Silver

Capítulo 8 - Wade


Acordar mais uma manhã sem ter um emprego para ir era ruim, mas, ao mesmo tempo, ótimo, pois eu sabia que logo, logo aquilo acabaria, e que eu sentiria falta de, novamente, me sentir como um adolescente sustentado pelos pais. Soltei o ar preso em meus pulmões e forcei meu corpo a ao menos se sentar, onde eu conseguia ver os pequenos raios de sol que atravessavam uma fresta da cortina persiana que estava entreaberta, diferentemente das outras que estavam em perfeita harmonia. Observei o quarto ao meu redor e percebi que ele era totalmente diferente do meu antigo. Neste era totalmente percebível que eu morava ali sozinho, sem uma companhia de ninguém, pelo simples fato de tudo ser organizado da exata forma que eu gostava. Se por um acaso houvesse a presença que antes havia, tudo estaria bagunçado de uma forma confortável, de uma forma que eu poderia ter sempre reclamado, mas que agora fazia tanta falta.

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Havia uma pilha de livros dispersos em cima de um criado-mudo, alguns remédios para insônia, um copo de água vazio, minha TV antiga que estava aposentada fazia meses, e eu não tinha tido a menor disposição para instalá-la ali no quarto desde que havia me mudado. Não achava que algum dia teria, mas ela ficava ali, ocupando um espaço que poderia ser muito bem ocupado com outras coisas. Havia um calendário com os dias riscado, tendo ao fundo um pôster de Tame Impala na parede, meu celular e um porta-retratos ao lado dele, que eu nem ao menos lembrava de ter tirado da gaveta. Deveria ter sido na noite passado, depois que eu cheguei bêbado do bar, não tão bêbado como na noite em que encontrei Charlie, mas, ainda assim, levemente.,

Soltei um bocejo e me levantei, guiando meu corpo até o criado-mudo, peguei o porta-retratos, sem nem mesmo encará-lo, e joguei-o dentro da gaveta, sem me importar, apenas me dirigindo até o banheiro, e depois até a cozinha. Havia um silencio estranho aquela manhã enquanto a água do café fervia. Não havia o costume som das obras do prédio da outra esquina, nem mesmo dos carros que transitavam por ali. Apenas um silencio absurdo na minha mente. Aquilo me perturbava. Era estranho. Ter um som me distraia, e fazia com que meus pensamentos não ficassem tão tumultuados quanto eles eram, e naquela manhã, eles ficaram.

O celular começou a tocar sem parar minutos após eu ter terminado de tomar meu café. Passei a mão no cabelo profundamente antes de atendê-lo. Eu sabia muito bem quem era, e o que queria, e eu não achava que conseguiria aguentar aquilo, realmente, não aquele dia. Ela estava tentando me convencer a meses, mas eu realmente não sabia mais como negar, não haviam mais argumentos necessários para negar.

— Ei, mãe. — Atendi tentando soar entusiasmado, mas creio eu ter falhado.

— E aí? — Ela soou empolgada. — Já decidiu quando vem?

— Mãe, eu não sei ainda. — Menti, querendo anular essa viagem.

— Acho que poderia ser daqui duas semanas? — Senti o sorriso em sua voz. — Espero que sim, pois já compramos sua passagem, querido.

— O que? — Eu bati a mão na testa. — Mãe, não pode tentar controlar um homem na minha idade, você sabia disso? — Disse bravo. Eu realmente agradecia por arrumar aquele emprego, pois pelo menos me livraria das ordens.

— O que? — Sua voz estava dura. — Vai ficar bravo com sua mãe por sentir saudade de você, Wade?

— Não, mãe, não é isso.

— Sabe o que? — Ela disse brava e eu sabia que ela faria aquele discurso novamente. — Desde que tudo aconteceu, você simplesmente esqueceu que você ainda tem uma família. Você pode muito bem entender que sim, coisa péssimas acontecem, mas...

— Tudo bem, mãe, estou aí daqui duas semanas. — Suspirei, sabendo do quanto me arrependeria disso.

— Oh, sério? — A alegria voltou a reinar.

— Sim, mas só vou poder ficar alguns dias, pois na outra semana eu começo a trabalhar integramente.

Parecia um sonho falar isso para ela, pois tanto ela quanto eu sabia o que isso significava. Havia acabado o reinado dela na minha vida. Os últimos meses que ela tinha achado que seria uma boa ideia me ajudar com dinheiro, ela também achou que seria ótimo controlar minha vida. Me fez sair do meu outro apartamento, que era bem menor do que este, onde eu tinha deixado todas as minhas memórias, e também a dor.

— Você ainda com essa história de trabalho? — Conseguia ver seus olhos revirando.

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— Mãe, nem começa, vai ser bom pra você poder voltar a gastar o tanto que sempre gastou.

— Isso foi extremamente grosseiro, Wade. — O sotaque estava totalmente aparente e estranho.

Desde que ela havia se mudado de volta para o Canadá, seu sotaque tinha se tornado extremamente marcado. Fazia quatro anos, e o sotaque brasileiro ainda estava agarrado em sua voz, contudo, quando ele se misturava com o canadense, se tornava uma coisa totalmente estranha. Eu havia estado no Canadá apenas algumas vezes. Minha mãe havia engravidado no Canadá, mas por conta de uma viagem errada, acabou tendo que me ter no Brasil. Ela acabou se acostumando com a vida que levou aqui, mas depois de um tempo sentiu saudade, e voltou. Ela queria que eu fosse também, mas eu gostava do Brasil, talvez em algum momento fosse para o Canadá em definitivo.

— Me desculpe. — Não quis mesmo pedir desculpas, mas o fiz.

— Você está bem? — Ela perguntou, a voz saiu rouca. — Eu sei como esses meses tem sido um inferno para você.

— Eu estou bem, obrigada. — Respondi rapidamente, eu já estava notando o rumo dessa conversa e realmente não queria escutar tudo novamente.

— Wade…

— Mãe, eu vou desligar, tudo bem? — Mudei rapidamente antes que ela pudesse dizer qualquer coisa.

— Sentimos sua falta.

— Também sinto a de vocês. — Disse, e desliguei.

Olhei para tudo a minha volta e me joguei ao sofá. Tinha determinado que iria ao supermercado e depois talvez chamar Charlie para tomar alguma coisa. Eu estava me conectando com aquela garota de uma forma muito errada, de uma forma que tinha proibido que eu pudesse me sentir de novo. Não achava justo. Não era justo. Contudo, sabia que ela precisava me mim, e era esse o principal motivo para querer matar aquela fagulha dentro de mim. Não podia estragar as coisas com ela, os olhos dela pediam por um amigo que pudesse confiar naquela cidade, e eu estava diposto a ser isso para ela.

Me obriguei a sair do sofá, e me encaminhar para o elevador. A porta se abriu, revelando um homem alto com um cabelo recém-cortado, e uma barba bem mal feita. Seus olhos eram tão azuis quanto o céu daquela manhã que abrigava um sol que simplesmente fazia com que qualquer pessoa desejasse ter um ar-condicionado, pois simplesmente estava fora de controle. O sujeito e eu trocamos um breve aceno de cabeça antes que eu entrasse e o elevador voltasse a se mover.

A minha manhã toda fora levada por um supermercado vazio. Aquilo me trazia memórias indesejadas. Não era muito bom em lidar com o fato de que agora eu tinha que fazer compras sozinho, depois de tantos anos tendo companhia. Limpei esses pensamentos da minha cabeça, e continuei comprando normalmente. Queria poder ligar para Alex ou qualquer um dos meus amigos, mas sabia que todos eles estavam trabalhando, enquanto eu, era um mero mortal apenas fazendo compras em uma segunda de manhã por não ter nada o que fazer.

Resolvi almoçar no restaurante japonês que Charlie havia me levado, e encontrei a garçonete daquela vez. Ela fora toda animada me atender, e acabamos trocando algumas palavras, e até mesmo ganhei um número de telefone. Achei totalmente errado fazer aquilo, mas precisava tirar Charlie dos meus pensamentos de uma vez por todas, então já tinha uma ideia clara de como poderia fazê-lo. Precisava controlar aquele murmúrio dentro de mim. Aquela voz me acusando de atos que eu nem mesmo pretendia cometer, mas sabia que se me deixasse levar, eu faria.

Voltei para casa quando já era bem de tarde, após passar em uma loja de músicas da qual eu gostava bastante, e encontrar o mesmo cara que eu havia visto aquela manhã. Não havia muito o que fazer, então apenas organizei as compras que eu havia feito nos devidos armários e trouxe meu notebook onde perdi várias horas da minha vida, esta que tinha se tornado a coisa mais monótona de todas desde que a nova vida naquele apartamento havia começado.

As coisas tinham se tornado bem simples, e estavam até mudando por conta de Charlie, mas continuavam na mesma monotonia. Aquela era minha vida depois de uma época tão animada, mas finalmente tudo estava entrando nos eixos. Eu teria um novo emprego, uma nova rotina, e quem sabe, uma nova vida. Uma vida menos dolorosa.

Oito meses sendo acorrentado por um passado que parecia tão persistente em permanecer no presente, me deixando sufocado, e muitas noites com insônia. As vezes o que fica no pensamento é o que poderíamos fazer de diferente para evitar algumas coisas. Eu já estava cansado dos olhares que me davam tentando mostrar que não era minha culpa. Eu sabia que não era, mas sabia que poderia ter feito algo diferente. Sabia que poderia ter mudado um simples detalhe que mudaria todo o futuro, mas não era assim que a vida funciona. Ela é feita das escolhas e decisões que tomamos, e infelizmente, aquilo tinha acontecido, e eu tinha que começar a aceitar.

Era realmente difícil afastar pensamentos de 6 anos antes que pareciam ter voltado para ficar. Meu estômago estava se revirando por conta deles fazia dias. Era como 8 meses antes, quando tudo havia terminado o começo fora um dos meus maiores obstáculos. Era obvio que seria impossível esquecer uma noite como aquela. Simplesmente não havia um ser humano que se esqueceria, quando depois dela ter acontecido você voltava a pensar nela quase sempre tentando saber, tentando imaginar o porquê de ter acontecido.

As luzes da cidade resplandeciam como as luzes de sua alma, contudo, eu tinha quase certeza que as luzes dentro dela estavam desligando, mas ninguém poderia ver isso. Seus pés dançavam pela superfície fria, enquanto o vento gelado batia em suas costas. Ela devia estar usando um casaco aquela noite. Fora meu pensamento enquanto a observava sentado no alto daquele galho, os pensamentos que repousavam meu pensamento por anos. Ela não tinha pensado em pegar um quando tinha saído de casa para ir naquela festa, eu tinha certeza. Só pensou nas bebidas, e em toda diversão que ela teria, o frio não passou pela sua mente. Muitas coisas não haviam passado por sua mente. Mas, ela não estava preocupada com o frio. Estava bem.

Seu vestido rosa rodava envolta do seu corpo por conta do vento, os brincos também chacoalhavam fazendo uma melodia em seus ouvidos, eram maravilhosos, quase tão bonitos quanto os olhos da pessoa que lhe tinha dado. Era para ele estar naquela festa. Ele não estava.

Observou mais uma vez as luzes da cidade, e uma calma momentânea a invadiu. Ela não estava nenhum pouco preocupada, e deveria estar. O barulho dos carros junto com a música que tocava em seu fone era tão alto que seus pensamentos eram anulados. Ela se sentia bem ali. Conseguia ter o vento em si, o poste de luz a iluminava, e seu coração batia rápido.

Observa-la parecia errado, pensando agora, mas eu não me importei. Eu não estava fazendo por mal, apenas havia sentado ali, após não conseguir me adaptar naquele barulho todo, e de repente ela tinha vindo correndo, parecendo ter lágrimas nos olhos, mas da altura que eu estava não dava muito bem para confirmar.

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A barra de ferro deixava suas mãos gélidas toda vez que ela as tocava, uma coisa que ela estava fazendo com frequência, mas ao sentar ali, suas pernas também ficaram gélidas, e todo seu corpo pareceu corresponder ao frio com um arrepio, ela não se importava. Ninguém se importava. Ninguém a conseguia ver dali, a não ser eu, mas ela também não sabia de minha presença.

Dançou as mãos pela barra de ferro, e segurou com força a rosa que trazia na mão. Ela havia pego na festa da qual tínhamos vindo embora, e agora estava fazendo todo tipo de esforço para mantê-la consigo. Ela não achava a fragrância daquela rosa gostosa. O cheiro não lhe descia o estômago, mas ela sismava em ficar cheirando a cada segundo, para ter certeza de que o cheiro não havia mudado. Até que ela se cansou da brincadeira, e arrancou todas as pétalas da rosa, deixando sobrar somente o cabo em uma mão, e nas outras as pétalas.

Olhou para baixo, e deixou as lágrimas pingarem no seu vestido. Seu lindo vestido rosa. Fora feito na sua medida. Fora feito exatamente para ela. Tinha sido encomendado há meses. Agora a única coisa que ela sentia por aquele vestido era ódio. Passou a mão por todo ele e fez um rasgão. Não compreendia o quão mais podia ser humilhada. Mas rasgar o vestido a fazia sentir bem. Ela tirou-o de si, e deixou-se ficar somente com o corset preto bem desenhado, com sua meia arrastão para acompanhar. Seus saltos rosa também ficaram no pé, tirando a regra de tom que ela tinha feito com as duas combinações anteriores. Teve que segurar seu iPod na mão já que anteriormente ele estava preso ao seu vestido, mas manteve o fone em suas orelhas, deixando a música lhe invadir.

Naquele momento eu sabia que tinha passado dos limites em ficá-la observando, então escorreguei da árvore até o chão, pronto para ir embora, contudo, voltei a ficar olhando. É claro que na época não sabia de nenhuma dessas coisas, contudo, essas eram as coisas que eu acho que ela pensava. Ao passar dos anos tentei deduzir o que eu tinha visto ali, mas nada nunca realmente chegou a fazer sentido. Minhas teorias se encaixavam, mas, mesmo assim, eu ainda me sentia tão frágil de não ter feito nada.

Ela passou a mão pelo cabelo, tinha acabado de cortar, e parado na frente do espelho e odiado o que tinha visto. Via uma menina perdida, dos olhos castanhos que tomavam toda a atenção do seu rosto pro ser a maior parte. Viu o cabelo vermelho, as mechas lisas descendo contra seu rosto, e em um surto momentâneo passou a tesoura. Seu cabelo agora, era repicado, muito mal repicado. A parte da frente era maior do que a de trás, ela não tinha visão para cortar atrás, então cortou, até sentir que estava bem, e depois quando se olhou no espelho.

Não conseguia se lembrar de quando tudo aquilo tinha se tornado aquela bagunça, quando seu coração parecia que explodiria e ensanguentar todo o seu peito. Ninguém entenderia, mas ela só queria fazer com que parasse de doer. Acho que pensando agora, eu deveria ter algo em relação com meninas magoadas.

Suas mãos eram tão geladas ao encontrar aquele cano, mas ela conseguiu ficar ereta. Escutou a música que estava tocando nos seus fones, Wait do M83, e sorriu para a cidade a sua frente. Seus pés estavam gelados, o seu corpo também. Mas ela não ligava. Tinha parado de ser importar há algum tempo, e agora nada mais fazia sentido. Nada mais.

Suspirou profundamente, deixou o vento bater em seu corpo, deixou o universo a encobrir com seu manto, deixou o barulho do iPode dominar sua mente, e fechou os olhos. Ela só sentiu o vento batendo no seu corpo, o frio da água encontrando sua pele, a dor, e o fim. Se ela soubesse que em casa seu celular não parava de tocar, era isso que a policia tinha encontrado, um celular com centenas de ligações nunca atendidas por um garoto chamado Fernando. Acredito que ele deveria ser o cara que não apareceu aquela noite.

— Você viu isso? — Uma voz rompeu ao meu lado.

Ela pertencia a uma garota loira, com os olhos tão escuros quanto aquela noite usando um vestido vermelho sangue. Me assustei quando a vi, pois não tinha captado a presença de mais ninguém, contudo, aparentemente, ela tinha ficado ali aquele tempo todo me observando e também observando a garota que havia acabado de se matar. Já havia visto aquela garota na faculdade, achava que em uma das turmas de arquitetura. Não recordava seu nome, mas me lembrava da empolgação que meus amigos tinham ao falar sobre ela.

— Acha que devemos chamar a polícia? — Ela perguntou angustiada.

Eu apenas assenti, não havia muito o que dizer, então ela apenas discou para polícia, que após meia hora estava em todo o lago fazendo uma busca, com milhões de expectadores que haviam saido da festa apenas para presenciar um bom show. Era isso. Eles nem mesmo conheciam a garota que havia se jogado. Duvido que muitos ali soubessem seu nome, nem eu mesmo sabia, mas eu a tinha visto pular naquela correnteza fria. Eu poderia ter feito alguma coisa, talvez chamá-la para tomar um café, mas eu não o fiz. Eu apenas a observei enquanto via o desespero em sua alma.

A garota que também havia visto continuou ao meu lado perto de uma das viaturas. Ambos teríamos que dar depoimentos sobre o que tínhamos visto aquela noite, e uma parte de mim temia pois o olhar do policial em nós parecia totalmente acusatório em vez de preocupado por jovens estarem simplesmente se jogando de lugares.

Esse era o problema. Eles eram simplesmente como qualquer um dos expectadores que estavam envolta da faixa amarela com os olhos brilhantes esperando por qualquer coisa.

— Qual o nome de vocês? — Um dos policiais veio até nós.

— Eu sou o Wade. — Disse, meio rouco, aquilo realmente faria com que eu parecesse culpado.

— Lorena. — A garota ao meu lado disse, com mais confiança do que eu havia dito.

— Quantos anos? — Ele perguntou.

— Eu tenho vinte e três. — Engoli seco esperando pela resposta de Lorena.

— Vinte e dois. — A resposta fora curta.

— Vocês estudam na universidade?

— Sim, eu faço arquitetura. — Lorena se atreveu a dizer. — E Wade faz letras? Está no seu último ano, certo?

Ela disse, e eu nem ao menos soube como responder, apenas afirmei com a cabeça. Não fazia ideia de que ela sabia quem era eu.

— Estava fazendo o que aqui no frio, Wade? — O policial disse meu nome de uma forma que parecia estar debochando.

— Bem, eu me senti claustrofóbico dentro daquele salão e resolvi vir tomar um ar aqui fora.

— Tomar um ar? — O policial indagou duvidoso. — E simplesmente por um acaso você apareceu aqui deste lado onde a garota estava tentando se matar? É estranho que o vestido dela parece ter sido totalmente rasgado de seu corpo.

— Está tentando afirmar que eu a estuprei? — Perguntei, aquilo era ridículo.

— Só estou apontando os fatos. — Ele não parecia ser uma cara agradável.

— Ele não estava fora do salão para isso. — A garota que eu nem mesmo conhecia, disse brava.

— E você? — O policial disse bravo. — O que você também estava fazendo aqui fora? Veio tomar um ar também?

— Não. — A garota engoliu seco. — Wade e eu não estávamos aqui aleatoriamente.

— Então o que vieram fazer aqui? — Ele perguntou seco.

— Nós iriamos nos encontrar. — Ela havia acabado de mentir para um policial. — Você entende, não entende? Acredito que já foi jovem uma vez.

O policial nos fitou tentando encontrar qualquer vestígio de mentira, mas eu apenas relaxei os ombros e sorri debochadamente para ele. O olhar dele sobre nós parecia enfurecido, mas não houve nada mais que pudéssemos fazer do que dizer o que tínhamos visto, e após isso ser liberados. Pensei que Lorena iria para onde a multidão se reunia, contudo, ela me seguiu pela trilha que levaria até o estacionamento. Tentei não ficar trocando muitos olhares com ela, mas era impossível, eu nunca pensei que meu coração pudesse bater tão rápido por uma pessoa que eu nem ao menos conhecia. Ela também parecia não conseguir não me olhar, pois toda hora seu olhar também estava em meu rosto.

— Você não é muito de falar, não é? — Ela quebrou o silencio.

— Não. — Olhei para o chão. — Prefiro ficar em silêncio quando as coisas que se passam na minha cabeça não parecem próprias para dizer.

— E o que você quer dizer agora? — Ela disse, e eu levantei o olhar.

— Não sei. — Menti.

Andamos em silêncio o tempo todo depois disso até chegarmos no estacionamento. Ela se virou para ir para seu carro, mas simplesmente parou de andar, fazendo com que eu também parasse. Seu corpo todo se voltou para mim, e ela abriu um sorriso.

— Wade? — Sua voz estava tímida.

Eu apenas a encarei, isso fez com que ela ficasse ainda mais tímida.

— Não é nada. — Ela sorriu, e se virou novamente.

Eu olhei para ela se afastando, e apenas suspirei, nem mesmo pensando no que eu estava fazendo.

— Lorena?

Ela se virou com os olhos bem abertos, e cheios de expectativas. Senti medo daquilo, daquele olhar cheio de esperança, mas, mesmo assim, respirei fundo.

— Aquela hora eu queria dizer que realmente gostaria de te levar num encontro.

— Você está falando sério? — Um sorriso gigante tomou seu rosto.

— Qualquer garota que mente para um policial para que eu não passe por um estuprador merece ao menos isso. — Eu sorri e ela sorriu também. — Pode ser naquele...

— Pode ser no seu apartamento? — Ela disse. — Eu levo uns CDs, a gente escuta uma música, pede uma pizza, assiste um filme, você quem sabe..

— Isso é simplesmente perfeito.

— Então está combinado. — O vento balançou o cabelo loiro.

— Sexta? — Eu disse. — Sete e meia, no meu apartamento?

— Não faço ideia de onde é seu apartamento. — Ela riu, e eu bati de leve na minha cabeça, provocando mais risadas.

— Um segundo.

Eu corri até o carro procurando por uma caneta e um pedaço de papel, qualquer coisa que eu pudesse anotar meu endereço. No final, consegui um pedaço de papel de promoção no supermercado onde bem no canto eu anotei com uma caneta que estava falhando.

— Está combinado, Srº Wade, tarde demais para se arrepender. — Outro sorriso.

— Duvido muito que eu vá. — Eu relaxei os ombros, e ela ruborizou.

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— Tchau, Wade. — Ela se virou e foi caminhando até um carro vermelho.

— Tchau, Lorena. — Eu disse, e entrei no carro, sentindo que meu coração a qualquer momento explodiria de felicidade.

Eu não esperava que aquela noite seria a noite pela qual eu me apaixonaria por uma menina que me faria acreditar que eu nunca mais conseguiria prestar atenção em nenhuma garota, nem dar a elas o meu amor, pois todo ele seria dado a aquela garota pequena dos cabelos dourados, com um sorriso maravilhoso.