Silver

Capítulo 25 – Charlie


Sai do meu carro lentamente, com Noah me ajudando e coloquei as minhas coisas no elevador, levando-as todas para meu apartamento. Wade havia me deixado na casa de Jéssica para que ninguém desconfiasse de qualquer coisa, onde meu carro também havia permanecido. Conversamos sobre a viagem por algum tempo, e dei um beijo rápido em sua bochecha antes de ir para o apartamento. Nem podia acreditar que estava de volta aquele inferno. Queria poder rebobinar aquele final de semana maravilhoso, e excluir somente a parte onde tínhamos encontrado a coordenadora, mas, mesmo assim, tudo havia sido maravilhoso. Não conseguia nem pensar no quanto eu havia rido em três dias.

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Estacionei o carro no estacionamento, e vi Wade ainda descendo algumas coisas. Não entendi direito porque ele ainda estava fazendo aquilo, mas apenas ignorei, focando no carro que havia acabado de chegar e estacionado ao meu lado com um sorriso presunçoso no rosto. Piscou de leve para mim e eu revirei os olhos.

— Onde você estava?

Ele parou na porta do carro

— Estava com seu namorado?

— Noah! — Exclamei.

— Não tem ninguém aqui, ou você acha que grampearam seu carro, porque se esse for o problema posso revistá-lo para você.

— Não é isso, é… — Bati a mão na testa levemente. — Estava na casa da Jéssica. — Tentei soar convincente. Pode me ajudar a descer as coisas?

— Oh, sim, você levou várias coisas pra quem estava na mesma cidade que a casa da amiga. — O sorriso desconfiado.

— Apenas leve isso até o elevador que eu consigo levar o resto.

Entreguei uma mochila para ele com roupa de cama, e ele revirou os olhos levando-as para o elevador. Wade olhou para nós dois, e eu acenei fracamente, enquanto seguia Noah para dentro.

— A propósito, qual o nome do seu namorado?

— Eu vou dar um chute no meio das suas pernas se não parar com isso.

— Nossa, mil desculpas, agressiva. — As suas mãos se ergueram como se ele fosse um criminoso. — Mas sério, preciso do nome dele.

— É Wade, Wade Miller, por quê?

— Oh, não é nada, é só que tenho que falar com um cara, e acho que ele é o cara certo.

— Sobre o que? — Soei muito curiosa.

— Não é nada a ver com vocês dois, fique despreocupada, eu só preciso ter uma palavrinha com ele. — Noah deitou a cabeça, e foi até Wade sem nem ao menos falar mais nada.

Fiquei observando os dois enquanto eles conversavam, mas percebi que não tinha motivos para ficar ali, então apenas olhei envolta para as duas pessoas que estavam na recepção conversando sem nem ao menos notar minha presença, e entrei no elevador. Estava extremamente curiosa para saber sobre o que os dois estavam falando, mas sabia que teria que esperar até Wade terminar o assunto e subir, então fui direto para meu apartamento. Não deveria ser nada. Wade não parecia o tipo de pessoa que conseguia fazer algo tão grave a ponto de conseguir alguma coisa da polícia. Além, que se realmente fosse grave eles teriam o chamado até a delegacia.

Organizei as coisas, e joguei-as na lavanderia minúscula que era dividida com a cozinha, não disposta a lavar nenhuma peça de roupa aquele dia. Meu corpo todo estava cansado, então me espremi dentro do banheiro, e deixei a água bater em mim por algum tempo antes de sair do box e me encontrar no espelho.

— Você é tão linda, sabia disso?

— Sai daqui. — Sorri para ele e tampei meu rosto.

Ele ficou parado no mesmo lugar me observando, contudo tinha algo errado com sua respiração. Ele me olhava com a mesma paixão, mas alguma coisa tinha acontecido. Alguma coisa que envolvia Noah, olhei para os olhos dele, e ele estava com uma pitada de preocupação no olhar. Aquilo estava fazendo as borboletas se tumultuarem não só no meu estômago, e minhas veias, mas agora elas haviam chegado em minha mente, me deixando boba em relação aquilo.

— Você está bem? Parece abatido.

— Estou cansado da viagem.

— Tem certeza? — Cheguei perto dele, mas ele deu um passo para trás.

Meu coração parou.

— Wade?

— Não é nada, sério, eu só… Ah, não é nada eu juro, estou bem. — Não acreditava nele.

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— O que Noah queria?

— Só conversar sobre uma coisa. — Enfiou as mãos no bolso da calça e deu de ombros. — Não é nada que deva se preocupar de verdade, é uma bobeira para falar, algo envolvendo mulher, mas enfim, vai dormir aqui ou lá no meu apartamento?

Arregalei os livros me lembrando, e mordi o lábio firmemente antes de deslizar para meu quarto.

— O que foi? — Me seguiu.

— Bem, esse fim de semana eu tinha que ter feito as malditas questões que você disse que podiam ter ficado para segunda, e bem, eu não fiz nenhuma. — Sorri para ele. — Mas eu vou ficar aqui e respondê-las, não vai ser nenhum problema.

— Charlie, não acredito nisso.

— Me desculpe. — Eu comecei a entrar dentro das minhas roupas. — Mas a culpa é sua, professor Wade, você me levou pra um final de semana romântico, e agora eu vou ter que fazer suas malditas questões.

Os olhos dele me devoravam ao longo que eu me vestia. Não senti vontade de ruborizar como sempre. Me sentia confortável a sua presença, principalmente após ter conversado com ele sobre tudo aquilo que me sufocava por anos, e ainda conseguir ver aquele olhar maravilhoso recaindo sobre mim da mesma forma.

— Não as chame de malditas, elas vão te ajudar muito.

— Eu sei, e me desculpe. — Envolvi as mãos envolta de seu pescoço, e beijei levemente seus lábios. — Te vejo amanhã, na faculdade.

Sai de seus braços para ir até o banheiro, mas ele prendeu minha cintura fazendo com que eu voltasse para ele. Seus olhos recaíram sobre meu rosto, e eu tentei não sorri, mas era totalmente impossível. Sua testa encostou na minha e seu olhos ficaram ali. Tentei ler o que se passava em sua mente, mas ele parecia tê-la bloqueado. Havia alguma coisa o perturbando e eu gostaria muito que ele me dissesse.

— O que? — O olhar se quebrou, e no lugar sobrou aquele sorriso sacana.

Suas mãos vieram tateando meu corpo, e eu tentei o empurrar, o que fora uma tentativa inútil para alguém que era muito maior e mais forte do que eu. Seu peito se encheu de ar, e seus olhos de desejo. Minhas pernas fraquejavam e eu queria poder saber onde minha voz tinha ido para naquele momento porque nenhuma frase saiu da minha garganta.

— Eu tr ajudo a fazer o maldito questionário.

Lábios encontrando minha orelha, percorrendo a extensão do meu pescoço, dançando por todo meu ser, fazendo meu coração bater, travar, bater, respirar, bombear sangue para aquelas veias que se tornavam mais coloridas quando ele estava próximo a mim. Deixei um sorriso tomar conta dos meus lábios enquanto ele me olhava como se não conseguisse dormir sem mim naquela cama. Me afastei rapidamente, uma distancia razoável do seu corpo, finquei os pés no chão, e passei o dedão lentamente pela maçã do seu rosto.

— Não pode fazer isso. — Sussurrei. — Seria trapaça porque você é meu professor, e não vamos fazer isso lembra?

Deu um passo para trás e ergueu os braços, deixando as mãos repousarem em seus cabelos. Umedeceu o lábio inferior e trocou um olhar comigo. Eu entendia aquele olhar. Também odiava fazer as coisas escondidas. Odiava não poder admitir tudo aquilo para todos, mas tanto ele quanto eu sabíamos que aquela era uma das condições.

— Boa Noite, Wade. — Trouxe uma das mãos até minha nuca, e cruzei meu olhar com o dele.

Ele soltou um suspiro e revirou os olhos, enquanto eu caminhei até minha cômoda onde meus livros estavam empilhados, com o questionário gigante que Wade tinha passado. Quase o amassei e joguei nele.

— Vou trazer minhas coisas e dormir na sua cama.

— O que?

— Não vou dormir sem você, me desculpe. — Se virou para ir.

Soltei uma risada e fui acompanhando, colocando meu notebook na mesa em companhia de meus cadernos e todos os materiais. Abri o notebook enquanto escutava Wade pegando suas coisas. Geralmente eu não precisava pegar nada no meu apartamento quando dormir no dele, contudo, sabia que ele tinha uma certa afeição por seu travesseiro.

— Você está virando grudento.

Passei meus olhos pela primeira pergunta, e comecei a escrever a resposta pelo que eu me recordava de Wade dizendo. Ele era um ótimo professor, sem a menor duvida. Não sabia se era pelo interesse fascinante que eu tinha por todo ele, mas achava suas aulas ótimas. Elas eram versáteis e fáceis de acompanhar. Conseguia fazer literatura de anos e anos atrás ficarem simplesmente muito mais faceis de se digerir,

— Está achando ruim? — Soergueu uma sobrancelha. — Porque se estiver posso voltar para meu apartamento agora, e ficar umas duas semanas sem falar com você.

— Você não conseguiria ficar duas horas sem falar comigo.

— Isso é um desafio?

Terminei de responder a segunda questão, e me virei para ele que estava sentado no meu sofá, me observando com presunção. Abri um sorriso, e tombei a cabeça para observá-lo. Eu duvidava mortalmente que ele conseguisse, porque eu sabia que não conseguiria, mas, mesmo assim, a presunção em seu rosto me fazia querer enforcá-lo.

— Então vamos lá, amanhã, o dia inteiro, sem mensagens, sem bom dia, sem nos encontrarmos. — Coloquei uma perna sobre a outra. — Então?

— Nos encontramos na republica exatamente depois da faculdade, e só podemos nos falar quando chegarmos aqui nesse apartamento.

— Na república? — Virei meu corpo e voltei a responder o questionário.

— É a confraternização, lembra?

— Oh meu Deus, verdade, acho isso ridículo, todo ano essa festa numa segunda em que as pessoas tem que acordar cedo no outro dia…

— Não seja estraga prazer.

Revirei os olhos.

— Mas tudo bem, quero só ver, quero ver se consegue.

— Sem mensagens, sem contato algum.

— Exatamente.

— E se eu ganhar? — A voz dele estava um pouco maliciosa demais.

Ele caminhou para perto de mim, girando a cadeira para que eu ficasse frente a ele, meus olhos prenderam nos meus, e eu quis rir da cara que ele havia acabado de fazer, como se eu fosse desistir ou algo assim. Estava totalmente persuadida.

Coloquei um dedo no seu queixo e o trouxe para mais perto de mim.

— Resolvemos isso depois. — O sorriso em seu rosto me fazia querer beijá-lo. — Espero que goste de perder. — Dei uma piscadinha.

— Oh, amor. — Piscou para mim de volta. — Espero que você saiba perder, porque quando eu acabar com você, você estará perdida.

— Isso foi uma ameaça?

Ele deu de ombros, e tirou a camiseta antes de entrar em meu quarto. Sabia que estava fazendo aquilo só para me provocar e tentei não lhe dar atenção. Precisava me manter focada em acabar aqueles exercícios e em não pular em cima de Wade. Essa era minha meta naquele momento.

Levei horas para terminar toda aquela lista e deixei meu corpo todo estralar após horas na mesma posição. Minha cabeça doia e meus olhos ardiam por ficar tanto tempo na frente do notebook, mas finalmente eu havia acabado e tinha grande fé em minhas respostas. Elas estavam sucintas, mas bem explicadas, achava que Wade gostaria disso.

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Desviei para cozinha e tomei um copo de água antes de ir até meu quarto. Wade estava jogado em dos lados da cama, e eu não pude deixar de sorrir. Era simplesmente totalmente inevitável sucumbir um sorriso quando o via todo desleixado daquela forma com uma fina camada de cobertor cobrindo seu peito nu. Fechei a porta do quarto, apaguei a luz e me deitei lentamente na cama para não acordá-lo. Minha cabeça encontrou o travesseiro, e eu soltei a respiração que estava segurando para não o acordar, quando seu corpo rolou na cama e se encaixou no meu, como quando você está fazendo um quebra-cabeça e as duas peças estão próximas que você sorri ao ver a facilidade que ambas tem ao se fundir. Sua respiração ficou presa em meu pescoço, seu braço deslizou por baixo do meu, e sua mão agarrou a minha. Fechei os olhos e deixei aquele sentimento bom me cobrir.

Acordei com Wade já longe de mim, com o corpo espalhado para cama, quis rolar para cima dele, e beijá-lo, mas lembrei de nossa aposta e não o fiz. Estiquei meu corpo e estralei meu pescoço, antes de me conduzir até o banheiro para tomar um banho e trocar de roupa. Nem ao menos tomei café me casa após o banho, resolvi comer alguma coisa a caminho do trabalho. Não podia acordar Wade de forma alguma, se eu ao menos visse aqueles olhos cruzando o meu, iria ser impossível de me conter.

Trabalhei a tarde toda sem Jéssica porque aparentemente ela tinha pegado um resfriado. A tarde parecia nunca acabar, e me senti totalmente arrependida de não ter deixado aquele questionário para fazer naquela tarde infinita. Meus olhos ficavam zanzando nas pessoas que entravam, saiam, e vinham me perguntar onde estava os livros que elas sabiam onde estava. Não podia nem ao menos trocar mensagens com Wade, então tive que passar toda a tarde mantendo uma linha de conversa com Alex.

Ele não queria ir na festa da republica comigo, contudo, mandei tantas mensagens implorando que seria totalmente sacana se ele me negasse, então após isso ele concordou em passar em meu apartamento para que fossemos juntos. Prometi falar bem para Gabi sobre ele, mas apenas ganhei palavrões em resposta.

A noite quis bater na porta do apartamento de Wade, mas me mantive e segui para meu apartamento. Parecia que Wade tinha feito a questão que se esfregar em todos os meus moveis e deixar seu cheiro pela casa. Fechei os olhos profundamente, antes de me jogar para o banheiro, e preparar minhas coisas para ir para faculdade.

Minha primeira aula como sempre era com meu amado namorado, e pensar nisso era estranho. Ele entrou na sala usando uma blusa jeans, e calças pretas, sem manter seu olhar em mim. Ele traçou a sala toda, mas seus olhos não repousaram nos meus. Quis sorrir ao saber que ele estava sentindo a mesma coisa do que eu. Sua aula pareceu durar duas vezes mais já que seus olhos não caiam em mim. Por mais que eu mantivesse minha atenção totalmente a ele enquanto ele explicava alguma coisa de um trabalho que teríamos que fazer, os olhos dele nem um por um segundo caia em mim.

Dani não tinha falado com ninguém também, nem mesmo Erica estava sentada perto dela. Por algum motivo que eu queria muito compreender Erica achava que sentar em minha frente e espalhar seu cabelo por minha mesa era uma ideia totalmente mais gratificante.

— Então quero poemas dos autores que estão no quadro, mas qualquer tipo de poesia que vocês puderem trazer, principalmente a de vocês, em uma métrica, e de uma forma correta por favor. Quero que tragam esses poemas para eu analisar antes de tudo. — Ele anotou uma data no quadro. — Vamos trabalhar de uma forma diferente, e queria que vocês aprovassem minha ideia. A faculdade vai ceder uma sala que deverá ser totalmente prezada, por mais que vamos escrever em suas paredes, não quero nada obsceno que não envolve poesia, não quero nada que não tenha haver com o curso que vocês estão fazendo, não me façam pênis nas paredes, nem peitos, por favor, vocês já são bem crescidinhos.

A mão de Erica se ergueu.

— Erica?

— Vai ser como uma sala da poesia?

— Basicamente isso, Erica. — Wade sorriu, e trocou um olhar rápido com o meu.

Eu sabia muito bem da onde ele tinha tirado aquela ideia. Aquela noite parecia ter acontecido há anos e anos, e eu simplesmente queria tê-la aproveitado mais. Era tão estranho que em quase três meses Wade e eu já estivéssemos tão apegados um ao outro daquela forma. Não era muito tempo para desenvolver uma coisa sólida, e as vezes isso me causava medo.

Quando o último período acabou pensei em ir direto para casa, mas Alex estava me esperando no portão da faculdade para me levar. Expliquei para ele que eu queria passar no apartamento de Jéssica primeiro para checar como ela estava, e ele concordou, também tínhamos que passar no supermercado para levar cerveja, mas nem ao menos me preocupei com aquilo naquele momento.

Paramos na porta da republica e vimos a movimentação de todas aquelas pessoas. Olhei para Alex e ele me deu um olhar suplicante para poder se livrar daquilo. Contudo ele não iria. Precisava dele ali comigo para poder lidar com aquelas pessoas bêbadas, e com o fato de Wade mal poder redirecionar a palavra para mim de uma forma amigável, sem toda a faculdade pensar nada sobre nós. Achava aquilo totalmente injusto. Erica praticamente saltava em cima dele todas as vezes e ninguém especulava nada sobre os dois. Pelo menos não que eu soubesse de algo.

— Charlie, estou falando com você. — Alex estralou um dedo em meu rosto.

— O que?

— As sacolas com a cerveja, o refrigerante e a carne, preciso que me ajude a descê-las.

— Oh sim, claro.

Peguei duas sacolas e as envolvi em meu pulso sentindo que uma marca em breve apareceria ali. A música estava alta de onde estávamos, e nem queria imaginar na dor de cabeça que eu teria ao acordar no outro dia de manhã.

— Onde está o sorriso, boneca?

Soltei um sorriso de mal grado para Alex, e ele soltou uma risada. Revirei os olhos, e deixei que ele passasse o braço com a mão vazia envolta dos meus ombros enquanto íamos adentrando a casa.

Haviam milhares de pessoas tumultuadas em cima uma das outras. Elas dançavam e pisavam em meu pé, elas me sacudiam, me empurraram, e gritavam tão alto em meus ouvidos que pensei que a qualquer momento meus tímpanos estourariam. Ergui a cabeça e tentei achar Wade em meio a toda aquela confusão mas não conseguia ver nada além de milhões de cabeças grudadas uma nas outras. Pessoas bêbadas que derramavam cerveja ou qualquer coisa que eles estivesse bebendo em mim. André que estava do outro lado da sala me observando atentamente, me deixava desconfortável.

Grudei minhas mãos firmes nas sacolas, e escutei uma gritaria vindo de um cômodo da casa que eu acreditava ser a sala. Ela era bem ampla e havia duas televisões ligadas com duas coisas totalmente diferentes passando. Os móveis pareciam ter sido retirados pois estava muito mais fácil de abrigar todas aquelas pessoas ali. Alex segurou meu braço e me acompanhou enquanto a gritaria aumentava. Passei por entre as pessoas de uma maneira fácil, até chegar bem a frente na roda que havia se formado.

Mãos. Pessoas. Cabelos dourados. Pessoas gritando. Olhos. Pessoas rindo alto. Lábios. Pessoas aplaudindo. Mãos. Pessoas gritando. Mãos. Pessoas, muitas pessoas. Pernas. Pessoas achando engraçado. Mãos no cabelo. Por que eu não achava engraçado? Estralos. Sacolas estavam prestes a cair. Separação.

Olhos castanhos me fitando.

Olhos azuis fitando olhos castanhos.

Peito pesado.

Respire.

Respire.

Inspire o ar com o nariz, expire o ar com a boca, Charlote.

Não chore.

Não ouse chorar, Charlote.

Sacolas, foque nas sacolas. As sacolas estão pesadas, sentindo as marcas que elas vão deixar nas minhas mãos assim que despejar elas no balcão. Vão fazer um estrondo. Como meu coração está fazendo agora.

Respire.

Respire.

Respire.

As sacolas. As sacolas estão pesadas, Charlote. Mãos. Marcas nas minhas mãos. Elas vão deixar marcas nas minhas mãos, e vão fazer um estrondo quando deixá-las em cima do balcão. O pote de tempero vai rolar da sacola até o fim da linha e cair do balcão, e se estilhaçar em mil pedacinhos. Como meu coração estava fazendo agora.

Alex.

Mão de Alex.

Meu ombro.

Olhar em cima de mim.

Lábios tensos.

Olhos do Wade. Olhos do Wade. Castanhos. Castanhos.

Não chora, Charlote.

Não ouse chorar.

Todos os olhos voltados para mim.

Sacolas no chão.

Me virei.

Abri um caminho rápido entre todas as pessoas, e Alex me seguiu. Escutei sua voz tentando dizer alguma coisa mas eu não conseguia escutar. Não conseguia prestar atenção nas palavras. Meu coração estava pesado, eu poderia vomitá-lo a qualquer momento, ele não estava me fazendo bem, meu Deus, uma sensação estranha estava se espalhando por todo meu corpo. Lagrimas queimavam, mas eu não conseguia chorar, não conseguia deixar uma gota esparramar meus olhos. Eu ainda não acreditava no que eles tinham visto.

Sai pela porta que em que eu havia acabado de entrar, e puxei o ar limpo a minha volta. Meu corpo inteiro parou subitamente, e eu escutei um murmúrio de pessoas me seguindo, mas eu não as queria ali. Queria gritar para todos irem embora.

Wade segurou meu braço.

Me girou até ele.

Ele estava me chamando de amor. Ele estava me chamando de amor. Ele estava me chamando de amor. Na frente de todas aquelas pessoas que olhavam umas para as outras tentando entender. Ele não deveria estar me chamando de amor na frente daquelas pessoas. Ele não deveria estar com os lábios de Erica Teixeira colado nos seus há poucos minutos.

Meu Deus.

Tampei meus lábios com a mão.

Wade focou os olhos em mim.

Olhos suplicantes.

— Eu não a beijei, nunca a teria beijado de volta, amor, sabe disso. — Ele prendeu meu rosto em suas mãos. — Você sabe disso, Charlie, ei fale comigo, por favor, fale qualquer coisa para mim.

Abri minha boca, mas fechei-a. Não sabia muito bem o que dizer.

— Eu sei. — Pisquei o olho. — Eu sei.

Ele pegou minha mão, e travou o olhar em mim, como se tivesse com medo de eu estar sendo irônica ou alguma coisa desse tipo, mas eu não estava. Eu confiava nele. Sabia que ele nunca faria aquilo comigo. Não era como André que cada palavra que saia da sua boca saia de uma forma totalmente mentirosa. Não. Wade não era assim. Wade tinha mantido uma linha de honestidade comigo. E era simplesmente por esse motivo que era tão fácil acreditar naqueles olhos, simplesmente pelo fato de eu conseguir ler seu coração de uma maneira que eu nunca havia feito como ninguém. Era quase como se eu conseguisse ler o que se passava dentro daquela cabeça quando ele cruzava os olhos comigo. Não doía como deveria doer porque eu sabia que ele não tinha retribuído.

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— Eu sei, amor. — Ousei deixar a palavra sair pela primeira vez dos meus lábios. — Eu acredito em você, olha para mim, eu acredito, eu só… Levei um susto, em um momento achei que você… Acho que eu sou um pouco extremista, e impulsiva, eu faço… Oh, meu Deus, eu acredito em você.

As mãos dele se prenderam envolta na minha nuca, e seus olhos beijavam o meu. Passei os braços envolta de seu peito e deixei minha cabeça repousar em seu peito, enquanto ele me apertava forte e eu escutava as batidas descompassadas de seu coração. Ele realmente estava tão assustado quanto eu. Sorri levemente, e me afastei dele, deixando que seus lábios tateassem os meus a procura daquela sensação estrondosa que acontecia em meu estômago, em minhas veias, em meu coração. Os lábios deles dançaram sobre o meu como uma borboleta repousa em uma flor a procura de pólen, e eu deixei minhas mão brincarem com seu cabelo. Meu coração batia forte e eu nem ao menos me lembrava que não estávamos sozinhos ali, mas sim, cercados por centenas de alunos curiosos, que provavelmente estavam tirando fotos e enviando para todos os lugares possíveis.

— Acho que eu eles sabem agora.

Wade se afastou dos meus lábios, e eu soltei uma risada vendo o olhar de incrédula no rosto de Erica, junto com os olhares famintos que tentavam entender o que diabos estava acontecendo ali. Alex olhava para nós como se tivéssemos que ter feito aquilo desde o inicio, e eu apenas não me importei. Eu sabia que teria que lidar com as implicâncias vindas de Erica, com os olhares de desgosto de Dani, mas eu não me importava. De alguma forma, aquilo me fez sentir muito mais forte do que eu me sentia. Queria ao menos que aquele sentimento tivesse durado pelo menos um mês.