a fingir que sim, na esperança de acreditar na minha própria mentira com o tempo.

O surpreendente é que Bruce acreditou nela antes de mim. E acreditou bem rápido. Tudo indica que entrou em pânico ao pesar as consequências e perceber o que estava perdendo. Isso ficou bem claro hoje mais cedo, quando ele admitiu, com todas as letras e uma coragem há muito reprimida, que não é capaz de ser apenas meu amigo. Ele se arriscou no campo da paixão pela primeira vez desde que o conheci. E deu um passo importante rumo a se permitir viver de verdade.

É por isso que estou aqui essa noite. Esperando por mais um reencontro depois de mais um período de negação de Bruce. Só que, dessa vez, tem tudo para ser mais intenso e importante do que os anteriores porque, se ele vier, não será qualquer reencontro. Será o nosso primeiro encontro. Oficialmente, falando.

Horas atrás, quando a minha surpresa com a sua confissão passou, não hesitei em dar o próximo passo e o convidei para sair. Deixei o laboratório antes que a surpresa de Bruce diante do meu convite passasse. Tampouco esperei por uma resposta. Não quis pressioná-lo a dizer sim e também não queria ouvir um não. Então me limitei a informar aonde eu estaria à noite e disse que ele poderia vir me encontrar, caso quisesse descobrir aonde essa história pode nos levar.

Contrariando as probabilidades do nosso histórico conturbado, Bruce Banner veio. Está aqui agora. Essa noite. Não demorei a reconhecê-lo mesmo com o show de luzes pulsantes e coloridas por toda a parte, além da confusão vibrante de pessoas dançando na pista entre nós. E se ele veio, eu tenho a minha resposta. Justamente a que eu queria.

Apesar de feliz com isso e irremediavelmente ansiosa para que a noite comece de fato, um pequeno detalhe me deixa desnorteada e rouba o brilho do momento. Enquanto focalizo a silhueta de Bruce adiante e caminho até ele, vejo que está trocando algumas palavras com uma pessoa. Um homem muito parecido com um fantasma do meu passado. Um fantasma que já se dissipou quando termino o percurso.

— Bruce? — chamo porque ele está distraído, procurando o sujeito pela boate com o olhar. — Com quem você estava falando? — questiono tão logo ele se volta para mim.

O Vingador demora apenas alguns segundos para se ajeitar e replicar:

— Isso importa?

E quando o faz, há um certo incômodo em sua voz. Talvez eu esteja imaginando coisas, porém vejo uma nuance estranha nos seus olhos também. Uma amargura presente nas pessoas que, de repente, sentem ciúme de alguém e tentam, inutilmente, disfarçar.

Será possível que o sujeito que vislumbrei apenas de relance era mesmo Kurt? Meu ex-namorado problemático de quem a vida, felizmente, me afastou? Será possível que o traste ressurgiu das cinzas e comentou algo que desagradou Bruce? Que lhe despertou ciúme de mim?

Não, não era ele. Mesmo que fosse, não vou deixar que estrague essa noite. Era apenas um estranho, alguém parecido e que já se foi. Talvez eu tenha imaginado o incômodo de Bruce também. Kurt não pode estar de volta, me recuso a conceber um retorno seu. Afasto a possibilidade para longe de vez, sorrio para Bruce e finalmente respondo sua pergunta:

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— Não, claro que não. O que importa é que você veio. — Alcanço e seguro sua mão com carinho. — Estou feliz que decidiu pelo sim.

A neblina que pairava em seu olhar se dissipa no mesmo instante. Bruce entrelaça minha mão de volta e esboça um sorriso tímido ao confessar:

— Eu também estou feliz por ter vindo.

Meu sorriso se alarga. Os olhos dele se estreitam nos meus e me aquecem de um jeito misterioso. Não saímos do lugar, mas, de alguma forma, sinto que nos reencontramos de novo. Bem nesse instante. Dessa vez, para valer. O tempo de fuga e negação finalmente acabou.

— Vem comigo!

Sem pensar duas vezes, o arrasto pela multidão de corpos dançantes e absortos por doses generosas de álcool e energéticos.

E Bruce vem. No meu encalço. Ao meu lado. Não somente rumo ao bar no andar superior da boate, ele vem para a minha vida porque realmente está aqui essa noite. Por vontade própria. De peito aberto. Lutando contra o complexo Outro Cara que reside nele. Lutando por um possível nós.

Apesar do meu inconveniente nervosismo — odeio me sentir como uma boba apaixonada perto de Bruce — e apesar desse lugar não fazer muito o seu estilo, a noite transcorre com um clima especial e natural pairando entre nós.

A conversa leve, o flerte sutil, os toques despretensiosos e quase involuntários, nossas mãos teimando em se encontrar, os olhares carregados de significado e calor, até mesmo a música lenta e melosa que algum engraçadinho pede ao DJ em dado momento e que eu — lutando contra certa vergonha por achar a situação muito embaraçosa — aceito dançar com Bruce.

Tudo está perfeito e parece caminhar para algo maior. Algo que eu tenho certeza que ele também anseia que aconteça. Algo que está prestes a acontecer enquanto danço com Bruce sem pressa e com o coração disparado, mergulhando de vez na atmosfera romântica.

É o beijo que está por vir. É por ele que ansiamos enquanto nos olhamos em silêncio. Sinto que nosso primeiro beijo está prestes a acontecer.