Simplesmente Complexo

Capítulo 38


Voz: Brennan

- Mani – Aiá! Mani – Aiá!

Jung pulava, ao meu redor. Estava entusiasmado... Mesmo sabendo o quão cansativo seria nosso percurso.

- Acorda! Acorda!

Acordei, imediatamente, em um pulo. Deveríamos nos apressar... Pelos meus cálculos, o Sol estaria a pino em cerca de três horas.

Quem entrou, logo depois, foi Zora. Estava tão entusiasmada quanto Jung, embora não transparecesse tanto quanto ele.

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- Estão nos esperando lá fora... Despedidas e conselhos!

Disse Zora, com um tom debochado. Passei os dedos entre meus cabelos, tentando ajeitá-los... Zora voltou a usar seu tom de deboche...

- Você realmente acha que vai sair, assim?

Não respondi, estava confusa... Até que Zora continuasse.

- Vem comigo... Sairemos por trás da barraca. Eu e outras índias combinamos de ajeitar você.

Não podia discordar. Não depois de ter sido tão bem recebida e tratada na aldeia de Jung. Jung. Havia até mesmo esquecido que ele estava ali, encostado, na entrada da barraca.

- Vamos Jung! Nos dê cobertura!

Zora falou... E logo, vi Jung correr... Apressado.

Zora me indicou o caminho a seguir... Detestava a idéia de ser guiada, mas ultimamente, a idéia já havia tornado-se comum. Andamos com pressa por um imenso campo, rodeadas de flores de diferentes espécies... Até que enfim, chegássemos a um riacho. Índias tão simpáticas quanto Zora estavam ali... Todas assustadoramente iguais... Mas não para mim, que sabia exatamente o motivo de suas semelhanças.

- Essa é Mani – Aiá... De quem tanto Jung falou!

- Sim, espírito inteligente e bom... Consigo enxergar.

Uma das índias respondeu a Zora, em sua língua nativa, sem acreditar que pudesse entendê-la.

- Na verdade, é impossível... Inteligência e bondade... Não são características físicas que podem ser enxergadas.

- Depende dos olhos que enxergam... Mani – Aiá. Gostei de você!

A índia respondeu , de prontidão, em minha língua. Ficaria impressionada, mas não tendo o conhecimento de que a maioria dos indígenas haviam entrado em contato com o inglês. Mas, ainda assim, era fascinante. Realmente fascinante!

- Bom, “Mani – Aiá”, temos que nos apressar...

Zora disse, enfatizando meu novo apelido. Concordei, com um meneio.

- Vocês voltam daqui a quatro minutos.

Zora disse em sua língua nativa, e logo, todas as índias se retiraram.

- Sei o quanto vocês, abequars¹, não estão habituados a nossos costumes... Mas temos apenas quatro minutos até todas voltarem!

Sorri, apanhando as loções que Zora segurava nas mãos. Me despi e mergulhei rapidamente e, ao sair do riacho, me sentia realmente melhor. Zora me alcançava agora um tecido, com o qual me sequei ainda com mais pressa... Quando já estava seca, Zora me alcançou roupas de baixo... Uma calcinha costurada a mão, e um extenso pano da mesma cor da calcinha. Vesti a calcinha, mas não tinha idéia de como fazer uso do pano... Não sabia exatamente como usá-lo. Não precisei me pronunciar para que Zora, rindo da situação, levantasse para me ajudar. Deu várias voltas com o pano que cobria apenas meus peitos, até que eles estivessem firmes. Prendeu o pano com uma costura feita na hora, por ela, meticulosamente.

- Que bom que vocês chegaram... Chegaram na hora! Trouxeram as tintas?

Não havia sequer percebido que as índias já nos cercavam. Carregavam recipientes feitos de barro, e dentro deles, tintas de cor vermelha e preta. Entendi. Entendi que minha mudança não se resumiria em banho e roupas limpas.

- Bom, podemos começar?

Zora perguntou, ciente de que já sabia o quão grande seria a transformação. Pensei, rapidamente... E concluí que não havia nada mais sensato a se fazer. Aquela era uma maneira de não ser reconhecida tão facilmente e, naquele momento, devia pensar em minha sobrevivência. Então, segura de minhas decisões, concordei.

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- Bom... Comecemos pelo cabelo.

Duas índias cortaram meu cabelo pelos ombros e, logo depois, o fizeram cheio de tranças... Da raiz ás pontas. Depois dos cabelos, as tatuagens... De tinta vermelha, verde e preta. Identifiquei alguns dos símbolos... As tatuagens contavam histórias... De guerreiros e grandes civilizações. Quando as tatuagens já estavam secas, Zora alcançou-me uma saia como a sua, de palha, um pouco apenas acima dos joelhos. Junto com a saia, um short feito de fibras naturais para colocar por baixo, e uma confecção também de fibras naturais que me cobriria melhor os peitos.

- O toque final...

Zora agora tinha nas mãos brincos feitos de penas coloridas, que me entregou gentilmente.

- Azuis esverdeadas, como seus olhos. Está linda Mani – Aiá!

Agradeci.

- Temos que voltar, Zora. Jung e Caio estão esperando por nós...

- Vamos.

Zora respondeu, imediatamente. Nos despedimos das índias, e seguimos em frente. O sol estava quase a pino... Tínhamos cerca de trinta minutos. Chegando ao centro da aldeia de Jung, quando me enxergaram, todos pareceram impressionados. Não havia me visto até então, mas sabia que estava mudada... Realmente mudada. Foi então, que Botiê, fez sinal para que o seguisse. Me levou até a frente de sua cabana, onde havia um grande espelho. Ao enxergar minha imagem, não me reconheci... Fazia tanto tempo que não enxergava minha imagem! Aquela, sem dúvidas, era eu... Mas tinha medo, medo de que não fosse apenas minha imagem que havia mudado naquele tempo. Olhando minha imagem, imediatamente, refleti... E tive certeza, de que não era mais a mesma. Naquele lugar, minha inteligência, posição, não interferia no meu futuro... Naquele lugar, era igual a todos. Meu conhecimento não impedia Ben de me encontrar, e acabar com a chance de ter de volta tudo o que mais amava. Meu conhecimento havia apenas virado um apelido, uma maneira de me aproximar de Jung. E, talvez, não fosse tão importante... Pelo menos não ali, naquela aldeia. Naquela aldeia, Booth provavelmente seria muito valorizado... Sua coragem, sua bravura, sua maneira de enfrentar o mundo. E por mais que estivesse pronta para enfrentar o que for que viesse pela chance de ter Booth e Sophie mais uma vez ao meu lado, sabia que não tinha a coragem de Booth, Botiê e de Jung. Sabia que meu conhecimento, as características que por tanto tempo havia superestimado, não tinham valor quase algum ali.

Meus pensamentos foram interrompidos por Botiê, que pousou sua mão sobre meu ombro.

- Espírito bom. Espírito bom, e inteligente.

Naquele momento fez sentido para mim. Pude entender o que Botiê quis dizer.

- Aliquam².

- Não há de quê, Mani – Aiá.