Sick

Capítulo Três


Frank acordou, mas não abriu os olhos. Sentiu que não estava em seu quarto e teve medo. Lembrava que seu gato tinha fugido e que ele saíra pra procurá-lo e lembrava-se de homens o cercando. Mais nada.

Não agüentando mais, os abriu. Estava em um lugar branco e iluminado. Sentou-se na cama.

- Ah, você acordou! – disse uma voz desconhecida.

- Quem é você? Onde eu estou? – Disse assustado, olhando para a figura alta e branca que usava luvas e máscara.

- Sou Gerard. Você foi atacado por alguns homens ontem à noite e eu vi pela minha janela e te trouxe para o meu apartamento – a expressão dele misturava algo como medo e orgulho.

Frank olhou para a janela reparando na luneta. Levantou correndo do sofá e olhou para fora.

- Meu Deus! Você é o Cara Louco do Quinto Andar!

Gerard riu.

- Sou sim, se quer me chamar assim.

Frank estava assustado. Na verdade, nem passou na cabeça dele que o culpado pudesse ser Gerard, mas ele estava no apartamento do Quinto Andar. Isso por si só já era assustador.

Reparando que o garoto não respondia, Gerard falou:

- Quer café?

Frank assentiu.

Anotando mentalmente para esterilizar a xícara depois, Gerard serviu café e levou para o menino em uma bandeja com alguns biscoitos.

O líquido quente e forte pareceu acordar o garoto.

- Obrigado – sorria.

- Por nada – Gerard sorriu de volta.

- Por que você nunca saí daqui? Você é mesmo louco?

Gerard riu.

- Não, não sou louco. Mas você tem noção de quantas bactérias tem nesse ar aí fora? Quantas doenças? Eu sou um homem muito doente, sabe Frank? Está vendo aquela caixinha ali em cima? – apontou pra o que parecia ser uma caixa de bota de cano alto de mulher – são todos os meus remédios. Não conheço ninguém com tendência a pegar qualquer doença assim como eu...

Frank sorriu torto e pensou ‘É, ele é mesmo louco’.

-... E esse ano eu já peguei uns dez resfriados, e olha que eu nem saio de casa e tal. – Gerard fez uma cara estranha, e tremelicou – Mas chega de falar de mim, o doente hoje é você.

- Doente?

- Por assim dizer. O que aqueles caras fizeram, te bateram?

- Não lembro... Acho que não. Não estou machucado, não é mesmo? – analisou o próprio corpo – acho que só desmaiei. – Gerard ficou em silêncio – Mas não, não por medo! – Frank disse como se tentasse provar sua coragem – Eu só... Bem, meu pai morreu num assalto, e eu tinha 6 anos e estava junto, é isso.

- Sinto muito – e sentia, respirou fundo – sua mãe deve estar preocupada, não acha melhor avisá-la?

- É... É! Quer me emprestar seu telefone? Acho que se eu aparecer lá ela não me dará tempo de explicar, sabe?

Gerard indicou o telefone com a mão e pensou que teria que passar um pano com álcool depois, a saliva do menino devia ter muitas bactérias e tudo mais.

Frank discutiu um pouco com a mãe. Mas depois ela entendeu o ocorrido e disse que iria buscá-lo para agradecer ao Cara Louco do Quinto Andar.

- É Gerard, mãe!

Gerard riu. Ele não se importava com isso.

Quando Linda chegou, ela pareceu um pouco incomodada com o ritual de limpeza de Gerard, mas achou que seria muito mal educado de sua parte não fazê-lo. Agradeceu ao homem por ter acolhido seu filho, e pareceu entender o motivo pelo qual ele não o levara para casa.

Depois que saíram do apartamento, e já estavam longe dos ouvidos de Gerard, Linda achou que devia alertar o filho.

- Esse cara é louco. – disse, revirando os olhos. Frank riu.

- Não é não mãe, ele só acha que esta doente, como é que chama?

- Hipocondríaco?

- Isso – exatamente essa a palavra.

- Então, louco – seu tom era como se isso fosse óbvio

- Mãe, não fale assim dele, ele me ajudou... – na verdade, Frank não estava nem aí se Gerard era louco ou não, ele lhe passava uma sensação de confiança. Ele sabia que o mais velho não era mau, só tinha alguns problemas psicológicos, nada demais. Ele se sentia na obrigação de defender Gerard.

- Não estou convencida disso – Linda disse, rispidamente.

- Como é? – Exclamou Frank, incrédulo. Era óbvio que tinha ajudado!

- Bem, você se lembra de alguma coisa?

- Me lembro de alguns caras me cercando, aí desmaiei. – Respondeu sinceramente.

- E você se lembra dos rostos desses homens? – Frank negou – então, como sabe que esse cara aí não estava entre eles?

Frank sentiu a raiva surgir no centro do seu corpo.

- O que quer dizer? Por que ele faria isso? – disse, contendo a raiva e abrindo a porta de casa.

- Não sei, existe todo tipo de maldade nesse mundo. Frank, ele não fez nada com você enquanto você estava lá...?

- Mãe! Gerard não abusou sexualmente de mim! Isso é ridículo! Alguns caras bêbados me atacaram, eu desmaiei por motivos dos quais você deve se lembrar e Gerard, que não tinha obrigação nenhuma de fazê-lo, me levou para casa dele! - Linda abriu a boca para responder, mas Frank continuou a gritar – Ele é um cara legal mãe! Um tanto problemático, porém legal! Acho que todos nós poderíamos parar de xingá-lo pelas costas, a partir de hoje eu vou defendê-lo!

Subiu as escadas para o seu quarto e apenas ouviu a mãe gritar lá de baixo:

- Você nunca mais vai ver esse cara! Isso é...

Mas aí ele bateu a porta e o som foi abafado.

Foi até a janela do quarto, e Gerard estava na janela dele. Sorriu, e o outro sorriu de volta.

Não importava o que sua mãe dizia, a partir de hoje ele visitaria Gerard todos os dias. Ele parecia ser um cara tão sozinho.

Mas é claro que metade disso era apenas por que sua mãe proibira, e desobedecê-la era um prazer sem tamanho. Acenou para Gerard e resolveu tomar um banho. Ainda calçava as pantufas do dia anterior.

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